Your Hunger Games - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 10
Viktor Kälte


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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Viktor Kälte

Arctic Monkeys - Do I Wanna Know?

Puxou o capuz pela cabeça. Poderia estar correndo, mas não queria se esforçar demais. Olhou para os lados, sozinho, notou que o centro do Distrito 04 era um buraco, onde todos caíam ou rolavam quando não havia onde se apoiar. A fome já era comum no dia a dia dos moradores e a falta de higiene era ainda mais íntima. Duas companheiras que andavam com todos. Inclusive com ele. Mas no momento era por outra questão. Alcançou a Aldeia dos Vitoriosos e observou enquanto empregadas e seus filhos chegavam para começar a faxina. Sua casa era um pouco mais perto do Centro de Treinamento, que era especialmente dos Vitoriosos e de seus filhos. Nenhum outro jovem era permitido de utilizar o lugar. Lá Viktor sabia o que esperar.

Todas as vésperas de Colheita os Vitoriosos se reuniam desde o nascer do Sol, até o anoitecer. E isso incluía seus filhos. Viktor sabia que já estava atrasado, mas não abria mão de ver o Sol nascendo de cima dos telhados do Distrito 04 de forma alguma. Era a única coisa que fazia por si mesmo.

O céu estava cinzento, era dia de Colheita. Os Vitoriosos também se reuniam antes do almoço. No dia anterior Viktor tinha lutado contra os outros herdeiros da Aldeia. Todos sabiam que seu irmão tinha morrido, mas poucos sabiam por quê. Tyler tinha se recusado a ir aos Jogos, e papai não era de aceitar desobediências. O matou com as mãos limpas, a socos. E Viktor assistiu, quando os olhos de Tyler ficaram vidrados, e papai saiu de cima dele, ofegante.

Tyler poderia se defender. Era mais ágil e mais forte que papai, que já tinha certa idade. Mas... Que filho levantava a mão contra seu próprio progenitor, que lhe criou e lhe ensinou a matar? Então Tyler morreu, e com dignidade. Defendendo o que ele queria, o que pensava sobre os Jogos, indo contra o pai, mas sem bater nele. Sem lutar. Viktor foi ensinado pelo pai também, e ele nunca pensou em recusar os Jogos. Era preciso fazer isso, por Tyler. Morrer por ele, lá dentro, por ele ter morrido em casa.

Quando entrou na Academia, vislumbrou alguns combates no canto da arena, Marina e Gávia se enfrentavam com punhos, Viscond e Pátrio se enfrentavam com tridentes e papai e seu mentor se enfrentavam com línguas. Era uma disputa verbal, da qual Viktor mais gostava.

Algumas palavras podiam ferir mais que navalha.

– ... e Viktor está capacitado!

– Meme também - rebateu o velho mentor de todos os jovens da Aldeia. - E é mais velho, será sua última colheita. Viktor pode se voluntariar ano que vem. - garantiu, mas seu pai não pareceu feliz com isso.

Quando os dois o viram, se abriram em sorrisos e fingiram que estavam apenas debatendo estratégias de luta. O mentor era Bruncer, talvez o Vitorioso mais velho de todo o Distrito, sem contas os que já estavam mortos. Ao todo, eram 09 vitoriosos em 55 anos de Jogos Vorazes. Um número pequeno, mas mesmo assim extraordinário.

No fim, ele teve de apoiar o pai, e Bruncer concordou de má vontade.

º º º

Dilip abriu um sorriso, enquanto sua filha entrava no quarto de Viktor.

– Pensei que os quartos dos tributos fossem deles. - Viktor comentou com Dilip. - Então, é meu mentor.

– O que eu puder fazer pelo seu pai, farei.

Pelo seu pai, como se fosse ele dentro daquela mortalha, onde Viktor voltaria para casa.

Dilip era amável e carinhoso, sempre dava um tapinha no ombro de Viktor no término de uma luta, ele sendo vitorioso ou não. E sua filha, Sandra, era uma espécie de amizade indesejada, ou uma menina indefesa em busca de proteção. Sandra se fazia de coitada, por seu porte pequeno e aparência frágil. Muitas garotas gostavam de bater nela por roubar seus namorados, e Sandra tinha de buscar um refúgio, uma defesa contra essas meninas de coração partido. E escolheu Viktor, para sua infelicidade. Ela era chatinha e mesquinha, com uma espécie de frieza que só se conhecia em Distrito mais ao norte, como o 7 ou 5. Sandra já tinha tentado jogá-lo em seus laços do amor, mas Viktor era esperto o suficiente para se afastar dela e de sua mação envenenada que carregava no lado esquerdo do peito.

– Ah, Vik, pare de ser tão rude e frio... - ela se esticou na cama de casal, que deveria ser dele, mas que ele decidiu não usar mais.

– Está bem - e lhe mostrou um sorriso caloroso, que a fez ruborizar.

Dilip lhe envolveu com um abraço de afeto e lamentou em seu ouvido, lamentou por ele ter aquele pai, e por estar nos Jogos. Por sua morte de 94% de chances e de sua falta de sorte já evidente. Lamentou por seu irmão também, e por ter sido obrigado a levar a filha, pois ela era manhosa demais e o convencia de tudo.

