Os Últimos Passos de Um Homem escrita por Bruno Silfer


Capítulo 18
Capítulo 18: Exemplo




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O sol nascia mais uma vez na prisão. Gaara acorda e senta na cama. Olha ao redor e vê tudo arrumado, tal como deixara no dia anterior. Por um breve momento pensou em como seria se aquelas coisas arrumadas significassem que sua liberdade havia chegado. Finalmente poderia sair e viver com a Ino, visitar a Temari, estudar e trabalhar como sempre quis. Mas a realidade era muito diferente: na verdade não seria ele que levaria embora aqueles objetos. O contraste entre o sonho e a vida real era muito dolorida. Ele levantou, tomou banho ( o que era raríssimo ele fazer pela manhã ), e esperou abrirem a cela para poder tomar café, o que não demorou muito a acontecer. Como sempre Naruto sentou-se à sua frente e ficou observando-o.

– Que foi? – perguntou Gaara com cara de dúvida.

– Nada não. É que você está bem tranquilo.

– E isso é ruim?

– Ruim não é. Mas também não é comum.

– Ah é?

– Eu já vi muitos condenados. Na véspera todos eles estavam bem tensos.

– E não é pra menos.

– Como consegue manter a calma?

– Nem eu sei cara. Nem eu sei.

– Se fosse eu estava tremendo desde já.

– Isso é verdade.

– Mas ainda assim... – interrompe a fala.

O motivo foi o cheiro de sabonete que Gaara exalava. Como o policial sabia que ele detestava tomar banho de manhã cedo não deixou de estranhar.

– Esse cheiro é de sabonete. Já tomou banho?

– Já. Por quê?

– Você sempre foi inimigo de banho de manhã. Já sei. É por causa da Ino né?

– Bom... hoje é o último dia que vou poder ficar com ela de verdade. Achei por bem ficar apresentável.

– Está certo. Daqui a pouco ela deve chegar.

– Mas eu estou preocupado.

– Acho que sei o motivo...

– Imagina o que ela vai sofrer amanhã cara. Eu não queria vê-la assim de jeito nenhum.

– Eu sei. Mas foi ela que decidiu ficar e lutar junto com você mesmo sabendo que podia dar errado. Não dá pra mandar no coração.

E Naruto tinha razão. Gaara também se esforçou para não alimentar amor pela Ino, mas foi inútil. O tempo do café terminou e ele voltou à cela. Esperou cerca de uma hora até Ino chegar e lhe causar uma bela surpresa.

– Oi. – disse Ino sorrindo.

– Essa roupa é...

– Lembra dela?

– Claro que lembro.

Ino usava o mesmo vestido azul que usou quando Gaara a chamou de linda alguns meses atrás. Aquele elogio foi o ponto de partida para a construção do amor dos dois e aquele vestido trouxe de volta essa bela lembrança.

– Você está tão linda quanto naquele dia.

Ino ficou muito feliz. Não pelo elogio, mas por ele ter lembrado o significado daquela roupa. Pouco conversaram. O que queriam mesmo eram se abraçar, se beijar, enfim, se amar. Exagero? Seria, se não fosse o penúltimo dia de vida dele. Em uma das conversas que tiveram, pela primeira vez a emoção superou a razão.

– Estou aqui pensando... – disse Gaara.

– Em que?

– Nessa vida que eu tive. Em toda a minha vida eu tive uma só amiga de verdade e um só amor.

– Por que pensa nisso agora?

– Porque é muito frustrante saber que não pude ficar com nenhum dos dois.

– Isso não. – o abraçou. – Você ainda está vivo e terá a mim até o fim.

– Como minha conselheira espiritual você tem que ficar comigo o dia inteiro amanhã. São as normas.

– Eu sei. Não vai ser sacrifício nenhum.

– Não leve a mal se eu não conseguir fazer muita coisa amanhã.

– Não precisa se preocupar.

E eles não conseguiram segurar o choro. Ela por perder o seu amor, e ele por não poder ficar com a Ino e ainda estar fazendo ela sofrer. Passadas algumas horas ela foi embora e quando voltou no dia seguinte viu que ele não dormiu nada. Gaara estava muito diferente: pouco falava, quase nem sequer se mexia. Ino ficou abraçada a ele e ficou o dia todo sentada na cama com ele respeitando seu sofrimento e seu silêncio. Como ele nada comeu, ela também não quis comer. Os policiais de plantão e os outros detentos se comoveram com a dedicação que Ino tinha para com Gaara. Estava sempre com ele sofrendo o seu sofrimento, chorando as suas lágrimas e sendo um apoio importante. A execução estava marcada para as três da tarde. Quando faltava dez minutos ele levantou e trouxe três cadernos. Ino perguntou:

– O que é isso?

– Eu escrevi isso enquanto esperava esse dia chegar.

– O que quer que eu faça?

– Depois da minha morte leia e publique o que escrevi aqui. Quero que mais gente saiba como é ficar contando os dias que restam da própria vida.

Nem mesmo Ino sabia que ele escrevia aquilo. Ela prometeu publicar e ela mesma ser a primeira leitora, o que indiretamente já o era. As coisas dele estavam arrumadas há dois dias e enquanto esperavam, eles lembravam dos episódios engraçados, alegres, românticos e emocionantes que viveram naquela cela. Lembraram da primeira vez que Ino entrou na cela, o encontro com Temari, a resistência em revelar a verdadeira história, o dia que ela o chamou de herói, a música que ele cantou, o dia que passaram em casa, o momento que admitiram que se amavam, enfim, tudo o que aconteceu naquele lugar foi lembrado. Enquanto estavam abraçados Gaara cantava a música que fizera e sentia o corpo da amada pela última vez. Até que às três horas em ponto os policiais chegaram à cela e um deles disse:

– Chegou a hora.


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