Blood Curse escrita por Soul Kurohime


Capítulo 30
O pecado de amar


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! s2
Gostaria de agradecer à Marianaf21 pela recomendação! Eu fiquei IMENSAMENTE feliz, muito obrigada MESMO! Não consigo expressar em palavras o quão feliz eu fiquei. Mas, como agradecimento, dedico esse capítulo a você! *-*
Agora, sem mais delongas, boa leitura!
~Soul



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A corda apertava o suficiente para que o sangue escarlate escorresse e pigmentasse a pele albina dele. As chicoteadas eram uniformes e rítmicas. Da mesma forma que ele havia parado de conta-las a partir da milésima quinquagésima, o garoto não daria a satisfação de gritar para sua mãe. Ele não gritava, nem gemia, apenas aguentava, enquanto mantinha um sorriso irônico, fazendo com que a mulher se enfurecesse a cada chicoteada mais.

Ela o observava através da janela de cristal. Ele, com os pés e as mãos amarrados ao tronco como um escravo, enquanto seu pai o chicoteava com força digna de um vampiro, e sua mãe o observava com um rosto transparente de fúria.

Ela se afastou do vidro e seguiu pelo corredor rumo às escadas. Suas passadas ecoavam pelo corredor graças ao salto que calçava.

– Temo não poder deixa-la prosseguir.

O homem de longos cabelos castanhos estava no último degrau da escada, bastante contradito. Sora desceu os degraus até estar perto o suficiente para encará-lo.

– Dimitry, não é? Não que eu queira menosprezar sua posição, mas sua ordem não me diz muito.

– São ordens do Rei, apenas estou repassando-as. Ele quer que fique em seu aposento.

– O Rei quer que eu me case com o filho dele. Não que eu esteja reclamando, longe disso, mas vim aqui casar com um príncipe digno de receber a coroa, e não com uma escória.

O homem franziu o cenho.

Escória?

A moça sorriu vitoriosa.

– Arrisco dizer que sejas um dos poucos nesse palácio que simpatize pelo príncipe.

– Sinto por contradizê-la, mas todos aqui prezam pelo príncipe Nathaniel.

– Claro. – ela piscou – Finja que eu creio.

Ele a olhou por poucos segundos e desviou o olhar. Bingo.

– Creio que, assim como a mim, não o agrada ver o príncipe em suas condições atuais. Apanhar como um escravo não é o ímpeto de um príncipe. Assim sendo, - ela suspirou – tentarei fazer algo quanto a isso. Agradeceria se me deixasse passar. Ninguém precisa saber que você não conseguiu me impedir. – ela levou o dedo indicador aos lábios, em sinal de silêncio. – Segredinho nosso. – sussurrou. – Pelo bem de Nathaniel.

Dimitry a olhou por meio segundo e suspirou, dando-se por vencido. Ele afastou-se e curvou-se, liberando a passagem para a garota. Ela assentiu a cabeça em um gesto de agradecimento e seguiu ao pátio onde Nathaniel estava.

Ela empurrou as portas duplas e encaminhou-se diretamente ao centro – onde ele estava – ignorando completamente a dúzia de guardas vampiros ali presente. A Rainha fechou ainda mais o rosto ao vê-la, e o Rei a olhou incialmente confuso, depois furioso. Ela não se abalou, mantendo a mesma postura calma e controlada de sempre.

– O que fazes aqui? – A Rainha aproximou-se dela em uma velocidade surpreendente – não para ela, Sora era ainda mais rápida que aquela mulher.

– O que fazem com meu noivo? – ela encarou a mulher.

– Estamos fazendo-o pagar por seus pecados.

Pecados? – ironizou – Onde está o erro em amar?

– O erro – grunhiu – está na escolha estupida que ele fez.

– Ouvi... Boatos. – ela desviou o olhar para Nathaniel – O príncipe estava vivendo um caso de amor proibido com uma licantrope que, além de ser o que é, era uma escrava... Está correto? – ela deslizou os olhos azuis claros para a mulher, que assentiu envergonhada. - Ainda assim... – Sora prosseguiu – Não há uma forma menos bárbara para que sua majestade compreenda que suas escolhas foram... Errôneas? – ela se aproximou dele.

