Cinzas escrita por Ludi


Capítulo 6
Começo do Fim


Notas iniciais do capítulo

N/A: Hey! Consegui terminar de escrever mais um capítulo, apesar do lapso de criatividade momentâneo! Gostaria muito de agradecer as meninas que leram a história até aqui e gastaram 5 minutinhos para escrever o que pensavam. Isso é muito gratificante, motivador e extremamente gentil. Muito, muito obrigada a todas, do fundo do coração.

Seguindo a quebra de correspondência com a cronologia do livro feita no fim do capítulo anterior, esse capítulo engloba praticamente o mês posterior ao ataque ao castelo.

Espero que aproveitem, assim como eu fiz ao escrever ; )



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Maio – 1998

Ela estava flutuando. E isso era fantasticamente bom!

Estava cercada de nada, num universo branco composto apenas por Gina Weasley. Estava livre como não estivera nos últimos meses. Testou um pouco sua posição, verificando que não havia atrito entre ela e o ambiente; sentiu os longos cabelos ruivos balançarem no ritmo dos seus movimentos e chicotearem no seu rosto quando ela se movimentava um pouco mais acentuadamente.

Estava vestida com seu velho pijama de flanela, mas alguma coisa dentro de si disse que isso não era certo. Nesse exato momento, Gina trocou de roupa; usava agora o uniforme verde-escuro com uma garra dourada do peito do Harpias de Holyhead. Seu sonho!

Com aquela facilidade de movimentos, poderia ser uma artilheira profissional! Ela deu piruetas e mergulhou no nada, para depois emergir girando, com os dois punhos apontados para cima, com um sorriso largo no rosto.

Que vontade louca ela tinha de jogar Quadribol! Só precisava de uma vassoura e... Nem terminou de pensar e uma Firebolt apareceu na sua mão direita. Nem pareceu se importar com o fato de que já estava efetivamente voando, sem precisar do auxílio de uma vassoura. Subiu na Firebolt, estranhamente sem precisar se impulsionar de qualquer forma e acelerou até sentir a batida do vento machucando suas bochechas, que agora ela sabia que estavam coradas. Se era pelo esforço ou pela felicidade, Gina não saberia dizer.

Desejou o time da Grifinória ali com ela, esperando que eles fossem aparecer instantaneamente, como tinha acontecido com a vassoura. Contudo, ninguém apareceu; Gina achou uma pena, porque aquele era um time muito bom. Tinham um bom goleiro e ótimos batedores! Que orgulho dos seus irmãos! Fred e Jorge sempre conseguiam derrubar os adversários das formas mais surpreendentes possíveis e...

Fred...

Um buraco se formou dentro de si e ela soube imediatamente que ele nunca mais seria preenchido.

Pensar no irmão fez tudo desaparecer e, de repente, ela estava novamente de pijama no meio do nada. Precisava ver Fred, precisava ajudá-lo. E então um frio a invadiu por dentro, como se estivesse perto de cem dementadores. Ela começou a cair, voltando a ter peso. Era como se estivesse desmoronando por um buraco sem fim, caindo indefinidamente sem nunca atingir nada.

Ela viu rostos conhecidos passando pela sua frente, nadando no meio do nada e acompanhando sua queda livre; sua família, Hermione, os companheiros do seu ano em Hogwarts. Todos eles eram arrancados e levados embora antes que ela pudesse tocá-los.

A imagem de Harry apareceu salvadora e esticou a mão para ela. Gina ergueu o braço para pegá-la, como se sua vida dependesse daquilo. Quando conseguiu, ela sentiu uma mão tão fria; se concentrou na mão que a ajudava a diminuir a velocidade. Pálida demais, bem cuidada demais,gelada demais. Quando levantou a cabeça, os cabelos de Harry tinham se tornado louros, quase brancos. E os olhos verdes, calorosos, tinham se transformado em manchas cinzas e frias.

Então Gina Weasley acordou, sobressaltada.

Seus cabelos estavam grudados na testa devido ao suor e sua cabeça doía. Ela estava no que parecia ser seu dormitório em Hogwarts, - que agora estava com as camas vazias - e sua mãe estava ao seu lado, com os olhos inchados e um semblante de quem estava no limbo entre a consciência e a inconsciência.

"Mamãe..." ela começou a dizer, com a voz rouca devido ao pouco uso. "Onde está todo mundo?"

"Gina, graças a Merlin, achei que tinha perdido você também!" Ela se levantou rapidamente e se debruçou sobre a filha, num movimento protetor e sufocante.

"Estou bem, mãe. Pelo menos eu acho." Ela disse com a voz abafada pelo ombro da mãe, dando tapinhas consoladores nas costas de Molly. "Não me lembro de muita coisa da batalha... Eu bati a cabeça e desmaiei. Acho que não voltei a ser eu mesma depois disso." Ela completou com uma tentativa de sorriso triste. Afastando gentilmente a mãe, repetiu a pergunta "Onde estão todos? Nós vencemos?"

