Novo Mundo escrita por Mi Freire


Capítulo 9
Perdendo a amizade.


Notas iniciais do capítulo

Bom, os capítulos são sempre uma mistura de tudo. Vários momentos. Esse é basicamente como os outros. Há pontos negativos e positivos. Explica muita coisa e tem também novidades.



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David foi buscar Alison aquela manhã na Universidade em sua moto, os dois tinham combinado de almoçarem juntos. Ela escolheu o restaurante, já que ele raramente frequentava lugares assim. Os dois sentaram-se em um canto, o garçom se aproximou para anotar os pedidos e enquanto isso os dois engataram em uma conversa.

— Eu conheci a Meredith em uma festa de uma Fraternidade da Universidade em que ela estudava na época. – David havia decidido dizer toda a verdade a Alison. — Tínhamos alguns amigos em comum e aí rolou naquela noite mesmo. Ficamos juntos a noite toda e nos reencontramos nos dias seguintes. Não demorou muito para que engatássemos um namoro.

O garçom rompeu a conversa para trazer os pedidos, depositando sobre a mesa um prato para cada um, copos e refrigerante.

David o dispensou com um aceno, agradecido.

— Namoramos por quase dois anos. Ela foi a minha primeira namorada séria. Na época, eu estava completamente apaixonado, fazia tudo por ela. O amor que eu sentia por ela era daquele tipo que te consume por inteiro, sabe? Aquele que te faz ter uma única certeza no mundo: ela é a mulher certa pra mim e vamos ficar juntos para sempre. Nunca antes havia sentido nada parecido. Eu estava cego de amor.

David não conseguia olhar diretamente nos olhos de Alison, envergonhado por suas confissões. Era algo na sua vida que ele gostaria de poder apagar de vez. Mas nunca soube ao certo como. Apesar de que com os anos as coisas realmente amenizaram, até chegaram a desaparecer, todo aquele sentimento intenso, aquele amor fora do normal, aquele ciúme doentio, aquela saudade que parecia querer matar. O tempo realmente funciona. Tudo é uma questão de paciência.

— E depois, o que aconteceu? Porque não deu certo?

— Ela me trocou por outro. Um cara dezoito anos mais velho! Um cara que daria a ela tudo que eu não podia. Diferentemente de mim que nunca quis nada sério com a vida, que não fazia planos para o futuro, não pensava em casamento, filhos, aliança, casa e toda essa babaquice; o cara era rico, tinha uma casa maior que as dos meus pais, estava divorciado, tinha um filho e ainda pensava em ter outros... Bom, basicamente ela me trocou por algo bem melhor sem nem antes romper comigo. Simples assim.

— Esse cara é o... Mr. Jamie? – Alison riu, apesar de tudo. Sentia muito por David, mas a situação era um tanto engraçada. Pelo menos para ela sim. Afinal, estavam falando da antiga professora dela, Meredith, uma das melhores e o marido dela, Jamie Foster, o senhor grisalho e elegantíssimos que Alison conheceu na Universidade que a própria Meredith apresentou a ela.

— Você conhece... Ele? – David arqueou a sobrancelha. De fato, o mundo é muito pequeno. Há determinadas pessoas que ele já conheceu que gostaria de poder simplesmente esquecer a existência.

— Claro! Conheço sim! – ela sorria. — Meredith me apresentou ele em um evento beneficente que a Colúmbia oferece todos os anos. E cá entre nós, ele pode até ser bem mais velho que ela, mas é bem charmoso para um senhor já com mais idade.

— Ah, por favor, Alison. – brandiu David, impaciente. — Me polpe de tais comentários. Já não foi fácil ser passado pra trás por quem eu achava ser o amor da minha vida por um velho babão e agora vem você me fazer sentir ainda pior.

Alison caiu na gargalhada.

Homens... Sempre tão dramáticos!

≈≈≈

— Eu não acredito que foi só por isso que você não quis me contar a verdade aquela noite! Eu pensei que era sério, Dave.

— E foi. Claro que foi! Eu sofri, legal? – ele batia os pés com força nos degraus no prédio dela enquanto subiam. — Eu sofri muito. Você nem imagina o quanto. Ela era tudo pra mim! Praticamente a razão da minha vida. De tão estupido que eu fui, para você ver.