– A tortura sempre fora e sempre será a melhor política. – interveio o Rei.

A moça deslizou os dedos pelo tronco até alcançar as cordas e começou, com as próprias mãos, a desamarrar os nós.

– O que pensa que estás fazendo?! – gritou a Rainha.

– Desamarrando-o. Não parece óbvio? – respondeu calmamente.

– Não tem a autoridade de passar por cima de minhas ordens!

Sora suspirou.

– Sim, eu tenho. Amanhã eu serei a rainha, e não mais você.

A mulher ficou boquiaberta.

– Sim, amanhã! Até lá, minhas ordens são lei!

– Então, eu sou uma criminosa. Uma... Pecadora, como vocês dizem. Por que não me amarram a este tronco e me chicoteiam até eu sangrar? – ambos os reis ficaram levemente boquiabertos – Ah, não podem. Meu pai, no mínimo, acabaria com qualquer trato que tem com vocês e o atacariam sem pensar duas vezes. Seria uma pena se ele fosse o líder do maior clã de vampiros do continente. – Ela sorriu. Os dedos da garota estavam em carne viva quando ela finalmente desamarrou Nathaniel. O garoto caiu, sem forças, aos seus pés.

Sora ajoelhou-se ao lado de seu noivo.

– Desde que eu ouvi pela primeira vez os boatos, eu vivia me perguntando se Nathaniel soubesse que nascemos destinados um ao outro mudaria algo em suas escolhas. – ela sorriu – Não, claro que não. Seria apenas mais um obstáculo entre você e a sua licantrope, não? – ela mexeu nos fios loiros dele.

A mulher engoliu em seco.

– Como consegue tratar de um assunto tão delicado dessa forma?

A garota sinalizou para os guardas, que obedeceram de imediato, evitando o olhar da Rainha sobre eles.

– Adelaide, esqueça. – interveio o Rei. A mulher bufou e cruzou os braços, enquanto observava os guardas levantarem Nathaniel e leva-lo para fora do pátio.

Sora olhou de um para o outro e, em seguida, desviou sua atenção para seus próprios dedos, que já haviam se curado.

– O motivo é que... – ela atritou os dedos – Eu já havia desistido desse casamento. – os reis se entreolharam – Quando o boato se espalhou, eu acreditei que não haveria mais matrimônio, mesmo que o acordo entre vocês e meu pai ainda estivesse oficializado. Então, comecei a estudar medicina. Foi no momento em que recebemos a vossa carta nos convocando para o finalmente enlace, que eu decidi que não deixaria mais nada, nem ninguém, ficar entre mim e o meu Nathaniel. – ela apertou os olhos – Nem deixaria que nada acontecesse a ele enquanto eu estiver viva.

Sora fechou os olhos e suspirou, sentindo os olhares de ambos os presentes em cima dela. Ela assentiu com a cabeça em uma reverência e caminhou pelo pátio até atravessar, mais uma vez, as portas duplas. A garota subiu as escadas e seguiu até o último quarto do corredor: o quarto de Nathaniel.

Quando ela entrou, ela o viu deitado, de bruços, ainda desacordado. Aflita, ela caminhou até ele e sentou-se ao seu lado. Sora passava os dedos sobre as feridas que, surpreendentemente, ainda não haviam curado.

*

Rain bateu na porta e entrou, mesmo que não obtivesse tido uma resposta. Ambre virou-se para ela surpresa e, ao vê-la, suspirou.

– Espere eu responder se pode entrar, sim? Eu poderia estar me trocando.

Rain olhou através dela. Em cima da cama da loira, estava uma mala aberta, parcialmente cheia, e Ambre estava com um vestido em mãos. Ela o dobrou e o guardou com cuidado exagerado na mala.

– E então, o que quer? – Ambre virou-se para ela.

– Soube que Nathaniel foi embora.

– Ah, isso? Nathaniel é o herdeiro da coroa. Você já sabia disso, por que está tão surpresa?

– Nathaniel não queria isso!

Nathaniel não queria que Melody estivesse morta. E, como eu já disse a você uma vez, ele não precisaria saber disso.

Rain engoliu em seco.

