Your Hunger Games - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 36
Daniel Valentine


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem. Boa leitura.



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Daniel Valentine

Imagine Dragons - Bleeding Out

Três dias após o início da Arena, não havia ainda armas em suas mãos. Embora tivesse corrido para a Cornucópia, nem ao menos chegou a subir os degraus, sendo derrubado e pisoteado. Lembrava-se vagamente de Alice puxando sua camisa e o levantando com desespero, e então tinham corrido por entre ruelas e becos, dando de cara com paredes e com portas. Tudo estava abandonado, mas nem tudo era aberto. Enquanto escorregava pela parede, Daniel colocou a palma da mão sobre a testa, sentindo a quentura da própria pele. Suava como nunca suara, dia e noite suando sem parar. Sua boca estava seca e o ar que respirava parecia levar poeira junto consigo e grudava em sua garganta, fazendo-o engasgar o tempo todo. Alice não estava muito melhor. Não tinham conseguido uma gota de água desde o início dos Jogos. Três dias, duas noites. O ocaso acontecia do lado de fora do galpão que um dia servira de armazenagem de cervejas e quem sabe vinhos. Seu estômago estava vazio e a pele grudava aos ossos, descarnado. Alice não muito melhor.

A febre tomava sua testa, ou então era a temperatura do ambiente. Só sabia que não tinha mais forçar para sair dali. Enquanto afundava em uma profunda angústia, sentiu novamente quando uma leve brisa passou pelas frestas das paredes de madeira e trouxe consigo um pouco de vida a ele, mas logo passou. Alice não estava muito melhor...

– Vamos morrer. – Daniel disse, e a última palavra saiu uma oitava acima, quase sufocada pela poeira.

– Culpa sua. – ela respondeu, parecia estar um pouco melhor. Encostada na parede, enquanto ele jazia no chão.

– Você poderia procurar um pouco...

– Procurar o quê?

Água. – limpou a garganta – Eu disse procurar um pouco de água.

– Não estou em condições de sair daqui.

Daniel tentou não revirar os olhos. Se fizesse era capaz deles também secarem. Enquanto a sombra da noite crescia na janela, Alice cantarolava distraidamente, movendo os dedos impaciente. Ela estava suada, como ele, e estava com sede e fome, como ele. Estava sem energias, como ele. Mas continuava em boa aparência. Daniel lambeu os lábios, rachados e sangrentos. A ponta de seus dedos também racharam e suas unhas começaram a sangrar. Até mesmo mover os músculos do rosto se tornou estranhou. Agora só podia implorar por uma dádiva. “Eu tenho uma mulher grávida no Distrito”, lembrou-se, “Eles deveriam se importar com isso”. Alice nem tinha se referido aos Patrocinadores ainda. Encarou o teto do galpão. Queria que uma chuva caísse sobre a cidade. Mas uma chuva não cairia no deserto, certo? Tinha de admitir não conhecer muito sobre desertos, mas se as plantas cresciam entre as fendas das paredes, deveria haver um lugar onde buscavam suas fontes vitais. Quando mencionou isso, Alice riu e perguntou se ele estava agora querendo virar uma flor. “Mente pequena demais”, concluiu, enquanto continuava naquela angústia. “Ela pode se levantar e escavar a areia até encontrar a raiz das plantas, eu não. Mas que má vontade. Se morrermos, a culpa será dela”. Enquanto refletia sobre isso, o crepúsculo terminou e a noite agora trazia o frio do deserto. Em menos de cinco minutos o hino de Panem rugiu pela Arena e no céu uma luz iluminou o brasão da Capital. Alice se levantou, enfiando a cabeça para fora da janela e observando a Baixada.

– O menino do Doze morreu.

– Só?

– Parece que sim. – e então voltou a se sentar encostada na parede. – Agora sobraram quantos?

– Quinze.

– Treze. – ela corrigiu – Nós dois já somos contados como mortos, e então sorriu.

Daniel quis ter energia, pelo menos um pouco, para poder esmurrar a cara daquela desgraçada até seu sorriso se tornar um borrão. Pelo menos ela choraria e beberia suas lágrimas. Daniel duvidava que ele ainda tivesse lágrimas para poder chorar. Água. Comida. Frio. Calor. Febre. Aliada preguiçosa. Angústia... Aquilo lhe causava dor de cabeça. Quando, por fim, fecho as pálpebras, sentiu os olhos secos e agradecidos.

