Counting Stars escrita por Petrova


Capítulo 2
Meu tio Jack


Notas iniciais do capítulo

Um capitulo e já tive favoritação, meu deus vocês são MARAVILHOSASSSSS
espero que continuem gostando da fic, os capitulos começaram a se movimentar
quarta feira posto novamente, as datas serão quarta e domingo
imaginem o nick como o Hayden Christensen, mas de cabelos mais escuros e olhos castanhos
http://weheartit.com/entry/gallery-ios
e como violet só encontrei a saoirse ronan
http://weheartit.com/entry/gallery-android

boa leituraaaa



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CAPITULO II - Meu Tio Jack

Após o fim do horário dos treinos no campo da escola, eu estava em casa. Estar aqui era da mesma proporcionalidade de querer estar em qualquer outro lugar, inclusive a escola, menos aqui.

Porque agora a escola era legal.

Havia Diana. Não era grande coisa, porque iriamos desfrutar de apenas uma aula juntas, as aulas práticas de biologia. E de acordo com meus informantes, e isso era apenas por causa de John, nós não faziamos parte da mesma dupla desde que eu havia me sentado com John desde de sempre. De todas as mesas vagas, Diana se sentaria ao lado do Ethan Harris, e ele não é... Interessante, pelo menos não deve ser para ela, suponho, então terei que fazer o trabalho sozinho, ou seja, pedir que John desista de ser meu parceiro em laboratório e se junte ao Ethan, a forma como ele vai fazer para conseguir eu não sei, mas como suspeito que ele só tenha complicações com contas e não com planos práticos cheio de artimanha, vai ser fácil para ele. Feito. E indiscutivelmente, como único sem parceiro na sala, Diana sentaria ao meu lado.

E qual o motivo para tudo isso? Er, boa pergunta.

Isso está começando a se tornar perseguição, mas ainda me sentia tentado a me aproximar dela. Estacionei o carro na garagem de casa e desfiz dos vestígios de cigarro jogando o restante no lixo perto da entrada e do jardim. Eu não fumava com frequência e não me lembro de quando definitivamente isso começou. Eu estava sentado com alguns amigos na arquibancada e algumas horas depois, eu já estava tomando um gole de cerveja e compartilhando o mesmo cigarro.

Não me envergonhava, mas ninguém, além de John, sabia que eu tinha esse hábito. Abri a porta e entrei no corredor iluminado pelos raios de sol que vinham da porta e das janelas. Pelo cheiro, Ellie estaria fazendo café na cozinha, por isso me aproximei.

Ela estava ocupada demais para me notar chegar de fininho, e certamente David estaria jogando video-game ou lendo suas revistas em quadrinhos. Então era apenas eu e ela. Ellie tinha as mãos ocupadas segurando uma jarra de água morna e a outra apoiada na pia. Acabei me perguntando o motivo de tudo estar assim, uma droga. Não era culpa da minha mãe. Não era culpa definitivamente do meu pai. Era minha.

Quando tinha sido o diálogo mais longo entre eu e Ellie que saísse das minhas atividades da escola e minhas advertências? O que de certo modo me fez perceber que todo esse tempo não havia nada de errado com Ellie, ou com meu pai, e muito menos com a separação em si, talvez os primeiros anos tenham sido dolorosamente seguidos na mesma mesmice que eu achei que deveria segui-los, mas com o tempo, tudo isso deveria ter sido enfrentado, mas de certa forma eu me deixei para trás, estático, parado e isolado de mim mesmo, o que me fez perceber que acabei me tornando uma pessoa amarga, sem vida, sem prosperidade, sem visão de futuro ou novos anseios, o que me fez parecer um quarentão, desempregado, com barba sem fazer, abandonado pela mulher e com um café frio ao lado da mesa perto do sofá, numa sala cheirando a mofo, com a TV ligada no jogo de futebol americano e um jornal do mês passado, e todo esse transtorno havia chegado antes mesmo dos meus vinte anos. E eu estava de certo modo regredindo, amargando tudo que eu via e tocava então com o tempo as pessoas não se tornaram amargas como eu, mas se submeteram ao meu modo de vida como se eu pudesse obrigá-las. E, de certo modo, eu havia feito isso.

– Ei, - Ellie teve seus olhos castanhos em cima de mim. – estava muito tempo aí?

Respondi negativamente com a cabeça.

– Está com fome? – ela sorriu, mas estava sendo cautelosa.

Bem, se fosse para culpar alguém, vamos começar comigo.

– Ahm, sim, um pouco. Cheguei do treino agora.

– Ah.

Ellie e eu nunca conversávamos do futebol.

– Bem, você não quer tomar um banho primeiro?

Eu tive que rir.

– Estou tão fedido assim?

Ela ergueu as sobrancelhas e riu.

– Não, sim, não sei, talvez o café não esteja me deixando saber. – ela enrugou a testa.

– Vou pensar nisso. Vai fazer panquecas?

– Sim, você quer? Com melado, que é seu favorito, eu posso fazer.

Eu fiz que sim com a cabeça. Essa conversa estava sendo mais longa do que todas nessas ultimas semanas.

– Como foi a escola? – Ellie me olhou sorridente, persuadido a dizer na esperança de que esse fosse um diálogo diferente.

Ter esperança, pelo menos!

– Bem, a mesma metódica rotina de aulas.

