Cinzas escrita por Ludi


Capítulo 5
A Batalha de Hogwarts – Parte II


Notas iniciais do capítulo

N/A: Passo aqui para agradecer verdadeiramente as pessoas que suportaram ler o último capítulo - e o site me informou que houve um número razoável delas, mais do que eu esperava, haha. Eu realmente não gosto muito do capítulo anterior, mas é diferente com esse: acho que tive mais 'liberdade', por assim dizer, e pude sair um pouco mais dos livros. Espero que apreciem e possam se divertir com ele, assim como eu me diverti para escrever. ; )

E como sempre, cabe um esclarecimento. É somente no final desse capítulo que a história se 'descola' do livros. O final da Batalha de Hogwarts, como vocês poderão perceber, NÃO será o mesmo.



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"Enervate!"

Gina abriu os olhos lentamente e só pôde ter certeza de uma coisa: ela não tinha morrido. A cabeça doendo, os barulhos da batalha esmorecendo ao seu redor e a poeira que entrou pelos seus pulmões quando ela tentou respirar mais profundamente eram um atestado contundente de que ela estava viva. Dolorosamente viva. Ela colocou a mão na região acima da nuca e sentiu o sangue, que ainda estava viscoso, mas já começava a secar. O simples esforço de mexer o braço fora suficiente para que ela gemesse baixinho de dor e sua garganta seca desse sinal de vida. Ela tossiu, se habituando o ambiente a sua volta.

Quando sua visão ficou focada novamente, ela se questionou levemente se estava tudo certo com as suas faculdades mentais: Um par de olhos perturbadoramente cinzas a encarava com curiosidade mal disfarçada. O dono deles, por sua vez, pairava sobre ela, meio inclinado como se pudesse averiguar se ela estava realmente em condições físicas adequadas, como Madame Pomfrey costumava fazer com os jovens encaminhados para a enfermaria de Hogwarts.

E então ele fez uma coisa que a mente tumultuada de Gina não compreendeu completamente: estendeu uma mão.

Pela segunda vez nesse ano maluco que ela estava vivendo, Draco Malfoy tinha estendido o braço esquerdo para ela, oferecendo uma mão como apoio, para que ela se levantasse do chão, ainda que ele tivesse feito uma careta involuntária ao estender a mão. Gina, muito em parte devido às conseqüências do desmaio, permaneceu imóvel, observando-o. Ele parecia estar com algumas partes da roupa preta chamuscadas e seu rosto estava com sinais de fuligem, como se ele tivesse tentado limpar a face com as mãos sujas de cinzas, desajeitadamente. Cinzas. Aquilo combinava com ele, ela pensou e logo espantou o pensamento inoportuno balançando a cabeça. Gina se perguntou vagamente qual parte do castelo estaria em chamas agora.

Ele interpretou o gesto dela como uma negativa e pareceu perder o pouco de paciência que um adolescente mimado poderia ter. "Vamos Weasley, merda!" ele disse, acenando com a mão para que ela se apressasse a levantar. "Não sei se você reparou, mas não tenho todo o tempo do mundo."

Teve que ignorar os mil questionamentos que surgiam na sua mente, tais como 'por que ele está me ajudando?', 'Ainda estou desmaiada e alucinando?' e 'Será que ele vai me atacar agora?', para colocar as idéias e a situação em ordem e, nesse caso, a atitude mais razoável que ela poderia ter era levantar do meio dos escombros e tentar ser um alvo menos tentador para os comensais. Para os outros comensais, ela se corrigiu, olhando o rapaz a sua frente.

Aceitou a mão oferecida e se levantou, observando seu apoio com atenção. Era tão pálida e gelada! Ele tremia levemente e naquele momento ela pôde confirmar realmente que a mão estava realmente suja de fuligem, o que dava mais contraste com o tom de pele pálido de Malfoy. Ele a soltou rapidamente, tão logo ela se equilibrou nas próprias pernas e fez menção de limpar a mão nas vestes, mas parou a tempo quando percebeu que ele por inteiro já estava suficientemente sujo, sem precisar ter tocado nela. Ela rolou os olhos, exasperada.

O ambiente em volta dela desviou sua atenção das frescuras e dos enigmas de Draco Malfoy; aquela região estava toda destruída, mas ainda podiam-se ver alguns feitiços cruzando o ar.

"Como você me achou?" ela disse a primeira coisa que veio à sua cabeça, enquanto procurava com os olhos o caminho menos obstruído para sair daquele lugar.

