Blood Curse escrita por Soul Kurohime


Capítulo 38
Desaparecidos


Notas iniciais do capítulo

Gente.
Na verdade, o capítulo não atrasou. Sério. Eu o havia postado a tempo, mas, algum tempo depois de eu o postar, fiquei com uma vozinha na cabeça que dizia que o final havia ficado estranho, uma bosta. - perdoem-me pela expressão, mas foi. Talvez nem estivesse mas, como sou muito teimosa - e põe MUITO nisso - , no fim, eu liguei o note e apaguei o capítulo. Hoje, depois da escola, refiz o final e aqui estou eu, postando-o novamente.
Enfim, enfim.
Boa leitura. :*
Espero que gostem. e.e



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Rain olhou de Lysandre para Kentin, que ergueu as sobrancelhas para ela e apertou os lábios. A morena sentiu o coração acelerar e o sangue lhe subir para as bochechas, e desviou os olhos para Lysandre mais uma vez.

– Tudo bem.

Rain caminhou até a porta de ferro, onde Lysandre ainda estava. Ela se virou para Kentin quando ouviu o garoto de olhos heterocromáticos falar com ele.

– Sua mãe estará conosco.

– Minha... mãe?– Kentin não pode evitar a surpresa em sua voz.

– Sim. – O outro assentiu – Ela veio comigo quando voltei para Sweet Amoris. Você não estava aqui, entretanto.

– Eu já havia partido com Dake... – murmurou.

– Você vem, então? – A morena indagou.

– Você tem certeza? – Lysandre franziu o cenho.

– Por que não? – Ela deu de ombros. – Do que iremos falar, exatamente?

– Bem... – Lysandre deslizou os olhos para o moreno.

– Eu vou, se não houver problemas. Mas antes, eu prefiro ir ao meu quarto e tomar um banho... – ele sorriu.

Rain retribuiu o sorriso e olhou para Lysandre. Ele entendeu aquele olhar.

– Se você não vê problemas, não sou eu quem deve dizer o contrário. – Ele concluiu, finalmente. – Estaremos na diretoria.

Lysandre sinalizou com a cabeça para que Rain passasse, e ela obedeceu. Ela o seguiu pelo corredor até chegarem no saguão do prédio principal. O assoalho ainda era brilhante como na primeira vez em que ela estivera ali. Eles seguiram pela escada gêmea esquerda até o corredor do andar superior, por onde andaram até uma porta de madeira mais escura das demais, onde havia um coração envolto por ramos espinhosos entalhado. Rain lembrou-se que aquele era o símbolo do internato, e de ter vindo até aqui com Nathaniel. Depois de tudo que havia acontecido, aquela lembrança parecia mais um sonho do que um fato passado.

Lysandre deu leves batidas na porta e a diretora – com sua voz imponente como sempre -, ordenou que entrassem. A mulher estava sentada – assim como nas outras vezes que Rain a vira – em sua poltrona. Outra mulher, de cabelos curtos e castanhos, ocupava uma das duas cadeiras de couro à frente da diretora. Ela se levantou quando Rain entrou e, exibindo um sorriso contagiante, a abraçou.

– Tia Manon! – Rain retribuiu o abraço.

A mulher afastou-se de Rain e, ainda a segurando pelos braços, analisou-a de cima a baixo.

– E então? – Ela se reaproximou de Rain e sussurrava para ela – Você e o meu Kentin já estão namorando?

Rain enrubesceu fervorosamente.

– Tia Manon!

– Ora, não precisa ficar vermelha, querida. Sabe que sempre torci por vocês. – Ela sorriu – Essa sua reação foi um sim?

– Não! – Rain não sabia se poderia corar mais.

– Manon... – Lysandre a tocou no ombro – Viemos tratar de outros assuntos.

– Ah, claro. – Ela se afastou de Rain e sentou-se na cadeira de couro onde outrora estava sentada – Desculpe, não me contive.