Ela ainda ria da situação, não conseguia imaginar um David tão apaixonado assim por uma mulher. Mas por outro lado, algo dentro dela a incomodava, a feria. Talvez fosse ciúmes por saber que um dia ele amou tanto alguém que não era ela a ponto de se perder dentro de si mesmo.

Mas o que ela era para se sentir assim, afinal? Apenas uma amiga. isso. Não tinha motivos para ter ciúmes dele com uma ex-namorada, um antigo amor, uma história que não deu certo apesar de ter sido a única e a primeira da vida dele. O primeiro amor é sempre pra toda a vida, nem quando se quer é possível esquecer. E também, eles nem se conheciam na época. E que cara não morreria de amores por Meredith Foster? Ela é perfeita, linda, loura, inteligente e.... Tudo mais.

— O que foi? Que cara é essa? – David abriu a porta e os dois entrarem. Ele já era mais que de casa. Era como se ele vivesse ali praticamente. — Eu disse alguma coisa errada?

— Não. Não! Não é isso. – ela tentou sorrir. — Eu só estou preocupada com uma prova que vou ter amanhã. Só isso. – ela mentiu e ele acreditou. Tolinho. — Vamos assistir alguma coisa?

Não era só isso, claro que não era só isso. Ele sabia muito bem, já a conhecia o suficiente para perceber quando ela mentia. Mas aquele era um dos momentos que ele preferia não insistir muito ou a situação poderia se agravar. E ele não queria que as coisas ficassem ruins entre eles.

≈≈≈

— Você realmente gosta dele, não é mesmo? – perguntou Margo, passando a panela de brigadeiro para Alison. As duas haviam acabado de chegar da faculdade e agora estavam largadas no sofá do apartamento de Margo aproveitando a tarde livre e assistindo algumas séries, com os dois gatinhos aos seus pés. — Digo, muito mais que uma amiga.

— Não! Claro que não! Ficou maluca? David e eu somos como irmãos. Você sabe muito bem. – Alison desconversou, levando uma colher cheia de chocolate até a boca.

— Não é o que parece. E eu te conheço bem amiga. – Margo tirou os sapatos velhos e sujos, atirando-os longe para se deitar no sofá. — Quando você fala dele seus olhos brilham mais que o normal. E também, amigos não sentem tanto ciúmes assim um do outro.

Alison contava praticamente tudo a Margo, eram confidentes. É claro que não havia deixado de fora a história que David contou sobre ele e Meredith, incluindo também a parte do ciúmes bobo.

— Não seja boba. Meus olhos estão normais. Veja. – Alison piscou diversas vezes, fazendo Margo rir. — E afinal, eu não sei se foi bem ciúmes. Eu só não esperava que ele já tivesse tido um grande amor.

— Por falar nisso, meu irmão, o Brad, vem passar uns dias aqui. Ele está quase se formando e está procurando um emprego.

Bradley Evans, ou só Brad, é o irmão mais velho de Margo e também o único. Ele tem vinte e quatro anos. Está se formando em Jornalismo. Foi o primeiro homem com quem Alison se deitou e fez amor pela primeira vez. Isso não faz muito tempo, aconteceu no primeiro ano de faculdade dela, no segundo semestre, quando tudo era novidade. E quando também ela e Margo já eram bem amigas. Conheceu Brad em uma festinha de família. Estavam todos da família de Margo lá, na casa dos pais dela, incluindo seus primos. Os adolescentes trancafiados em um quarto brincavam de fazer apostas.

Foi então que um dos primos de Margo, o mais abusado e o mais brincalhão, desafiou Alison a tirar a blusa na frente de todos. Claro que ela não o fez, ficou horrorizada, sentiu-se muito mal, sempre foi muito careta e também era virgem. Não havia mostrado seu corpo ainda a ninguém, só que ninguém conseguia acreditar naquilo. Afinal, ela sempre foi muito bonita.

Após ter recusado vários desafios, ainda sem saber ao certo porque estava fazendo parte daqui, mais por Margo, sua amiga, do que por qualquer outra coisa. E então começaram a tirar sarro dela por ser tão medrosa. Alison saiu do quarto, chorando, sentiu-se ridicularizada pelos outros, o pior de tudo foi que Margo não foi atrás dela.

Mas Bradley foi e a encontrou lá baixo, sentada na porta, do lado de fora. Ocupando a passagem, aos prantos.