"A pergunta mais adequada seria: 'como sair daqui com todos os membros intactos, de preferência? '." Ele deu de ombros e respondeu impaciente, sem perder aquele tom de desdém irritante.

"Precisamos achar alguém da Ordem. Eu acho que..." ela não conseguiu terminar sua frase. Em parte porque ele a interrompeu; em parte porque ela se chocou com o fato de não ter se questionado sobre de qual lado ele realmente estava.

"Precisamos? E com certeza o principal objetivo deles será me proteger de todo e qualquer ataque, não é?" ele disse, com sarcasmo escorrendo das palavras. "Você precisa encontrar alguém da Ordem da Fênix. Eu já fiz a minha parte e estamos quites." Ele disse, se mantendo com a varinha em punhos para qualquer eventualidade. Diante da expressão de confusão que se formou no rosto da garota, ele completou como se estivesse ensinando história da magia para um trasgo. "Você não interferiu e nem me causou problemas há uma hora quando eu precisei entrar na Sala Precisa para... bem, para fazer uma coisa. Me deu uma chance de tentar, pelo menos." Ele completou com um sorriso torto que Gina achou completamente triste.

Ela teve a nítida impressão de que essa coisa que ele tinha para fazer provavelmente havia causado sérios problemas para Harry e não controlou a língua.

"Harry está bem? Ele estava na Sala Precisa e..."

O olhar de gelo que ele endereçou a ela, somado com os resquícios do torpor causados pelo desmaio fizeram com que ela se calasse rapidamente, em um momento raro. Dificilmente Gina se intimidava com uma cara feia, mas não pôde evitar, dessa vez.

"Seu precioso Potter está bem, até onde eu sei. Mas não por muito tempo, pelo que eu estou vendo por aqui." Ele fez um gesto expansivo com a varinha, que abarcava o corredor destruído. "E só para constar, eu não poderia me importar menos com o bem-estar dele, independentemente do que ele tenha feito por mim."

A língua de Gina coçou devido à curiosidade de saber o que Harry tinha feito para Malfoy que demandasse a gratidão do sonserino, mas a pergunta ficou presa na garganta quando ele virou as costas para ir embora. Gina hesitou diante da mudança de atitude dele; por um momento, pensou que ele fosse com ela. Mordeu o lábio inferior em dúvida antes de dizer qualquer coisa.

"Malfoy, espera..." Ela disse, hesitando na sequência. Ele havia parado, ainda que permanecesse de costas. "Eles podem te ajudar. Todo mundo pode ter uma segunda chance. Você só precisa tentar." Ela tentou sorrir sabendo de antemão que seria totalmente frustrada na tentativa. Mas precisava fazer alguma coisa, tentar ajudá-lo. De repente, não importava mais as palavras do baile, os anos de injúrias, os eventos do ano anterior. Ele tinha ajudado-a e pareciam todos no mesmo barco agora. Parecia... Justo.

Ele não se deu ao trabalho de virar totalmente para dizer. "Eu não me misturo com gente da sua laia, Weasley. Tanto por minha vontade quanto pela de vocês. Água e óleo, lembra?"

Foi como um soco no estômago inesperado. Racionalmente, era óbvio que ele diria algo desse tipo, mas, ainda assim, em alguns momentos antes de ter citado Harry, ela tivera a sensação de que ele estava tentado a trocar de lado e algo parecido com esperança brotou dentro dela. Esperança de quê? Sua própria consciência a escarneceu; mesmo assim, ela continuou tentando.

"Eu não posso acreditar que você realmente ainda dá valor a coisas tão... tão estúpidas! Mesmo depois dessa guerra, depois de tudo que Voldemort fez para você e para sua família." Ela gritou para as costas dele, que já começavam a se afastar novamente.

Ele congelou onde estava e Gina não soube dizer se era devido à pronúncia do nome 'Voldemort' ou pela ousadia dela, em questionar as ações dele. Ela não se importou se fosse qualquer uma das duas: o seu conhecido temperamento explosivo começava a aparecer.

Dessa vez, ele realmente não se virou para responder e ela pôde apenas supor qual seria a expressão dele nesse momento. "Essas coisas são a única coisa que eu tenho para acreditar, Weasley. E é pela minha família que eu preciso acreditar nelas."

