Blood Curse escrita por Soul Kurohime


Capítulo 35
Carta de Amor


Notas iniciais do capítulo

Gente, tá, eu atrasei. Me perdoem! ;-; Dia das mães é bem corrido. Maas, estou aqui para deixar o capítulo. s2 Atraso de apenas algumas horas. xD
Geeeeente! Meu aniversário é quinta agora! :3 :3
Enfim, sem mais delongas, boa leitura! :*
~Soul
"As duas cartas de amor mais difíceis de escrever são a primeira e a última."
— Francesco Petrarca



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Meu querido Lysandre,

Sinto saudades tuas. Sei que é uma forma demasiada equívoca de iniciar-se uma carta, mas não consegui começa-la de outra forma; pareceu impossível para mim.

Quantos milênios decorreram-se – inacabável e vagarosamente – desde a última vez que nossos olhos se encontraram? Tua heterocromia balançava e brilhava para mim, como as pequeninas fadas cintilantes do nosso Jardim do Éden. Ainda assim, tua luz, com pesar que reconheci há alguns anos, não foram o suficiente para apagar as marcas negras que consumiam a minha alma.

Aperta-me o coração lembrar de teu rosto ao me olhar ao lado de Lúcifer, ao mesmo tempo que, ao lado dele, eu olhava-te e não te enxergava. Quão tola eu fui! Se arrependimento queimasse, eu estaria agora consumida até meu último centímetro de tecido pelo Fogo Sagrado.

No entanto, esta não é uma carta de amor.

Lysandre, meu querido, sei que tens me procurado. Não sou tola. Reconheci os anjos aliados teus no primeiro momento, mas não os deletei. Enquanto eles me espionassem, eu saberia que tu estarias vivo, e tu terias notícias minhas. Uma balanceada faca de dois gumes, como a libra da justiça. Todavia, diferente do que possa ter pensado lendo até aqui, quero que venha a meu encontro.

Repito: não é uma carta de amor.

Amo-te, é uma verdade incontestável, mas o assunto a que te escrevo é demasiado prioritário. Sinto-me ansiosa e nervosa ao pensar em te encontrar novamente, mas pela prioridade, devo esquerdear meus sentimentos; não que possuam alguma valia.

Sei, e tu sabes também, que sempre fui uma mulher orgulhosa de minhas virtudes, mas agora, odeio-me. Sou uma desgraçada. As infelicidades me consomem, mas eu temo ser a única que possa ajudar a todos nesse momento. Tenho consciência que, naquele tempo em que olhávamos os animais, sentados ao lado da Cachoeira Maior no Éden, eu blasfemei e praguejei muito os mundanos.

No entanto, o tempo forma opiniões, e acredito que, depois de tantos milênios, minha opinião está suficientemente moldada e, diga-se de passagem, completamente alterada. Não acho que seria esposa melhor para Adão do que Eva – longe disso. Acredito que minhas ações, mesmo que estivesse indo contra nosso Pai, levou a humanidade aonde estão hoje e, confesso-te, orgulho-me disso.

Mas Lúcifer os polui. Acredito que seja tarde demais para lamentar-me, mas preciso agir. Precisamos agir. Lysandre, eu preciso de ti. És o único que, em todo este Universo criado pelo nosso Pai, confio. Estou em plena consciência que essa confiança não possa ser recíproca, mas, por favor, em nome de tudo que passamos juntos, dê-me uma última chance para tentar consertar meu erro.

Não estou falando de uma epidemia demoníaca, ou de outra Guerra Mundial. Não, meu querido Lysandre, é algo estupidamente maior. O Apocalipse. Escondi-me de todos nos últimos quinze anos; nem mesmo Lúcifer sabe onde estou. Estava à espera do momento certo para agir, e este momento é agora. Venha até mim. Anexei meu endereço a esta carta. Se ainda ama os Céus, e acredita no futuro da maior criação de nosso Pai, me procure.

Estarei a sua espera,

Lilith.

Lysandre releu a carta três vezes. Acreditou, de princípio, que seus olhos o enganavam, então releu, releu, releu. Poderiam se passar tantos milênios quantos fossem, mas ele nunca esqueceria a letra de Lilith: aquela letra era dela.

Ele a dobrou e botou no bolso de sua calça preta enquanto erguia seus olhos heterocromáticos para aqueles em sua frente. Eles gritavam, discutiam, esperneavam: nunca chegariam a uma conclusão assim.

– Vocês têm consciência que estamos em uma enfermaria, não têm?

O garoto de cabelos brancos ergueu o tom de voz, fazendo com que todos ali olhassem para ele: Rosalya, que gritava com Alexy e Armin. Estes, que revidavam. E Kentin, deitado em uma das camas, que apenas observava, meio confuso e tonto por ter saído do coma a pouco menos de algumas horas.

– Você poderia me ajudar então, Lysandre? – Rosalya revidou.

– Não tem no que ele ajudar. Não podemos fazer nada. – Afirmou Armin.