Ele ficou apenas ali, ao seu lado, o braço sobre o ombro dela, protegendo-a do frio enquanto ela chorava, recoberta de vergonha. Bradley gostou dela, desde o primeiro momento em que se conheceram, gostou mesmo. Mas o que Alison não sabia é que antes de ele vir atrás dela, haviam desafiado ele.

Os dois não fizeram nada naquela noite, mas a partir daquele momento se tornaram bons amigos e voltaram a se encontrar sempre que podiam. Foram se tornando íntimos, até que em poucas semanas Alison definitivamente sentiu-se preparada. Acima de tudo sentia-se pressionada por todos a sua volta. Não queria ser excluída só porque ainda era uma... Menininha. Queria poder estar por dentro, queria fazer parte do todo e entregou-se para Brad. Não poderia conhecer ninguém melhor que ele para aquilo.

Depois que terminaram ela sentiu-se diferente, um pouco invadida, como se pudesse enxergar o mundo de outra forma sem aquela inocência, mas não era algo tão excepcional, apenas diferente. Não sabia se diferente bom ou diferente ruim. Mas gostou. Pouco doeu. Brad foi carinhoso, cuidadoso e doce. Ela não se arrependeu e depois ainda tinha esperanças que eles pudessem ser muito mais que amigos.

Mas naquela mesma noite acabou descobrindo duas coisas muito importantes: Bradley havia sido desafiado a ficar com ela, por isso no início ele foi tão gentil ao se aproximar, queria conquistá-la para ganhar uma aposta. E conseguiu. Mas antes de conseguir, ele acabou nutrindo sentimentos fortes por ela.

Mas aí já era tarde demais, depois que Alison soube da verdade, a segunda coisa que descobriu nem teve tanta importância assim: Bradley também era virgem. Isso ela não poderia esperar vindo dele, que sempre foi muito bonito com sua pele pálida, alto, magro, os cabelos e a pouca barba cor de areia e os olhos azuis-acinzentados. Além de ser mais velho.

Teve muito ódio dele, chorou por dias, enquanto Margo a consolava por ter sido uma amiga cruel por saber a verdade e não ter a alertado. Mas depois, Alison o perdoou, chegaram a ter uma conversa civilizada, tudo foi esclarecido e as coisas entre os dois ficaram tudo bem, pois ambos foram infantis, imaturos e eram inexperientes.

Os dois sofreram pressões por todos os lados.

E agora, fazia um bom tempo em que não se viam, mas o reencontro estava cada vez mais próximo.

O que Alison poderia esperar disso?

≈≈≈

Naquele domingo à tarde, Alison estava determinada a conseguir preparar seu primeiro bolo feito em casa. Sabia que David ficaria orgulhoso por ela ter progredido. Pesquisou na internet uma receita fácil, uma das preferidas dele de cenoura com calda de chocolate.

Gael não tirava os olhos dela, atento.

Foi então que Alison se deu conta que o fermento não seria o suficiente. Mas não tinha problemas, afinal poderia pegar um pouquinho emprestado com Margo. Alison lavou as mãos, limpou no avental e saiu, indo até o apartamento da frente para pedir um favor.

A porta estava trancada, então resolveu bater.

Torcendo para que sua amiga estivesse em casa e sozinha.

— Alison? É bom de ter! – era Tony. Ah não. Logo ele! E pior, só de toalha. O abdome liso todo de fora e os cabelos dourados molhados.

— A Margo aí? – Alison ergueu os pés, tentando olhar através dele, para dentro do apartamento. Ignorando o sorriso sacana dele.

— Não. Ela não está. Mas eu poderia ajudar de alguma forma?

Ela pensou duas vezes antes de responder.

— Não. Tudo bem. Eu volto outra hora. Até logo, Tony.

Alison virou as costas, mas foi impedida de fugir. Tony a agarrou pelo braço, puxando-a de volta com força.

— Eu tenho quase certeza que eu posso ajuda-la de alguma forma, eu sinto que sim. – ele sorria de maneira travessa. Praticamente obrigou Alison entrar, fechando a porta com o pé enquanto a segurava.

— Eu já disse que não, Tony. tudo bem. Eu volto outra hora – Alison tentou disfarçar o mau jeito. Mas Tony é bastante insistente e a segurou com mais força. — Você está me machucando...

Ela olhou dentro dos olhos claros dele, sentindo uma certa maldade.