As pernas de Gina estavam fincadas no chão. Nunca parara para pensar realmente no assunto. Draco Malfoy, o garoto que tinha tudo, menos o direito de fazer as próprias escolhas. E não pela primeira vez, ela se sentiu feliz de ter nascido como uma Weasley. Quando voltou à realidade, ele já tinha ido, sem maiores palavras e ela só pôde agradecer baixinho pelas escolhas da sua família, mais uma vez.

Desviando seu foco de Malfoy, a cabeça dela tinha voltado a trabalhar num ritmo frenético: só agora uma coisa que ele tinha falado começava a chamar atenção no seu subconsciente: 'Você não interferiu e nem me causou problemas há uma hora'. Ficara desacordada por tanto tempo assim? Onde estaria Luna? E sua família?

Tateou seu casaco e com um suspiro de alívio viu que sua varinha ainda estava lá. Saiu correndo por escombros e saltando os obstáculos que se opunham a sua corrida. Ela não queria, ou melhor, não podia pensar no que se constituíam esses obstáculos caídos no chão, cobertos por pó e pelos restos das paredes do castelo.

Abençoou a noite, que ofuscava parcialmente sua visão. Não queria ver.

O castelo parecia silencioso demais para o seu gosto e sentiu um pavor incontrolado e louco de que encontraria Voldemort sentando no antigo lugar do Professor Dumbledore e brindando sua vitória.

Precisava atingir as escadas que davam acesso ao andar principal, mas dessa vez sua atenção foi despertada por uma mão que passou de leve no seu calcanhar enquanto ela procurava a entrada entre os escombros. Ela parou bruscamente e reconheceu com horror a figura da antiga professora de Adivinhação, tentando se levantar próxima a parede. A mulher já não levava os óculos e estava mais assustadora do que o normal: no seu rosto não havia mais cor e Gina não conseguia discernir onde estava o cabelo da professora, coberta com tanto pó. Mas o mais horripilante era a quantidade de sangue que vertia da sua perna direita.

Rapidamente, Gina se agachou para tentar fazer alguns feitiços mais básicos de cura, mas foi totalmente ineficaz. Nunca fora muito boa na arte de curar e aquele ferimento estava longe de parecer 'normal'. Buscava freneticamente uma ideia de se chegar à Sala de Poções e buscar Essência de Ditamno, mas ela nem conseguia se localizar direito e com Hogwarts naquele caos seria impossível achar algo precioso assim. A mulher abriu os olhos que tanto haviam sido assustadores através de óculos horrorosos, e Gina se desesperou ainda mais: dessa vez, aqueles mesmos olhos estavam assustados, acuados e a Professora Trewlaney tentava dizer algo.

"Foi ela... A serp..." ela tossiu. "Foi a cobra..." Ela disse de uma vez, apontando com uma mão trêmula para a perna ferida: A professora estava dizendo que fora atacada por Nagini, muito provavelmente na esperança de dar alguma informação que pudesse ajudá-la se curar. No instante seguinte, Trewlaney já desfalecia novamente, incapaz de se manter acordada por muito tempo.

Sabia que teria que levar a Professora com ela, só estava calculando quanto tempo perderia para correr pelo castelo com um corpo gravemente ferido flutuando atrás de si. Suspirou resignada sabendo que não havia escolhas, quando ouviu a voz etérea de Luna, como se estivesse no Salão Principal tomando café-da-manhã.

"Ela está bem mal, não é? Acho que devemos levá-la até alguém que pode dar um jeito nisso." E como se lembrasse da última vez que vira Gina, completou no mesmo tom. "Oh, Gina. Que bom ver que você está bem. Desculpe ter quebrado o feitiço; um Comensal me derrubou e eu..."

Gina não deixou que ela terminasse a frase: cruzou a distância até a amiga loira e deu um abraço tão forte quanto podia e beijou o rosto pálido de Luna, que ficou levemente ruborizada. "Luna, fiquei tão preocupada! Vi que você tinha sido derrubada, mas não pude te procurar porque bati a cabeça quando cai e desmaiei. Malfoy me ajudou e..."

Gina se interrompeu bruscamente, diante da expressão da amiga: Os grandes olhos azuis de Luna se arregalaram ainda mais e ela colocou o indicador no queixo, numa atitude pensativa. "Ah sim, meu pai diz que há muitos visgos do diabo na Mansão Malfoy. Dizem que eles são tão persuasivos que são capazes de mudar a personalidade das pessoas e..."

