Your Hunger Games - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 35
Sylvester Cherishmont


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.



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Sylvester Cherishmont

OneRepublic - Secrets

Quando as fagulhas pararam de cair do céu branco, ele se levantou, sentindo os membros rígidos. A noite passou fria, mas Sylvester não tinha conseguido se sentar por causa do ferimento. Logo seu corpo adormeceu no frio, mas a mente continuou ligada, atento a tudo. Quando uma das meninas da aliança rival saiu dos destroços, quando Katrine ajudou a desenterrar o corpo de Sapphire junto com Viktor e quando tiveram de amputar a mão esquerda de Dakota pois tinha se prendido e não se soltaria. Também ouviu quando insultaram as vadias que tinham feito aquilo e quando encontraram o corpo de uma delas, já morta, com a pele coberta por uma fina camada de poeira branca. Sylvester escutou quando jogaram seu pobre corpo na vala que separava o armazém de uma ribanceira gigante. Mas agora que se levantava, nenhum deles estava por perto, nem ao menos notaram sua ausência ou sequer pensaram em procura-lo, apenas fugiram em busca de um novo abrigo menos vulnerável. Sylvester pressionou a cicatriz nas costas, fechada e com uma leve linha apenas marcando o acontecido. Tinha sido apunhalado, e quando pensou que morreria...

– Ela me salvou. – disse a si mesmo. – Devo isso a ela.

Fechou a mão em um punho. Não queria mais andar com pessoas como aquelas, que nem ao menos se importavam com a aliança. Foi deixado para trás, e quem o salvara era a líder da aliança rival. Sylvester sentia as palavras dela pesando em seus ombros. “Espero que se lembre...”, ele se esforçou, mas só recordava essa parte da frase. Quando as mãos apalparam a aba de sua bota, de lá retirou um pedaço curto, mas inflexível de um cilindro transparente que tinha um líquido avermelhado, parecido com sangue. Era veneno, mas Sylvester não contara que tinha encontrado veneno entre as pilhas de suprimentos. Seus aliados teriam procurado mais, e como não havia mais, iria brigar entre si por ele, e provavelmente o matariam. Veneno é a arma mais sutil e gentil que existe a ser usada. Talvez a única arma que Sylvester conseguia carregar consigo, sem pensar na dolorosa morte de quem o enfrentasse caso ele o matasse. Duvidava muito que mataria alguém. Mas agora não era tempo disso, tinha de sair dali.

Encarou as pilhas de destroços. Não sobrara nada, realmente. Nem uma mochila ou uma garrafa d’água. Muito menos armas, todas estilhaçadas, como se fossem de madeira, embora tivesse sido apenas uma explosão. Enquanto tentava encontrar algo útil, Sylvester escutou o som do grito agudo de alguém, e então o galope. Parecia um cavalo. Depois mais alguns. Em seguida uma pequena manada, e então uma saraivada de cavaleiros em milhares de cavalos, todos com penas na cabeça, roupas de forasteiros e arco-e-flecha em mãos, atirando suas flechas. Sylvester encarou aquilo com perturbação, até que viu quando um menino mal escondido tentou fugir das flechas e foi atingido na perna. A pele de repente de decompôs no lugar ferido e a ferida foi subindo, dominando a coxa, a cintura, até ele gritar, agonizando, e apenas seus músculos, órgãos e ossos restarem. Morreu numa poça de sangue que evaporava a medida que seu corpo foi evaporando junto.

Sylvester fugiu desesperado e em pânico enquanto a nuvem de guerreiros forasteiros se aproximava, mas eles apenas atiraram em algumas portas e armazéns e logo fugiram, dando a volta na cidade abandonada. Os cavalos deixaram as marcas na praça, mas nenhum indício de que tivessem ferido alguém. O menino e sua poça de sangue não existiam mais. As flechas devoravam a madeira seca, formando crateras. Sylvester se ergueu de dentro da carroça que tinha se jogado para fora do feno. Algumas galinhas circularam pelas ruas, apressadas e fugindo. Vacas devoravam outras carroças de feno, e Sylvester achou que aquilo fosse uma adaptação, afinal pensava que vacas só comessem capim. Os animais surgiam, coelhos, lagartos, onde ninguém imaginava, eles se enfiavam, mas eram tão magros e as moscas se apoderavam de seus machucados, a carne já putrefata antes mesmo de se morrer.

Sylvester tinha de sair dali, ir para longe, fugir... Mas onde? Não gostava da sensação de estar sozinho cercado de Alianças. Enquanto caminhava, cortando ruas e chegando a lugares estreitos, ele percebia o quanto aquela cidade era grande. Cerca de dez ruas depois a leste da Cornucópia, chegou a uma pequena porta de ferro, ou aço, ou qualquer metal, mas era muito bem fechada. Quando tentou abri-la, teve a surpresa de perceber que estava trancada. Decidiu escolher um outro lugar para ficar. Um lugar desocupado, de preferência. Mas ele não conhecia nada, tinha passado o tempo todo na praça da Cornucópia...