– Desconfiei que ele soubesse. – murmurou.

Desconfiou? Ele nunca saberia se não fosse por você! Aliás, por que contou? Eu confiei em você!

– Eu não contei! Não faria isso!

– Você sempre achou minhas ações errôneas. – Ambre cruzou os braços.

– Sim, achei! Ainda assim, ver Nate sofrendo seria pior do que ir contra minhas concepções. Acredite em mim!

Ambre não respondeu. Um silêncio tenebroso tomou conta do local, e Rain sentiu seus pelos arrepiarem.

– Vamos parar com o teatrinho, não é? – ela sorria – Não aguento mais isso.

– Te- Teatrinho? Do que está falando?

– Estou falando de mim, bobinha. Não sei como o fez, mas, graças a você, Rain, meu plano está indo de acordo com o planejado.

– Plano?

– Sim, plano. Por favor, quem, em sua sã consciência, contaria um segredo dessa magnitude a alguém que mal conhece?

– Sobre o que você-

– Por que eu contaria a você sobre a morte de Melody? Eu não conhecia você. Eu não conheço você.

– Porque eu o ajudei e...

– Ele é um príncipe! – ela levou a mão direita à testa – Se você não o ajudasse, alguém o ajudaria. Foi apenas... Destino. – Rain franziu o cenho – Deixe-me contar uma pequena história, Rain...

Ambre andou até seu guarda-roupa, pegou mais um vestido, e andou novamente em direção à mala.

– Nathaniel tinha um amigo chamado Marco. Nós... namoramos. Não, não namoramos, eu o manipulei, já que estamos jogando as cartas à mesa... – ela sorriu – Claro, ninguém sabia de nossa relação. Em um belo dia de penumbra, pedi para Marco tentar aproximar-se de Nathaniel, e, assim como eu desejava, eles se tornaram bons amigos. Ou apenas era o que Nathaniel achava. Uma vez, meus pais me pediram para que eu fosse até o Reino das Fadas vizinho para renovar o tratado de paz, e foi quando eu conheci Charlotte, uma fada que... Bem, comercializava ópio dos duendes ilegalmente. O destino parecia estar torcendo para mim... – ela sorriu novamente - Comprei algumas porções, e pedi para Marco incitar Nathaniel a se drogar. Ele odiava nossos pais, odiava a vida que levava, seria uma espécie de salvação temporária. Marco me amava, e me obedeceu. Nathaniel confiava cegamente em Marco e, o obedeceu. Ao contrário do que meus pais acreditam, Nathaniel não começou a se drogar depois que seu nojento relacionamento com a licantrope começou a desandar. Claro que, com isso, as doses que ele passou a injetar em si quintuplicaram... Eu não esperava por isso, confesso, mas não tenho culpa se o destino andava ao meu lado. No dia em que Nathaniel conheceu Melody, ele matou Marco. Os acontecimentos não têm relação, na verdade. Eles estavam treinando e meu irmão não estava sob os efeitos do ópio. Com a droga, ele fica bonzinho sabe, manso... – Ambre riu a expressão de Rain - Diferente do que você crê, o Nathaniel que a atacou, Rain, não era o Nathaniel sob o efeito da droga. Era o meu doce irmãozinho, puramente o que ele é.

Rain engoliu em seco.

– Quando meu irmãozinho e a licantrope se conheceram – ela continuou -, estava perceptível a todos que eles não se davam nenhum pouco bem. Nathaniel a odiava, a tratava muito mal, de verdade. Não sei como, mas ela conseguiu muda-lo aos poucos. Mas foi no momento que minha mãe flagrou Nathaniel bebendo sangue animal que tudo ruiu. Todos no palácio ficaram sabendo da relação de meu irmão com a garota e, logo, todos no reino. A reputação de meu irmão caiu e, consequentemente, nos arrastou junto. Decaímos tanto que a temível família real era constantemente confrontada por grupos que eram contra a monarquia, e a favor da democracia.

– Onde você está querendo chegar?

– Estou querendo chegar ao ponto onde, por mais que meus pais o coroem Rei, o povo não o aceitará e eu, consequentemente, serei a Rainha.