– Sai de perto de mim - pediu, tentando mostrar a irritação. Dilip o soltou, surpreso.

Viktor era uma incógnita, mas de uma equação sem resposta. Era impossível desvendá-lo, nem mesmo alguém experiente conseguiria. Agira rudemente com as pessoas boas, e agira amavelmente com as pessoas ruins. Certamente isso vinha de sua falta de esclarecimento. Viktor não sabia diferenciar bondade de maldade, e por isso podia causar ferimentos grandes nas pessoas ao seu redor.

Quando finalmente conseguiu expulsar Dilip e sua filha de seu quarto, tentou ao máximo expulsar aqueles pensamentos ruins que teimavam a invadir sua mente. Iria morrer. Logo. Isso era de alguma forma um analgésico, uma droga que o fazia esquecer dos problemas. Afinal ele ia morrer, então para quê pensar nos seus problemas? E ai vinha a sensação de que era pequeno demais para merecer sequer pensar no futuro. E então ele percebia o quanto queria viver, o quanto queria ver o Sol nascer, e ele notava que a vida era valiosa demais. E isso o fazia chorar de dor, uma dor interna, uma que não se sente no físico, mas no psicológico. Invisível a olho nu. E ela era a que mais machucava.

Quando alguém bateu em sua porta, ele se obrigou a criar uma máscara de neutralidade, como mamãe fazia frequentemente, e limpou as lágrimas no rosto, levantando-se da cadeira onde tinha ido parar e abrindo a porta do quarto, para receber a imagem de uma garota de mais ou menos sua idade, loura, da pele bronzeada. Ela tinha as sobrancelhas arqueadas e parecia estranhamente espantada.

– Você... é o garoto! - exclamou. - Aquele de hoje de manhã. Você estava na praia, se lembra de mim? - ela o pegou pelos ombros. - Céus, você está aqui, e... Mentiu. Seu nome é Viktor. Você mentiu seu nome.

– Me solte agora que vai ser muito melhor. - ele a empurrou - Eu não te conheço, em primeiro lugar. Eu estava na zona oeste do Distrito, isso quer dizer, bem longe da praia. E eu não te vi nem mais feia, nem mais chata.

– Mas é você, eu sei. A não ser que seja um irmão gêmeo. Espera, você tem um irmão gênio gato chamado Axel? Pois ele ficou com toda a simpatia e charme, pelo visto...

– Não, não tenho nenhum irmão gêmeo, nem nunca ouvi nome mais moribundo. Me lembra a parte pobre do Distrito 04.

A garota o encarou, como se o repreendesse. Mas então adotou uma expressão mais suave e séria.

– Meu mentor disse que seria melhor que nós formássemos uma aliança.

Viktor ergueu uma sobrancelha e se encostou na batente da porta.

– E seu mentor é...?

– Lyane.

– Ah, sei quem é. Vitoriosa da 47ª Edição. Baixinha, cabelos escuros, pele bem bronzeada e uma cicatriz no lábio superior.

– Sim. Como você a conhece? Nós não temos muito contato com os Vitoriosos.

– Me exclua do nós, eu sou filho de Lucio, 40º Vitorioso.

– Oh, seu pai é um vitorioso!

–Sim. - ele cruzou os braços sobre o peito. - E...?

– Que legal! Isso quer dizer que você treinou na Academia, como meu irmão.

– Espere, seu irmão?

– Sim, meu irmão gêmeo, Garnet.

– Mas... Nenhum filho de não-Vitorioso pode frequentar a Academia.

– Meu irmão é Lucca, Vitorioso há três anos. Ele se recusa a participar das lutas entre Vitoriosos e de ser mentor. - a menina sorriu, sarcástica - Pensou que eu fosse filha de um pescador? Julgar um livro pela capa é feio.

– No caso seria um peixe pela escama.

– Peixe? - torceu o nariz.

– Isso, uma barracuda. Ou cascudo...

– Você é tão insuportável... - sussurrou, o suficiente para Viktor ouvir.

– Obrigado, gracinha. - e piscou. - Posso saber seu nome?

– Isso só pode ser uma conspiração... - Ela ruborizou - Axel me disse a mesma coisa... - soltou para si mesma - Meu nome é Sapphire. E o seu?

– Deveria saber se veio até minha porta pedir para formar Aliança.

– E eu sei, só queria ser educada. Pois bem, vai aceitar ou não?

– Você tem algum treinamento?

– Sim. Quer dizer... Eu observava meu irmão treinar com meu pai e Lucca, e... Assisti a todos os Jogos.

Viktor soltou uma risada de escarnio.

– Uma aliança, se é isso que a gracinha me pede, vai ficar me devendo algo por proteger seu rabo na Arena. Algo que vale sua vida.

– E o que seria?

– Bem... - Viktor fingiu pensar por um instante. - A sua vida.

Viktor Kälte


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Notas finais do capítulo

Por favor, comentem em todos os capítulos se quiserem seus tributos com chances iguais de vitória.