Só o fato de estar viva com a sua mãe ao seu lado já era um sinal de que as coisas poderiam ter acabado bem. Mas a expressão compenetrada da bruxa mais velha destruiu as esperanças de que Harry havia vencido e de que Voldemort estava enfim morto.

"Até onde você se lembra?" sua mãe perguntou, com um suspiro triste.

"Bem, eu me lembro de você chutando o traseiro da Bellatrix Lestrange..." Ela corou diante da expressão severa da mãe devido ao vocabulário utilizado, mas continuou resgatando suas memórias. "Me lembro de ver o corpo de Fred..." Mas isso nem ela nem a mãe gostariam de lembrar, então ela pensou no ponto que a deixava mais em dúvida. "Me lembro de ter ver o corpo de Harry... Mas ele se levantou e lutou! Mãe, me diz que eu não estava alucinando e que ele realmente não morreu." Ela segurou a mão da sua mãe, como se a resposta dependesse daquilo.

Pela primeira vez desde que Gina tinha acordado, Molly sorriu, ainda que brevemente. "Não, Gina. Harry não morreu. Mas também não venceu. Nem Voldemort, pelo que parece. A batalha acabou há dois dias, e você esteve inconsciente desde então, muito provavelmente por causa da combinação de uma batida na cabeça com o excesso de adrenalina da batalha, que esgotou seu corpo." Ela estava pensativa e pareceu lembrar de algo que a deixou alerta. "E isso me lembra que você tem que descansar e tomar sua poção do sono."

Gina teve vontade de gritar que a poção que fosse para o inferno. Já tinha dormido demais. Por Merlin, dois dias inteiros! "Quero ver os outros! Já estou bem, mãe! Não quero ficar aqui!" Ela afastou um pouco as cobertas, que estavam amontoadas sobre ela.

Sua mãe parecia estar cansada de qualquer luta, mesmo as que envolvessem como adversária sua filha mais nova. "Em breve teremos outra batalha, Gina. Eu quero, ou melhor, eu preciso que você esteja preparada para ela."

"Dessa vez vou poder ajudar?" Gina perguntou, sem esconder a esperança na voz.

"E eu poderia evitar? Acho que está na hora de aceitar a ideia de que você cresceu, assim como os outros." Sua mãe disse, olhando para suas mãos que se apoiavam nos joelhos, se levantando na sequência.

Gina queria poder abraçá-la, ajudá-la a amenizar a dor que lhe tirara um filho e, consequentemente, uma parte dela mesma. Mas ela sabia que não adiantaria nada. Naquela manhã, Molly Weasley parecia mais velha, mais vulnerável, mais morta.

Molly já estava se retirando do dormitório quando ela criou coragem para perguntar. "Mãe... Fred... Ele já foi... Não pude me despedir." Ela disse atropelando as palavras, olhando para baixo para conter as lágrimas. Tinha certeza de que se olhasse diretamente para mãe, sucumbiria.

"Ele foi enterrado ontem à tarde." Sua mãe fungou, numa tentativa de dissimular o choro. "Houve uma cerimônia muito bonita para todos que foram mortos naquela noite." Molly se deteve na porta e disse, mais para si mesma do que para a filha. "Percy disse que ele morreu com um sorriso no rosto. Isso me conforta, porque é assim que eu me lembro dele, desde que o peguei no colo pela primeira vez, sem saber ao certo se era ele mesmo ou Jorge. E ele sorria. Ele nasceu sorrindo e vou me lembrar dele assim, para sempre." E mãe sorriu também diante da lembrança, antes de retornar ao tom levemente autoritário habitual. "Vou pegar um pouco de poção fortalecedora para você. Está com um aspecto terrível!" Molly disse por fim, saindo do dormitório com o rosto meio coberto pela mão.

E Gina se apoiou nos travesseiros, fechando os olhos para conter as lágrimas.

Pelo que Gina pôde entender, quando os feitiços de Harry e Voldemort se cruzaram, os dois foram atingidos, ficando inconscientes. Foi o suficiente para que os dois lados não soubessem muito bem o que fazer; então fizeram o que Gina aprendera que os humanos, sejam bruxos ou trouxas, faziam de melhor: derramamento de sangue. O corpo e Harry e de Voldemort foram protegidos pelos seus respectivos aliados, numa confusão incrível de feitiços e corpos tombando. A Ordem da Fênix conseguiu expulsar os comensais do castelo propriamente dito; eles agora estavam instalados na Floresta Proibida até onde se podia saber, com a grande vantagem de poder sair de Hogwarts quando bem entendessem, enquanto a Ordem e as pessoas que lutaram ao lado de Harry ficaram confinados no castelo semidestruído.

O que estavam esperando para atacar era uma grande incógnita que ninguém podia responder. Gina, por sua vez, não deixava de achar que essa convivência quase pacífica chegava a ser irônica: Não podiam estar mais perto fisicamente e mais distantes ideologicamente.

