Os Últimos Passos de Um Homem escrita por Bruno Silfer


Capítulo 19
Capítulo 19: Demonstrações




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Enfim a hora havia chegado. Tudo o que restava de sua vida eram poucos minutos. Os policiais o algemaram e o levaram sem pressa pelos corredores vazios da prisão, com a Ino ao seu lado numa caminhada melancólica em direção à morte. A caminhada era lenta e silenciosa o que proporcionou a Gaara pensar em sua vida, de qualquer forma passa um filme da própria vida na cabeça de um condenado quando chega a hora da execução. Pelas suas lembranças a vida não teve muita coisa de extraordinário ou tocante, além disso, o que pôde lembrar foi que nunca conseguiu levar um projeto até o fim: o curso de estatística, a convivência com a família, a amizade com a Bárbara, tudo havia sido deixado pela metade e agora seu amor com a Ino também seria interrompido.

Ao chegarem ao corredor estreito que o levaria à sala de execução Gaara sentiu um frio na espinha. Apesar de forte, ele estava dando sinais de medo. Chegaram à sala e antes de entrar ele virou para a Ino e disse:

– Eu estou indo para a morte...

Depois disso o levaram para dentro. Ino não pôde entrar na sala e ficou no lugar destinado aos que assistem as execuções. Lá já se encontravam a família da Bárbara, a família do ex namorado dela ( o verdadeiro culpado da história ) que Gaara realmente matou, Temari e as equipes dos dois canais de televisão autorizados a transmitir a execução. Ela sentou-se ao lado de Temari e esperou tirarem a cortina que tampava a visão de dentro da sala onde Gaara estava.

Dentro dessa sala Gaara era preso à maca em que morreria. Depois uma enfermeira procurou uma veia em seu braço direito e nela injetou uma grossa agulha prendendo-a com esparadrapo e também colocou um mini-microfone para que a imprensa ali instalada pudesse ouvir o que ele dissesse. Nisso aproximou-se um homem de óculos que lhe perguntou:

– Quer dizer as últimas palavras?

– Quero. Quero sim. – respondeu.

Então a cortina foi tirada. A visão de Gaara preso à maca com os braços abertos despertou em todos a impressão que ele parecia estar preso à uma cruz. Ele olhou para os que assistiam pelo outro lado do vidro, respirou fundo e começou a falar. Primeiro para os pais do ex da Bárbara.

– Sabia que vocês estariam aqui. Finalmente vão me ver morrendo. Sinceramente eu já os esperava e não importa que vocês vejam. Mesmo porque se eu não tivesse perdido o controle naquele dia era ele que estaria aqui no meu lugar hoje. Mas tudo bem. Pelo menos dei a ele o que merecia.

Em seguida olhou para os pais da Bárbara e disse:

– Quanto a vocês é muito bom que estejam aqui. Pra vocês verem a injustiça que vai ser cometida hoje. Vou morrer, mas o que realmente me dói é vocês pensarem que eu matei a Bárbara que era minha melhor amiga e vocês sabem disso. Um dia a verdade vai aparecer; e quando esse dia chegar vocês vão lembrar do dia de hoje e se arrepender do que fizeram. Se ainda tiverem alguma das fotos que ela tirou comigo é melhor guardarem. Eu sei que não vai demorar muito para a verdade aparecer.

Então Gaara viu Temari e uma pequena lágrima saindo do seu olho esquerdo.

– Temari... – começou dizendo – Depois do acidente nós prometemos que cuidaríamos um do outro. Até hoje fizemos tudo juntos e sempre levantamos um ao outro nas horas difíceis. Saiba que você é um dos motivos que me faz sentir mal por não ter me controlado mais. Peço que me perdoe por te deixar sozinha a partir de hoje, mas eu sei que você é forte e vai superar tudo isso.

Todas essas palavras eram transmitidas pelas equipes de televisão lá presentes. Os índices de audiência superaram todas as estimativas feitas e estava na casa dos oitenta e cinco por cento. Pessoas a favor e contra, todas estavam olhando ( algumas pela primeira vez ) os procedimentos de uma execução. Mas nem todos os recados haviam sido dados. Ainda faltava o mais importante.

– E você Ino, - disse olhando para ela que estava com o rosto e as duas mãos apoiadas no vidro – o que eu posso dizer pra você? Você foi a melhor coisa que me aconteceu em toda a minha vida. Ironia foi te conhecer em um lugar como esse e com meu tempo de vida limitado. O tempo passou, nos tornamos amigos e depois tudo evoluiu para algo muito mais forte. Eu digo sem medo de mentir que só por te conhecer, poder ter você e te amar valeu a pena ser preso e passar por tudo isso. E hoje vai acontecer o que eu temia. Eu sabia que quanto mais eu te amasse, mais dolorosa seria a nossa separação. Mas é tarde demais. Eu te amo Ino e eu sei que a gente vai se ver de novo um dia. Não pude te fazer feliz como eu queria, mas saiba que você sim me fez muito, muito feliz.

Então veio o silêncio. Colocaram a maca de volta na posição horizontal e o procedimento foi iniciado: à esquerda havia três recipientes que continham as substâncias que lhe seriam injetadas. Um botão foi apertado e a aplicação começou. Primeiro um forte anestésico que o fez dormir logo que a substância atingiu sua corrente sanguínea. Ele dormiu, mas não fechou os olhos o que a princípio fez pensar que ele ainda estivesse acordado. Depois foi injetado um relaxante cuja função era paralisar a respiração. Cada droga era aplicada lentamente o que aumentava muito o nervosismo dos que assistiam. Por último foi aplicada uma substância chamada cloreto de potássio que faz parar o coração. Injetadas as três substâncias, o tempo cuidaria do resto. Quem o via deitado, salvo pelos olhos abertos, ninguém diria que ele se aproximava da morte a cada segundo que passava. Assim passaram-se cinco, dez, quinze, vinte angustiantes minutos. Finalmente diante de todos que assistiam, ele morreu depois de vinte e seis minutos. Nada mais havia para ver. Mesmo assim as câmeras continuaram ligadas e registraram o momento em que Ino, depois de alguns minutos, foi aonde Gaara estava e tocou seu rosto. “Ainda está tão quente...” – pensava ela “Nem dá pra acreditar que você não está mais aqui...” mas a verdade é que para sempre ele moraria em seu coração. Por fim ela fez o que podia: deu um último beijo nos lábios ainda quentes do seu amado e lhe fechou os olhos.


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