Cinzas escrita por Ludi


Capítulo 2
Baile?




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Ela levantou a cabeça como se o peso do mundo estivesse na sua nuca e então caminhou em direção a ele, com a convicção de que o máximo que poderia fazer por aqueles que ela amava era tentar ser forte. Pensou na ironia que era o fato de que Gina Weasley, conhecida pela sua força e impulsividade, estivesse se sentindo tão absurdamente sozinha e impotente. E a presença dos dementadores que circulavam em volta da escola agora não ajudava em nada sem estado de espírito. Estava cercada por dementadores, comensais e doninhas. Perfeito.

Ela parou no meio do caminho e fez uma careta.

Não tinha mais como adiar o encontro, ou confronto, como sua mente insistia em dizer. Ele estava parado numa posição que demonstrava certa tensão e virado na direção da porta do Salão, provavelmente tentando captar alguma coisa vinda dali. Ficar parada ali, fora do campo de visão dele, tinha dois aspectos distintos; o lado ruim é que ela estava adiando o que era inevitável e postergando sua sessão de tortura disfarçada de baile. O lado bom é que ela podia observá-lo um pouco mais e garantir que ele não havia trazido nada que pudesse feri-la mortalmente. Além da varinha, é claro. Pelo menos com varinhas ela podia lidar relativamente bem.

Como sempre, a roupa dele parecia de ótima qualidade, negra sobre a pele pálida. Ela conjecturou se ele tinha ideia do quanto aquelas roupas pretas o deixavam parecido com um cadáver. Até o verde insosso da Sonserina caia melhor naquela doninha branquela do que o preto absoluto. Ela reparou nas mangas longas que provavelmente estavam cobrindo a marca negra que o identificava como um Comensal e sentiu um arrepio, se lembrando das máscaras negras que a cercaram no ministério, dois anos atrás. Não havia um fio de cabelo fora do lugar; ela se surpreendeu com o fato dele ter voltado a usar gel no cabelo, como fazia nos primeiros anos em Hogwarts, penteado todo para trás - e se surpreendeu mais ainda com a idéia de que ela se lembrava com certa precisão de como era o cabelo de Draco Malfoy nos seus primeiros anos em Hogwarts. A mente das pessoas guardava detalhes inúteis, definitivamente.

Assim como todos os outros, ela supôs, ele também havia crescido; vendo a essa distância, ele estava quase do tamanho de Rony, embora parecesse mais magro. Não havia sinal de barba embora ele devesse estar prestes a completar dezoito anos; Gina não pôde descobrir se isso se devia ao barbeiro dos Malfoy ou não. Definitivamente, ele não era o que Gina chamaria de bonito, com um rosto longo demais, pálido demais, aristocrático demais. Mas ainda assim havia algo ali, ela podia dizer. Nada que garantisse uma segunda olhada vinda dela normalmente, mas naquela noite, ela não resistiu à curiosidade. Preferiu pensar que esse interesse se devia ao encontro forçado. Certamente era por isso.

O que mais chamava atenção nele, entretanto, era o fato de que ele não parecia jovem, apesar da idade. Seus olhos cinzas, geralmente cheios de arrogância e que usualmente imploravam por um soco ou por uma azaração, estavam opacos, como se estivessem esperando por algo inevitavelmente ruim. Gina tentou imaginar o que teria acontecido com ele depois da batalha na Torre de Astronomia. E pela primeira vez, não terminou o pensamento com um ‘se aconteceu algo de ruim, foi muito bem feito’. As últimas informações recebidas enquanto ela ainda estava n’A Toca davam conta de que Você-Sabe-Quem havia se instalado na Mansão Malfoy. Definitivamente não era um hóspede cujos anfitriões poderiam se dar ao luxo de desagradar.

Ela se aproximou, engolindo em seco. Ordenou às suas pernas que, se elas não tinham coragem para se comportar devidamente, pelo menos podiam demonstrar que tinham. Ele sentiu sua aproximação e virou a cabeça na sua direção. O rosto dele não mostrava nada, uma máscara gelada que Gina imaginou que ele tivesse aprendido a mostrar nesses últimos meses, enquanto passava as férias entre cobras gigantes e bruxos lunáticos. Ela ficou ali, parada diante dele, tentando por um desafio nos olhos que ela mesma sabia que seria infrutífero; não adiantaria nada se rebelar agora. No máximo acabaria como Neville, machucada devido a um ato impensado.

E contrariando todas as expectativas que poderiam ter se formado na cabeça de Gina, Draco Malfoy simplesmente estendeu a mão esquerda, enluvada, com a palma virada para cima, num gesto resignado de alguém que perdeu todas as batalhas.