Entretanto, para a Ordem, manter Hogwarts sobre o seu domínio fora o único ponto relevante e favorável de que poderiam se orgulhar; no momento em que os líderes de cada um dos lados estavam fracos e debilitados, os comensais tinham saído na frente no placar, mantendo o status quo que determinava seu poder indireto sobre os outros bruxos.

Até quando essa guerra fria duraria, ninguém poderia saber. Entretanto, era notório que o Ministério, os meios de comunicação e o mundo bruxo de forma geral ainda estavam impregnados com a influência de Voldemort e seus comensais.

Grande parte das pessoas que lutou o que ficou conhecida como 'A Batalha de Hogwarts' permanecia no castelo e isso também era verdade para os feridos na batalha. A transferência para o St. Mungus só pôde ser fornecida para aqueles que o status de sangue garantia algum nível de proteção, o que obviamente não se aplicava aos nascidos trouxas ou a casos como o de Neville, que já estavam profundamente ligados à causa do Menino-Que-Sobreviveu. A única saída segura de Hogwarts, que dava acesso ao Cabeça de Javali, havia sido destruída junto com a Sala Precisa e Harry se viu obrigado a revelar que havia uma outra saída que desembocava na Casa dos Gritos, para onde esses feridos foram levados e transportados para receber cuidado especializado. Entretanto, a utilização dessa saída era totalmente controlada e usada somente em emergências, o que intensificava o isolamento do castelo.

A rotina de Gina se resumia a cuidar dos feridos que ficaram no castelo, como no caso da Professora Trelawney, que não havia tido melhora no seu caso desde então, e que estava muito fraca para ser transferida. Ela fazia companhia a eles ou ajudava professores e ex-alunos no preparo de poções. Com frequência ela pensava que o melhor lado de ter ficado em Hogwarts era que, pelo menos, eles teriam estrutura para cuidar daqueles que necessitavam e, por mais deslocado que isso soasse na cabeça dela, ter algo para chamar de lar fazia muita diferença.

Não fora justamente esse conceito de lar que garantira a segurança de Harry por dezessete anos? Ela se sentiu mais segura em Hogwarts e agraadecia por isso.

Harry, por sua vez, pouco se manifestava sobre Hogwarts, sobre lares ou sobre qualquer assunto. Parecia muito mais introspectivo e mais indisposto a lidar com a ajuda alheia. A única concessão que ele fizera, dizia respeito a verdade acerca do Professor Snape e de como ele havia sido extremamente corajoso no papel de agente duplo. Gina ficara muito comovida ao ouvir o relato de como o antigo Professor de Poções tinha se sacrificado pelo amor da mãe de Harry. Ela procurou o ex-namorado com os olhos, mas assim que terminou de relatar os eventos da vida de Snape, se retirara extremamente perturbado.

Pensar em Harry fez Gina sentir um misto de carinho, raiva, impotência e resignação. Ele, junto com Rony e Hermione, passava as tardes confabulando em alguma parte do castelo. Vez ou outra, Gina podia dizer que ele efetivamente saía do castelo, aproveitando a saída da Casa dos Gritos. Nada como uma capa da invisibilidade e a fama de salvador da pátria ajudá-lo nessas tarefas de ir e vir livremente, usando a saída que estava bloqueada para a maioria das pessoas, para que ela permanecesse no anonimato.

Rony e Hermione, por outro lado, pareciam finalmente ter aceitado o que estava estampado no rosto deles desde que Gina começou a entender com mais propriedade as relações entre homens e mulheres. Agora eles eram vistos por aí em cenas mais românticas. Harry, entretanto, sumia durante horas e não procurava ninguém.

Não me procurava, ela pensava com amargura. E ela já estava ficando impaciente com isso.

Usava a antiga sala de poções de Hogwarts e com a ajuda de Horácio Slughorn, preparava poções que ajudavam a recuperação dos feridos. Já havia se passado uma semana desde a batalha e Gina acabara se afeiçoando ao antigo Professor de Poções, com quem ela passava boa parte do tempo.

"Minha querida, veja a tonalidade dessa poção! Na sua idade! Se não tivéssemos passando por períodos tão conturbados, diria que você vem treinando muito." Ele disse olhando para a poção no caldeirão de Gina, com a mão no amplo bigode.

"Acho que as poções tem me ajudado a me sentir um pouco mais útil." Ela não se sentia mais intimidada pela presença dos professores, com Slughorn especialmente, que sempre se desmanchava em elogios para aqueles que ele julgava com potencial.

O Professor deu um tapinha consolador no ombro dela. "Tente colocar um pouco mais de ovo podre. Tornará a consistência um pouco mais apropriada." Ele disse, avaliador. "Mas faça isso com cuidado. Não animaria o espírito das pessoas se espalhássemos esse cheiro pelo castelo. Deixei alguns elfos responsáveis pela desagradável tarefa de fazer com que eles apodreçam com as propriedades desejadas."