– Você acabou com a vida do Nathaniel e afundou sua família simplesmente para ser a rainha? – a voz da morena soava inacreditável.

– Isso. Claro que nem tudo saiu como eu planejava. Nunca desejei esses grupos democráticos, mas, se precisar, os exterminarei.

– Se queria tanto ser rainha, por que tanto esforço para que a cerimônia de coroação do Nathaniel acontecesse?

– Ora, por favor. – Ambre revirou os olhos. – Ele é o primogênito. Nathaniel, desde seu primeiro ano de idade, é treinado para ser o rei, diferente de mim. Meus pais não aceitariam nunca que eu fosse a rainha antes dele. Eles esperariam por mais mil anos, se preciso fosse. Mas, - ela sorriu – se ele fosse expulso pelo próprio povo, quem mais poderia governar a não ser eu? Meus pais não teriam opção.

Rain sentiu suas mãos tremerem. Aquilo era mesmo verdade? Ela olhou para a loira... Sim. Não sabia como, mas tinha certeza que Ambre não mentia.

– E por que simplesmente não contou a Nathaniel que Melody está morta? E... Ela está mesmo morta?

A loira suspirou impaciente.

– Obviamente, sim. Eu mesma a matei, com minhas próprias mãos. – ela sorria sadicamente. Rain sentiu-se enojada – Onde estaria meu papel de irmã mais nova perfeita se contasse a Nathaniel que ela havia morrido? Ele suspeitaria de mim, e me mataria. Mas... Eu não tinha outra opção... Até ver você. Tão preocupada com Nathaniel, tão aflita com a situação, tão... Manipulável. Só precisei contar tuas frases fraudulentas e... – ela suspirou vitoriosa - Você caiu. Eu sabia que você ia acabar contando. Muito obrigada Rain! Todo o meu plano acabou do jeito que eu desejava graças a você!

Rain caiu ao chão.

– E por que você me contou tudo isso?

– Porque foi tudo por causa de você.

– Você não tem receio que eu possa tentar impedir?

– Impedir o que? Os planos dos vampiros? Por mais que você se diga feiticeira, nunca usou magia, que eu saiba, e ainda tem o puro cheiro de uma mundana. Eles matariam você no momento que pisasse em nosso reino. Isso se chegasse a tempo e conseguisse entrar. Apenas vampiros podem entrar no castelo e nós temos milhares de guardas o cercando. E, com a coroação sendo amanhã, a segurança está bem mais fortificada, para evitar penetras. Desculpe Rain, mas você perdeu.

A loira pegou a mala de cima da cama e, no outro segundo, não estava mais lá. Rain sentiu os olhos arderem, e apertou suas mãos. Ficou alguns minutos parada no chão, pensando em algo que pudesse fazer, mas tudo poderia ser evitado. Além disso, Nathaniel amava a irmã. Da mesma forma que foi enganado por Marco, estava, como sempre fora, sendo enganado pela irmã. Por que ele acreditaria nela?

Rain se levantou e andou de volta para o quarto dos feiticeiros gêmeos. Assim que abriu a porta, Alexy a surpreendeu, puxando-a para o centro do quarto.

– Descobrimos uma forma de você ler as runas!

– O que? – Rain sentiu-se confusa.

– Bom, - continuou Armin – acreditamos que você possa descobrir alguma coisa lendo o texto no palácio do Rei dos Vampiros.

– Eu vou ao palácio? Quando?

– Amanhã. – Castiel respondeu. Ele tirou um pequeno envelope dourado de dentro da jaqueta – Ambre me entregou isto mais cedo.

– Isto?

– Um convite. – interveio Rosalya.

Castiel aproximou-se de Rain e levantou a mão direita da morena.

Me daria a honra de leva-la ao baile?


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Notas finais do capítulo

O capítulo ficou um pouco maior que o normal, mas vocês devem gostar disso, sim? kkkk
Resolvi deixar a conversa de Lysandre e Castiel mais para frente, só para deixar vocês na curiosidade. 3:) Mentira, quero evitar possíveis spoilers. huehue'
Obrigada por lerem! *-* Comentem! Comentem! Comentem! Comentem! *-*
Soul ama vocês, beijinhos.
~Soul