A mão ficou ali, parada no ar como se estivesse pedindo alguma coisa. Tudo estava em câmera lenta demais para que ela achasse alguma graça na situação que se formou na sua mente: um Malfoy pedindo alguma coisa para uma Weasley. Numa situação normal, ela teria gargalhado até ficar roxa, mas também era verdade que numa situação normal Draco Malfoy nunca teria se dado ao trabalho de sequer olhar para ela.

O mundo parecia ter parado e ela levantou sua mão direita. Quando estava quase tocando-o, Gina descobriu porque os olhos dele chamaram tanto sua atenção: eles eram olhos de uma pessoa que estava prestes a cruzar a linha da sanidade. Ela pousou sua mão sobre a dele e sentiu que havia tremido diante da sua descoberta. Por um breve instante louco, pensou que podia ajudar Draco Malfoy, pedir que a Ordem da Fênix o protegesse, falar com Harry...

Ele interrompeu os pensamentos desconexos de Gina quando levantou uma sobrancelha olhando para a mão dela, que acabara de pousar sobre a dele, numa única indicação de que ele sabia que ela estava lá e que alguma forma sentiu que algo estranho cruzara a mente dela. Gina se chutou mentalmente ao pensar que ele havia sentido que sua mão tremera.

Num movimento sutil, ele começou a andar, conduzindo-a, com a mão pequena e sardenta de Gina ainda sobre a dele, formando uma imagem esquisita na cabeça dela. Iria se trancar no quarto por uma semana depois daquilo, para evitar os comentários que inevitavelmente viriam sobre essa cena. No meio de uma guerra ou não, as pessoas tendiam a se apegar aos prazeres fúteis gerados pela fofoca.

O silêncio de Malfoy não a desagradava. Muito pelo contrário. Era melhor assim, se eles tinham mesmo que fazer isso, que fosse rápido e sem maiores rodeios. Já era um alívio que ele não tivesse dito nada ofensivo, nem tentado azará-la com Maldições Imperdoáveis.

Eles entraram no Salão Principal propriamente dito. A decoração não diferia muito do saguão onde os adolescentes estavam esperando seus pares, mas estava um pouco mais vivo, o que parecia natural, uma vez que estava mais cheio. Gina percebeu que os bruxos considerados puro-sangue, no geral, puderam escolher seus pares de livre e espontânea vontade. Isso é claro, se não fossem traidores como ela. Ela sentiu seu coração apertar quando se lembrou de Neville, que poderia ter escolhido uma menina para acompanhá-lo, mas a única escolha dele havia sido o protesto. Se lembrou com carinho de como eles se escondiam pelos corredores, pintando nas paredes palavras de ordem, espalhando para quem tivesse olhos para ler que a Armada Dumbledore ainda estava viva em Hogwarts.

Os Professores de Hogwarts ganharam um lugar de honra ao lado do Diretor no palanque colocado ali justamente para essa ocasião e Gina pensou que aquilo parecia o estrato de um rei, acompanhado de seus súditos mais leais. Não pôde deixar de concluir que os alunos faziam o papel de bobos da corte, como numa daquelas histórias trouxas que Harry havia contado para ela, certa vez. Parecia que alguns Professores tinham a mesma impressão; McConagall estava sentada de uma forma que a deixava mais inflexível que um ogro com torcicolo; a rechonchuda Professora Sprout estava inquieta, como se não quisesse nada além do refúgio da sua estufa e Flitwick, sentado acima da cabeça das pessoas que não estavam no palco, parecia menor do que de costume, enfiado nas almofadas da sua cadeira, como se não quisesse estar ali.

Snape, ou melhor, Diretor Snape, olhava impassível, com uma expressão que desafiava ‘eu matei Dumbledore, alguém tem alguma coisa contra?’. Gina não conseguia olhar para a cena por muito tempo; chegava a doer. Mas Malfoy tinha resolvido passar diante do Diretor, como se estivesse dizendo ‘olhe para mim, estou com a Weasley pobretona, estou fazendo tudo o que me mandam fazer’. Gina não pôde evitar o pensamento de que ele esperava que, com isso, talvez pudesse ter um pouco de paz. Amico Carrow estava do lado do Snape e não tentou sequer evitar uma gargalhada quando viu os dois naquela pose. Definitivamente, os Malfoy estão em maus lençóis, ela pensou consigo mesma e sentiu uma pitada de pena. Ela abanou a cabeça, para espantar aquele sentimento que já tinha se manifestado naquela noite mais freqüentemente do que ela teria desejado.