"Eu posso checar se há mais com os elfos da cozinha, Professor. Assim poderemos passar para as outras poções da lista." O Professor assentiu, se virando distraído para preparar os outros ingredientes.

"Sim. Na volta, precisamos pensar em alternativas para o ferimento de Sibila. Nada até agora funcionou e Madame Pomfrey está verdadeiramente preocupada com o aspecto do ferimento. E eu também, para ser sincero."

Gina saiu da sala, concentrada nas medidas que seriam utilizadas nas poções. Estava repetindo seu mantra composto por "Duas dúzias de dente de leão, sanguessugas, salamandras" quando ouviu no fundo de uma sala de aula a voz de Rony.

"Harry, você está maluco! Não tem como concordar com isso, sério!" ele esbravejava e Gina ficou repentinamente alarmada. Rony não podia concordar com o quê?

"Rony tem razão, Harry. Isso são apenas suposições e..." Hermione dizia, entre triste e resignada.

"Você sabe a verdade, Hermione." Harry interrompeu, mais maduro do que Gina se lembrava. Ela se deu conta de que mal tinha ouvido a voz dele nos últimos dias. "Vocês dois sabem. Tem que ser feito agora. Antes que ele possa chegar sequer perto de estar forte o bastante para fazer outra horcrux." Ele abaixou o tom de voz quando pronunciou a última palavra, como se, de alguma forma, ela estivesse amaldiçoada. "Enquanto ele ainda está fraco."

Gina registrou no seu subconsciente a estranheza do fato de que Harry realmente parecia saber estado de Voldemort.

"Se pelo menos nós tivéssemos a varinha das varinhas..." Seu irmão começava a dizer de novo.

"Mas não temos, Rony. Já discutimos isso um milhão de vezes, desde que ficamos confinados ao castelo.", o tom de Hermione, ainda que reticente, não admitia contestação.

"O lado bom é que se nós não temos a varinha das varinhas, ele também não tem." Agora Gina reconhecia que Harry tentava soar otimista.

"Você devia ter visto, Harry. Parecia que as varinhas chamaram os feitiços uma da outra." Rony tinha um leve sinal de entusiasmo na voz. "Explodiram como fogos de artifício."

Gina se esgueirou pela parede e espiou para dentro da pequena e confortável sala. Rony e Hermione estavam sentados juntos num sofá apertado, com as mãos unidas numa demonstração silenciosa de afeto. Gina sentiu uma pitada de inveja ao ver a cena, e desviando o olhar, visualizou Harry; ele estava sentado numa poltrona, com os cotovelos apoiados nas pernas e o rosto apoiado nas mãos. Harry e Hermione olhavam para Rony, como se estivessem espantados pelo conhecimento dele a respeito dos fogos de artifício, tanto utilizados pelos trouxas. Gina viu o irmão dar de ombros, simplesmente.

"Por acaso ele estava lá, Rony. Segurando a varinha que explodiu." Hermione continuou, dessa vez virando-se para Harry "Com relação à razão disso, nós só podemos fazer suposições. Mas me parece bastante satisfatória a explicação de que a varinha das varinhas explodiu porque você era o mestre dela. Foi como se ela tivesse entrado num ciclo vicioso: lançar a maldição da morte contra seu mestre foi demais para a varinha."

"Agora você falou igualzinho ao Senhor Olivaras." Rony deu uma risadinha e Hermione lançou um dos seus olhares professorais. "Ah, qual é, Mione! Ela podia ser uma Relíquia da Morte, mas, ainda assim, era só uma varinha. Uma que eu queria ter, é verdade, mas só uma varinha."

"Ficar discutindo sobre as varinhas não vai adiantar, Mione. Precisamos agir. E depressa. Sabemos que ele está debilitado e confinado na clareira na Floresta Proibida onde Aragogue esteve." Harry voltara a dizer e Gina viu Rony tremer diante do nome da aranha gigante que uma vez fora amiga de Hagrid. "Se traçarmos um plano de ação, poderemos acabar com isso com um ataque surpresa."

"Precisamos de mais tempo e você não está prep..."

"Hermione, não temos mais tempo. E eu também sei dos riscos que eu corro em atacar nas minhas condições, mas..." Harry se interrompeu no momento em que viu a figura de Gina tentando se esconder rapidamente atrás da porta entreaberta.

As palavras dançavam na cabeça dela: Horcruxes, Relíquias da Morte, Voldemort e Harry igualmente debilitados... Nada fazia sentido. Nesse breve momento de confusão mental, ela havia se descuidado e entregado sua posição. Resolveu tentar manter o mínimo de dignidade que era permitido às pessoas que ouvem atrás da porta e entrou na sala de cabeça erguida. Sabia que suas bochechas e orelhas tinham tomado um tom além do vermelho.

Ela adentrou mais a sala, com os olhos fixos em Harry. Olhando de perto, ele parecia bem mais cansado. Ele começou a falar. "Gin... Você não deveria estar aqui. Escuta..."