Lysandre encostou-se na parede ao lado esquerdo da diretora e Rain sentou na cadeira que sobrava. Ela olhou para a diretora, e desviou seus olhos para a pintura da fundadora acima desta. Diferente de antes, agora aquela pintura a deixava estranhamente desconfortável.

A diretora entregou para Rain o pedaço de uma folha que, até então, segurava. Ela reconheceu. Não era um pedaço de folha, mas sim uma carta.

– É a carta que pediu que eu entregasse aos seus pais. – Comentou Lysandre – Desculpe, não consegui cumprir seu desejo, mas não se preocupe, nós não a lemos.

Rain olhou confusa para os três. Talvez Lysandre não tivesse encontrado a casa certa. Não. Ele dissera que a mãe de Kentin viera com ele.

A morena engoliu em seco.

– O que está acontecendo?

Lysandre e Manon se entreolharam.

– Não quero soar rude, mas por que está aqui, tia Manon? – Ela sentiu a voz falhar.

Há alguma coisa muito errada.

– Rain. – Disse Lysandre, finalmente. – Você sabe as circunstâncias necessárias para que nasça uma feiticeira, não sabe?

Ela assentiu. Ele estava mudando de assunto, ou o que?

– Filha de humano com... – Ela se interrompeu. Sentiu a voz e o ar lhe faltarem.

– Demônio. – A diretora continuou.

A morena engoliu em seco.

– E o que tem isso?

Sou... Filha de um demônio?

– Você perguntou por que eu vim. – Respondeu Manon – Talvez duvidasse da palavra de Lysandre ou da diretora, não sei. - Rain percebeu que ela brincava com os dedos incessantemente – Rain... você é filha de um demônio.

A morena sentiu-se enojar.

E o que tem isso? – Repetiu.

– Não... havia nada de sobrenatural no casal McKee.

– Está insinuando que um dos meus pais não é meu pai de verdade? – A voz soou incrédula.

– Ou talvez nenhum dos dois. – Continuou Lysandre – Manon confirmou que eles nunca apresentaram sinais de consciência sobrenatural.

– Lysandre! – A mulher de cabelos castanhos o censurou.

– Ela precisa saber. Será melhor para ela que contemos tudo.

– Lysandre... está certo. – Afirmou Rain, receosa – E... por que não conseguiu entregar minha carta?

– Eles... não voltaram, Rain. – Respondeu Manon. Rain pode ver tristeza em seus olhos. Tristeza por ela.

– Não voltaram de onde?

– Daqui. – A mulher continuava a mexer os dedos – Quando vieram te deixar, Rain, eles não voltaram.

– Ah. – Foi simplesmente o que respondeu.

Os três se entreolharam, confusos. Rain amassou a carta e jogou no chão.

– Eles fugiram então? Descobriram que eu era uma aberração e me jogaram aqui, depois fugiram. – Ela se levantou – Bem, é uma escolha sensata.

Manon repetiu seu gesto, levantando-se também.

– Eles nunca o fariam! Um pai não abandona seus filhos.

– Eles não são meus pais. Você mesma não acabou de me falar?

– Claro que são! Eles estão desaparecidos. Não abandonaram você! Temos que os encontrar e-

– Faça, se o quiser. Eu não ligo! – Ela deu de ombros – Não vou perder meu tempo procurando por pessoas que sequer conheço.

– Rain! – Manon a segurou pelo pulso – Não se refira assim a eles! Eles são seus pais.

Eles não são meus pais! – Ela gritou e se soltou.

Rain expirou com força e se afastou dos três. Virou-se de costas para eles e passou a mão por seu longo cabelo negro. Nenhum de seus pais tinha cabelo preto. O seu era herdado de uma avó de seu pai, ele o dizia. Os olhos azuis como os dela, então... Os pais diziam que os médicos afirmaram que era alguma espécie de anomalia genética, mas que não prejudicaria sua visão. Ela nem mesmo parecia com eles. Como pode ser tão idiota?