Percorreu a ruela, eliminando esconderijo após esconderijo, até ter certeza que o problema não era o lugar, mas sim ele. Sylvester se sentia desprotegido, sem aquela armadura que suas meninas faziam sobre ele. Por que os deixara mesmo? Se arrependeu friamente do que fizera, mas assim que encontrou o Sol no horizonte, nascendo, ele piscou e se lembrou: Eles me abandonaram, foi isso.

Seus pés começaram a doer quando finalmente desistiu de encontrar um lugar que lhe desse calma e paz. Tinha de formar uma nova aliança, rápido. Tremia de medo de alguém encontra-lo... Sylvester, que treinara, agora se borrava. Ele não entendia porquê tinha tanta aversão em matar pessoas, mas simplesmente não podia pensar nisso. Temia sujar suas mãos, droga, era uma pessoa, como ele! Talvez essa parte gentil que herdara de sua mãe ao passar anos ao lado dela agora o estivesse afetando. “Que coração de mulherzinha é esse?” se questionou, mas nem ao menos pensou em responder a própria pergunta. Ele queria uma aliança, queria encontrar um novo tributo, que não fosse sanguinário, e aceitasse uma aliança com ele.

Seu desejo se tornou realidade quando dobrou a última esquina da ruela. Lá, adormecido entre os barris vazios que um dia carregaram água, estava um menino, a sombra do telhado quase totalmente destruído de uma cada sem parede, com exceção de pilares que ainda aguentavam metade do telhado. Era uma imagem estranha, afinal ele estava dormindo sobre cinzas, como se o lugar tivesse explodido fazia pouco tempo, mas seu sono era profundo, revelando horas dormindo.

A Aliança dos Fracos estava mais do que detonada. Enquanto um garoto de aproximadamente quinze anos colhia algumas flores perto da casa destruída, seu companheiro dormia em sono intenso, mesmo no calor do deserto, vestindo todas as suas roupas de frio. Quando Sylvester se aproximou do menino, ele apenas o encarou da cintura aos ombros e então lançou um olhar desconfiado para seus cabelos.

– É homem ou mulher? – perguntou, sem olhá-los nos olhos.

Sylvester tentou descobrir se aquilo era deboche, mas concluiu que era apenas ingenuidade.

– Homem. Como você.

– Sei. – ele respondeu, logo se esquecendo de Sylvester e voltando ao seu trabalho com as flores.

– Seu aliado está dormindo faz tempo? Gostaria de conversar com...

– Não acorde Henry, ele pode te matar. É muito irritado e bravo. – advertiu o rapaz menor, enquanto arrancava os espinhos de uma rosa cor-de-areia, como o deserto.

Sylvester assentiu. Aquele menino era novo e bobo demais para formar aliança com ele, mas se conversasse com o garoto dormindo, talvez as coisas fossem diferentes. De certa forma, Sylvester sentiu afeto por ele, lembrava-o de sua infância, de quando queria apenas brincas de correr com a irmã mais velha, mas as tranças em seu cabelo não permitiam que fosse longe demais. Ou quando mamãe o agarrava a força para tomar banho...

Se sentou no chão da casa destruída, perto da entrada, onde o telhado começava. O menino pequeno colheu mais algumas flores e voltou para perto de Sylvester, depositando-as ao seu lado e logo o impressionando novamente.

– Ainda duvida?

– Não. Mas você é estranho. Não gosto de coisas estranhas.

Sylvester soltou uma risada gentil e tocou a cabeça dele.

– Eu me chamo Sylvester. Syl, para facilitar. E você?

– Kristov – Kristov se afastou rapidamente da mão de Sylvester, arrumando os cabelos e tentando evita-lo em contato visual. – Kris, se quiser.

– Certo, Kris. E seu companheiro é...?

– Henry. Eu já disse. – ele então se voltou para Henry, correndo até o rapaz deitado no chão e o empurrou. – Acorde, Henry, acorde.

Sylvester ergueu uma sobrancelha. Henry era mesmo tão cruel quanto Kris descrevera? Pois o menino tinha ido acordá-lo com facilidade demais. Henry se levantou, ainda sonolento, mas assim que ouviu o que seu pequeno companheiro tinha a dizer, agarrou uma arma, que Sylver notou ser uma adaga, e se levantou para ele.

– Que foi, Carreirista? – sua voz era grave, meio rouca, e rude. Quase como se carreirista fosse um insulto em seu dicionário.

– Não sou mais Carreirista, deixei a Aliança. Venho em paz. Quero uma nova aliança.

– E como vou saber se não veio nos matar? Que não está nos enganando para nos matar de noite?

Sylvester pensou numa boa resposta: “Se fosse fazer isso, já estaria morto”, mas quem disse foi Kris.

– Ele parece uma menina, não vai machucar ninguém.


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Notas finais do capítulo

Mandem sugestões de músicas, por favor. Beijos.