Our Strange Duet escrita por Elvish Song


Capítulo 28
Vingança!


Notas iniciais do capítulo

Aqui, revela-se o lado obscuro de Celine, e relembramos que Erik também possui um lado cruel.



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POV Celine

O coração de Celine estava acelerado: depois de três semanas aprendendo com Erik, ele considerara sua habilidade suficiente para o ajuste de contas com Louis de Toulouse e seu “amigo”. Graças a Antoinette – a qual dissera a todos que a garota se afastara temporariamente devido a uma feia queda da escada – não precisara sair da Casa do Lago, tampouco dar explicações acerca dos machucados. Pudera dedicar-se apenas a aprender o que seu marido tinha para lhe ensinar.

Erik lhe dissera que o melhor método para enfrentar um oponente mais forte era confundir-lhe os sentidos, para abalar sua confiança. Para tanto, ensinara à jovem como usar uma capa para criar distrações e induzir uma pessoa a antever um falso movimento; difícil, a princípio, mas simples quando se dominava a técnica de ondulação do tecido pesado. Em segundo lugar, haviam vindo as cortinas de fumaça – mais uma técnica de fuga do que de ataque. Estas consistiam em esferas de cerâmica cheias de pólvora e sais hidratados que, quando detonadas, liberavam grande quantidade de vapor colorido e labaredas momentâneas: distração suficiente para um movimento rápido, o qual poderia pôr fim a uma luta.

Depois de dominar as técnicas da capa e da fumaça, o Fantasma a fizera aprender como partir a espinha de um homem com um cordão sikh; exigia um pouco mais de força e coordenação, mas não chegava a ser um desafio. Não tanto quanto entender os movimentos usados no assassinato com adagas: uma simples torção, um empurrão discreto, um abraço que terminava em morte... Ações mínimas, que apenas posicionavam a lâmina estreita e curta do modo correto, para que sua vítima empalasse a si mesma.

E, finalmente, ele a alertara para a arma decisiva: o olhar, a postura, a linguagem corporal. Se tremesse, vacilasse ou demonstrasse medo no olhar, perderia a chance de vencer seu inimigo antes mesmo de desembainhar uma faca. Isso ela sabia. E sabia, também, que não fraquejaria! Ela não tremeria diante de seus malfeitores! Não seria forte apenas por si, mas também porque teria seu amor perto de si, e fracassar diante dele seria impensável!

Se ela era teimosa, seu marido se mostrara duas vezes mais: não recuara sequer um milímetro em seu intento de acompanhá-la. Dissera-lhe que, se dela era o direito de vingança, dele era o direito de querer mantê-la segura. E Celine concordara... Para ser sincera consigo mesma, estava aliviada por ter seu Anjo consigo, enquanto atravessava a noite parisiense em direção à casa do barão.

Seu alvo estava, como de costume, em alguma taverna qualquer, e em breve chegaria ao lar – a moça fizera questão de saber bem os costumes do alvo de sua fúria. Com o capuz a ocultar seu rosto, ela saltou por sobre a sebe e a cerca de lanças da suntuosa residência, vendo-se no sofisticado jardim. Não pôde evitar a pena que teve dos pais de Louis: morrer e deixar tudo o que haviam construído para um filho bêbado e indigno...

Erik saltou logo atrás dela, escondendo-se nas sombras: somente sairia dali se sua esposa precisasse de ajuda. A artista, sem demonstrar sua ansiedade, cruzou os braços e apoiou as costas na fonte que rumorejava ao centro do jardim.

Não se passou muito tempo antes que uma carruagem parasse diante do portão; palavras arrastadas soaram enquanto o rangido das grades a serem abertas anunciava que o barão chegara. Com um suspiro, a mulher endireitou o corpo, cobriu melhor o rosto e andou a passos firmes na direção de sua presa.

O rapaz alcoolizado levou algum tempo para perceber a figura que lhe bloqueava o caminho. Quando o fez, a voz feminina se fez ouvir:

– Nós temos contas a acertar, milorde.

Toda a embriaguez pareceu desaparecer quando o recém-chegado reconheceu sua interlocutora; com os olhos arregalados, exclamou:

– Não pode ser! Você estava morrendo! Eu a deixei quase morta!