"Eu estou tentando escutar há dias, semanas. Estou tentando escutar há um ano, Harry. Mas para que alguém escute é preciso que a outra pessoa fale. E o que você tem menos feito, principalmente comigo, é falar."

Gina sentiu que Harry havia saído um pouco do sério. Pelo menos isso é melhor do que nada, ela pensou.

"Você sequer imagina como tem sido esse tempo todo, sozinho, com exceção do Rony e da Hermione. Não é exatamente um mar de rosas para mim também." Ele retrucou, levemente ríspido.

"Esse é o problema, Harry. Você sempre imagina que tem que fazer tudo sozinho, ou só com Rony e Hermione. Como se tudo fosse sua responsabilidade! Da onde você tirou a brilhante ideia de que seu sacrifício sempre vai ser o melhor para todos? Pelo menos deixe que as pessoas estejam do seu lado!" Gina disse, sentindo que o gênio Weasley começava a aflorar.

Rony também teve o mesmo pressentimento e resolveu interferir, antes de maiores estragos que a explosão de Gina pudesse vir a causar. "A Gina tem um pouco de razão, Harry." Ele disse e Gina fulminou o irmão com o olhar diante da palavra 'pouco', mas ele engoliu em seco e continuou falando. "Foi como eu te disse na Sala Precisa, naquela noite: As pessoas podem ajudar, cara. E se não fosse essa ajuda, não teríamos sequer descoberto sobre o Diadema de Ravenclaw."

"Eu não posso arrastar o resto das pessoas para guerra novamente, não agora. E não há tempo para esperar. Se eu falar, a Ordem vai querer me atrasar." Ele olhou para Hermione, em busca de apoio. "Tem que ser feito rápido."

"Então selecione algumas pessoas, leve com você." Gina interferiu "Sempre houve pessoas dispostas a lutar verdadeiramente por você, Harry." Ela completou com um sorriso triste, se incluindo involuntariamente nesse grupo.

Hermione pareceu gostar da ideia de Gina. Era um meio termo satisfatório, afinal. "Teremos que fazer isso com a maior discrição possível. Somente algumas pessoas vão servir, creio. Harry, repasse as informações comigo: os comensais feridos foram encaminhados para o St Mungus e outra parte considerável deles teve que voltar aos seus postos para garantir que o Ministério permanecesse nas mãos de Voldemort. Então ele está com uma quantidade reduzida de comensais, muito devido ao fato de que não espera que ataquemos, muito fragilizados pela morte dos nossos. Certo?"

"Sim, Hermione. Já repassamos esses detalhes." Ele disse meio concentrado, meio exasperado. Gina imaginou que isso se devia ao envolvimento na história de outras pessoas que não ele, Rony e Hermione.

"Não entendo por que eles simplesmente não vão para outro lugar mais confortável ou com mais recursos." Rony disse.

Foi a vez de Gina rolar os olhos. "Rony, enquanto eles estiverem na Floresta Proibida as saídas do Castelo estarão fechadas para nós. Estamos ilhados e se não fosse a ajuda dos elfos já estaríamos passando por verdadeiros apuros com relação à comida, já que não podemos expor demais a saída da Casa dos Gritos. Ou você se esqueceu que não podemos simplesmente criar comida?"

"Uma das exceções da Lei de Transfiguração de Gamp." Rony disse, repetindo o discurso que ele sabia que impressionaria Hermione.

Dessa vez, Hermione não se deixou levar pelo discurso, embora tenha esboçado um leve sorriso. Ela preferiu continuar com o tom de sermão. "Sim, temos comida graças aos elfos, que os bruxos consideraram irrelevantes por tanto tempo, pagando um preço alto por isso."

Harry se mexeu desconfortável na poltrona e Gina sabia que ele estava pensando em Sirius e no elfo Monstro. Rony por sua vez não pareceu muito comovido pelos infortúnios dos elfos. Ele tirou algo como um isqueiro do bolso e começou a passá-lo de uma mão para a outra. Gina fez uma nota mental para perguntar ao irmão o que era aquilo, mais tarde. Hermione então se voltou para Harry.

"E nós temos os nomes daqueles que estão guardando Voldemort com mais freqüência?"

"Acho que essa é uma informação que podemos conseguir sem muita dificuldade." Ele pareceu tranquilo demais para o gosto de Gina.

Havia inúmeras perguntas na cabeça dela. O que eram horcruxes, o que eram Relíquias da Morte, por que tinham que atacar agora, mas aquela que chegou primeiro à sua boca foi:

"De onde diabos você consegue todas essas informações?" ela perguntou, se dirigindo ao Harry.

"Isso é uma longe história, Gina." Harry disse, se levantando "Quando conseguirmos escolher e recrutar os outros, passaremos todas as informações necessárias." Ele passou por ela e saiu da sala, sem olhar para a garota.

Gina olhou para Hermione e a amiga deu de ombros, sem saber ao certo o que dizer. Percebeu que tinha perdido aquela batalha.

Mas não perderia a guerra.

