Vida de Quem? escrita por March Hare


Capítulo 2
Construção


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura



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Os dias seguiam naquela rotina, você começou a ficar um pouco mais curioso sobre o menino estranho. Depois de um tempo você começou a ficar mais curioso sobre ele. Passaram a conversar além de brincar e correr, afinal, aquilo estava cansando até mesmo você.

– Estranho... como é sua família? Eu moro com a minha mãe, meu pai e minha avó. Mamãe é advogada e papai constrói prédios. Eles são os melhores pais do mundo. – Você disse feliz, realmente amava sua família.

Observou o outro pensar um pouco, ele não sabia o que dizer e naquele dia você não entendeu o porquê.

– Não sou estranho. E eu moro só com meu pai, mas ele não tem muito tempo para mim. Papai... – Ele pensou por um tempo, te deixando impaciente – Papai constrói pessoas.

– Não seja ridículo! Ninguém constrói pessoas!

– Meu pai constrói.

– Mentiroso! – Você gritou, implicando com ele antes de se levantar e voltar a correr, o puxando pelo braço.

Os dias pareciam voar, ou talvez você só não se lembre de mais nada importante daqueles tempos de praça. Você cresceu e cada ano passava a ir menos no lugar e encontrar menos o menino estranho, afinal, tinha feito outros amigos.

Quando fez dez anos parou de encontra-lo. Sequer pensou em procura-lo. Durante quatro anos esqueceu totalmente daquele que foi companhia durante muitas tardes de tédio.

Foi nas férias do fim do ano de seu décimo-quarto aniversário que você voltou a vê-lo. Estava entediado, seus amigos viajando ou fazendo coisas mais importantes do que sair com você. Isso resultou em um Marcos irritado andando pela rua e procurando algo para fazer.

Então quase que por um milagre ele estava lá, sentado num banco do outro lado da rua. Você quase não o reconheceu. Do menino frágil que você tinha conhecido, só restou a touca azul. Ele estava alto, com o cabelo caindo até o ombro em leves cachos loiros. Usava um colete escuro sobre uma blusa clara e um jeans simples. Era como se o tivesse vendo novamente pela primeira vez e, como da primeira vez, você foi lá falar.

– Oi – Disse do mesmo jeito intimo da outra vez.

– Oi Marcos – ele disse rindo. Estava realmente diferente.

Você se sentou ao seu lado e passaram o dia inteiro conversando. Ele estava tão mudado que nem conseguiu acreditar. Ele era tudo que você queria no momento.

Aquele dia se repetiu muitas vezes. Não importava quantas vezes ou que horas você ligasse, ele estava lá, pronto para saírem e fazerem qualquer coisa, sempre divertido. Você descobriu que ele realmente era mais velho, já tinha dezesseis e tinha deixado a escola para ajudar o pai. Se recusou a dizer mais sobre no que tinha que ajudar.

As conversas seguiram assim por anos, quando seus amigos da escola não estavam lá, sempre tinha Cláudio. Ele te ouvia, deixava reclamar e a resposta para qualquer convite era um alegre “Claro, Marcos!”. Você realmente não podia pedir mais. Ele logo passou a te acompanhar para a escola todas as manhas e voltar com você todas as tardes. Pouco menos de um ano depois, ele já não te deixava nem nos sonhos cheios de hormônios adolescentes.

Não importava quantas vezes você sonhasse com os peitos das meninas, com as mais quentes noites de sexo as envolvendo, era sempre ouvindo a voz levemente rouca de Claudio te chamando pelo nome que você atingia o ápice do prazer. Isso te deixava confuso. Estaria sentindo alguma coisa que não fosse só amizade pelo loiro? Não conseguia imaginar aquilo sendo verdade, não fazia sentido. Não para você, pelo menos.

Era muito irritante olhar para frente e só ver andaimes e tacumes de uma obra que a única pista do que seria era uma grande placa escrita “Em Construção” que não dizia mais nada. Como é agora olhar para trás e ver tudo pronto?

[You can call me when you want me, if you need a friend you got me
I'll be your everything, fulfill your every dream]


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Notas finais do capítulo

Desculpe qualquer erro e obrigada por ler.



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