Ainda assim, algumas pessoas no Salão estavam realmente descontraídas, principalmente os que pertenciam à Sonserina. Dançavam ao som de uma banda que Gina não conhecia, mas que não pareciam muito bons. Talvez ela só não estivesse no clima para música. Foi quando que, com certo receio, ela percebeu que ele estava encaminhando-a para um grupo formado basicamente por serpentes venenosas, mais conhecidos como sonserinos. Ela procurou desesperadamente Blaise com os olhos, mas só reconheceu Theodore Nott, Pansy Parkinson, Emília Bulstrode, Vincente Crabbe e Gregório Goyle.

Teve vontade de se soltar e procurar seus amigos da Grifinória, ver como eles estavam se saindo com seus pares, muito embora ela soubesse que a maioria tinha escapado de pares mais desagradáveis do que o dela. Aparentemente, a criatividade dos Carrow tinha atingido seu ápice na escolha do seu par. Entretanto, a mão inflexível de Malfoy frustrou seus planos de fuga, uma vez que continuava a guiá-la impiedosamente. Não conseguiria se livrar dela gentilmente, nem sem chamar muita atenção. Isso iria jogar por água a baixo toda a tortura que antecedeu ao baile, nada ia ter valido a pena. O nervoso, a revolta, a resignação temporária...

Draco se aproximou do grupo e, pela primeira vez ele sorriu. Mas era o tipo do sorriso que nunca atingia os olhos, que no caso dele continuavam opacos e arredios. Ele a puxou para perto do grupo com certa delicadeza, como se por um momento ela fosse seu verdadeiro par, uma garota digna de acompanhá-lo na visão dele. E o instinto apurado de Gina a fez ficar alerta instantaneamente.

“Por que ficou tão tensa, Weasley?” ele disse e a olhou com um brilho de cinismo nos olhos frios. “Já estamos cumprindo nosso papel de divertir a massa.” Ele fez um sinal com a cabeça em direção aos Carrow e o leve gesto fez com alguns finos fios de cabelo loiro platinado caíssem sobre seus olhos.

“Eu preferia você há uns momentos atrás, quando achei que o hipogrifo tinha comido sua língua.” Ela disse, mordaz.

“Bom saber que há um lado de mim que você prefira.” Os olhos dele caíram implacáveis sobre ela. “Isso vai me lembrar de nunca demonstrar esse lado perto de você.” Ela tentou retirar a mão bruscamente, mas ele fechou os dedos sobre os dela, fazendo uma pressão consideravelmente dolorida. “Você não vai conseguir se soltar sem fazer um escândalo e eu suponho que isso seja tão ruim para sua causa quanto é para a minha. Temos que desempenhar essa comédia por um pouco mais de tempo.” Ele falava com os dentes cerrados, como se as palavras saíssem com muito esforço.

“Não acho que seja realmente necessário, todos já viram como estamos nos comportando bem.” Ela tentou afrouxar um pouco o aperto. “Já sorri tanto sem vontade que parece que meu rosto vai ficar assim para sempre.” Reclamou mais para si mesma do que para ele, depois de uns instantes de silêncio.

“Não seria tão mau se ficasse. Tiraria o foco de outros aspectos desagradáveis de você.” Ele completou com uma risadinha cínica que fez Gina entender o porquê de Harry ter usado um feitiço como o sectusempra nele; se pudesse, ela teria feito algo muito parecido. Entretanto, não deixou transparecer sua irritação na resposta.

“Então está dizendo que meu sorriso é tão ofuscante assim, Draco?” ela frisou a pronúncia do nome e sentiu a mão dele ficar rígida durante um milésimo de segundo. Sentiu-se particularmente extasiada através da sua pequena vingança. “Será que sua vida precisa tanto de sorrisos assim? Oh, vejo que sim! Viver sem prestígio sob as asas de Você-Sabe-Quem deve ser bem deprimente.” Ela completou com veneno e viu os olhos dele adquirirem um brilho metálico que a mente de Gina registrou como um claro sinal de ‘perigo’.

Ele apertou ainda mais a mão dela, que não pôde evitar um leve gemido de dor. “Gostaria de conhecer algumas pessoas?” Fora sua única resposta à insinuação de que os Malfoy haviam caído em desgraça diante dos olhos de Voldemort.

Malfoy não esperou que ela respondesse e continuou conduzindo-a com firmeza até o ponto que ele desejava. Ela se viu no meio de uma rodinha, com a mão ainda na de Malfoy e um pânico claustrofóbico crescente. De repente, ela não era mais Gina Weasley, a garota popular, jogadora de quadribol, símbolo de força e de independência. Ela voltara a ser uma garotinha de onze anos que ficava da cor dos cabelos perto de Harry Potter, que tinha pânico de diários e que se escondia na barra da saia de Molly Weasley.