– Pois é... – a voz dela soava fria e irônica – É tão constrangedor quando as pessoas não fazem o que pretendemos... Infelizmente para você, é preciso mais do que alguns golpes no rosto para me matar. Terá a mesma resistência, barão? Espero que sim: odiaria ter jogado tempo fora com planejamentos inúteis.

Levando as mãos ao capuz, ela preparou o movimento para lançá-lo para trás, mas não foi o que fez: com uma guinada ágil da mão, lançou a ponta da capa para frente, o que fez o rapaz dar um salto para o lado, apenas para que uma cortina de fumaça e chamas irrompesse momentaneamente por entre seus pés, derrubando-o.

Enroscado na própria capa, o arrogante nobre era agora uma figura patética e chorosa; colocando um pé em sua garganta, a moça reprovou:

– Tão fácil... Espero que seu amigo me dê mais trabalho – a mão dele lhe agarrou o tornozelo, mas antes que pudesse derrubá-la, foi atingido por um soco no rosto. Bêbado demais para conseguir se levantar, concluiu a garota – Eu só quero que saiba por que vai morrer: eu vou matá-lo por me ter humilhado, espancado e ferido. Eu vou matá-lo por toda a dor e vergonha que me fez passar; fá-lo-ei por todas as garotas a quem já fez coisa semelhante, e por todas a quem ainda faria, se eu o deixasse viver.

Com um joelho sobre o peito de sua presa, ela desembainhou a adaga e a cravou na garganta exposta – sentir a arma se enterrar na carne e ver a vida se apagar nos olhos de seu agressor foi horrível. Ela se sentiu mal com aquilo, mas, ao mesmo tempo, foi inundada por alívio: só agora percebia que, desde o dia do estupro, convivera com o medo a cada segundo. Medo este que agora a abandonava de uma só vez.

Erguendo os olhos, ela percebeu que uma segunda pessoa entrava trôpega pelo portão: o ignoto amigo de sua primeira vítima! Ela quase se arrependia de tanto treinamento... Preferia que eles estivessem sóbrios, e pudessem lhe oferecer alguma resistência.

O segundo homem parou, estático, ao ver seu amigo morto numa poça do próprio sangue. Embriagado e surpreso demais, não percebeu a figura que se movia sutilmente nas sombras. Como se vinda do nada, a voz de mulher falou ao seu lado:

– E agora, é sua vez. – Celine enrolou o cordão de seda na garganta de seu estuprador – isso é pela mulher que você violentou no teatro, e por todas aquelas a quem atacou em sua vida. – A faca encontrou facilmente o caminho pela jugular pulsante, mas nem uma gota de sangue espirrou sobre a assassina, que se colocou atrás do cadáver para puxar a arma.

Diante dos dois corpos, ela se surpreendeu com as próprias emoções: pena. Mesmo sem compreender por que fazia aquilo, ajoelhou-se ao lado de cada um dos corpos e, fechando-lhes os olhos, murmurou:

– Descanse em paz. Que, se existir um deus, ele lhe seja clemente. – Mas não podia deixar de ser prática: revistando os cadáveres, retirou-lhes tudo de valor que tinham, para fazer as mortes parecerem motivadas por assalto. Jogaria tudo aquilo no primeiro bueiro que encontrasse.

Guardando as armas, caminhou até seu marido. Seu semblante devia estar sereno, apesar do turbilhão em seu coração, pois o Anjo apenas acariciou-lhe o rosto e declarou:

– perfeita, como em tudo o que faz.

Com um sorriso, respirou fundo: orgulho, alívio e pesar se mesclavam dentro de si. Não gostara de matar, mas, ao mesmo tempo, sabia que fora perfeita. Acima de tudo, estava aliviada por saber que aquelas mãos nas poças de sangue nunca mais a tocariam.


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Notas finais do capítulo

Ela fez o que tinha de fazer... Mas e agora? Seguir em frente como se nunca houvesse sido atacada, ou usar o mal que lhe haviam feito para aprender e crescer como ser humano?