— Qual é, Alison? Você não era assim. Costumávamos ser bons amigos, você não lembra? Você está mudada e cada vez mais... Bonita.

Tony umedeceu os lábios com a língua.

— Era justamente sobre isso que eu queria falar com você há um bom tempo já. – Alison perdeu a paciência, usando sua força para se livrar das garras dele. — Eu quero que você me deixe em paz, Tony. Deu para entender? Nós éramos sim bons amigos. Eu até gostava de você, mas desde aquele dia que você fez aquela brincadeira eu não gostei nenhum pouco do rumo que as coisas tomaram. E queria pedir pra você parar com isso! Poxa, você é o namorado da minha melhor amiga! E não pega nenhum pouco bem você e eu, aqui, sozinhos, você só de toalha...

— Admite, Alison. – ele voltou a se aproximar, sorrindo de maneira maliciosa. Como se não tivesse escutado nenhuma palavra do que ela dissera. — Você sempre teve inveja da Margo. Por ela ter um namorado incrível, assim como eu. Eu sempre vi a maneira como você me olhava... Como se quisesse insinuar alguma coisa.... E eu, bem, sempre te achei muito bonita e atraente, e eu sempre imaginei que poderíamos, nós três, fazer... Hum, você sabe....

A cada passo que ele dava em sua direção, eram três que ela dava para trás, batendo nos móveis. Maldita hora que o fermento foi acabar! Tony olhava para ela de maneira provocante, tentando uma aproximação. Alison estava começando a ficar com medo disso, ele ficou bastante atirado ultimamente, mas nunca fora longe demais. E agora estava ultrapassando uma barreira enorme que deveria ter entre eles: nada de contatos muito íntimos com o namorado da melhor amiga.

Ela queria correr, sair dali o quanto antes, mas a porta estava cada vez mais distante. Queria fugir, gritar, pedir ajuda. Mas estava sozinha nessa. Os dois gatinhos de Margo olhando para eles, curiosos.

— Me deixa passar, Tony. Por favor. Tudo isso é um grande mal-entendido. Eu não gosto de você... Quer dizer, eu gosto sim, mas como amiga. Te vejo apenas como o namorado da Margo. E só isso. Eu nunca pensei em... Nada dessas coisas. Eu te respeito e só quero que você me respeite também. – Alison olhava bem para ele, só queria ter certeza que ele estivesse assimilando cada palavra. Mas estava muito nervosa, tremendo bastante. — Vamos esquecer isso, está bem? A Margo nem precisa saber....

Antes que pudesse terminar, Tony a alcançou, pegando-a pelos braços e a jogando de encontro a parede. Encurralando-a.

Naquele exato momento, Margo entrou pela porta com sacolas de compras do mercado, toda sorridente e David estava logo atrás, com mais sacolas. Encontrou-se com ela na esquina da avenida e parou para ajudá-la com as coisas.

Tony costuma ser um homem bastante folgado com essas coisas, deixando-a se virar sozinha.

O sorriso de Margo rapidamente desapareceu.

— O que é que está acontecendo aqui? – ela jogou tudo no chão, os olhos claros agora repletos de fúria.

— Amor? Ainda bem que você chegou! – Tony soltou Alison, afastando-se dela. — Essa louca entrou aqui e....

— Maldito-desgraçado-mentiroso! – David não pensou em outra coisa, a não ser meter um murro no rosto de Tony, deixando-o roxo.

Tony caiu no chão, assustado por ter sido pego de surpresa.

— Vem, Ali. Você está bem? – David a pegou pela mão, puxando-a. Ela estava fria e estática. — Vamos sair daqui! Agora.

— Sua vaca! – Margo gritou quando Alison e David saíram, ela ajoelhou-se ao lado de Tony para ampara-lo. Ele ardia de dor. — Traidora! Ladra de namorados! – Margo apesar de estar cega de raiva, começou a chorar, o coração apertado. — Como você pôde Alison? Nós éramos amigas! Eu costumava confiar em você sua cretina.

David bateu forte a porta do apartamento de Alison, não permitiria que Margo a ofendesse. Mesmo assim, era possível ouvir os gritos dela através da madeira da porta. Alison já sentada no sofá, a cabeça enterrada nas mãos, estava chorando também. Sem acreditar como tudo aquilo acontecera de uma hora pra outra. Seu mundo parecia ter desmoronado em questão de segundos.