Graças a relutância persistente de Harry, eles demoraram mais tempo do que o esperado para recrutar as pessoas que deveriam ser levadas na pequena incursão contra os comensais. Tudo foi feito com o mais absoluto sigilo e com a ajuda de Hermione, adotaram a política de moralidade duvidosa de usar feitiços de memória naqueles que se mostrassem reticentes demais em relação ao plano. Tiveram que usar esse artifício em Cho e Justino, além de fugir o máximo que podiam de Luna, que não era a melhor no quesito 'ser discreta com relação ao plano'.

No final das contas, eles chegaram muito perto daquilo que tinha sido a Armada de Dumbledore em Hogwarts: Harry, Jorge e Rony Weasley, Neville Longbottom, Hermione Granger, Angelina Johnson, Dean Thomas, Lino Jordan com adição de Percy e Carlinhos Weasley. E Gina, é claro.

Quando Harry viu que ela estava se juntando ao grupo para a primeira reunião de planejamento, ele franziu a testa. "Não Gina. Você fica. Alguém tem que ficar, caso as coisas... bem, caso a gente não consiga voltar a tempo."

"Não! Eu vou. E não há nada do que qualquer um de vocês pode fazer para me impedir." Ela colocou as mãos na cintura, na sua melhor imitação de Molly Weasley. Percebeu que havia dado certo; Rony tinha se encolhido levemente diante do seu tom e Percy ajeitado os óculos, nervoso. "E nem ouse usar esse feitiço de memória em mim, Hermione! Deixei bilhetes para mim mesma em todos os lugares que tenho acesso." Ela disse, olhando ameaçadoramente para a amiga.

Quando terminou de falar, Carlinhos se aproximou dela e a abraçou, descansado os braços fortes e marcados por cicatrizes de queimaduras em volta dela. Ele deu um leve beijo no topo da sua cabeça; Carlinhos era seu irmão mais baixo e ainda assim era consideravelmente maior do que ela. Ele cochichou no seu ouvido.

"Você sabe o que significaria para mamãe perder mais um filho, não sabe?" Ela assentiu triste, apoiando a cabeça no ombro dele. E então seu irmão falou para que todo mundo ouvisse. "Eu vou ficar. Não há nada que a gente possa fazer para essa cabeçuda mudar de ideia. Ela é uma Weasley afinal." Ele suspirou, ainda abraçando-a. "E além do mais, é preciso que alguém mais velho fique a assuma a responsabilidade por ter sabido do plano e ainda assim permitido que vocês fossem adiante com isso."

Ele e Harry trocaram um olhar de compreensão muda. Gina sabia que Carlinhos estava se colocando numa posição de sacrifício tanto quanto os outros. Talvez até um pouco mais; se algo desse errado, ele teria que conviver com olhares de reprovação e de recriminação muda, porém eternas. Ainda assim Harry não parecia muito seguro. Ele resolveu dedicar sua atenção a ela.

"Gina, você ainda é menor e..."

"Não me venha com essa história, Harry Potter!" ela se desvencilhou de Carlinhos. "Eu vou fazer 17 anos daqui dois meses! E vocês já enfrentavam essas coisas desde o primeiro ano em Hogwarts! Eu enfrento coisas assim desde o primeiro ano" Ela se lembrou do diário de Tom Riddle e diminuiu o tom de voz, se controlando "Se vocês insistirem nisso, juro que procuro a mamãe e o Kingsley e conto tudo!" Repentinamente, ela se lembrou de Blaise e seus discursos sobre como os interesses estavam acima de tudo. Ela colocou na cara sua melhor expressão sonserina e levantou a cabeça.

"Uau! Onde ela aprendeu a fazer chantagens desse jeito para conseguir o que quer?" Rony falou, olhando acusadoramente para Jorge, que se limitou a dar de ombros, tentando sorrir inocentemente. Apesar do gesto bem-humorado, Gina percebeu que ele estava muito mais calado e sentiu seu coração se apertar dolorosamente contra o peito.

"Não podemos perder mais tempo, Harry. Você nos recrutou com uma promessa de respostas e ação. Aqui estamos nós, para ouvi-las." Percy disse e Gina agradeceu o desvio de assunto. Percy tinha se tornado bom em cortar 'burocracias', por mais incrível que isso parecesse aos ouvidos dela.

E então Harry começou seu discurso, sobre Horcruxes, taça de Helga Lufa-Lufa, Diadema de Rowena Corvinal, Nagini, o papel dele mesmo; como Voldemort estava fraco, com apenas um sétimo da alma, como era preciso atacar antes que ele fosse bem-sucedido na tentativa de fazer uma nova horcrux, porque se ele fizesse, esconderia num lugar que eles jamais poderiam alcançar. Quando terminou, todos os olhos, com exceção dos dele mesmo e os de Rony e Hermione, estavam arregalados.

"Então era isso que vocês estavam fazendo... E eu achando que estavam se escondendo..." Dean falou pensativo.