Gina evitou rolar os olhos com algum custo. "Luna, Visgos do Diabo são persuasivos porque estrangulam as pessoas! Além disso, a personalidade do Malfoy é o que menos importa agora, eu acho." Ela disse, retomando a consciência da batalha. "Precisamos dar um jeito de levá-la para um lugar seguro." Completou apontando para Trewlaney com a varinha.

"Madame Pomfrey está cuidando no terceiro andar das pessoas que foram feridas nessa parte do castelo. Eu posso levá-la até lá." Luna disse, ainda pensativa. "Talvez seja um pouco longe para levá-la até o Salão Principal."

"Vou com você." Gina disse, prontamente. "O melhor que podemos fazer é andar em grupo o máximo que pudermos."

Luna a olhou com aqueles olhos penetrantes, que poderiam fazer com que uma pessoa se sentisse nua, sem segredos. "Devemos ir onde está nosso coração, Gina." Ela sempre se surpreendia com o raciocínio de Luna, que era absolutamente imprevisível, não linear. E ainda assim, carregado de percepções das sutilezas da alma que Gina não conseguia enxergar em mais ninguém. "Além do mais, tudo parece estar mais calmo agora. Estarei com vocês antes do que imagina."

Gina assentiu imperceptivelmente, abraçou mais uma vez a amiga e virou as costas, prestes a recomeçar sua corrida mais uma vez.

Seus pés só pararam quando ela atingiu a porta do Salão Principal, depois de ter percorrido corredores e pulado os degraus das escadas. Ela se inclinou e colocou as mãos nos joelhos, tentando recuperar o fôlego. Havia muitas pessoas ali e Gina fez uma prece silenciosa por reconhecer a maioria dos rostos. Ao se aproximar lentamente, entretanto, seu alívio foi se esvaindo do seu corpo lentamente, pouco a pouco, numa agonia silenciosa.

Havia corpos no centro do Salão.

Ela dava seus passos vacilantes, com o suor escorrendo da testa e os músculos doloridos, desejando desesperadamente que o grupo de ruivos reunido perto da onde estavam os corpos não significasse nada. Cada passo doía, como se seu corpo estivesse protestando contra a vontade imposta pela sua cabeça. Ela não queria andar, não queria saber. Entretanto, cada centímetro ultrapassado confirmava uma certeza.

Ela já sabia.

Mesmo com a visão totalmente encoberta pelas pessoas, ela já sabia. Sabia, porque a mãe estava ajoelhada, soluçando sobre o torso de alguém caído. Sabia, porque o pai permanecia de pé, pálido e parado com as lágrimas rolando incontrolavelmente pelo rosto. Sabia, porque Jorge olhava catatônico para algum ponto fixo no chão, como se quisesse desaparecer dali, acordar de um pesadelo. Como se tivesse perdido uma parte de si.

E realmente tinha perdido.

Gina só conseguiu reunir forças para exigir que seu corpo permanecesse de pé quando ela se aproximou e viu Fred no chão, sereno como ela quase nunca havia visto, com o cabelo ruivo um pouco longo demais caído sobre a testa, concedendo a ele um aspecto angelical. Sentiu vontade de gritar, de torturar cada Comensal, de matar. Pela primeira vez na sua vida, ela sentiu realmente vontade de matar. E, sobre todas as outras coisas que ela mais desejava naquele instante, ela queria abraçar Fred muito forte e dizer o quanto ela o amava e que sempre iria amá-lo.

Ela esperou, esperou, esperou, como se estivesse contando que Fred levantaria rindo, tirando os cabelos dos olhos e dizendo que só estava tirando uma soneca. Mas depois de um tempo, não conseguiu olhar mais. Decidiu deixar aos pais e ao irmão mais velho um tempo para se reconstruírem, de uma destruição que nunca sararia completamente, ela tinha certeza. Se afastou com passos que pareciam de alguém que tinha tomado muito firewhiskey e, quando levantou os olhos, viu que Percy, Gui, Rony e Hermione estavam próximos, mas que eles também estavam se afundando na própria dor.

Percorreu a linha de mortos com os olhos. Viu mais rostos do que gostaria: Tonks, que lhe ensinara como descobrir se uma porta havia sido imperturbada jogando bombas de bosta nela - ao lado do marido Lupin - e ela pensou com dor no bebê que eles haviam acabado de ter, condenado a nascer num mundo que admitia aquele tipo de violência. Viu Colin Creevey, seu companheiro de fofocas matinais, que tantas vezes tinha ouvido sobre seus problemas e lhe dado conselhos valiosos. Viu muito mais rostos queridos e, de repente, desejou não poder ver mais nada.