– Seria muito mais fácil se você aceitasse de uma vez. – Continuou Alexy.

– Não vou aceitar! Não podemos simplesmente deixar Rain sabe-se-lá-onde.

– Exatamente. Não sabemos onde ela está. – Respondeu o garoto de cabelos azuis.

– Claro que queremos ajudar, mas não podemos simplesmente andar em círculos! – Prosseguiu o outro.

Kentin não se pronunciava. Ele ainda estava levemente em choque depois de escutar toda a história. Lysandre suspirou e se levantou da cadeira onde outrora estava sentado.

– É verdade que os vampiros que trouxeram Kentin não nos deram nenhuma informação, mas seria no castelo de Nathaniel que deveríamos começar a procura, logicamente. No entanto, ao menos eles nos deixaram claro que ninguém que pertencesse ao clã de Nate seria bem-vindo ao reino.

– E foi por isso que descartamos a nossa primeira opção. – Alexy jogou as mãos ao alto – Além disso, Castiel também está desaparecido. Em uma equação matemática lógica, podemos afirmar que os dois fugiram juntos, como um casal apaixonado.

Kentin ergueu os olhos para eles pela primeira vez. Lysandre franziu o cenho.

– Eu não acho que Castiel –

– Ela não... o faria. – O moreno murmurou com dificuldades, chamando a atenção de todos os presentes.

– Como pode ter tanta certeza? – Alexy indagou – Viu como eles são próximos?

Kentin olhou para Alexy com olhos afiados.

– Vocês ouviram a história dos vampiros. – Rosalya suspirou – Alguém que planejasse fugir com um carinha não faria o que Rain fez. Além disso, se ela desmaiou, com certeza está no castelo. Fazendo o que, nós não sabemos, mas tenho um mal pressentimento.

– E tampouco podemos entrar no castelo. – Prosseguiu Armin.

De repente, as portas da enfermaria se abriram, assustando a todos. Uma garota, de meia listradas escuras e um vestido curto negro entrou. Seus cabelos alaranjados presos em uma trança balançavam no ritmo em que ela se aproximava do grupo.

– Ah, Iris! Você me assustou! Abra essa porta com mais gentileza da próxima vez, eu agradeço. – Rosalya a olhou com seus olhos felinos.

– Ah, sinto muito. Não fiz por mal. – Seus olhos deslizaram para Kentin. Ao perceber que ele olhava para ela, a garota corou fervorosamente. – Ah, Kentin. Você já está melhor? Fico feliz em saber que você já acor –

– Soube que estava rastreando Rain. – Ele a cortou, ainda falando com dificuldade. – Obteve algum progresso?

Ela arregalou os olhos quase imperceptivelmente.

– Bem, não. Há alguma coisa com ela impedindo o rastreamento. Creio que Nathaniel possa ter colocado algum feitiço nela, ou algo do tipo.

– E os vampiros? – Armin indagou.

– Nenhum deles querem nos ajudar. Todos reconhecem a soberania de Nathaniel e o temem; não querem arriscar traí-lo ou confrontá-lo.

Rosalya revirou os olhos.

– Bando de fracotes! Nathaniel é realmente tão poderoso assim?

– .... Muito. – Iris engoliu em seco.

A garota de cabelos brancos suspirou.

– Acreditei que sua magia sensitiva fosse nos ajudar. – Ela se deixou cair na cama mais próxima.

– E Dake, algum sinal dele? – Indagou o garoto de cabelos azuis.

A ruiva negou com a cabeça, sentindo-se constrangida. Sua magia, que era tão rara e poderosa, estava sendo inútil naquele momento. Logo na frente de Kentin. Queria que ele reconhecesse que ela era forte e... bonita. Mas estava fracassando maravilhosamente bem. Quando todos pareceram desanimados, ela se lembrou:

– Consegui rastrear Castiel. – Todos olharam para ela. – Até... certo ponto. – Os rostos voltaram a aparentar desanimo – Ele saiu do castelo à uma e meia da manhã, aparentemente sozinho, e andou alguns quilômetros em direção ao leste, até que... sumiu.

Iris suspirou.

– Sinto muito, estou fazendo o melhor que posso. – Ela olhou para Kentin, que mantinha o olhar fixo no nada.

– Não é culpa sua. – Lysandre a tocou no ombro – Com certeza há algo que está repelindo sua magia.

Ela sorriu fraco, apenas para agradecer Lysandre. Não a havia convencido. Ela queria ser útil. Queria ser útil para Kentin.

E então, a porta da enfermaria foi aberta mais uma vez. Dessa vez, calmamente, chamando a atenção de todos para as duas pessoas que entraram: uma garota de cabelos longos e negros, usando uma saia curta azul-escuro de babados em camadas e uma camiseta de algodão preta, realçando as curvas de seu corpo, seus seios fartos e seus olhos de fim de crepúsculo; e uma outra garota, de cabelo lilás, usando um vestido cinza curto, sem mangas, com detalhes roxos, e meias longas que apertavam suas coxas.