— Eu vou até lá! – ela levantou-se limpando as lágrimas com raiva, alguns minutos depois. — Ela precisa saber exatamente o que aconteceu!

— Não, Ali. Você não vai. – David a segurou pelos ombros, olhando dentro de seus olhos. — Não agora. Fique aqui. A culpa não é sua...

— Claro que é! – Alison gritou com ele, chorando ainda mais. — Eu sou uma idiota! Eu não deveria...

Ela não conseguiu dizer o resto, chorando entre soluços.

David a abraçou.

— Vai tudo se resolver, você vai ver. Só tente manter a calma. Depois vocês conversam. Vocês são amigas, vão se entender. A Margo vai perceber que tem um monstro dentro de casa. Aquele imbecil! Eu quero mata-lo! Como ele pôde? Francamente!

Alison se afastou de David, olhando-o.

— Obrigada por tudo. Pelo menos você confia em mim.

— E sempre confiarei. Pode ter certeza.

Ele beijou a testa dela, voltando a abraça-la em seguida.

≈≈≈

Uma semana se passou desde o ocorrido.

Apesar de morarem no mesmo prédio, frente a frente, e estudarem na mesma Universidade e na mesma turma, Margo não queria conversar com Alison. Sempre que ela passava por Alison no corredor desviava o olhar e o caminho. Como se nem a conhecesse. Queria distância. Aquela amizade definitivamente chegara ao fim. Para ela não tinha mais valor e importância. Acreditava em Tony, seu amor, e precisava estar com ele. Só como ele. Margo achava que Alison não era mais digna de sua compaixão, muito menos do seu perdão. Amigas não fazem o que ela fez umas com as outras. Aquilo era imperdoável. Ela quase arrancou a única coisa que ela tinha de melhor: seu namorado.

E cada vez que Alison via Margo distante, sentia-se cada vez pior, triste, infeliz e sem esperanças. Não havia mais jeito. Nem mesmo se tentasse se explicar. Margo não lhe daria ouvidos. Só acreditava em Tony, o mentiroso e traidor. Por sorte ainda não tinha cruzado com ele ou seria capaz de socar o outro olho dele, assim como David o fez para defende-la, deixando os dois roxos.

Agora ela estava sozinha e precisava seguir assim, mesmo se sentindo muito mal. Só queria concertar as coisas. O que não lhe faltava era vontade, junto também o desanimo todas as vezes que Margo ignorava sua existência. Mas se David pudesse estar com ela todo o tempo diria para não perder as esperanças.

Ainda havia chances de resgatar aquela amizade que nada e ninguém poderia destruir.

≈≈≈

Era um domingo de sol. 15h25min. O céu estava azul e havia uma nuvem ali e outra acolá. O ar fresco balançava as folhas das arvores do Central Park. Alison estava sentada sobre o gramado, as costas apoiadas no tronco de uma árvore, protegendo-se do sol, as pernas cruzadas, com seu caderninho de desenho em mãos. Lucy está a sua frente, também sentada, olhando em volta, enquanto toma sorvete.

— Você gosta dele. – Lucy observou, inclinando-se para frente, para dar uma olhada no desenho de Alison.

— Dele? – ela arqueou a sobrancelha. — Dele quem? – olhou bem para Lucy que tinha um sorriso maroto. — Ah – ela revisou os olhos ao entender o que sua mais nova amiga queria dizer com aquilo. — não. Eu não gosto dele. Somos apenas amigos. Acredite.

Lucy não era a primeira e nem seria a última a suspeitar de suas palavras. Por isso levou a observação numa boa.

— Não é o que parece. – Lucy ainda sorri, olhando para o desenho nas mãos de Alison. Ela não havia se dado conta de que estava desenhando... David e Gael, mais a frente, brincando como velhos amigos. — Mas se você diz eu acredito.

David está de Bermuda jeans, uma regata preta e chinelos. Está a três metros de distância, correndo e pulando com Gael pelo gramado do parque de baixo do sol, o cão alegre, com sua língua pra fora.

— Então tudo bem se eu...?

Alison fechou seu caderninho, deixando seu desenho de lado. Aquilo era bobagem. Lucy queria conversar e merecia sua atenção.

— Se você quiser ficar com ele? – ela completou. Já imaginava que Lucy algum dia perguntaria aquilo.

