Blood Curse escrita por Soul Kurohime


Capítulo 7
Melodia


Notas iniciais do capítulo

A música é celeste, de natureza divina e de tal beleza que encanta a alma e a eleva acima da sua condição.
— Aristóteles
Mais uma vez, desculpem-me pela demora. Agora que as aulas recomeçaram, não sei se ficará mais fácil ou difícil de atualizar a fic, mas vamos ver... Sem mais delongas, boa leitura!



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Rain tocou a maçaneta de ferro com sua mão ainda molhada do banho gelado de segundos antes e abriu a porta de madeira escurecida pelo tempo. Uma brisa gelada daquela manhã de terça-feira vinda da janela passou por através dela e arrepiou todos os pelos do seu corpo.

Olhou para a janela, que estava aberta, e se perguntou se a mesma já estava aberta quando ela chegou ao quarto. Não sabia. Ela deu um passo para frente e pingos de água de seu cabelo escuro caíram de encontro ao chão.

Ela arregalou os olhos e sua boca se tornou um O perfeito quando suas íris azuis escuras encontraram aquele visitante, que sorria para ela por cima da revista.

Ele se sentou em um movimento leve e repousou a revista no cobertor branco. Manteve o pé esquerdo ao chão e o joelho direito deitado na cama, enquanto a examinava de baixo para cima com um brilho malicioso nos olhos.

Rain apertou as mãos – que tremiam de frio ou alguma outra coisa – e o encarou. Abriu e fechou a boca duas vezes em um tentativa vão de tentar falar, ou gritar, mas nenhum resquício de voz saiu de sua garganta seca. Ela escutava os próprios batimentos cardíacos sambando descontroladamente pelo susto que levara.

Ele virou a cabeça com um olhar curioso enquanto a encarava de volta, e molhou os lábios. Rain finalmente quebrou o silêncio de uma forma atrapalhada.

– O que? Como? – ela soltou o ar que não sabia que prendia em um suspiro pesado – Como entrou aqui?

– Pela janela. – fez sinal com a cabeça para o objeto.

– Por que? – Rain já havia controlado seu emocional, que agora estava em fúria.

– Porque a porta estava trancada.

– Não foi isso que eu perguntei. - ela ergueu as sobrancelhas.

– Não? – ele franziu o cenho. A ironia não estava nada implícita em sua frase.

– Não me faça de idiota! – ela cruzou os braços - O que você está fazendo aqui?

– Ah! – ele pegou a revista de cima da cama e balançou-a – Lendo um pouco. Sabe, cultura é muito importante!

– Tenho certeza que não invadiu meu quarto enquanto eu tomava banho para ler uma revista.

– Por que não? Seu quarto é bem aconchegante, sabia? Bem mais que o meu...

Rain suspirou mais uma vez.

– Castiel, não é? Posso ser direta? Não gosto de você.

– Uau! Você é mesmo direta! Não que eu me importe com isso, mas eu normalmente prefiro saber o motivo pelo qual as pessoas me detestam.

– Bom... - ela deu dois passos para frente e ficou em diagonal com o garoto. – Você quase me matou noite passada e agora está invadindo meu quarto. Eu deveria gritar sabia?

– E por que não o faz? – o rosto dele ficou sério e seus olhos adquiriram uma expressão intensa. Rain sentiu suas bochechas queimarem.

– B-Bem... Normalmente eu gosto de saber por qual motivo estão invadindo meu quarto.

– As pessoas costumam invadir seu quarto?

– N- Não! Não mude de assunto! Por que está aqui?

– Ok, vou ser direto também. A diretora me deu um castigo por morder você.

– Um castigo? Você quase me mata e recebe um castigo? – ela tirou a faixa ensopada pela água do chuveiro. – Isso ainda dói sabia?! – ele ergueu as sobrancelhas – Quer dizer, - ela continuou – não dói, mas eu sinto umas pontadas de vez em quando... Ou sentia... – Rain pegou uma mecha de cabelo e passou a enrolá-lo no dedo indicador direito.

– Você não morreu. Não tem do que estar reclamando. E sabe o que mais? Isso ai já cicatrizou. Você tem cura rápida, não é? Isso vai desaparecer rapidinho. Você poderia ser uma vampira, sabia?

– Eu ando no sol desde sempre. Rosalya disse que esse fator tira todas as minhas chances de ser uma de vocês.

– ...Claro. – ele deixou as costas caírem na cama – Voltando ao assunto direto... A diretora me obrigou a dar banho no animalzinho de estimação dela. – disse com desdém. – E por esse castigo ser completamente culpa sua, você vai comigo. – sibilou.

– Eu vou o que? – ela não conseguiu afastar o ar de surpresa desacreditada da voz – E por que você me morder é culpa minha? Você me mordeu! – sibilou - Eu sou uma vítima!

– Vítima? – ele caiu na gargalhada. – Se seu sangue não tivesse um cheiro e gosto tão bons, eu não teria mordido você, então sim, é culpa sua. E você vai comigo sim! Não vou dar banho naquele monstrinho sozinho.

– Não conte com isso! – ela bateu o pé com força no chão. Castiel levantou-se em um único movimento rápido da cama.

– Sabe... – disse, sussurrando – Ter um aluno do sexo oposto em seu quarto é completamente proibido pelas regras da escola. Ao menos que você queira que todo mundo saiba que estive aqui com você de toalha, você vai vir comigo sim.

Ela corou rapidamente.

– Isso também prejudicaria você!

– Meu nome já está manchado faz tempos nessa escola. Por coisas piores, que fique claro. Agora... Seria uma pena que a novata tivesse o nome manchado dessa maneira no seu segundo dia.

Rain respirava forte e compassadamente para segurar sua vontade de matar aquele garoto.