"Você achou que estávamos de férias no Caribe, por acaso?" Rony disse venenoso, antes de mudar o rumo da conversa. "Ok, todo mundo de acordo então?"

Todos assentiram silenciosamente e Hermione tomou a palavra."Certo, então vamos ter que detalhar exatamente como vai acontecer..."

E assim eles passaram os dias seguintes em tardes confinadas na Sala Comunal da Lufa-Lufa, a única, além das masmorras da Sonserina, que estava vazia, esquematizando um plano que, em essência, era extremamente simples: pegar Voldemort desprevenido, abater a maior quantidade de comensais possível e retirar de Hogwarts aqueles que quisessem ou precisassem ser retirados.

Tudo é muito simples na teoria. Essa ideia não deixava de martelar com violência a cabeça de Gina.

Ela sabia que ele estaria lá de antemão, revendo os detalhes do plano, rascunhados sem muito cuidado em folhas espalhadas por cima das mesas da Sala Comunal da Lufa-Lufa. Aquele havia se tornado o ponto de encontro para o planejamento do ataque e eles passavam lá grande parte do dia, com suas ausências camufladas pela constante agitação do castelo.

Gina aproximou devagar, com seus movimentos felinos característicos. O dia seguinte seria o do ataque e ela não tinha conseguido dormir; o clima de tensão adicional àquele já existente no castelo estava sufocando-a. Tinha se retirado mais cedo, antes do jantar, com o pretexto de ter que levantar muito cedo no dia seguinte para cuidar das poções. Aquela era uma meia verdade: eles sairiam antes do amanhecer, para que a noite os protegessem da visão dos comensais.

A lareira decorada com o retrato de Helga Hufflepuff estava acesa, deixando o ambiente ainda mais aconchegante. Não demorou muito que a visão dela se ajustasse ao ambiente e encontrasse o objeto da sua procura.

Ele estava num canto da Sala Comunal, com a testa sobre a mesa de madeira polida, como se quisesse se fundir com a superfície. Seu suéter estava num canto do móvel, revelando sua camiseta meio desbotada. Os dedos das mãos dele estavam flexionados, tensos sobre o colo, como se ele pudesse apertar o pescoço de Voldemort com eles.

Ela viu sobre a mesa a varinha (um novo símbolo) que agora Harry usava, desde que a sua explodira na Batalha de Hogwarts: A varinha que pertencera a Colin Creevey, seu amigo. O coração dela se apertou, mas ela espantou a sensação com convicção. Ela não precisava daquele tipo de sentimento naquele momento.

"Hem, hem" Ela se manifestou, na sua melhor interpretação de Dolores Umbridge. Ele ergueu a cabeça e sorriu. Pela primeira vez em dias, ele tinha sorrido. Tinha voltado a ser o Harry daquelas tardes nesse mesmo castelo, séculos atrás.

"Como você sabia que eu estaria aqui?" Ele perguntou, ainda com um resquício de sorriso no rosto.

"Deduzi. Era o único lugar em que um rapaz que quer salvar o mundo poderia estar." Ela disse amigável. "Todos os nossos planos estão aqui, não é?"

Ele entendeu a brincadeira como uma crítica; levantou-se e começou a arrumar suas coisas desajeitadamente. Gina continuou, como se não tivesse notado a reação um pouco mais hostil.

"Acho que a Hermione tem razão. Algumas vezes você e Rony se esquecem que são bruxos." Ela disse, espirituosa; começou a arrumar os papéis e anotação em pilhas com leves movimentos da varinha. Havia alguns objetos sobre a mesa também: Uma foto dele quando era um bebê que a fez sorrir, um objeto que parecia um medalhão, os restos da sua antiga varinha, além de alguns frasquinhos, que continham uma substância que não era líquida nem gasosa, com uma coloração um tanto azulada; ela já tinha visto algo assim em algum lugar. Franziu o cenho tentando se lembrar de onde, mas seu pensamento mudou de direção rapidamente quando viu um outro objeto sobre a mesa; Harry ainda guardava o pedaço de espelho quebrado que havia ganhado do padrinho.

"Por que você guarda isso?" Ela perguntou, apontando o objeto.

"Não sei... Talvez para dar sorte. Ou talvez para me lembrar de que eu não estou sozinho." Ele estava mexendo numa pilha de papel distraidamente na lateral da mesa. Gina se deu conta de que ele nunca se livraria do presente de Sirius Black, mas pelas razões erradas.

"Harry, você não está sozinho. Você tem o Rony, a Hermione, tem a mim..." Ela se posicionou de frente para ele, se interpondo entre o rapaz e a mesa. Com o passar dos anos, Gina havia definitivamente se tornado mais desinibida com relação aos garotos, para desgosto dos seus irmãos. Harry percebera a intimidade da posição e ajeitou os óculos, desconfortável. Tentou diminuir um pouco a tensão desviando o olhar e mantendo um tom ameno na conversa.