Desde que ela e Margo brigaram, Alison tem encontrado em Lucy uma boa amiga. Exatamente o que ela precisa. Já que não pode contar só com David e Gael todo o tempo. David é homem e não entenderia todas as coisas que uma mulher precisa. E Gael, bom, ele é um cachorro e nem se quer fala, apesar de ser um bom ouvinte. Lucy é adorável, boa companheira, gosta de conversar e sair. As duas têm passado bons momentos juntas, se conhecendo melhor.

— Por mim tudo bem. – Alison deu de ombros, sorrindo. — Vocês são meus amigos. Merecem ser felizes, juntos ou não.

As duas continuaram conversando, mas não sobre David. Aquele assunto estava encerrado. Os três eram adultos o suficiente para tomarem decisões sensatas, sendo o melhor para cada um.

— Olha só meu amor – Margo passou por ali alguns minutos depois, perto o bastante para Alison ouvi-la fazer um comentário nada agradável com Tony de mãos dadas com ela. O olho já não tão roxo assim. — pelo visto a falsidade continua por toda parte. Não há como fugir.

Tony viu Alison e sorriu para ela de longe. Aquele velho sorriso que fazia com que ela sentisse vontade de quebrar todos seus dentes de uma só vez se pudesse. Margo muito ingênua nem percebeu que o namorado ainda era um animal. E os dois continuaram caminhando pelo parque, afastando-se.

— Aquele era o....?

— Sim.- Alison respondeu Lucy, abaixando a cabeça, levemente aborrecida. — O imbecil que destruiu a minha amizade com a minha melhor amiga. Ele não é sínico?

— Completamente! – Lucy balançou a cabeça negativamente. — Você viu como ele sorriu para você mesmo estando ao lado dela?

— Como eu poderia não ver? O pior é que ela gosta demais dele para enxergar a verdade. E eu sei exatamente como ela se sente.

— Nós sabemos.

Lucy tocou o braço dela de maneira afetuosa.

As duas sorriram uma para a outra.

≈≈≈

Alison subia as escadas do prédio com dificuldade por causa do excesso de sacolas. Foi ao mercado mais próximo comprar coisas que faltava em seu armário, mas foi pega de surpresa pela mudança do tempo. A manhã estava ensolarada, mas a tarde o tempo fechou completamente e uma chuva forte estava por vir.

— Quer uma ajudinha aí? – alguém perguntou.

Uma voz masculina um tanto familiar.

Alison virou-se rapidamente para trás dando de cara com Bradley, ou melhor, Brad, a três degraus abaixo dela. Ela instantemente começou a sorrir, feliz em vê-lo finalmente.

— Deixa que eu te ajudo. – ele se aproximou sem ela nem precisar pedir e tomou de suas mãos um bom fardo de sacolas plásticas.

Ele definitivamente estava ainda mais bonito. Ela pensou. Como seus cabelos cor de areia mais curtos e os olhos claros em destaque.

Alison abriu a porta de seu apartamento e os dois entraram. Na mesa da cozinha colocaram as sacolas. Não era a primeira vez que ele estava ali, mas também sentiu que algumas coisas haviam mudado.

Tudo muda, você querendo ou não.

— É bom te ver. – ela sorriu sem jeito, virando-se de frente para ele. Brad sorriu também. Sorriu de lado. — Hum.... Quer beber alguma coisa? Eu comprei algumas coisas. – timidamente ela começou a mexer nas sacolas, sem saber ao certo o que procurava.

Sentia-se uma colegial, completamente desconfortável.

— Você parece nervosa. – ele riu pelo nariz. — Não tem que ser assim. Não era essa a minha intensão.

— Desculpe-me. É que faz tanto tempo em que não nos vemos, eu só estou um pouco... Atrapalhada.

— Tudo bem. – ele apertou de leve o ombro dela. — Eu sempre adorei seu jeitinho. Senti falta disso.

Ela enrubesceu.

— Eu aceito chá, se tiver, claro. – Brad puxou uma cadeira para se sentar. — E então, o que tem feito desde que... Paramos de nos ver?

Eles não perceberam que uma chuva forte se iniciou do lado de fora.