A porta do galpão se abriu com rapidez, deixando entrar tributos que Daniel julgou ser familiares demais. Enquanto os via entrando e despejando suas coisas no chão do galpão, implorou para que eles não os tivessem visto no fundo do galpão, mas assim que o brilho daquela espada refletiu nos olhos do garoto menor, ele soube que já sabiam que estavam ali, e não vieram em paz. Cerrou os punhos.

– Ray, dê uma garrafa a nosso querido amigo. – disse Aryon, enquanto balançava a espada na mão direita. Havia uma adaga presa a sua calça e Daniel suspeitava de mais algumas armas escondidas.

Rayseev se aproximou, sem sutileza, abrindo uma garrafa quente de água e despejando sobre os lábios trêmulos e rachados de Daniel. Ele entrou em um estado de inconsciência e não tinha mais controle sobre o corpo, assim que as gotas chegaram a sua língua e escorreram pela garganta, deu um salto que pensou não conseguir fazer com seu estado atual e tomou a garrafa das mãos de Rayseev, tomando longos goles, mas sem se engasgar. Não havia mais sede, e um brilho voltara a brilhar em seu peito. Seus olhos se voltaram para Rayseev e depois mais adiante, para Aryon. Comida. Frio. Calor. Febre. Aliada Preguiçosa. Angústia...

Aryon se aproximou deles, enquanto de uma mochila em seu ombro retirava um pequeno pacote de frutas secas. O atirou a Daniel, e ele devorou tudo, com avidez, quase fora de si. Um animal faminto, um leão sem comer já dias. Queria mais, ansiava por mais, mas sabia que não receberia nem um pouquinho a mais. Quando finalmente acabou com as frutas ali dentro, encostou as costas na parede atrás de si e soltou um longo suspiro. Frio. Calor. Febre. Aliada Preguiçosa. Angústia...

Rayseev retirou sua jaqueta dos ombros e a colocou no peito de Daniel, e com a manga da camisa limpou o suor em sua testa, bochechas e pescoço, tomando cuidado para não adentrar os olhos. Ele sentiu quando a pele conseguiu respirar e ainda mais quando o calor da jaqueta eliminou todo o tremor dos ossos. Febre. Aliada Preguiçosa. Angústia.

Em um canto, Alice observava tudo, próxima aos pés de Aryon. Talvez esperasse sua vez de receber os cuidados. “Você não merece nada”, pensou Daniel.

Ray sentiu o calor de sua testa quando foi limpá-la, e resmungou alguma coisa a Aryon, algo como “injeção”. Quando o instrumento de tortura foi retirado do bolso da calça de Aryon e entregue às habilidosas mãos de Rayseev, Daniel fechou os olhos, esperando que aquilo passasse logo. A dor foi pequena, embora esperasse algo grande, bem no músculo do braço esquerdo. Lá a dor começou leve, mas sempre que movia este braço sentia o músculo reclamando. Aliada Preguiçosa. Angustia.

Aryon se voltou para Alice, com uma sobrancelha levantada. Ela o encarava com a mesma intensidade, desesperada pela água e pela comida. Daniel quase disse para abandonarem ela ali, Alice precisava aprender algumas coisas como companheirismo e disposição pela vida. Era melhor que definhasse como Daniel definhou. Um sono profundo o abateu e ele notou que não dormia fazia três dias. Aryon puxou a cabeça de Alice gentilmente pelos dedos indicador e polegar. Ela se deixou levar, quase certa de que era um bom caminho. Daniel sabia o quanto ela tinha sido preguiçosa, mas com certeza não desejava nenhum mal a Alice, ela era de seu Distrito. Mas antes que pudesse dizer, Aryon golpeou a pele branca do pescoço de sua aliada e o sangue jorrou, tão longe que manchou até mesmo a linda camisa de lã branca de Rayseev, que ficou emburrado por causa disso. Mas nada disse. Aryon, quando terminou, se virou para Daniel.

– Você tem duas escolhas: Se alia a nós, ou pode seguir com ela ao paraíso.


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Notas finais do capítulo

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