Manon engoliu em seco e deu um passo na direção de Rain, mas esta, ao perceber a aproximação, recuou.

– Acho que... eu preciso ficar um pouco sozinha.

A morena olhou de soslaio para eles por cima do ombro e andou até a porta. Ela a abriu devagar, e deparou-se com Kentin que, como quem se prepara para bater, estava com a mão direita erguida.

Os olhos de ambos se arregalaram ao se encontrarem, mas quando Kentin sussurrou o nome dela com ar interrogativo, ela desviou os seus. Rain o empurrou de leve e passou por ele. O garoto a observou correr pelo corredor, até que ela desaparecesse ao descer as escadas gêmeas.

Ele olhou confuso para as três pessoas em sua frente.

– O que está acontecendo?

Manon suspirou.

*

Ela não havia esquecido como o campus ficava lotado de vampiros após o pôr-do-sol, mas naquele momento, aquilo não importava. Mesmo que ela sentisse o olhar faminto dos vampiros em cima dela – o que sentia – ela continuava correndo, em busca do dormitório.

Estava se sentindo estranha. Nada além de estranha. Não chorava, mas sentia um abismo dentro de si. Ela já havia lido em seus livros que feiticeiros são filhos de demônios, mas nunca havia, de fato, associado aquilo consigo. Parecia um conto de fadas distante, que nunca chegaria até ela.

Mas aqui estava ela, deparando-se tardiamente com a realidade. Quando se deu conta, ela já estava com a mão na maçaneta da porta do seu quarto. Abriu-a com força e a deixou bater.

Rain seguiu para o banheiro, abriu o chuveiro e permitiu que a água gelada escorresse por seu corpo. Queria que a água levasse, acima de tudo, aquela sensação estranha que a possuía. Sensação de vazio, de solidão, de incapacidade. Então, ela se lembrou.

Lembrou-se de todos os seus aniversários, de todas as surpresas, de todos os presentes. De todas as vezes que, enquanto criança, caíra, e eles estavam lá para ela. Dos primeiros dias de aula, quando não queria deixá-los de jeito nenhum. Das datas especiais, dos almoços de domingo. Das histórias que seu pai contava para ela antes de dormir e do cheiro da comida de sua mãe.

Lembrou-se de como eles estavam estranhos nos dias que antecederam sua vinda para Sweet Amoris. Quietos, sem sinais de vida. Quase como se estivessem hipnotizados, e como seu coração apertava toda vez que os via assim.

Então, finalmente, as lágrimas escorreram, fundindo-se com a água gelada da ducha. Ela agachou-se e se permitiu chorar, como se as lágrimas fossem acabar com aquela sensação horrível que tinha dentro de si. Os soluços ecoavam no banheiro quando, relutantemente, ela se levantou e fechou o chuveiro.

Amarrou uma toalha envolta de si e caminhou até a pia. Pegou o pente e desembaraçou seus fios negros, e se olhou no espelho: seus olhos estavam inchados, mas ela ainda se sentia estranhamente vazia.

Rain andou até seu guarda-roupa e vestiu um short azul-escuro de tecido, além de uma camiseta preta comum de algodão, quando ouviu batidas na porta. Ela suspirou e, com muita relutância, andou até ela. Pensou duas vezes antes de abrir a porta, pois tudo o que queria naquele momento era ficar sozinha, mas, no fim, decidiu abrir.

Ela ergueu seus olhos azuis para ele e, diferente do que era normal para eles, ela não conseguiu sorrir ao vê-lo. E, diferente do que ela esperava, ele também não sorriu.

– Posso entrar?

Ele parecia receoso ao fazer aquela pergunta. Mas ela, simplesmente porque não tinha ânimo para discutir, permitiu que Kentin entrasse.

