Blood Curse escrita por Soul Kurohime


Capítulo 6
Licantrope de olhos perolados


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Como vão? Eu não gosto de toda santa nota pedir desculpas para vocês - por mim, eu não precisaria pedir -, mas mais uma vez eu demorei. Estou tentando aproveitar minhas férias ao máximo e acabo ficando sem tempo para escrever. ;-; Mas eu nunca ousaria abandonar uma estória minha, então aqui vai mais um capítulo! Espero que gostem e boa leitura! ~Soul



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Os olhos verdes engoliam os azuis e degustavam lentamente cada detalhe do rosto da garota. Era ele, mas ao mesmo tempo não era. Não tinha o mesmo corte de cabelo, não usava óculos, estava mais alto. A camiseta preta colada dele exibia sem timidez as linhas de seu abdômen perfeitamente definido.

Seus dentes estavam extremamente brancos e certinhos, tinha um sorriso lindo. Pela postura, parecia agora um garoto cheio de atitude. Onde estava escondido o Ken tímido? A voz parecia estar mais grossa... Quanta diferença pode-se fazer três meses na vida de um garoto?!

– Todos me chamam de Kentin, agora... – ele tinha um sorriso triste no rosto.

– Ah... Kentin... Certo... – balbuciou ela, desviando os olhos dos dele.

Um silêncio desconfortável se formou durante alguns segundos que pareceram séculos. Rosalya pigarreou.

– Olha, eu realmente preciso ir para minha aula agora. É ótimo que vocês já se conheçam, deixo-a em suas mãos, Kentin. – ela piscou para ele.

A garota tocou levemente na parede ao seu lado e, como efeito de um ácido, um círculo derreteu em seus pés. Em um pulo, ela o atravessou e no outro segundo não estava mais lá. Nem no prédio.

– Feitiço de tele porte. – ele deu de ombros, observando a expressão incrédula da morena – Não é o tipo de feitiço em que Rosa seja especialista, mas é realmente útil. Além disso, essa é uma versão simples, para curta distância. Portais são realmente demorados para serem feitos e –

– Você... – ela o cortou – está diferente.

Ele engoliu em seco.

A única semelhança que Rain podia perceber entre seu Ken e aquele garoto era a forma como ele a olhava: protetor, com carinho, com amor de quem se conhece desde sempre. Amor de melhor amigo inseparável. Ou pelo menos era o que ela achava.

Tudo mudou três meses antes, quando ele mudou para uma nova escola sem maiores explicações, apenas que ligaria para ela toda semana. Promessa esta que foi quebrada quando ele parou de contatá-la há duas semanas. Ela também não saberia o que dizer para ele depois daquilo, mas realmente sentia sua falta.

– Um diferente bom... Ou ruim?

– Hm... Não posso dizer ainda. – respondeu, avaliando-o de cima para baixo. Ele riu. Ken não ria tão perfeitamente assim. Mas o Kentin sim.

– E você não mudou nada.

– Ei! Eu tenho 1,65m agora! E também –

– Mudou o corte de cabelo. – ele se inclinou levemente para frente – Está mais linda assim. – afirmou com as maças do rosto levemente vermelhas. – E também... Você não deveria se vangloriar por ter crescido um centímetro. Eu cresci cinco nos últimos três meses. – disse sorrindo vitoriosamente, enquanto afagava afetuosamente o cabelo da morena.

Ela se deixou levar por aquele momento de afeto tão comum entre os dois por alguns míseros segundos. Mas seu devaneio se quebrou quando ela despertou finalmente para aquela realidade maluca e assustadora. Pegou a mão dele e a retirou levemente de sua cabeça, e o encarou com olhos sérios.

– Por que esta aqui? – sussurrou.

– Sou eu quem deve fazer essa pergunta, Rain. – respondeu no mesmo tom.

Ela riu com desdém e se afastou.

– Eu fui mandada para cá contra minha vontade pelos meus pais. – a garota elevou o tom de voz – Achei que fosse apenas mais um internato comum, mas na verdade, é tudo isso. Eles nem me disseram nada, apenas me jogaram aqui. E você? É só mais um que me abandonou sem nenhuma explicação.

Era a vez dele de se exaltar.

– O que você queria que eu dissesse? “Rain, eu estou indo agora para uma escola onde aprenderei a controlar meus poderes de lobisomem”? Me poupe! Você nunca acreditaria. Ninguém acreditaria.

– Eu não duvidaria de você.

– Ah, faça-me o favor! Você mesma não acredita quando fala!

Os olhos dela arderam. Ela nunca havia discutido com o Ken... Nunca!

