Vida de Quem? escrita por March Hare


Capítulo 3
Ampulheta


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura



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O tempo passou e logo você tinha dezoito. Com essa idade, você já não se importava mais com o porquê dos sonhos cada dia mais eróticos que tinha com Cláudio. Ah não, realmente não se importava, a sua única preocupação era em como realiza-lo

Com intenções nada puras, você ligou para ele e o convidou para ir em sua casa, esperando ouvir o tão adorado “Claro, Marcos!” de sempre, mas...

– Desculpa, não posso ir.

Você entrou em estado de choque. Ele, o menino estranho da touca azul, seu Cláudio, aquele que nunca tinha lhe dito um não... Como o belo menino mimado que você sempre foi, não aceitou aquilo muito bem.

Desligou o telefone na cara dele e nos dias seguintes fingiu que não o enxergava, que ele não existia. Pela primeira vez você lembra de algo estranho. Quanto mais você o ignorava, mais Cláudio parecia doente. No primeiro dia foram as olheiras. No segundo, a pele pálida. No fim daquela semana você teve que parar de andar e segura-lo para que não caísse do chão em um desmaio.

Já estavam da mesma altura. A puberdade tinha feito bem para você, Marcos. Deixou de ser desajeitado para se tornar alto e forte, desejo de muitas garotas da escola, que não demoravam em passar noites dividindo a cama com você. Então não foi difícil carregar Cláudio, mesmo este tendo físico semelhante ao seu. O carregou como em alguns anos você carregaria sua esposa para entrar na casa nova de vocês. Ela ficará linda vestida de noiva.

– Você está bem? – Perguntou enquanto o colocava em um banco da mesma praça em que brincavam quando eram crianças e se sentava perto.

Ele sorriu e você, acredite se quiser Marcos, corou. Era um sorriso tão belo e único... Aquele brilho de vida no rosto doente do loiro ficaria eternamente marcado em sua memória.

– Agora eu vou ficar bem. Obrigado.

Seu coração pulou no peito quando a touca azul e a cabeça que se encontrava embaixo dela começou a se aproximar. O primeiro beijo de vocês foi doce e delicado, um mísero selinho. Com este pequeno ato você notou que as coisas não funcionavam de um modo tão direto com Cláudio. Ele nunca foi uma das meninas apaixonadas que abriam as pernas para você sempre que quisesse, Marcos. Cláudio era diferente. Era especial.

Ficaram alguns segundos em silêncio, só sorrindo e compartilhando pensamentos secretos pelo olhar. Você sentia que ele sabia tudo, que ele conhecia partes de sua alma e de sua mente que nem você conhecia.

– Posso te levar para a escola? – A voz dele era tão doce quanto aquele selinho. Você riu como uma criança.

– Você acabou de quase desmaiar na minha frente e ainda quer andar seis quarteirões comigo até a escola?

– Tenho que aproveitar. Em alguns meses você estará na faculdade e eu não vou andar com você até a escola.

O tom melancólico dele te assustou. Não entendia o porquê, mas ele parecia narrar a morte, como se sua formatura fosse acabar com tudo.

– Não é como se as coisas fossem mudar tanto assim...

Ele só sorriu diante de suas palavras inseguras. Ao contrário de você, ele sabia do que acontecia, aconteceu, acontecerá... Entendia tudo de uma que nem mesmo agora você entende.

Caminharam até a escola como fariam todos os dias até o seu último dia de aula. Você era um aluno orgulhoso, sentindo que o fim das aulas representava uma tarefa concluída. Mas Cláudio... Foi a única vez que o viu chorar e a única vez que ele aceitou ir até a sua casa.

Seus pais estavam trabalhando, então não demorou para você leva-lo para seu quarto, sua cama. O beijava e abraçava, adorando o modo que ele parecia delicado e frágil em seus braços enquanto você sentia os músculos do corpo dele e todo aquele aperto firme ao seu redor. Era tudo exatamente como você tinha sonhado.

Amaram-se intensamente naquela noite. Até hoje seu corpo é dominado por arrepios ao lembrar de como foi bom estar dentro dele e depois tê-lo dentro de você. Lembra-se de todo o carinho que era expresso pelo corpo do loiro enquanto você estava em seus braços fortes, o quão protegido aquele corpo grande te fazia sentir. Você nunca mais se sentiu daquela maneira.

Mas há outro sentimento que você não consegue esquecer. No meio da madrugada, acordou como muitas vezes fazia. Para sua surpresa, era como se nada tivesse acontecido. Você estava vestido, deitado sozinho como se nada daquilo tivesse acontecido e nenhum sinal de que Cláudio um dia tivesse um dia entrado ali. Não acreditou. Não podia ter sido só um sonho, certamente não podia, era real demais... Ah, Marcos, seu desespero era tão grande. Mas mesmo assim você não falou com Cláudio sobre aquilo. Talvez se tivesse falado o mundo de vocês seria um pouco diferente.

A relação de vocês continuou o mesmo por um tempo. No começo Cláudio andava com você até a faculdade, vocês sorriam e conversavam e tudo continuava lindo, mas... Você estava errado Marcos. As coisas mudaram tanto assim. Você conheceu outras pessoas, novas e interessantes, passou a ter outras responsabilidades, passou a ser tratado mais como adulto e menos como moleque. Era diferente demais a vida de universitário. Pouco a pouco vocês foram se afastando, afastando, afastando... A última vez que você o viu foi quando terminava de fazer o terceiro período.

Para vocês, o tempo sempre passava como em uma ampulheta, Marcos. Uma hora as areias param de correr.

[ No, nothing stays the same

Love, oh it fades away,it fades away

Everything changes doesn't it baby

It's amazing how time flies

Turning the pages of yesterday

In only a blink of an eye

Everything changes, everything changes ]


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Notas finais do capítulo

Desculpe qualquer erro e obrigado por ler



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