Todos arregalaram os olhos. Kentin não conseguiu conter um sorriso. Lysandre, por sua vez, estremeceu: mesmo de longe, ele conseguia ver nitidamente a tatuagem de caveira – tão desgostosamente familiar para ele – que a garota de madeixas lilases trazia em seu pulso esquerdo.

*

Charlotte abaixou-se e mexeu na terra abaixo de si com movimentos leves. Noir a olhava com curiosidade. Ela apertou um botão cor de pedra, e as caveiras nos pulsos de ambos brilharam. Charlotte demonstrou uma expressão engraçada de dor, pois ardia, e Noir riu.

Então, uma pedra imensa que bloqueava o caminho dos três rachou-se e se afastaram. Castiel observou com curiosidade encantada, e desceu em direção ao nível inferior ao qual o caminho descoberto levava, mantendo uma distância máxima de Noir e Charlotte. Eles o olhavam de soslaio de tempos em tempos, enquanto seguiam reto em um corredor impecavelmente branco, ignorando inúmeras portas azuis ao longo deste.

Mas eles não estavam sozinhos. Havia dezenas de pessoas pelo corredor, transitando entre as portas, de todas as raças, sexos e idades. Eles não possuíam um padrão de vestimenta, apenas, Castiel notou, um acessório ou uma peça de roupa obrigatoriamente cor de vinho, e nenhum deles escondia sua tatuagem.

Eles andaram em mais alguns corredores, e ninguém parecia prestar atenção na sua presença. Eles apenas prosseguiam seu caminho, como se tivessem algo muito importante para fazer. Charlotte, Noir e Castiel caminharam até uma porta azul, diferente das anteriores. Era uma porta dupla, maior e possuía aspectos futurísticos.

Charlotte e Noir se olharam incertos e abriram a porta; não antes de engolirem em seco.

– Dama!

Eles observaram alguém que já estava dentro da sala chamar e se aproximar de uma mulher de jaleco médico.

– Trouxe os resultados do último teste.

A mulher virou-se para ele e ergueu o braço para pegar o papel que ele oferecia a ela. A mulher leu rapidamente e suspirou.

– Obrigada, Dake. Vou analisar com mais cuidado depois.

O garoto sorriu para ela e se afastou. Os que estavam ao lado de Castiel se entreolharam mais uma vez e andaram em direção a mulher.

– Dama. – A voz de Charlotte falhou.

– Ah, Lottie. – A mulher sorriu – Trouxe meu presente?

– Bem, não. – Respondeu, receosa.

A face da mulher se fechou, fazendo com que todos os pelos da loira se arrepiassem e seu sangue congelasse. Debrah ergueu o braço na direção de Charlotte e fechou a mão como se enforcasse alguém. A loira, por sua vez, perdeu o ar, e caiu de joelhos no chão, incapaz de respirar.

– Você foi uma má menina, Lottie...

– Por favor, pare, Dama! – Noir se exaltou – Temos ótimas razões para não ter trago Rain.

Debrah olhou duvidosa para ele e, segundos depois, libertou Charlotte.

– Que seria...?

– O Rei dos Vampiros. Ele a está mantendo refém em seu castelo. Deixei uma de minhas sombras espionando um dos guardas.

Debrah suspirou.

– Isso não aconteceria se eu tivesse cumprido meu trato com aquela garota. Falando nisso, Ambre está morta?

– Sim. – Noir assentiu – Além disso...

– Charlotte, levante-se! – Debrah ordenou – Quanto tempo planeja ficar no chão? Não seja tão fraca! Não preciso de pessoas fracas. Vá ao setor de espionagem e peça para alguém se infiltrar no castelo de madrugada e trazer Rain para nós. Noir, use sua sombra para vasculhar o castelo e achar uma rota segura. Não podemos nos atrasar mais na captura dessa garota!

Eles curvaram-se para ela e viraram-se para sair, mas Noir foi impedido por um chamado de sua Dama.

– Noir, espere! – Ele virou-se para ela – Além disso... O que?

Noir riu.

– Garotas são realmente muito curiosas, não são? – Debrah retribuiu com um sorriso – Podemos não ter trago Rain, mas trouxemos outra coisa.

Castiel, que até então estava escondido na sua quietude vampírica e na escuridão dos locais pouco iluminados, aproximou-se deles. Debrah perceptivelmente arregalou os olhos ao vê-lo.

Cas... tiel... – ela sussurrou, claramente bastante surpresa.

Castiel a encarou de volta e engoliu em seco, enquanto todas as memórias do passado invadiam, sem pudor, seus pensamentos.


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Notas finais do capítulo

Estou sentindo cheiro de especiaaaaal! :3 heuheueu
Comentem! Comentem!Comentem!Comentem!Comentem!Comentem!Comentem!
Beijinhos.
Soul ama vocês.
Obrigada por lerem.
Mais beijinhos.
~Soul