Criança Perdida escrita por Lu Rosa


Capítulo 27
Capitulo Vinte e Sete




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Alexia endireitou o corpo e olhou para o jardim que ela mesma plantara. Pela posição do sol ela diria que eram quatro da tarde e logo os homens mais importantes da sua vida chegariam.

Ela correu para a casa, tirando as luvas de jardinagem e o avental e deixando-os no banquinho perto da porta. Antes de subir para o quarto ela deu uma ultima olhada no bolo que estava no forno que aspirou ao aroma delicioso. Ao fechar a porta do forno ela deu uma risada. Quem diria, havia se tornado uma boa dona de casa.

Ainda pensando nesta constatação ela despiu-se e entrou no banho. E como não podia deixar de ser, ela se perdeu nas lembranças daqueles últimos dezoitos anos.

Depois do reencontro, ela e o Doutor viajaram por muitos lugares. Tudo parecia um sonho. Nenhum perigo há vista. Paris na Belle époque, as pirâmides do Egito, o planeta Barcelona, as torres de Byzanthium. E no meio de um passeio de gôndola veneziana, sob uma enorme lua cheia ele a pediu em casamento.

Voltando para a Terra e para Londres, os dois continuaram na casa próxima à casa de Sarah Jane, e Alexia continuou com seu trabalho como professora maternal, enquanto o Doutor, que assumira o nome de John Tyler, conseguira uma inesperada colocação no Museu Britânico

E assim se passaram dezoito anos, Adrian crescera sem saber a verdadeira história da mãe que adorava e do pai que ultimamente se tornara extremamente preocupado com sua saúde.

Adrian se tornara um jovem bem ativo. Herdara os cabelos escuros da mãe e os olhos azuis esverdeados límpidos do pai. Inteligente, mostrava muitas vezes um raciocínio rápido, surpreendendo seus professores. Na parte física também demonstrava um vigor que o tornava indispensável em muitos esportes que praticava no colégio.

 

Isso o tornava muito popular no colégio especialmente entre as garotas. Mas nenhuma delas o atraia de forma especial. Ele saía com elas socialmente, mas sem compromisso sério.

Ele ainda pensava em que faltava nas garotas que conhecia quando chegou a casa.

— Mãe? Pai? Cheguei! – ele anunciou largando a mochila com livros junto à escada.

Se aproximando do escritório do pai ele ouviu vozes. Parecia a dos pais mais outra voz masculina que ele não reconhecera.

— Então Doutor, - a voz dizia – eu nunca pensei em ver você tão caseiro...

Doutor?— Adrian estranhou.

— O que você faz aqui, Mestre? – ele ouviu seu pai dizer.

— Bem, eu poderia dizer que passei para uma visita de cortesia. Mas não. Eu a quero.

Quem? Quem ele quer?

Adrian abriu a porta do escritório devagar e viu seu pai ao lado de sua mãe e o homem que ele chamava de Mestre encostado a grande mesa que havia no escritório.

— Quando você vai desistir, Mestre? – seu pai disse com voz cansada. – Muito tempo já se passou. Quantas vezes eu destruí os seus planos? Quantas coisas eu perdi por sua causa. Eu só quero ter a minha vida.

— Você desistiu de salvar o Universo, Doutor? – o Mestre perguntou.

— Quantas vezes eu fiz isso em mais de mil e trezentos anos? O Universo sempre terá o Doutor para salvá-lo. Os meus anteriores estão ai para isso. Mas eu – ele bateu no peito – quero somente viver em paz com a minha família.

— Família?! Eu era sua família e você me abandonou! Por que você acha que eu devo deixá-lo em paz? Não, Doutor. Você vai morrer, e eu a terei como planejei desde o inicio.

— Por que a mim?

— Pelas suas vidas, linda Alexia. Você é a criança da fenda. Filha de humanos e de Senhores do Tempo.

— Meu pai era um clone, não um Senhor do Tempo.

— Mas a exposição ao vortex temporal modificou o seu DNA. E agora, Doutor, prepare-se. – ele apontou a arma para o Doutor.

Naquele momento, Adrian fez a única coisa que podia. Agir como um zagueiro de rúgbi.

Ele lançou-se contra a porta, e como uma flecha, lançou-se sobre o Mestre pensando-o contra a parede. Ele ficou atordoado com o impacto, deixando a arma cair.

Rapidamente, Alexia pegou a arma apontando-a para o inimigo de seu marido. Adrian juntou-se aos pais, enquanto o Mestre recuperava-se.

O Doutor segurou as mãos de sua esposa para que ela não atirasse em um homem desarmado.

— Agora Mestre, você vai deixar a minha família em paz.

O Mestre começou a gargalhar.

— Ah não! Você teve um filho? E vejo que puxou a beleza da mãe. E a coragem dela também.

— Ei, cara. Pare de falar. Você tá em desvantagem agora. – Adrian declarou.

Lentamente, o Mestre começou a desabotoar o casaco que vestia.