Ela se jogou no banco mais próximo e, poucos instantes depois, Hermione estava do lado dela.

"Por que está tudo tão silencioso?" Ela falou, olhando fixamente um ponto na entrada do Salão. Não falaria de Fred, sob hipótese alguma.

"Voldemort deu um ultimato. Disse que tínhamos que entregar Harry para sermos poupados." Hermione disse, mecanicamente.

Gina não pareceu ouvir a frase e Hermione passou o braço em volta dos ombros da amiga. Esse simples gesto foi suficiente para fazer com que a ruiva voltasse à dolorosa realidade. Ela apoiou a cabeça no ombro de Hermione e as duas ficaram assim, durante um bom tempo.

E então Gina chorou. Como nunca tinha feito antes.

O que aconteceu depois pareceu um tanto nebuloso, na maior parte do tempo.

A mente de Gina não registrou nada com clareza, além de ter sido consolada por Hermione durante um grande período - onde parecia que suas lágrimas não teriam fim, tanto quanto a saudade de Fred - e de ter sido arrastada por Rony para a região externa do castelo, onde eles viram Hagrid carregando o corpo inerte de Harry. Ela não pensou que poderia sentir mais dor, mas para seu desespero, se provou estar enganada.

Ela gritou, ah sim, isso ela tinha feito. Tentou correr para o corpo dele, mas foi impedida por mãos e braços cujos donos ela não reconhecia. E então Neville apareceu desafiando Voldemort, o chapéu seletor também apareceu num movimento de varinha de Voldemort e um minuto depois ele queimava sobre a cabeça de um imóvel e enfeitiçado Neville.

Gina estava prestes a gritar novamente e mirar um feitiço em qualquer inimigo que aparecesse quando os centauros entraram na batalha lançando flechas em direção aos comensais. Ela viu com o canto do olho que Neville conseguira se libertar e tirara a espada de Gryffindor do chapéu seletor; como se tudo estivesse se movendo de forma mais lenta, Neville se impulsionou em direção a cobra de Voldemort e no momento seguinte ela estava decapitada no chão, graças a um movimento gracioso de Neville; Voldemort pareceu mais pálido – se é que isso era possível - e então foi a vez dele gritar.

E o grito ecoou com força, causando calafrios na maioria das pessoas, como tudo que irradiava de Voldemort. Mas foi como uma melodia maravilhosa aos ouvidos de Gina e ela quase fechou os olhos de prazer. O som reverberou através dela e pareceu dar um pouco mais de vida ao corpo quase esgotado da garota.

Foi como uma maior clareza que ela reparou que as coisas tinham saído de controle. E ela não pensou duas vezes antes de sacar sua varinha, mesmo diante do seu estado físico e mental.

Ela procurou o corpo de Harry desesperadamente com os olhos, mas ele não parecia estar mais lá e o tumulto se generalizou. Havia duelos por toda a parte e ela teve que se esquivar de alguns feitiços. Tentou procurar mais um pouco, mas ela não podia se dar ao luxo de desviar sua atenção da batalha. Ela tirou os cabelos ruivos da testa, que já começavam a grudar devido ao suor e correu para a entrada do castelo. Todos estavam lutando e ela deixou seu corpo ser guiado pela adrenalina do momento.

Quando ela já conseguiu entrar no castelo, depois de desviar de combatentes, centauros, corpos no chão, ela sentiu seu pulso direito - que segurava a varinha-, sendo puxado bruscamente por um comensal mascarado. O convívio com os irmãos mais velhos se fez aparecer; fechando a pequena mão branca ela mirou a cabeça do comensal e fechou os olhos, projetando um soco. Ele cambaleou para trás concedendo tempo suficiente para que ela o estuporasse. Os nós dos seus dedos agora tinham sangue também, mas ela nem se deu ao trabalho de limpá-los: ainda levaria muitas noites para que ela se limpasse de todas as coisas ruins daquela batalha.

Se levantando nas pontas dos pés, avistou uma cabeleira loira que reconheceu como sendo a de Luna: precisava verificar se a amiga estava bem. Viu Voldemort duelando com a Professora McConagall, Professor Slughorn e Kingsley ao mesmo tempo e desejou que três maldições da morte o acertassem de uma vez só.