– Eu só queria... Que você não tivesse me deixado para trás... Sozinha. – e as lágrimas finalmente escorreram. – Você tem uma mínima ideia da falta que senti de você? Do quão difícil está sendo assimilar tudo que aconteceu nessas malditas últimas quarenta e oito horas? Mesmo assim eu sempre fui forte, sempre me fingi de forte enquanto tinha um buraco negro me consumindo por dentro. Eu quase morri e meus pais me deixaram para trás. Por quê? Por que comigo? Eu não quero fazer parte desse mundo! Mas alguém perguntou o que eu queria? Alguém me ouviu desde que eu cheguei nesse lugar? Em algum momento pediram a porcaria da minha opinião? Não! Só me jogam de um lado para o outro! E nesse lugar em que eu não conheço nada, nem ninguém, o que me resta além de obedecer? Eu nem conheço mais você...

Ele suspirou pesado.

– Rain... Discutir não vai nos levar a lugar algum. – ele a pegou pelo pulso – Vamos para outro lugar, onde nós podemos sentar e conversar direito...

– Não me toque! – sibilou, gritando e fitando-o, enquanto puxava seu pulso contra si.

Eles ficaram encarando um ao outro. Ela, com o rosto molhado de lágrimas, e os olhos em uma fúria incerta. Ele, com a face incrédula e olhos magoados. Ela recuou um passo e, ao mesmo tempo, uma porta abriu-se ao lado dos dois. Ele ajeitou sua posição e Rain enxugou suas lágrimas com as costas das mãos, de uma maneira nada elegante.

– Caramba... Vocês realmente fazem o barulho ser jus ao seu nome.

Era uma garota. Uma garota com cabelos compridos, ondulados e castanhos.

– Sinto muito estar atrapalhando o reencontro de vocês, mas Rain precisa vir comigo.

Ela tinha olhos azuis claros. Os azuis de Rain eram um pouco escuros, e seu cabelo era extremamente preto e liso. Aquela garota usava uma saia preta curta e uma blusa azul escura de mangas compridas. Calçava um scarpin de salto fino preto também. Certo, regras de vestuário...

– Nós nos conhecemos? – indagou, tentando controlar a voz.

– Ainda não, desculpe. Sou Melody, uma licantrope. – ela estendeu a mão – Conheço você pois, assim como Nathaniel, sou uma das responsáveis pelo corpo discente.

– Certo... Prazer. – ela apertou a mãe estendida. – Preciso ir com você para onde?

– A diretora quer falar com você. Ela pediu que eu a levasse até sua sala. Vamos? – ela sorriu.

– Claro. – Rain forçou um sorriso de volta.

– Kentin... – ela chamou a atenção dele – Caso a diretora pergunte, está tudo pronto para depois de amanhã?

– Quase tudo... – balbuciou.

Ela fechou a cara e suspirou pesado.

– Você sabe das consequencias caso algo der errado, não sabe?

– Sim, eu sei.

– Espero que não esteja fazendo isso de propósito.

– Por que eu faria? Se eu tinha algum motivo para fazer isso, agora não tenho mais nenhum.

– Espero.

A garota que atendia pelo nome de Melody fechou a porta atrás de si e se dirigiu às escadas. Olhou torto para o buraco na parede e desviou o olhar para Kentin, que deu de ombros e olhou para Rain. Ela, por sua vez, virou as costas para ele e seguiu a garota de madeixas amarronzadas. Antes de descer as escadas atrás da garota, ela virou uma última vez para os olhos tristes e verdes do garoto em sua frente.

– Ken teria ficado feliz em me ver. – disse secamente, e desceu.

– Eu estou feliz em ver você. Você não tem noção do quanto eu estou. – sussurrou. Ela não escutou.

*

Elas andavam rapidamente atravessando o corredor à esquerda no segundo andar do prédio principal da Sweet Amoris. O salto de Melody fazia um barulho rítmico, chato e perturbador contra o assoalho de madeira. Cores claras certamente combinariam mais com ela. Rain logo se viu em frente daquela porta de madeira, diferente das demais. Sua vida havia sido virada do avesso na primeira e última vez que ela havia estado lá.

Melody bateu duas vezes na porta, e aquela voz familiar de autoridade exigiu que entrassem. A garota abriu a porta e fez sinal com a cabeça para que a outra entrasse. Ela entrou obediente e a primeira coisa que seus olhos encontraram foi o quadro da fundadora. Ela era linda, a pintura era perfeita, e Rain simplesmente não se cansava de observá-la, parada ali, com um sorriso terno e acolhedor no rosto.

A diretora fez sinal com as mãos para as cadeiras à sua frente e Rain sentou-se em uma delas.

– Chamei-a aqui para informá-la que seu horário está pronto, embora bastante puxado. Mas, tente entender, nós não sabemos sua raça e a senhorita também não sabe absolutamente nada sobre nós. Quanto antes souber do necessário, melhor será para todos.

Rain assentiu com a cabeça.

