Recomeço. Essa era a palavra que não saía da cabeça da Ino depois de tudo. Mas recomeçar significaria esquecer o passado e iniciar uma nova história, e esquecer tudo era algo que ela não queria e, mesmo que quisesse, não conseguiria. Foi uma história de amor muito linda e muito dolorida ao mesmo tempo e depois de oito meses nada mudara no coração dela. Ainda estava fresca em sua memória quando tiraram Gaara da maca e o levaram para o necrotério para o documento de liberação do corpo ser emitido. O enterro foi simples e quase ninguém compareceu, somente Ino, Naruto, Temari, algumas amigas da Ino, desconhecidos que estavam entre os manifestantes e jornalistas que registravam o fim do “caso Gaara” que causou muita comoção no mundo inteiro, principalmente pela forma com que ele se declarou para a Ino nos seus últimos minutos de vida.

O tempo passou e novas evidências surgiram, o que fez recomeçar a investigação do caso. Todos que estavam incluídos na equipe investigativa estavam muito temerosos: e se os indícios que foram encontrados inocentassem o réu? O Estado teria executado alguém que mereceria no máximo vinte ou trinta anos de prisão. E essa preocupação tinha sentido: as novas provas davam um rumo diferente à investigação anterior e descartavam como autor da morte da Bárbara. O que intrigava a equipe era o fato desses indícios terem aparecido apenas alguns meses depois do cumprimento da pena. Por que esses fatos nao foram relatados durante a primeira investigação? Teria alguém interessado na morte do Gaara e escondeu o que sabia? Novas perguntas surgiam a cada dia, o que prolongaria a nova investigação por muitos meses a mais.

Quanto à Ino, o trauma que ficou nela foi enorme. Tanto que depois de tudo ela nunca mais entrou em um presídio e jurava que nunca voltaria a entrar em um. Quando visse uma cela vazia, Gaara lhe viria na lembrança; o jeito que ele falava com ela, como dormia, como comia, como a abraçava e a beijava mesmo se houvessem policiais olhando, como a fazia rir mesmo com o rosto sério, como ficou em silêncio em seu último dia, enfim, tudo faria lembrar aquele ruivo que soube conquistar seu coração sem o mínimo esforço e sem palavras bonitas, o que foi compensado pelos seus gestos e sua confiança nela. A mistura de sentimetos contidos no coração da estudante era difícil de assimilar e ela sempre fazia com que os sentimentos bons contidos nessas lembranças sempre superassem os ruins.

Os poucos pertences que Gaara tinha foram deixados para a Ino. Isso incluía as coisas que ele possuía em seu quarto, seu violão, seus esboços de músicas, seus livros e as páginas do livro que ela prometeu publicar, o que demorou alguns meses para acontecer. Ela leu as páginas e ficou muito surpresa com o que descobriu sobre ele e sobre como é estar esperando a morte dia após dia. O livro possuía trinta capítulos, sendo que o vigésimo nono era uma carta de despedida para a Ino e o trigésimo estava em branco. No começo a loira não entendeu o motivo dele não ter escrito o último capítulo e chegou a pensar que o livro tinha só vinte e nove capítulos, o que era difícil já que o texto do capítulo 29 ( que era uma carta ) fora escrita como se pedisse ou esperasse uma resposta. Foi quando ela percebeu a verdadeira intenção daquilo: Gaara queria que ela mesma escrevesse o capítulo 30. Ela atendeu ao desejo do amado e escreveu com tal emoção e força que parecia que ele ainda estava vivo e ao lado da “sua loirinha” como ele mesmo dizia. Devido à repercussão do caso, o lançamento e venda do livro foi uma grande sucesso; dos leitores, uma parte queria saber como são os dias de um condenado à morte, outros liam somente por gostar de ler, mas a maioria queria mesmo saber da história de amor que aconteceu entre Gaara e Ino, que há muito tempo deixara de ser segredo. Segue transcrito o título e o conteúdo do último capítulo do dito livro.

Capítulo 30: Volta

Bom... aqui estou para escrever o último capítulo que vai fechar este livro. Sou Yamanaka Ino e não tenho nenhuma experiência em escrever textos, portanto se o que eu escrever aqui ficar medíocre ou ridículo é devido à minha falta de experiência.

O que aconteceu comigo nesse último ano poderia ser descrito como no mínimo diferente. Para começar quando eu aceitei ser a conselheira espiritual do Gaara ( algo que eu nunca pensei que faria ) não esperava sequer criar alguma amizade com ele. E no final não é segredo para ninguém o quanto nos amamos.

Tudo aconteceu muito rápido: nossas conversas, os motvos que o levaram a cometer aquele crime, o modo como nossos sentimentos evoluíram, enfim, tudo foi rápido demais, mas mesmo assim tenho certeza que valeu a pena. Se pudesse voltar no tempo, eu queria estar naquele parque no dia do crime. Eu impediria que ele cometesse aquela loucura e acabaríamos nos conhecendo, assim poderíamos ter uma vida tranquila, namorar de verdade, morar juntos e casar como ele tanto queria.

Tem horas que eu esqueço que ele não está mais aqui. Várias são as vezes que eu sinto ele perto de mim e quando olho não vejo ninguém. A realidade vem à tona e traz a saudade junto com ela. Se eu bem me conheço dificilmente vou me recuperar desse trauma que ficou; o meu amor foi arrancado de mim e eu não pude fazer nada para impedir. Eu, que já era contra a pena de morte, declaro que não vou descansar enquanto não acabar com esse tipo de crime nesse país para que mais nenhuma mulher sinta o que eu estou sentido agora.

Nem preciso dizer a saudade que sinto dele, dos toques, dos beijos, das palavras, daquele tempo que eu ainda tinha esperança de salvar a vida dele. A Temari me deu as coisas do quarto do Gaara e isso ajuda a diminuir um pouco a saudade, mas o que ele deixou para mim foi algo muito mais importante do que objetos e lembranças. Poucos dias depois da execução, tal foi a minha surpresa ao fazer um exame e descobrir que estava grávida. Minha surpresa só não foi maior que a minha felicidade porque ele pode ter morrido, mas deixou uma parte dele dentro de mim. Agora o que me dói foi porque ele morreu sem saber disso; várias foram as vezes que planejamos nossa vida para quando ele saísse da cadeia, planos de ficar na casa dele e da Temari até construírmos a nossa e termos um filho que agora é real.

No fundo eu acredito e quero acreditar que a gente vai se ver de novo um dia como ele disse. Eu quero acreditar que vou poder vê-lo, abraçá-lo, beijá-lo, sentí-lo de novo. Talvez isso seja uma utopia, mas eu preciso me apegar a isso ou vou acabar ficando sem rumo, algo que eu não posso ficar agora que a prioridade é o meu filho. Agora estou no oitavo mês de gravidez e mesmo com tudo que aconteceu e a má fama que o Gaara ganhou eu não vou esconder nada sobre o pai dele. Vou contar que (pelo menos pra mim) ele foi um herói que levou ao extremo o sentido de amizade verdadeira, que foi o único homem a me conquistar de verdade, que me fez valorizar e ver a vida de outra forma, os dois lados da história, as duas faces da justiça injusta.

Bom, achei por bem parar aqui. Sei que escrevi pouco, que talvez tenha escrito coisas melosas demais, mas só coloquei no papel aquilo que eu sentia. Fecho essa parte da minha história com a certeza que não acabou ainda, já que “Dizem que se leva um minuto para se encontrar uma péssoa especial, uma hora para apreciá-la, um dia para amá-la, mas uma vida inteira para esquecê-la”. Aqui eu termino. Desejo o suficiente para todos vocês.