Nunca se sentiu tão feliz de poder duelar, fazer alguma coisa. Mirou alguns feitiços que provavelmente não acertaram com precisão os alvos desejados, mas conseguiu passar pelo Salão Principal até alcançar a amiga, ainda que não tivesse tempo nem de expressar seu alívio.

Bellatrix havia surgido na frente delas com um sorriso assassino no rosto. Gina não entendia completamente como alguém conseguia banalizar a vida de inocentes a tal ponto de se sentir feliz em atacá-los para matar. De qualquer forma, não pôde fazer maiores reflexões sobre o assunto quando um feitiço verde cruzou o ar em direção a Luna. A corvinal conseguiu desviar com uma agilidade que Gina não achou que seria possível que ela tivesse. Então a ruiva ergueu a varinha e lançou uma azaração para rebater bicho papão; ela considerou que isso era realmente idiota, mas em situações de profundo estresse, seu corpo entrava no piloto automático. Seus movimentos eram baseados tão somente no seu instinto de sobrevivência, muito apurado depois de anos de convivência com Harry Potter.

Percebeu com o canto do olho que Hermione havia chegado para ajudá-las e então, eram três contra uma.

Bellatrix parecia estar se esforçando para dar conta das três bruxas, mas ainda assim era uma adversária perigosa. Formaram uma espécie dança macabra, constituída de giros, busca de brechas causadas por pequenas distrações e encantamentos lançados - e defendidos - com uma rapidez surpreendente. Quando Gina estava prestes a abrir a boca para dizer 'estupefaça' pela décima vez, Bellatrix se virou para ela e Gina sentiu medo. Medo da insanidade dos olhos dela. Sentiu um arrepio quando inevitavelmente se lembrou de uma expressão parecida, ainda que em uma escala bem menor, que tinha visto nos olhos cinzas de Draco Malfoy. Gina congelou enquanto Bellatrix gargalhava, fazendo um som quase despudorado. Ela levantou a mão e seus lábios se mexeram; ainda que Gina não tivesse propriamente ouvido, ela pôde ler os lábios da bruxa mais velha, que disseram claramente 'Avada Kedavra' e se curvaram num sorriso mórbido depois. Era como se alguém tivesse usado o feitiço do corpo preso nela.

A maldição da morte tinha errado seu corpo por centímetros, e ela não tinha feito nada para desviar. Idiota, idiota, mil vezes idiota!

Mal chegou a perceber quando sua mãe se postou ao seu lado:

"Minha filha não, sua vadia!" Molly tinha esbravejado, se dirigindo a Bellatrix Lestrange.

E elas lutaram. E no momento seguinte, todos estavam encostando-se às paredes do Salão porque havia apenas dois pares duelando. Sua mãe e Bellatrix Lestrange; Voldermort e... Harry.

Gina coçou os olhos. Tateou a cabeça em busca de mais sangue; talvez ela tivesse tido uma concussão quando caíra. Pensou em perguntar para alguém se estava enxergando bem e então desistiu. Só prendeu o fôlego e esperou, como todos ali.

Sua mãe tinha posto fim na vida de Bellatrix com um feitiço rápido e certeiro; Voldemort havia gritado quando isso aconteceu, como se tivesse sido atingido por um feitiço de tortura. Gina se perguntou se o surpreendente desempenho no duelo da sua mãe se devia a dor que a morte de Fred causara ou a algo mais.

Ela não podia se gabar de estar registrando tudo perfeitamente. Harry e Voldemort se encaravam, cercando um ao outro e falando, falando, falando. Enquanto isso, a cabeça de Gina girava, girava e girava, com sua respiração anormalmente irregular. Havia algo na conversa relacionado com o arrependimento, alma e o poder de uma varinha magnífica, cujo dono era... Draco Malfoy. Gina achou que ia desmaiar se aquilo não terminasse logo, para o bem ou para o mal.

Ela desconfiou que os efeitos da batida na cabeça tinham sido postergados devido a adrenalina e ao feitiço de Malfoy, mas agora estavam se tornando fortes demais para pensar com clareza.

Parecia que fim se aproximava e ela se apoiou no braço de Rony, que agora ela via que estava ao seu lado.

Como se tudo estivesse em câmera lenta, ela viu os lábios de Voldemort proferirem a maldição da morte.

E Harry usou o maldito 'Expelliarmus'.

Os feitiços se cruzaram, as varinhas de ambos explodiram como se fossem menos resistentes do que um graveto e então o caos se espalhou como um rastilho de pólvora.


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