*

Ele olhou o envelope da carta e suspirou. Lysandre girou o anel de prata do seu dedo mínimo com o polegar. O endereço anexado a ela não era, surpreendentemente, longe de Sweet Amoris. Levaria, no máximo, um dia e meio, se fosse a pé.

Estava relutante em ir: a reação de Rain para com aquela conversa não havia sido uma das melhores. Todos sabiam que, o que ela dissera, era simplesmente provido do choque, mas, ainda assim, estava preocupado.

Queria ver como ela estava, mas aquela não era a melhor hora. Além disso, Kentin falou que iria até ela. Ninguém melhor que ele para estar com ela nesse momento difícil... não é?

Ele fechou o zíper da mochila e ouviu batidas na porta. Virou-se, e pediu que entrassem.

Era Violette.

Ela olhou curiosa através dele para a mochila e franziu o cenho.

– Como ocorreu a conversa?

– Ela reagiu mal. Nada que eu não esperasse.

Ela ergueu as sobrancelhas.

– Sério? Nas outras vezes...

Lysandre olhou curioso para ela.

– O que? – Ela enrubesceu.

– Gosto de ouvir você falar das... outras vezes. – Ele deu de ombros – É interessante, confesso. Estava dizendo...

Violette desviou os olhos.

– Rain reagiu bem. Na maioria, ela já sabia. Descobriu através dos livros, ou seus pais mesmo haviam contado para ela que era adotada.

– Sabe onde estão?

– Os pais dela? – Ela mordeu o lábio inferior – Espero que isso esteja diferente dessa vez.

Lysandre cruzou os braços.

– Estão... mortos?

Ela apertou os lábios.

– Todas as vezes. Mas nunca descobrimos o que, ou quem os matou.

Lysandre suspirou e olhou para a garota em sua frente. Havia algo realmente familiar, nostálgico e adorável em Violette. Ela andou até a estante de livros e passou o dedo por eles.

– Como... está sua doença? – Ela indagou, receosa.

A garota apertou os dedos quando os sentiu tremer.

– Estou curado.

Silencio.

Havia algo realmente familiar, nostálgico e adorável em Violette. Algo que estranhamente fazia seu coração acelerar.

Ela virou-se bruscamente e se aproximou dele.

– Vo- Você está brincando comigo, certo?

Lysandre percebeu que os olhos dela estavam marejados e franziu o cenho.

– Não. Eu realmente estou curado. Há meses.

– Eu... – As lágrimas dela escorreram – Eu vi você morrer tantas... tantas vezes...

Ele arregalou os olhos e engoliu em seco.

– Por conta da doença?

Ela assentiu e, com as mãos, enxugou suas lágrimas. Lysandre percebeu a marca mais uma vez, mas seus olhos deslizaram para algo ainda mais comum para ele, que brilhou em um de seus dedos. Ele se aproximou dela e segurou seu pulso direito gentilmente.

– Como conseguiu isso?

Violette arregalou os olhos e tentou se soltar.

– Achei que estivesse de partida.

Ele a apertou levemente mais forte.

– Como conseguiu esse anel? – Repetiu.

A garota de cabelos lilases desviou os olhos.

– ...você... me deu. – Balbuciou.

Foi a vez do garoto arregalar seus olhos.

– Eu... o dei para você?

Violette sentiu seu rosto queimar e o virou. Ela tentou se soltar mais uma vez, e ele permitiu que ela se afastasse.

– Para onde você está indo?

– Estou indo ver Lilith.

Os olhos da garota se arregalaram.

Lilith?

Ele ergueu as sobrancelhas.

– Outra primeira vez para você? – Ela assentiu e se aproximou.

– Você tem certeza que é uma boa ideia?

Ele a encarou, para logo desviar o olhar para a carta que havia abandonado em cima de sua cama.

– Não. Mas Lilith quer me ver, então vou encontrá-la.


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Notas finais do capítulo

Gostaram?
*notas rápidas porque a tia Soul tá apressada*
Comeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeentem
Beijinhos, amo vocês. s2
~Soul