≈≈≈

Aquela noite fora longa. Alison esqueceu-se completamente do tempo enquanto esteve conversando com Brad em sua cozinha tomando chá e depois em sua sala vendo a um filme qualquer. Os dois tinham muitos assuntos para pôr em dia, então foi fácil depois que ela se familiarizou com a volta dele. Brad foi embora um pouco antes da meia noite, pois havia chegado naquela mesma tarde e ainda não tinha passado na casa da irmã para cumprimenta-la. Margo ficaria uma fera se ele não aparecesse, achou melhor não contraria-la.

— Antes que você vá – Alison o acompanhou até a porta. — peço que não comete nada disso com a Margo. Digamos que nós duas nos desentendemos e ela meio que não quer nem lembrar que eu existo. Para ela é como se eu fosse invisível. É uma longa história, mas prometo que com mais tempo te conto cada detalhe.

Sabia que depois da verdade sobre Tony, Brad ficaria do lado dela, porque ele entenderia e ele melhor que ninguém iria querer o melhor para a irmã. Por isso, ela precisava ser verdadeira com ele.

— Independentemente do que tenha acontecido entre vocês – Brad tocou o rosto dela com carinho. — sei que vão superar isso. Vocês sempre foram tão amigas! Isso é só uma fase.

— Assim eu espero.

Alison mais que qualquer outro queria, desejava, do fundo do coração, que aquilo fosse só uma fase difícil entre elas e que logo superariam, assim, como qualquer outra amizade verdadeira.

— Boa noite, Brad.

— Boa noite, Alison.

E ele se foi.

Depois daquele dia eles se encontraram praticamente todos os dias, já que ele estava passando uns dias no apartamento em frente, com Margo. Cumprimentavam-se rápido e trocavam algumas palavrinhas, já que ambos estavam saindo para seguir a diante com suas vidas. Ela indo para a faculdade ou para o trabalho. E ele procurando emprego ou saindo para dar uma volta pela cidade e rever os amigos.

— Eu pensei que você quisesse distancia de homens depois do que aconteceu com o Caleb. – Lucy relembrou, andando ao lado de Alison pelas calçadas movimentadas de Manhattan.

Elas haviam acabado de sair do escritório, o céu já estava escurecendo.

Agora Alison contava praticamente tudo a Lucy, sentia que agora sim elas eram amigas de verdade. Confidentes como ela costumava ser com Margo, que continuava a ignorando a todo modo.

— E eu quero. Não vai acontecer nada entre nós, Lucy. Ele é só um velho amigo. Já tivemos sim uma história, mas ficou no passado.

— Você é uma garota de sorte, Ali. Deveria reconhecer mais isso. É cercada de amigos maravilhosos que você nem se dá conta de que poderiam ser algo a mais do que uma simples amizade. – Lucy piscou, e depois chamou um taxi. — Você deveria me ouvir mais.

≈≈≈

— Eu não vou a esse evento ridículo, Ali. – protestou David. Ele não estava tendo um dos seus melhores dias.

Apesar de tudo, havia marcado com Alison a alguns dias atrás de se encontrarem em um pub não muito longe do apartamento dela. E não pôde simplesmente desmarcar de última hora.

— Dave! Eu preciso da sua companhia! Eu preciso de um par. Eu pensei que poderia contar com você.

— E pode. Mas não abusa! Você realmente precisa de mim pra tudo? – ele fez uma careta e ela ficou indignada com o que ouviu.

— Você não pode estar falando sério. – aquele não era o seu amigo David. O David que ela conheceu nunca diria algo assim.

Ela sabe que algumas vezes pega pesado e é bastante exigente, chega a ser um incomodo. Mas ela é assim: sempre acaba dependendo muito das pessoas por quem se apega. Elas são tudo que ela tem.

— Não faz essa cara, Ali. Que droga! – ele se levantou, impaciente. Estava alterado. Tivera um dia bastante cansativo de trabalho duro. Passou boa parte do seu tempo brigando com fornecedores incompetentes — Você não pode simplesmente arrumar outro par? Eu não tive um bom dia hoje. Eu sinto muito! Mas preciso ir para casa.

Sobre o balcão ele depositou alguns dólares e saiu sem nem se despedir com a cabeça latejando de dor.

Alison o observou se afastar sem nem acreditar que aquele era ele mesmo.

E pela primeira vez David havia a deixado na mão.


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Notas finais do capítulo

O que acharam da volta do Brad? E a crise da Margo com a Alison? E esse mau humor do Dave?