Our Strange Duet escrita por Elvish Song


Capítulo 36
Uma conversa amigável


Notas iniciais do capítulo

Erik conversa com Phillip para compreender a alma de seu pretenso aluno.
Espero que gostem do modo como conduzi a conversa.



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POV Erik

O Fantasma conduziu o menino através dos bastidores, sem deixar-se ver pelos atores, produtores, figurinistas e tantos outros trabalhadores da Ópera; guiando Phillip por uma escada em espiral, levou-o para o terraço – gostava daquele lugar por ser isolado e arejado, e permitir-lhe pensar com clareza.

Logo atrás de si, o pequeno se debruçou no peitoril para ver a cidade abaixo; Erik segurou-o pelo ombro, impedindo que se inclinasse demais:

– A curiosidade não é crime, Phillip, mas a falta de cautela já matou muitas pessoas.

– Eu só queria ver a cidade lá embaixo – explicou o menino – é tão bonito.

– Concordo com você: é uma de minhas visões preferidas. – o Fantasma se sentou aos pés da estátua de um anjo – Disse que queria aprender música e mágica, não é?

– Quero muito!

– Então eu tenho uma pergunta... Por que você quer aprender? – E ante o silêncio da criança, lançou mão do poder quase hipnótico que podia dar à própria voz – Pode me contar o que quiser. Diga-me o que sente, o que pensa. Pode confiar em mim.

De repente o semblante de Phillip se tornou extremamente triste. Sentando-se ao lado do mágico, ele respondeu, os olhos baixos:

– Eu sempre gostei de música... E desde que minha mãe morreu... É a única coisa que alivia a dor. Parece que tem um buraco dentro de mim, e eu só consigo esquecer com música. Tentei aprender o que o professor que Christine contratou tinha para me ensinar... Mas ele não via a música do mesmo jeito que eu! Ele me batia quando meus dedos ficavam curvos, e me fazia tocar escalas por horas... Aquilo não aliviava a dor em meu coração, então eu parei. Mas sinto falta da música... Era o que me fazia sentir feliz. É por isso que quero aprender.

Erik meneou a cabeça: compreendia bem a sensação que o pequeno descrevia... Aquele vazio, aquela dor... Haviam lhe sido bastante familiares, por muito tempo. Após ouvir o que lhe fora dito, tudo o que queria era tomar aquela criança sob sua proteção: cuidar de Phillip, ensiná-lo e protegê-lo, fazer sumir a tristeza por ele descrita. Ao mesmo tempo, irritou-se com o professor de música escolhido por Christine: bater em alguém para ensinar música?! Não lhe admirava que o rapaz houvesse desistido! Era o caminho mais certo para fazer uma criança desistir de seus sonhos. Olhando fixamente para o garoto, falou:

– A música não serve apenas para preencher o vazio que a perda nos deixa; ela pode curá-lo. Quer aprender música? Muito bem. Eu lhe ensinarei música. Mas não pense que aprenderá apenas a deslizar os dedos sobre um instrumento: a música que lhe ensinarei é a que vive em tudo e todos. Ela reside na voz, nos instrumentos, no vento, na água, no fogo, mas, acima de tudo, vive dentro de nossas mentes. A música é a essência da arte, pois está mesmo onde não pode ser ouvida. Isso é o que lhe ensinarei.

O olhar do menino de repente se alegrou:

– Obrigada, senhor!

– Não me agradeça, ainda. Eu lhe ensinarei, mas temos um acordo a fazer: Celine me disse que você é arredio e rebelde, que negligencia a escola e desobedece Christine sistematicamente.

– Eu gosto de minha madrinha, mas ela e meu padrinho só sabem falar de horários, deveres e coisas assim...

– Raoul e Christine são boas pessoas, mas vêem o mundo de um modo diferente de nós. Ainda assim, preocupam-se com sua educação, e você deveria aproveitar a chance que lhe dão: a de escolher, um dia, entre viver para a arte, ou levar uma vida comum. Um dia, você agradecerá por ter esta escolha.

– Eu odeio a escola!

– Imagino que sim. Mas nem sempre podemos fazer apenas aquilo de que gostamos, Phillip. Então, proponho um acordo: você se dedicará à escola, e ouvirá o que seus padrinhos lhe disserem. Acabará com essa rebeldia, que não prejudica a ninguém além de você mesmo; em troca, poderá vir para cá todas as tardes, e eu lhe ensinarei o que sei.

O menino sorriu, deliciado:

– Eu aceito! Quero ser como o senhor, um dia!

– Creio que será. Mas, se vamos mesmo ser professor e aluno, não quero que me chame de senhor: Erik terá de bastar. Ou professor. – Ele bagunçou os cabelos de Phillip com uma das mãos – Preciso lhe pedir que, se for indagado por alguém ao vir para suas aulas, não diga quem sou, ou mesmo que me conhece. Diga que veio ver Celine.

– Por que não posso dizer nada a seu respeito?

– Com o tempo, eu lhe explicarei. Por ora, basta dizer que é uma história longa e complicada... Para todos os efeitos, eu não existo. – Ao ver a compreensão nos olhos de Phillip, sorriu e se levantou.

– Professor – o menino tinha um brilho curioso no olhar – Eu posso ver seu rosto?

O Fantasma sentiu o velho medo de rejeição fazer seu coração disparar; seu rosto, porém, não se alterou – ele era muito controlado. Ajoelhando-se para ficar na mesma altura de seu novo aluno, explicou:

– Muitos adultos já se assustaram ao ver o que está embaixo da máscara. Com o tempo, quando aprender a confiar em mim, talvez eu lhe mostre meu rosto: mas apenas quando souber que você não irá me temer quando vir minha face, está bem?

Com a anuência da criança, que tinha um sorriso gentil nos lábios, Erik se levantou e começou a guiá-lo de volta para dentro da Ópera:

– Vamos lá, meu pequeno amigo: o balé começará em breve. Não quero que perca este espetáculo.


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Notas finais do capítulo

Nosso Erik mudou mesmo! Ah, o poder do amor! Só Celine poderia operar tamanha mudança naquele homem sombrio e sofrido que um dia a salvou da morte.