Foi quando Draco Malfoy disse, com sua voz arrastada um pouco mais viva do que ela imaginaria que estaria “Senhores, eu apresento a bruxa sangue-puro mais suja do Reino Unido. Tão deplorável quanto seu vestido.” Ele havia soltado a mão dela.

Em meio a risadinhas mal contidas e olhares venenosos, tudo desabou na cabeça de Gina. E o mais agravante foi lidar com o sentimento de impotência, que ela não sentia há mais de cinco anos. A humilhação diante daquelas pessoas a fez pensar em Neville machucado, em Dumbledore estatelado no chão numa posição estranha, pensou em Jorge com a orelha sangrando descontroladamente no sofá de casa, pensou em Gui cheio de cicatrizes na cama do hospital, pensou em Rony perdido em alguma missão quase impossível. E olhando para todas aquelas pessoas, cujos pais estavam direta ou indiretamente ligados aos infortúnios pelos quais a vida dela vinha passando nos últimos anos, não pôde mais suportar todas essas coisas.

Então ela se virou e correu, não se importando em quem estava esbarrando e pela primeira vez em muito tempo desde que voltou d’A Toca, depois de ter notado que Harry tinha partido depois do casamento de Gui, ela chorou verdadeiramente.

Ela correu por um tempo razoável e só parou depois de passar por várias portas e abóbadas, quando seu fôlego não permitiria que ela prosseguisse mais sem ficar roxa e asfixiar. Todo mundo tinha direito a alguns momentos de covardia, ela pensou com amargura, até a 'perfeita' Gina Weasley. E talvez fosse esse o ponto: ela estava cansada de bancar a perfeita e forte. Queria que tudo isso acabasse logo, que ela pudesse ter sua vida de volta.

Continuou vagando por um tempo e se deu conta que ela tinha ido parar numa espécie de terraço gigante, que permitia uma visão generosa dos terrenos da escola; conseguia ver o começo da Floresta Proibida e um pedacinho do grande lago. Ela prendeu a respiração. Ficou surpresa com o fato de que, depois de seis anos na escola, ela ainda não tinha visitado todos os lugares que podiam ser visitados. Mas mesmo a bela visão da sacada não a impediu de tirar os sapatos com violência e atacá-los longe, imaginando que eles eram as cabeças de todos os sonserinos detestáveis na face da terra. Pela segunda vez na noite, teve o ímpeto de rasgar todo o vestido e jogá-lo longe também, mas em algum lugar no fundo do seu subconsciente, seu lado racional projetou a cena dela desfilando pelos corredores da escola até torre leste, onde ficava a Sala Comunal da Grifinória, seminua, tentando se esconder por trás de armaduras e cortinas velhas. Diante disso, teve que brecar seu gênio Weasley.

Ela se resignou a suspirar e dar um pequeno salto para se acomodar na beirada da sacada, se virando habilmente de forma a ficar de costas para a porta que dava acesso a sacada, com os pezinhos brancos balançando a esmo. A probabilidade de que ela se machucasse ao cair dali era bem baixa. Obviamente não porque não havia ninguém por ali que gostaria de empurrá-la, mas sim porque, apesar da sua fuga desenfreada, ela não havia saído do andar térreo da escola. Assim, mesmo que o relevo fosse irregular por ali, ela não estava longe do chão.

Gina pôde se concentrar nos seus pensamentos, ansiando por ir para casa, entrar na luta de verdade. Crescer! O baile idiota e o incidente com a doninha branquela só tinha sido a gota d'água num copo que já estava quase transbordando. Um vento de inverno bateu um pouco mais forte e levantou seus longos cabelos ruivos, que ela não tivera maiores cuidados de prender antes do Baile; agora eles estavam jogados para trás, quase atingindo o meio das suas costas. Ela permaneceu assim, por bons minutos.

Gina percebeu que tinha frio. Por dentro e por fora.

“Esse treinamento intensivo no quadribol te deu um condicionamento e tanto, Ruiva. Demorei um bocado para te achar aqui.” Blaise apareceu, um pouco mais ofegante do que o normal. Gina virou rapidamente a cabeça para trás para colocar Zabini no seu campo de visão e provavelmente o olhar que ela concedeu a ele não foi dos mais amigáveis; Blaise instantaneamente levantou as mãos para o alto num sinal claro de rendição “Vim em missão de paz.”

