Os Últimos Passos de Um Homem escrita por Bruno Silfer


Capítulo 5
Capítulo 5: Resistência




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Destino. Palavra que ainda seria muito falada e ouvida durante as conversas entre Ino e Gaara. Também poderia se dizer inevitável. Não fazia diferença, afinal, ambas levavam ao mesmo ponto. A estudante se apressou em chegar logo à cela e usava um vestido branco, cerca de dois dedos acima do joelho, aliás, era algo que ela gostava muito de vestir. Gaara ainda estava deitado, mas agora com o travesseiro no rosto até ouvir um barulho na grade e ver a Ino entrando.

– O que faz aqui Ino? – perguntou Gaara a olhando de alto a baixo.

– Eu pedi que nossas conversas fossem aqui, se não se importar.

– Claro que não me importo. É até melhor assim.

Ele se afastou e trouxe uma cadeira. Ela sentou e esperou ele sentar também, o que não aconteceu,. Então Ino começou.

– Olha isso aqui. – mostrando algumas manchetes de jornal.

Ele pegou e leu. Nelas estavam estampadas as notícias das mortes no parque, sua prisão e condenação, além de algumas opiniões da população. A maioria, é claro, concordava com a justiça e algumas até disseram que queriam ver a execução.

– Brincadeira hein? – disse o ruivo dando um tapa no jornal e sentando na cama, de frente para a loira.

– Brincadeira como?

– Com isso aqui todo mundo está pensando que sou um assassino em série.

– Também foi notícia na televisão.

– Acho que se eu saísse na rua iriam me pegar.

– É verdade.

Gaara parecia desconfortável, principalmente quando Ino cruzava as pernas. Ela percebeu e deu um sorrisinho de leve. Não deixou que ele notasse e continuou a conversa.

– Por que você se incomoda tanto com o que falam?

– Simplesmente porque não falam a verdade.

– Que verdade é essa?

– Já disse que não vou contar.

Ele era irredutível quanto a esse assunto. Como não conseguiria nada agora sobre isso, resolveu mudar de assunto.

– Então... me conte sobre a sua família.

– O que quer saber?

– Tudo que puder me contar.

– Sobre isso não escondo nada. Pode perguntar o que quiser.

– Onde moram, quantos são, o que viveram, enfim, vamos só conversar sobre isso. Assim tudo sai mais fácil.

– Éramos cinco no total. Não lembro muito deles. Só lembro pouco antes do acidente de carro que eles morreram.

– Nossa... só você sobreviveu?

– Não. A Temari, que é minha irmã mais velha, também se salvou.

– Não sabia que tinha uma irmã.

– Pois tenho. É a única família que me resta.

Ele falou a última frase com um certo pesar. Ino se calou por uns instantes e continuou:

– Ela vem te visitar?

– Eu não deixo.

– Por que não?

– Ela fica mal quando vem aqui. Acho que é quando ela me vê aqui e lembra que tenho menos de um ano.

– Eu entendo como é.

– Entende?

– Não sei como, mas entendo.

– Posso perguntar uma coisa?

– Pode sim.

– O que você sentiria se estivesse no meu lugar?

Essa pergunta desestabilizou completamente a jovem. Afinal, foi pega de surpresa com uma pergunta muito difícil de ser respondida. Ela pensou em vão e respondeu:

– Na verdade não faço idéia.

– Então você nunca vai entender.

– Mas estou tentando.

– Eu sei. Aliás eu gosto muito quando você vem me visitar, mesmo sabendo que é só a trabalho.

– Confesso que não gosto nada de vir aqui, mas também gosto de conversar com você. Até já esqueci que é a trabalho.

Ele deu um leve sorriso e levantou. Andou um pouco até encostar na grade. Enquanto olhava para a pequena janela gradeada da cela, dizia:

– O problema não é morrer.

– Qual é então?

– É essa espera. A gente vê os dias passando e lembra que a cada dia que passa o fim se aproxima lentamente... dia após dia...

Ela ficou tensa ao ouvir essas palavras. Lembrou-se da sala branca e da maca e suas amarras. Gaara continuou:

– O terror psicológico daqui é o que deixa muita gente maluca antes da hora. Se é que existe uma hora. Por isso mandam conselheiros espirituais pra gente.

– Imagino.

– Mas não adianta. Você sabe.

Esse assunto estava se tornando muito duro para a garota. O ruivo, porém, mantinha a tranqüilidade enquanto olhava o sol se esconder no horizonte.

– Então... – disse Ino tentando quebrar o clima ruim – Como é a sua irmã?

– Ela é mais velha e mais alta do que eu. É tranqüila mas quando fica de mau humor, sai de perto!

– Vocês se dão bem né?

– Pode apostar que sim. Quebramos o pau às vezes, mas nada de mais.

– Eu não tenho irmãos.

– Por um lado é bom ser filho único. Deve ter um lado bom.

– Ter tem. Mas queria ter uma irmã também.

– Se quiser ver a Temari é só ir lá em casa. Ela vai te receber muito bem.

– Aliás, onde você mora mesmo?

Ele anotou o endereço no bloco de notas da Ino e, ao devolver, disse:

– Esse é o endereço. Fica perto daqui.

– Obrigada. Eu vou sim. – levantando – Agora tenho que ir.

– O tempo passou rápido.

– É verdade. Mas eu prometo que volto.

Gaara então em um gesto de impulso saiu de onde estava e abraçou fortemente a estudante que não entendeu aquilo mas retribuiu o abraço. Em silêncio eles se separaram e voltaram aos seus lugares. Então Ino notou que ele precisava falar o que escondia, mas não queria de modo algum. Ela foi embora e tinha certeza que poderia saber mais sobre ele se visitasse a casa dele e falasse com a Temari.


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