– Mas antes, preciso saber... A senhorita gostou do seu novo quarto?

– Na verdade, eu ainda não tive a oportunidade de conhecê-lo. Rosalya estava me mostrando rapidamente a escola e perdemos a hora.

– Certo. – ela franziu o cenho – Embora também seja algo de sumo importância, eu a chamei aqui por outro motivo, senhorita Rain.

– Sim? – ela pegou uma mecha de cabelo e passou a enrolá-la em seu dedo indicador esquerdo.

A mulher entrelaçou seus dedos uns nos outros e apoiou os cotovelos na mesa de madeira. Ela olhava desconfortavelmente séria para Rain por cima dos óculos.

– Ontem... Quando a senhorita estava tentando fugir... Por conta do Sr. Castiel... Bem... O portão de ferro da escola estava fechado, mas mesmo assim a senhorita conseguiu passar por ele. Como o abriu?

As velhas pontadas voltaram e sua mente esvaziou. Estava trancado? Ela havia o aberto? Não sabia, sua mente estava completamente branca.

– E- Ele estava aberto... – mentiu.

– Não, não estava. Nós nunca deixamos o portão destrancado. Além disso, ele é devidamente protegido com magia para que nenhum aluno possa arrobá-lo. Mas, mesmo assim, a senhorita conseguiu abri-lo e fugir por além da floresta. Como o fez?

– Eu não fiz nada! Vocês devem ter se esquecido de trancar, eu sei lá.

Não. Ele estava trancado!

– Sei que a senhorita estava coberta de pavor naquele momento, mas nós precisamos de todas as informações possíveis, senhorita Rain. Qualquer lembrança, ou ato, mínimo que forem, podem ser vitais para descobrirmos o que a senhorita é.

– Eu...

– Não me esconda nada, senhorita Rain.

Ela olhou para a mulher em sua frente. Ela tinha um típico sorriso afetuoso que as mães dão.

– Quando eu cheguei ao portão, ele realmente estava trancado. Mas eu não me lembro de ter feito nada para que ele abrisse, eu juro. Eu apenas o estava segurando, balançando-o de frente para a trás, gritando para que abrisse. Senti algo, tipo um choque, não sei, e quando eu vi, ele estava aberto. So isso.

– O choque deve ser devido à proteção de magia. Se for realmente apenas isso, senhorita Rain, confiarei na sua palavra. Está liberada, vá descansar um pouco. Aqui esta seu roteiro de aulas. – ela entregou um papel com vários quadradinhos coloridos.

Rain assentiu com a cabeça e andou em direção ao seu quarto, no terceiro andar do dormitório da Sweet Amoris. Enquanto caminhava, lembrou-se da pequena conversa que Melody e Kentin tiveram em sua presença. O que ocorreria depois de amanhã? Estava realmente curiosa, mas havia discutido com ele, então não poderia simplesmente perguntá-lo. Droga. Depois de amanhã... Que dia era hoje mesmo? Ah sim, quatro de março...

Quatro de março? Mas... Depois de amanhã seria então... O aniversário do Kentin!

Depois de tudo o que havia acontecido, ela não se impressionava por ter esquecido, pela primeira vez em sua vida, o aniversário do melhor amigo. Depois de alguns minutos, ela estava no terceiro andar, encarando a porta de seu mais novo quarto. Aparentemente igual aos outros, sua única diferença era a identificação na plaquinha: C – 33.

Ela suspirou, entrou e observou aquele triste lugar. Uma cama de madeira, com os panos brancos, paredes, tetos e chão cinza pelo cimento, um guardarroupa de tamanho médio, com três gavetas expostas, outra porta, uma mesa para estudos com um abajur e uma janela. Ainda sobrava muito espaço.

Viu suas malas encostadas em um canto qualquer e andou até a outra porta. Era um banheiro. Uma pia, com um espelho redondo médio em cima, um vaso sanitário ao lado e, mais a frente, um Box com um chuveiro de água fria.

Sem pensar duas vezes, tirou as roupas, jogou-as no chão e adentrou embaixo da ducha gelada. Era o seu primeiro banho em dois dias e a sensação era realmente deliciosa, estava realmente precisando daquilo. Xampu, condicionador e sabonete já se encontravam ali. Além de uma toalha, que possuía a logo da escola bordada na mesma.

Após o banho, ela pegou a toalha e amarrou em volta do corpo. Andou até a pia e percebeu a existência de uma escova de dente simples e uma pasta de dentes que outrora ela não havia notado ali. Escovou sua arcada dentária e ajeitou com as mãos os fios malhados e bagunçados.

Ela abriu a porta e o viu ali, deitado em sua cama, lendo uma revista. Ele levantou os olhos para olhá-la e sorriu para ela.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Obrigada por lerem! :* Reviews?



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