"Todas as coisas que são importantes para mim estão nessa bolsinha mokeskin, que Hagrid me deu. Hermione me ensinou o feitiço extensível e eu posso colocar quase tudo que eu quiser aqui. Você não imagina o que dá para carregar com um negócio desses." Ele disse, terminando de colocar na bolsinha os objetos que estavam sobre a mesa e tentando desviar de Gina à sua frente.

"Todos os segredos do misterioso Harry Potter, numa bolsinha, ao alcance da mão? Posso ficar com ela?" Ela disse esticando a mão para dar ênfase ao pedido. Ele riu e ela se aproximou um pouco mais do corpo dele.

"Acho que sim, você pode ficar com ela." Ele disse depois de pensar por uns instantes e estendendo para ela o pequeno objeto. Gina se surpreendeu com a reação, mas aceitou o objeto. "Amanhã quando voltarmos, você me devolve. Eu vou cobrar." Ele sorriu e ela sentiu seu estômago afundar. "Até lá, acho melhor irmos dormir. Temos que estar descansados para..."

"Harry, pare." Ela interrompeu bruscamente. Não queria começar com o discurso 'essa pode ser nossa última noite juntos', mas algo no seu tom de voz fez com que ele captasse a ideia.

"Gi... Eu não posso... Enquanto isso não acabar..." Ele começou.

"Não estou pedindo para você casar comigo essa noite, Harry." Ela passou a mão pelo rosto dele, de maneira gentil. Ele fechou os olhos e se inclinou para abraçá-la, vencido; ele havia crescido um bocado desde a última vez que estiveram tão próximos. Ela envolveu o pescoço dele com os braços e descansou a cabeça no ombro do rapaz. O cheiro dele era muito bom, lembrava infância, proteção, carinho.

"Tem uma coisa que você precisa saber, Gina. Eu omiti do resto do grupo porque eu não quero que eles percam a esperança... E de algum jeito, eles parecem concentrar a esperança de vitória em mim, que não tenho mais nada para oferecer além da minha imagem de salvador da pátria." Harry disse com uma voz triste que cortou o coração dela. "Perdi minha conexão com a mente de Voldemort, não tenho mais a varinha das varinhas, não sou mais uma horcrux..." Ele parou e Gina esperou pacientemente que ele recomeçasse. "Não é só Voldemort que está com a alma debilitada, a minha também está assim. Ele dividiu a dele por sete vezes e isso o enfraquece. A minha, por outro lado, também está partida porque eu perdi o pedaço de Voldemort que estava dentro de mim e que de certa forma fazia parte do que eu sou."

"Como você sabe disso?" ela perguntou, mais assustada do que curiosa.

"Hermione tem uma teoria." Foi a resposta simples e objetiva dada por ele. "Ela tem se esforçado muito os últimos dias a esse respeito, embora a gente não tenha nada documentado na biblioteca a essa respeito. Certa vez Dumbledore me disse que Voldemort e eu tínhamos cruzado qualquer linha mágica que une dois bruxos, para além do conhecimento que temos hoje. Então, tudo o que podemos fazer é teoria e temos que concordar que Hermione é boa nisso." Ele deu um sorrisinho, antes de ficar mais sério mais uma vez. "Não sei o que pode acontecer quando entrar numa batalha, sem a varinha das varinhas para me proteger e com a alma enfraquecida."

"Por que você está me contando isso agora?" Ela fez uma nova pergunta, com a voz ficando cada vez mais fraca.

"Porque achei que você tinha o direito de saber. Direito de ir para a batalha sabendo que eu não sou mais do que um símbolo e que símbolos podem se quebrar..." Ele falava olhando para baixo. "Senti tanto sua falta, Gi. Pensei em você todo o tempo, mesmo quando..."

Isso foi suficiente para fazê-la esquecer por breves momentos todas as implicações das revelações dele. "Shhh." Ela disse, pondo o dedo indicador sobre os lábios dele. "Harry, esqueça tudo, só por essa noite. Eu tive paciência, te dei o espaço que você queria, me afastei. Mas não essa noite. Eu quero lutar amanhã com a lembrança dessa noite." Ela disse levemente.

Os olhos verdes brilharam com algo que ela sabia ser paixão mal contida. Não teve medo com o início dessa nova etapa das suas vidas, com a promessa da intimidade, das descobertas. Com Harry estaria sempre protegida. Ela fechou os olhos e esperou que ele a beijasse. Quando ele o fez, Gina correspondeu com toda a saudade que sentira no último ano.

Ele ergueu o leve corpo, como os maridos recém-casados faziam com suas esposas na lua de mel e se encaminhou para os dormitórios da Lufa-Lufa.

Gina sorriu.

Se a alma dele estava incompleta, ela estava disposta a ceder a outra parte para fazê-lo inteiro novamente.

Naquela noite, eles seriam um.

Nas horas subsequentes, Gina dormiu profundamente, como não fazia há dias. E pela primeira vez naquele tempo passado em Hogwarts, ela não sonhou com uma mão muito pálida puxando a sua e com olhos cinzas a observando.


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