— Meu jovem, você deveria aprender que quando se lida com um inimigo de séculos como o Doutor você sempre precisa estar preparado. Mas que pena! Você não vai terá esse tempo para aprender... – ele zombou.

A família viu incrédula, ele mostrar um dispositivo atado ao próprio corpo, como um homem bomba.

— Isso, caro Doutor, é uma modulador negativo. Que o seu intrépido filho acionou quando se chocou contra mim. Não que eu não tenha pensado em acioná-lo quando me apoderasse das vidas de vocês. – ele contou zombeteiramente - Assim, eu fugiria em sua TARDIS e acabaria com a vida miserável deste planeta que você tanto ama. Mas agora, isso não importa mais, não é? Dentro de cinco minutos tudo acabará. Sua família, esse planeta miserável e nossa secular guerrinha particular. – ele ria descontroladamente.

— Eu consigo fazer muita coisa em cinco minutos, Mestre. – contrariando um hábito de séculos de não agressão, o Doutor avançou contra o Mestre atingindo-o com um potente direto de esquerda, Adrian segurou os braços do Mestre e Alexia correu para uma porta que Adrian ficou surpreso em ver. Ele tinha certeza que tal porta não existia há cinco segundos.

Enquanto os homens carregavam um estonteado Mestre para dentro da TARDIS, Alexia punha a nave em funcionamento.

— Eu não consigo reverter o dispositivo, Alexia.

— Já estamos entrando no vórtex. Já tem idéia do que vai fazer?

— Já. – disse resoluto o Doutor, deitando o Mestre de bruços e desatando o dispositivo dele.

— Adrian, filho. Vou precisar de ajuda aqui.

Adrian até aquele momento estava de olhos e boca bem abertos, observando tudo a sua volta e a movimentação irreal de seus pais naquele ambiente. Ele voltou-se ao ouvir a voz de seu pai chamando-o, reparando que ele estava sem os óculos e parecia incrivelmente diferente do homem pacato que era.

— Segure-se firme e ao Mestre, senão ele será puxado pro vórtex.

— Ele bem que merecia. – resmungou Alexia recebendo um olhar irritado do marido.

O Doutor abriu a porta da TARDIS e jogou o dispositivo no vórtex, vendo-o desfazer-se enquanto fechava a porta com certa dificuldade.

Todos respiraram aliviados.

— Agora resta ele. – Alexia apontou o Mestre que continuava desacordado.

— Você o apagou mesmo! – disse Adrian com admiração. Ele agora via seu pai com outros olhos e embora eles tivessem muito que explicar, ele gostava desse lado aventureiro deles.

— É, eu era muito bom na academia em Gallifrey.

— Gallifrey? – Adrian admirou-se – Você disse que era de Oxford.

— Opa! É uma longa história, Adrian. Que eu terei que contar a você mais tarde.

— Nós dois, querido. – ajuntou Alexia, passando o braço pelo de seu marido. – Agora o que vamos fazer com ele?

— Poderíamos levá-lo de volta a Gallifrey ou deixá-lo na Proclamação das Sombras. Tenho certeza que ele tem muito que pagar tanto em um lugar quanto no outro.

— Mas ele sempre acharia um jeito de voltar. E sabe-se o que ele faria da próxima vez.

— E se déssemos a ele o que ele mais odeia? – perguntou Adrian. – ele não disse que odiava a Terra? Podemos deixá-lo lá.

— Seria muito perigoso. Com o conhecimento que ele tem...

— Adrian está certo querido! – Alexia sacudiu o braço do marido. – Na época certa, ele não teria como voltar. E se ele falasse demais seria chamado de louco. Não acho que ele pode dar-se o luxo de colocar sua vida em perigo.

Uma luz pareceu acender na cabeça do Doutor.

— Sim! – ele foi até o console – século XV ou XVI?

— Século IV. No Oriente Médio. É melhor. Duvido que ele queira enfrentar uma espada sarracena.

— Está bem – o Doutor concordou acionando os controles.

A TARDIS pousou e o Doutor e Adrian saíram carregando o Mestre.

Eles o deixaram perto do que parecia uma hospedaria. O Doutor tirou um pequeno saquinho de moedas do bolso e colocou no bolso interno do casaco do Mestre. Mesmo com seu maior inimigo, ele não conseguia ser cruel. Rapidamente eles tornaram a entrar na TARDIS.

Assim que a nave desvaneceu-se, o Mestre acordou de seu desmaio e perguntou-se onde estava.

Dois guardas o avistaram e ele, com toda a altivez, perguntou:

— Que lugar miserável é esse?

Os guardas entreolharam-se sem compreendê-lo.

Ele avançou para um dos guardas e o sacudiu:

— Diga-me humano desprezível, onde estou?

Os guardas não tiveram dúvida. Vestido daquele jeito e dizendo palavras incompreensíveis, só podia ser um louco. E o agarraram pelos braços.

— Soltem-me! Soltem-me!

O Mestre receberia seu castigo da pior maneira.


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