Your Hunger Games - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 40
Dakota Morgent


Notas iniciais do capítulo

O capítulo tem apenas duas falas, então tenham paciência que os acontecimentos estão nos parágrafos. Boa leitura.



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Dakota Morgent

Nickelback - If Today Was Your Last Day

Quando a perna falhou, foi como se caísse de boca em chamas, mas era apenas a areia do deserto. A noite era fria, mas mesmo assim... O sangue fervia e a aquecia. O coração estava bombeando rápido demais, e Viktor tinha girado o cabo da espada bem ao lado de sua orelha, o que a fez saltar de susto. Não que ele estivesse tentando ataca-la, pelo contrário. O pirralho sorriu, erguendo sua espada. Dakota o conhecia bem o suficiente para saber que Aryon jamais desafiaria Viktor se não tivesse certeza de que iria vencer. E viu a habilidade do menino em esgrima, o Carreirista não tinha chance. Mas Dakota preferia que Viktor morresse em seu lugar.

Quando os dois garotos chocaram suas lâminas, Dakota virou as costas e correu. Entrou em vielas e ruas estreitas, caiu tantas vezes que seus joelhos nem mais reclamavam. Agora tudo o que sentia era o frio cortando as bochechas e o calor vindo do peito. Adrenalina. O sangue fervia. Estava a ponto de morrer por falta de ar quando parou para recuperá-lo. Estaria longe o suficiente? Não queria levantar tanto barulho, mas não tinha o que fazer, a escuridão da noite cegava seu caminho. Esfregou as mãos e as assoprou. Frio. Adrenalina. O sangue fervia.

Enquanto desviava de barris e de outras coisas que nem se dava ao trabalho de identificar, Dakota se deixou cair sobre barris vazios deitados num canto. Estavam empilhados e quando ela se jogou, eles escorregaram e um ruído agudo saiu do meio deles. Seria um gato? Ela se levantou atenta, tinha dado um salto tão gracioso que os instrutores do Distrito Um achariam maravilhoso. Não tinha ouvido canhão algum, nem mesmo o seu, e com certeza deveria estar viva, pois o frio a estremecia e o sangue fervia. O frio. A adrenalina. E o menino. Ele estava agachado e trêmulo, próximo a parede, entre a pilha de barris desfeita e um pequeno poço com água. Dakota ergueu a sobrancelha direita e então retirou o gládio de dentro da bainha. A mão esquerda era errante, não conseguia se dar bem com ela. Desde que perdera o movimento do braço direito, teve dificuldade em manejar armas e se manter em equilíbrio, o peso morto sempre a atrapalhava.

Que linda piada. Treinara a vida inteira para conseguir matar pessoas com variadas armas e no fim perdeu o meio para manejá-las. Sem sua mão era a mesma coisa que um monte de operários do Doze, bobos, burros e desajeitados. Dakota estava mais do que humilhada, mas não era como se fosse virar a mocinha. Tinha se cansado de ser a menina bonitinha dos Jogos, de bancar a bela dama do Um. Trouxe seus aliados até ali, os convenceu a protegê-la, conquistou suas confianças, e agora não iria desistir da vitória. Já aquele menino estava tão morto que seu fedor se confundia com o sangue.

Não o reconhecia. Na verdade nem perdeu tempo reparando nos tributos dos Distritos Menores, mas com certeza não era da Aliança Vermelha, nem um dos babacas de Aryon. Não parecia ser forte, apenas magro e faminto. Até mesmo sua mão esquerda conseguiria dar cabo dele.

– Não mato homens sem antes saber o nome. – Dakota ergueu o gládio e se aproximou, encostando-o na garganta dele.

– Ralfh. – sua voz era mais grossa do que imaginara – Ralfh Bluethunder.

O movimento foi rápido e forte, quando notou o gládio tinha escorregado de seu dedão e do indicador. Maldita mão esquerda! Conseguiria segurar firmemente a arma, se não fosse à explosão... Desviou-se do golpe que provavelmente teria arrancado sua cabeça fora. O machado voou para a esquerda e o menino avançou com o outro achado, que pertencia a mão direita. Dakota não pôde nem mesmo pensar. Jogou-se no chão, sentindo o pulso amputado e ainda por cicatrizar tocar a terra esfarelada e arder. Maldito, maldito!

Rolou assim que o machado se fincou no lugar onde estava, se levantou num salto tão leve que teria ficado orgulhosa. Mas agora não era hora. Estava desarmada e ele tinha duas armas, machados para deixar mais específico, e era rápido. Tentou golpeá-la pela esquerda novamente, e o machado se enterrou entre suas costelas. O ar se esvaiu dos pulmões e ela tentou sugar com mais força. A adrenalina. O sangue fervendo. Não tinha tempo de assimilar o oxigênio, estava ofegante demais. Sentiu, ou melhor, ouviu, quando a lâmina se desenterrou de seus ossos. Aquele som... Arrepiara sua pele.

O sangue escorria como uma cachoeira, vermelha e ardente. Aquecia sua pele abalada pelo frio da noite. Dakota sabia que era seu fim, não tinha como continuar lutando. Mas... Não iria desistir. Seus Patrocinadores iriam enviar alguma pomada especial para curar aquele estrago, mas o perigo agora era o menino. Ele se lançou contra ela novamente, jogando a mão direita desta vez. O desgraçado conseguia usar as duas mãos perfeitamente bem. Dakota não tinha mais a força nas pernas, muito menos poderia usá-las para outra coisa além de cair. Mas foi isso que a salvou, seus joelhos falharam no momento em que o garoto jogava o machado contra seu pescoço. A lâmina refletiu a luz da Lua, passando por cima de sua cabeça. É isso, é minha salvação, pensou, não iria ter sobrevivido se não fosse isso. É o destino, vou vencer. Vou viver e contar aos meus netos que um dia cheguei à beira da morte.

O rapaz se jogou para trás, deixando um pedaço de céu entre eles. Dakota observou como as estrelas vermelhas estavam se espalhando pelo céu. Como um véu de escarlate. Ou de sangue. A chuva começou antes que qualquer um dos dois pudesse se mover. Era uma chuva pesada, uma chuva para revigorar o deserto. Mas ardia. Estava quente. Estava fumegante. E era vermelha. A chuva tocou cada centímetro da cidade abandonada, e coitado daquele que não possuía teto sobre sua cabeça. Dakota sentiu quando uma gorda dota caiu em sua língua. A queimou de imediato, mas tinha um sabor bom. Um sabor melhor do que aquele de vômito que ela estava engolindo o tempo todo. Era sangue.

Não tinha consciência de como estava, perdera a sensação do corpo, inclusive da temperatura, e não se importava com a chuva de sangue fervente. Mas se fossemos vê-la na cena, e não por trás de seus olhos, Dakota estava de joelhos, com os braços caídos ao lado do corpo, os ombros curvados, os cabelos grudando no rosto, o seu sangue se misturando com o sangue da chuva e a pele desaparecendo naquela camada vermelha que descia. O garoto sentia as gotas queimarem seu couro cabeludo e, combatendo toda a vontade de sair correndo dali, deu seu xeque-mate, arremessando a cabeça de Dakota de cima do pescoço com um único golpe. O sangue jorrou e seu corpo caiu para frente. Ralfh fugiu antes de ouvir o canhão.


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Notas finais do capítulo

Agora já sabem quem morreu! :3 Beijos.