Your Hunger Games - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 37
Rayseev Betschovick


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Rayseev Betschovick

The Fray - Run For Your Life

Rayseev se instalou no canto mais afastado da janela o possível. Daniel estava recebendo as coordenadas dos planos de Aryon, assim como o companheiro tinha feito com ele no primeiro dia de Jogos. Rayseev não aceitou muito bem, mas tinha de fazer isso. Afinal apenas um vencia, e se tinha de ser alguém, que fosse Pandora.

– Então vamos encontrar a Aliança e enfrentá-las, essa é a estratégia? – Daniel questionou, descrente. – Só isso?

– Essa é a parte de vocês dois. – Aryon o corrigiu. – Eu vou matar a líder da aliança e assim as outras ficarão como baratas tontas. Presas fáceis. Você pode ficar com parte das armas e dos suprimentos delas, assim como Rayseev, mas eu ficarei com o resto.

– E Pandora. – Ray disse, de seu canto.

– Claro, claro – Aryon tamborilou impacientemente o dedo sobre o punho da outra mão fechada. – E Ray ficará com sua namoradinha.

Rayseev se encolheu, sentindo os ombros tremendo de vergonha e de raiva, mas não disse nada. Aryon era uma entrada bem vinda para brigas e ele normalmente adorava provoca-las. Rayseev aprendeu a ser paciente com o garoto, cuidando da parte infantil igualmente a parte sádica. Rayseev sentia sempre borboletas no estômago quando um canhão anunciava a morte de mais um tributo, e a noite ele tremia ao imaginar ver o rosto de Pandora. Mas sabia que ela não deveria sentir o mesmo. “Nunca me viu como um companheiro romântico. Apenas me usou para confortar sua aflição e para curar seus pensamentos sobre a inevitável morte”. Mas a amava, de forma vívida e tão quente que quase se esquecia do mundo ao lembrar dos beijos que lhe deu. Estremecia ao pensar que nunca mais os tocaria.

Mas, além de qualquer sentimento que Rayseev pudesse nutrir por Pandora, ele sentia vazio. Uma espécie de esfera grande que devorava tudo em seu interior, um buraco negro que sugava-o. Não tinha como descrever além de uma pedra grande e achatada esmagando a boca de seu estômago. Rayseev se sentia sozinho e extremamente melancólico, mas não só por Pandora, por sua família. Pensava neles todos os dias. Onde estariam agora? O que achavam dele nos Jogos? Será que tinham esperanças de que ele vencesse? Esperava que não, o sofrimento seria menor. Enquanto Aryon e Daniel continuavam a conversar sobre a Arena, seus pensamentos fluíram, com devaneios. Imaginara-se de volta ao Distrito 11. Adoraria colher aqueles grãos novamente. Trabalhar debaixo do Sol do Distrito, morrer no meio das laranjeiras e dos limoeiros. Ser enterrado num solo tão fértil quanto qualquer outro e servir de adubo para um Carvalho. Este era o enterro das pessoas do Distrito 11. O Carvalho, mesmo sendo uma árvore sem ligação com a agricultura, era o símbolo do Distrito. Forte, inflexível, duro e conservador. A Floresta dos Carvalhos era o cemitério mais belo que Panem tinha e talvez o mais sombrio. Rayseev se lembrava de ter pedido a mãe que não o enterrasse naquele cemitério quando ele morresse. Mas...

É tão melhor que morrer nos Jogos.

Quando percebeu que seus aliados tinham se levantado e estavam arrumando as armas, concluiu que sairiam para uma das caçadas. Aryon gostava de caçar coelhos e às vezes alguns sapos. Mas detestava comer lagartos ou vacas cheias de moscas, com suas carnes expostas e putrefatas. Daniel não parecia totalmente bem, ainda tinha olheiras debaixo dos olhos e havia dormido tão pouco depois de aceitar a aliança que Rayseev não confiava em leva-lo junto, mas Aryon não notava coisas deste tipo. Ele apenas segurava sua espada com a mão direita e com a outra indicava os caminhos que achava melhor percorrer.

Saíram do galpão, abandonando o abrigo da ex-aliança de Daniel e o cadáver de sua aliada. Ela ainda estava lá, parecia que os Idealizadores não tinham se preocupado em buscar os corpos este ano. Moscas estavam por todos os lados e a Lua deixava claro que o frio era seu amante e o orvalho seu marido. Rayseev nunca imaginou que pudesse haver orvalho no deserto, mas parecia que sim.