– Eu te odeio. – sibilou.

Ele desatou mais uma vez em risos.

– Certo, certo. – balançou as mãos no ar. No outro segundo, já estava com a mão na maçaneta da porta do quarto. Antes de girá-la, virou-se uma última vez para Rain – Só três coisas: primeiro, passo aqui mais tarde, quando já estiver anoitecendo. Segundo, não seja boba, não entrei pela janela, tem um sol de matar lá fora. Literalmente. Por último, aprenda a trancar sua porta.

Rain bufou.

– Obrigada, Castiel. – sorriu com desdém.

– Ah, mais uma coisa: antes de descobrir a que raça você pertence... – Pausou. A olhou de baixo para cima com um brilho malicioso nos olhos. – Aprenda a amarrar direito sua toalha. – sorriu maliciosamente – Aliás... Nada mal.

Rain olhou confusa para baixo e seus olhos arregalaram instantaneamente. Congelou, e olhou novamente para frente, mas Castiel não estava mais lá. Queria gritar, mas lembrou-se de outra regra que não queria quebrar: silêncio nos dormitórios. Abaixou-se, amarrou novamente a toalha em volta do corpo, andou a passos lentos, trancou a porta, e sussurrou:

– Mais um motivo para te odiar!

Se deixou cair na cama. Apertou com força a coberta branca até suas unhas doerem e seu ódio, vergonha e algum outro sentimento passarem. O cheiro dele havia impregnado o cobertor e o travesseiro. Rain bufou e, segundos depois, adormeceu, perdendo para o cansaço.

*

Rain estava trajando um vestido tomara que caia, que apertava sua cintura em renda e descia até o chão com babados em uma saia grande e redonda. O vestido era preto, destacando o azul de fim de crepúsculo de seus olhos. Seu cabelo estava solto e ela usava uma gargantilha de renda preta, com um pequeno diamante negro preso à frente, que balançava com quaisquer movimentos seu.

Ela seguia aquele homem por todo o salão de festa. As pessoas a olhavam com um olhar estranho e indiferente. Os garçons com smokings driblavam as pessoas com habilidade, e ofereciam a todas elas um pouco do que parecia ponche vermelho. Tão vermelho quanto o batom em seus lábios carnudos.

O olhar de todos em si a atormentavam e ela engolia constantemente em seco. O homem não parava de andar para olhá-la, para assegurá-la em um único olhar que mesmo que todos a olhassem, estava tudo bem. Que ele a protegeria de qualquer coisa.

Ela não conseguia descobrir quem aquele homem era. Tentava olhar para ele, fugir em sua cabeça do peso do olhar de todos, mas a luz do lustre imenso em suas cabeças impedia que ela o reconhecesse. Mesmo que estivesse tão longe, ainda sim.

Ela começou a subir as escadas largas atrás dele, e ao longe, uma voz arrastada e inebriante cantava algumas notas ao fundo. A voz se aproximava mais e mais, cada vez mais, e quando ela menos percebeu, tudo havia sumido. Apenas a voz insistente na imensidão negra do vazio...

*

E ela acordou. Sentou-se na cama em um pulo e arfava sem objeção. Seus fios colavam na testa e na nuca por conta do suor, e seu coração batia tão rápido que doía. Após alguns minutos, Rain conseguiu controlar sua respiração, e deu graças a Deus quando um vento leve vindo da janela ainda aberta soprou em sua direção.

Olhou para através dela e viu o crepúsculo em seu auge. Perguntou a si mesma quantas horas teria dormindo, mas aquilo realmente não importava. O que ela verdadeiramente queria era que estivesse acordando do seu real pesadelo, no qual ela estava em uma escola louca com monstros sobrenaturais.

Mas, quando seus olhos decifraram aquele quarto, e depois de beliscar a si mesma algumas vezes, percebeu que o pesadelo continuava, e ela estava presa ali sem uma saída racional.

Levantou-se da cama e andou até o banheiro. Tomou uma ducha rápida sem lavar os cabelos e voltou ao canto onde suas malas estavam encostadas. Abriu uma qualquer, tirou uma lingerie, uma camiseta azul escura e um short de pano preto e os vestiu. Calçou a bota de cadarços que estava outrora, olhou novamente pela janela e percebeu que o crepúsculo estava chegando ao fim.

Enquanto escovava os cabelos perfeitamente lisos e compridos, lembrou-se da promessa de Castiel: voltaria ao anoitecer. Rain bufou, jogou a escova em cima da cama, e saiu do quarto. Não estaria ali quando ele viesse busca-la!

Não sabia realmente para onde ir. Não sabia onde estava Rosalya, não estava tão bem com Kentin, nunca trocou uma conversa considerável com Melody, e Nathaniel também tinha sua localização desconhecida. E não conhecia mais ninguém. Nathaniel, por sua vez, muito provavelmente estaria no prédio principal da Sweet Amoris, e embora levasse algum tempo para acha-lo, essa foi a escolha de Rain.

Ela trancou a porta do seu quarto ao passar por ela, e corou muito fervorosamente da lembrança desconfortável que ganhou horas mais cedo. Respirou fundo, e desceu as escadas rangentes à esquerda do corredor.

Ao chegar no segundo andar, escutou uma linda melodia cantarolada ao fundo do corredor. Embora quisesse descer, aquela estranha mas bela música a chamava. Suspirou e andou silenciosamente – o máximo que podia – até o local de onde vinha aquela canção: quarto 32-B.

A porta estava entreaberta, Rain a empurrou, e o viu ali, sentado na cama, com o cobertor branco cobrindo suas pernas, cantarolando as notas da canção mais bonita que a garota já escutara em toda a sua vida.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem!



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