Vida de Quem? escrita por March Hare


Capítulo 4
Escolhas


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura



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Novamente correram os anos, longos e impiedosos. Sua vida seguiu, você terminou a faculdade, casou, teve filhos... Viveu, e muito bem por sinal. Uma casa grande, um carro incrivelmente legal (de acordo com você mesmo), três filhos lindos que te deixam muito orgulhoso, uma esposa maravilhosa e um trabalho muito bem remunerado. O que mais você podia querer?

Um certo loiro alto e forte com sua estranha e inseparável touca azul cairia bem, não é? Não que você não amasse Emily, mas...

Algumas vezes você pensava nele, seriamente imaginava o que acontecia. Será que ele tinha casado também? Será que se mudou para outro país? Você não tinha ideia. Curiosamente, quase sempre que você se perguntava “onde será que Cláudio está?”, você o via andando ou parado em algum lugar da rua, geralmente no meio da multidão. Nunca teve certeza se realmente era ele, mas normalmente isso não te impediria de ir falar com qualquer conhecido. O problema é que ele nunca foi qualquer conhecido, ele era diferente e você temia tanto ouvir seu nome sendo dito por aqueles lábios pálidos e quase sempre rachados.

Não sabia o porquê de tamanho medo. Talvez fosse pela família, pela esposa, pelo mundo que definitivamente não era o mesmo de sua adolescência. Você tem trinta, não dezoito. Esse medo podia te impedir de falar com ele, mas não impedia de pensar nele.

Nunca contou para ninguém sobre Cláudio, nem sequer um mísero comentário. Ele era seu segredo, seu tesouro enterrado. Você sempre sentiu que não deveria falar para ninguém. Mas mesmo assim pequenos detalhes do outro estavam presentes em sua vida para qualquer um ver.

Sua filha mais velha se chama Cláudia. Era ela linda e muitas vezes, quando você estava distraído, seus cachos loiros, puxados da mãe, te lembravam tanto do homem que foi o porquê de seu nome... Ela tinha sete anos quando o acidente aconteceu. A mesma idade que você tinha quando o conheceu.

Foi o carro. Aquele carro que você quase idolatrava se tornou a fonte dos problemas de sua família, das lágrimas desesperadas da pequena Cláudia, da depressão de Emily, do vazio deixado pela falta de lembranças do pai deixado no coração dos gêmeos Miguel e Maria. O carro tão legal foi o motivo de sua morte.

Não negue. Você sabe que vai morrer. Sabe que se não fosse não estaria lembrando de tudo isso e muito mais. Em algumas horas seus olhos fecharão para não mais abrir no mesmo hospital onde seus filhos nasceram, em alguns dias uma missa aconteceria em sua homenagem na mesma igreja onde foi o seu casamento. Não é interessante que os lugares onde aconteceram os dias mais felizes da sua vida se tornassem tão tristes?

Foi por causa do freio. Acertou direto um muro, culpa de ninguém mais do que a sua própria ignorância. Você sabia que deveria ir num mecânico, o carro já parecia estranho há dias. Mas escolheu ignorar e como resultado, ganhou uma nova moradia e uma dívida para sua família. Nada esperto Marcos, nada esperto.

Chegou no hospital rapidamente, recebendo todos os cuidados que devia. Sua situação parecia estável, mas nunca saiu da faze de risco. Durante o dia recebeu visitas de Emily e dos filhos, mas os mandou para casa. Por mais fraco que tivesse, sabia que hospital não era um bom lugar para crianças.

A dor não te permitia pensar muito bem. Se permitisse, saberia que tudo aquilo poderia ter sido facilmente evitado. Marcos, Marcos... Sente o tempo escorrer por seus dedos?

[ But you've got to make choices
Be wrong or right
Sometimes you've got to sacrifice the things you like ]


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Notas finais do capítulo

Desculpe qualquer erro e obrigada por ler.



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