Our Strange Duet escrita por Elvish Song


Capítulo 32
Encontro desagradável


Notas iniciais do capítulo

Mesmo quando a vida é boa, encontros inesperados podem causar certo constrangimento. Felizmente, isso não torna um dia de todo perdido.



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POV Celine

De braço dado com seu amor, Celine caminhava pelas ruas de Paris: era final de outono, e o frio chegara com força, pelo que ela ficava realmente grata – respirar o ar gelado era a única coisa que aliviava os violentos enjôos da gravidez. Mal podia acreditar que, há pouco menos de um ano, ela era prisioneira do circo, vivendo um verdadeiro inferno... Parecia que fora há muito tempo!

No último mês, haviam desenvolvido o costume de passear pelas ruas próximas à Ópera todo começo de noite. Vestindo capa, o capuz sobre o rosto e acompanhado de sua jovem esposa, Erik não chamava a atenção mais do que qualquer senhor bem-vestido o faria: para qualquer transeunte, era apenas um casal normal.

Passavam em frente a uma casa de chá, quando algo chamou a atenção de Celine, que parou e se virou: a dama à porta da loja parecia-lhe estranhamente familiar.

– Algo errado, meu amor? – o Fantasma sussurrou, segurando-a pela cintura.

– Não sei – A mulher ricamente vestida vinha em sua direção, olhando fixo para ela, curiosa.

– Celine? – A mulher perguntou – Você é Celine Daae?

– Sou. – Por um instante, ela ainda não reconheceu a outra, mas então compreendeu: a jovem à sua frente era Christine, sua prima! Um sorriso passou pelos lábios da outra dama, antes que lançasse os braços ao redor da artista, parecendo genuinamente feliz.

Quando se separaram, Christine tinha um sorriso radiante, e perguntou:

– Mas onde foi que você esteve, tanto tempo?! Você foi embora quando tinha oito anos, e desapareceu! Por onde andou? – e tocando as duas cicatrizes que marcavam o rosto de sua única parente viva – Ah, como foi que conseguiu isso?!

– calma, Christine! – Exclamou a figurinista – Uma pergunta de cada vez! Ah, é muito bom ver você! – Embora nunca houvesse sido próxima da prima, a mais moça se sentia realmente alegre ao encontrar a única pessoa viva de sua família.

– Eu digo o mesmo! – A mulher mais velha segurou as mãos de Celine, sorridente – Puxa, tenho tanto para lhe contar! – E contendo o próprio entusiasmo – Ah, perdoe-me a falta de cortesia... Acho que me empolguei. Quem é seu acompanhante?

Celine mordeu os lábios – preferia que Christine nunca houvesse feito aquela pergunta! – e olhou para seu marido. Após um segundo de hesitação, respondeu:

– Este é Erik – suas mãos seguraram a do Fantasma – Meu marido.

O Anjo da Música, ainda que relutante, empurrou o capuz para trás, revelando o rosto e a meia máscara. Ante o olhar aterrorizado da soprano, cumprimentou:

– Boa noite, Condessa de Chagny. Ou deveria chamá-la de... Christine?

POV Erik

Quando ele disse aquelas palavras, pensou que a mulher desmaiaria, tamanha a palidez de seu rosto – Christine tinha de ser tão dramática?! Celine amparou a outra mulher, que murmurou:

– Celine... Celine, esse homem não pode ser seu marido! Você não sabe quem ele é! Não tem idéia do que ele é! – Havia verdadeiro pavor em sua voz, e o Fantasma se indignou: ele cometera muitos crimes, mas jamais machucara aquela garota! Como ela se atrevia a dizer aquelas palavras para sua Celine?!

– Calma, Christine, está tudo bem! – exclamou a mais nova. Ao ver o pânico no olhar da prima, virou-se para Erik, que observava com indiferença – Melhor levá-la para Raoul. Eu volto em um segundo.

Ele apenas aguardou ali, encostado à parede, enquanto sua mulher conduzia a condessa de volta à Casa de Chá. Não sabia definir o que sentira ao rever a garota por quem um dia tivera verdadeira obsessão: fora bom revê-la, e saber que estava feliz... Mas fora estranho perceber que seus sentimentos por ela, agora, eram nada, se comparados ao que sentia por sua estrela.

Puxando o capuz de volta sobre o rosto, o Anjo da Música esperou por longos minutos, até divisar a figura de sua amada vindo para perto de si. A jovem parecia aborrecida, mas seu semblante se desanuviou ao fitá-lo; com um sorrisinho constrangido, sussurrou-lhe:

– Foi difícil me esquivar dela. Está em pânico, insistindo que eu preciso deixá-lo! – ela riu baixinho – Acho que tem medo de você, talvez, cortar minha garganta durante o sono, ou coisa assim, se eu sequer olhar para outro homem.

Brincando com sua esposa, ele franziu o cenho e perguntou, ferino:

– Você pretende olhar? – A gargalhada dela foi música para seus ouvidos, alegrando-o após o desagradável encontro. Erik não pôde deixar de sorrir ao ver a expressão marota de sua amada: ela era tão diferente de Christine... Tão perfeita, corajosa, firme! Como podiam ser parentes?

Celine parou de rir, e sua expressão tornou-se ainda mais travessa – se isso era possível – quando mordeu o lábio inferior e corou:

– Eu fiz uma coisa pela qual você, provavelmente, irá querer usar o cordão sikh em meu pescoço...

Já imaginando o que ela fizera, ele recomeçou a conduzi-la pela rua, de volta ao teatro, e respondeu, a voz séria:

– Eu não vou matar minha esposa apenas porque ela aceitou ir à casa da própria prima, se é o que quer saber. – Ela ia dizer algo, mas Erik continuou – E nem por ela ter convidado o casal De Chagny a vir assistir A Sílfide no camarote cinco.

– Você ouviu? – Celine tinha um olhar surpreso.

– Cada palavra. – Ele lutava para esconder o divertimento em sua voz.

– Ah! Músicos e sua audição! Achei que você fosse me repreender.

– Eu disse que não a mataria por isso – ele a segurou pelo braço, parou de andar e a beijou – Não que aprovava. – baixou ainda mais o tom de voz, sussurrando ao seu ouvido - Ou que você não terá de responder por seus atos, mais tarde.

– Eu tenho meios para convencê-lo – declarou a artista, correndo os dedos pela nuca do Fantasma, arrepiando sua pele; ele ia abrindo a boca para responder quando a expressão dela se alterou – Psiu! Escute!

Ele apurou os ouvidos e prestou atenção ao entorno: de um ponto pouco à frente, vinha um som fraco. Celine correu na direção do barulho, agachando-se para olhar por entre uma pilha de tábuas enquanto Erik a alcançava. De entre as peças de madeira, viu sua esposa retirar um adorável embrulho de pêlos negros: um filhote de gato que teria, no máximo, dois meses de vida. Ela se levantou com a bolinha de pêlos nas mãos, e disse:

– Está sozinho. E congelando, coitadinho! – sua estrela colocou o filhote, que ronronava, em seu colo, e fechou a capa sobre ele, deixando apenas a cabecinha para fora.

Com um sorriso, o Anjo acariciou a cabeça do animalzinho, e perguntou:

– Já comentei que adoro gatos?

Celine riu, e o Fantasma com ela, enquanto caminhavam de volta para casa. Nem tudo fora desagradável naquela noite, afinal.


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Notas finais do capítulo

Em que resultará a visita de Celine à Condessa de Chagny? Expectativas acerca do próximo capítulo!