Aryon indicava o caminho, normalmente. Daniel estava seguindo-o nos calcanhares e Rayseev se permitiu ir mais atrás. Estava menos preocupado que os outros. Dificilmente algum tributo iria sair de seu abrigo naquele frio. Ninguém o faria em sã consciência. A jaqueta que dera para Daniel agora fazia falta. Rayseev esfregou os braços, tentando se aquecer. A respiração era pequenas baforadas de neblina a sua frente. Isso o cegava um pouco. O escuro era grande, não haviam postes de iluminação ou uma vela sequer. A única coisa que iluminava era a Lua. Rayseev na primeira noite ficara observando o céu noturno por horas. As estrelas era muito mais brilhantes aqui, e numerosas, algo que não havia no Distrito 11, e muito menos na Capital. Um pequeno paraíso. Rayseev constantemente observava as estrelas. Três noites na Arena e já conseguia nomear algumas delas. Suas cores variavam de amarelo ouro para verde oceano e de roxo púrpura para vermelho escarlate. Mas as mais bonitas eram brancas, e estavam sempre agrupadas, formando desenhos que Ray raramente esquecia.

O tigre, com uma cauda feroz e com suas garras levantadas. A flor, com pétalas delicadamente detalhadas de vermelho e um rosa claro, mas com pontos brancos muito brilhantes. O musicista, com a harpa e a flauta em suas mãos. O tributo, com uma espada em mãos e pose de ataque. Mas um conjunto de pequenas estrelas chamava sua atenção mais do que as outras. Eram apenas treze vermelhas, todas muito próximas, formavam uma linha reta no céu, e ao redor delas havia apenas o vazio, o negrume do céu. Mais nenhuma estrela se aproximava. A princípio Rayseev não notara muito, mas agora que observava melhor, contou vinte e quatro estrelas. As novas estrelas estavam enfileiradas a frente das primeiras treze.

Aryon parou rapidamente atrás de um barril vazio, Daniel se escondeu também. Rayseev seguiu o exemplo, embora não soubesse direito o que era.

– Ai está a hora certa para um treino. – sussurrou Aryon. – Distraiam os outros, vou pegar a menina mais afastada.

Daniel assentiu, um pouco submisso demais, mas não era de se espantar, Aryon havia degolado sua aliada diante de seus olhos. Mesmo Rayseev ficara com um pouco de enjoo com a cena. Imaginava se Aryon seria capaz da mesma coisa com Pandora, quando ela se juntasse a sua aliança. Não, desejou, não.

A Aliança Carreirista estava passando. Logo ele entendeu o que era. A Aliança Carreirista era muito fraca na opinião de Aryon, e de certa forma ele tinha razão. Eram todos mauricinhos. Rayseev observou a garota mais afastada que Aryon dissera, e reconheceu que tinha vindo do Distrito 1 pois possuía a mesma beleza e graça dos moradores do Um. Daniel se levantou, quase sonolento e lerdo demais.

– Ary, vamos somente nós dois. Daniel ainda não está bom o suficiente. – disse.

Aryon se voltou para ele, furioso.

– Não me chame de Ary! – ele nem mesmo se preocupava em manter os Carreiristas afastados... – E eu concordo. Daniel você vai ser um peso morto com todo esse sono ai na cara.

Daniel olhou os dois e, fungando triste, aceitou. Rayseev duvidava que ele estivesse mesmo triste, ficar fora do plano e não precisar se arriscar era muito bom. Aryon embainhou a espada. Rayseev retirou as adagas dos bolsos escondidos dentro da camiseta (algo que ele mesmo fizera com partes de tecido da roupas de um outro tributo que haviam matado. As adagas possuíam dois lados, um gume afiadíssimo e outro com serras curvilíneas que poderiam serrar até ossos.

– Apenas corra, finja estar desesperado e chame a atenção deles. O instinto Carreirista os tornarão idiotas bobões loucos por matar. Igual um leão que só come as presas que estão vivas e se movem para longe dele. É o instinto do predador. – Aryon instruiu.

Rayseev assentiu e saiu do esconderijo, correndo o máximo que as pernas permitiam e passando ao lado, tão próximo, da Carreirista que Aryon tinha dito que a fez tropeçar nos próximos pés. Empurrou o único homem na Aliança, que caiu de cara na poeira e então olhou para trás, enquanto as outras duas garotas lhe lançavam olhares indignados e mortais. Exibiu a língua para elas e começou a correr para o fim da rua, ouvindo-as logo atrás. Por sorte ele era bom em correr dentro de florestas, e as ruelas e becos da cidade abandonada eram quase como as árvores e galhos no meio das trilhas. Ele se espremeu contra paredes, entrou em portas, pulou janelas e por fim utilizou algumas caixas empilhadas para subir até o telhado de uma casa quase intacta, talvez a mais sólida. Algumas telhas se moveram, mas as duas Carreiristas passaram tão rápido pela rua que estava seguindo que nem perceberam. Rayseev ouviu o canhão, anunciando uma morte. Se sentou sobre algumas telhas e ergueu a cabeça para as estrelas.

Percebeu que o tigre estava com as patas erguidas em direção ao tributo, e o tributo estava com a espada levantada para o musicista. E as estrelas vermelhas pareciam chover do céu, como sangue.


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Notas finais do capítulo

E então, quem acham que morreu:
a) Dakota
b) Daniel
c) Aryon
d) Viktor
Votem!