“Onde você estava quando enquanto eu estava sendo engolida pelos filhotes de basilisco? Você seria muito útil, já que é imune ao veneno deles.” A raiva dela estava diminuindo, deixando apenas lugar para a frustração, mas ainda assim ela precisava extravasar, de alguma forma. “Achei que você ficaria com eles a noite toda e bem, quem sabe, eu tivesse alguém com quem conversar... Pelo menos enquanto tivesse do lado da doninha metida a besta” ela completou, com um suspiro.

Blaise julgou que já era seguro se aproximar da beirada da sacada e apoiar seus cotovelos nela, colocando as mãos como um suporte para seu queixo. Era uma posição estranha para Gina, como se ela estivesse vendo o alto Zabini de cima, pela primeira vez. Ele deu um dos seus famosos meio sorrisos diante do apelido que ela havia posto no seu amigo. “Fui cuidar dos meus interesses. E arranjar uma desculpa para sair de perto da Pansy, que não parava de reclamar do Draco, de como ele estava distante e blá blá blá. Veja, vocês duas tem isso em comum: gostam de maldizer meu caro amigo Malfoy.” Gina fez um gesto simulando vômito diante da comparação feita entre ela e Parkinson. “Ou talvez seja só o fato de que ele não tenha muito tato com as mulheres” ele completou, muito mais para si mesmo.

Gina resolveu ignorar as reclamações de Pansy e a insinuação sobre a falta de habilidade de Draco Malfoy com as mulheres. Ela tinha se interessado mais por outra coisa.

“Que tipo de interesses?” Ela perguntou, voltando a ter sua vivacidade usual.

“Políticos. Uma palavra bem colocada para o Diretor ali, uma insinuação feita aos Carrow ali... Na política e nas negociações tudo o que importa é ter as conexões certas.” Ele disse distraído.

Não pela primeira vez, Gina sentiu que Blaise era uma péssima companhia para alguém como ela. Manipulador, egoísta, egocêntrico, arrogante... Perigoso. Ela sabia que ele estava usando a ‘amizade’ deles como uma espécie de plano B, caso a coisa ficasse feia para o lado de Voldemort. Mas ela não pôde deixar de se perguntar se ele já não tinha garantias o suficiente de que nada aconteceria a ele se Voldemort caísse. Afinal, depois desses meses de convivência, Gina não podia levantar nada concreto contra ele e seria uma testemunha valiosa ao seu favor caso fosse necessário. Olhou para ele por uns instantes, pensativamente.

“As vezes eu me pergunto por que você se dá ao trabalho de procurar minha presença. Você já sabe que eu conseguiria para você a indulgência de Harry, e por conseqüência do mundo mágico, se fosse necessário.” Ela falou, com frieza na voz.

“Ora, aí está uma boa pergunta, que eu me faço com freqüência. Eu já sei que as sementes que plantei na sua boa alma grifinória darão frutos, se for necessário.” Ele falou, frisando a última frase. “Então, imagino que eu te procure simplesmente porque goste verdadeiramente de você.”

Ela arregalou absurdamente os olhos. Isso estava muito errado! Blaise Zabini, falando que gostava verdadeiramente de Gina Weasley! Daqui a pouco ele começaria a defender a convivência pacífica entre bruxos e trouxas.

Ele riu, adivinhando seus pensamentos “Ah, não. Você deveria parar de achar que o mundo se divide entre mocinhos e vilões e que não há nenhuma intersecção entre eles. E além do mais não crie falsas esperanças nesse coraçãozinho sobre a palavra ‘gostar’: você definitivamente não faz meu tipo, Ruiva.”

Gina abriu e fechou a boca algumas vezes antes de responder, indecisa entre ficar absurdamente com vergonha do fato de ter pensado que ele poderia ter algum interesse amoroso nela ou ficar com raiva por ele ter admitido abertamente ter usado a amizade deles para fins ‘políticos’.

Não fez nem uma coisa, nem outra. Optou por girar, dar um pulinho para descer da mureta e caminhar descalça em direção a porta.

“Vamos Blaise, está na hora de procurar saber sobre o Neville e ir para cama. O mundo bruxo pode acabar amanhã e não quero morrer pensando que passei minha última noite com você.” Ela falou, dando uma piscadela divertida para ele, que assentiu e a seguiu, insondável como sempre.

Ela só queria que aquele dia terminasse logo. Assim como todos os outros que viriam na seqüência. Disso, ela tinha certeza.

E principalmente, queria esquecer que uma vez pensara que poderia ajudar Draco Malfoy. Pessoas como ele simplesmente não tinham salvação.

Ou será que tinham? Involuntariamente, ela foi embora com esse pensamento na cabeça.


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