Eu ri para mim mesmo. Não metódica porque havia Diana e minha incansável certeza de que eu queria chegar nela.

– Ah, entendo.

Caminhei os dedos pelo balcão de madeira e pensei. Se eu quisesse que as coisas mudassem, eu tinha que ser verdadeiro e sincero.

– Bem, eu fui parar da diretoria de novo.

Houve um longo segundo para que ela começasse a surtar e esquecesse de seu café quase pronto.

– Na diretoria?

– Sim, ahm, na aula de matemática.

Seu rosto estava vermelho.

– Outra vez, Nick? – sua voz suou alta e repreensiva.

– Mãe, eu, desculpe.

Ela respirou fundo.

– Não me venha com desculpas, Nick, você sabe que eu tenho me esforçado para pedir uma chance ao Sr. Sykes, mas desse jeito, você está tornando tudo mais... Mais difícil.

– Eu sei, eu sei... – disse suavemente. – Por isso quero que me desculpe, me desculpe.

– Não é se desculpando que você vai resolver as coisas, Nick.

Se ela estava surtando com as minhas advertências da escola, imagina se ela soubesse que saio as noites para beber e fumar com meus amigos? Ou amigos que eu mal conheço?

– Eu não sei o que fazer com você, Nick.

– Ellie, eu posso explicar.

– Sim, como tentou no começo dessa semana? – disse-me perigosamente enraivada.

– Eu confesso que não estou me esforçando muito nessas ultimas semanas, e...

Anos, só para corrigir.

– Certo, anos, como queira. – não era a hora de provocá-la. – Mas desta vez é diferente, pode confiar em mim, Ellie.

– Nick... – ela prolongou meu nome.

Ellie não pareceu bem convencida, mas pelo menos ela saiu de sua posição de ataque e para aliviar o peso dos ombros, parecendo mais decidida e pela forma que tomou sua expressão, com certeza estava menos carregada e irritada, então seguiu até mim. Como Ellie era mais baixa do que eu, me fez entender melhor o porquê dos homens do posto acharem que ela é a minha irmã.

– Você não pode pedir minha confiança agora Nick, as coisas não andam muito bem para seu lado. – ela avisou, e eu sabia que estava certa.

– E eu sei sobre isso. – confie em mim, eu bem sei o quanto eu estava encrencado. – Mas não quer dizer que as apostas terminem por aqui, enfim. As coisas também não andam muito ao meu favor para que eu possa passar por cima e seguir em frente.

Ellie se manteve perto e longe ao mesmo tempo, o olhar sereno para mim, como se no fundo ela entendesse meus problemas. Ela é a minha mãe, não é?

– Você não acha que deveria parar um pouco de culpar a separação? Isso já faz um bom tempo Nick, e você sabe que não poderá viver com isso para sempre.

Quando ela disse, eu mudei rapidamente minha feição. Isso já era diferente. Eu não culpo, não diariamente, a separação dos meus pais.

– Não culpo, - eu digo. – mas não posso negar que ainda tenha algum tipo de influencia sobre mim.

Ellie assentiu comigo.

– Mas, Nick...

– Ellie, - eu a interrompi. – isso não é nem um pouco fácil para mim, quatro anos? O quê? Só isso?

– Nick...

– É fácil você dizer, tomaram essa decisão juntos, assim, dia após dia, mas e quanto a mim? Ou ao David? – ela não disse nada. - Não podíamos escolher, tudo aconteceu e e tivemos que nos acostumar a toda essa confusão, não importava o quanto isso nos ferisse, ver Charles indo embora foi horrível e nunca vou perdoá-lo por isso, mas quando eu digo que preciso que confie em mim, é porque pode ter a certeza de que vou passar por cima disso.

Nós ficamos em silêncio, olhando um para o outro, até que ela resolveu dizer:

– Não é isso Nick... – ela se interrompeu, melancolicamente. – As vezes acho que estou fazendo tudo errado, simplesmente virando as costas e deixando tudo isso passar, mas eu não quero, preciso te interromper, preciso te alertar que você está estragando sua vida, meu filho.

Ela tinha razão. Por isso eu a abraçei.

– Eu sinto muito Ellie, eu nunca quis te fazer infeliz.

Ela se afastou.

– Você não me faz infeliz, filho, eu só quero o melhor para você. – Ellie tocou meu rosto e sorriu.

– Se é sobre isso, prometo que o diretor nunca mais irá me ver, nem pelos corredores, vou evitar qualquer tipo de problema, prometo que nada disso vai se repetir, quer um castigo? Eu limpo a garagem, posso arrumar o quarto? Faço isso também, só não fique brava.

Ela riu, isso queria dizer que nosso relacionamento tinha voltado ao normal, pelo menos, ela não parecia mais zangada e nem com raiva de mim. Mas, de qualquer forma, Ellie realmente examinou minhas ideias, estava observando minha expressão também. Mas, pelo menos, a tensão da pós conversa sobre a separação tinha passado e era isso que eu queria, se nós dois tinhámos a intenção de seguir com nossas vidas sendo mãe e filho como deveria ser e não perseguir o tema separação, ignorar ele seria a melhor forma.

– Nada de quarto e nada de garagem. – ela decidiu e eu senti um enorme alívio por isso.

Eu a agradeci mentalmente, pronto para abrcá-la.

– Mas...

Fiquei estático.

Mas, o quê?

– Você vai aceitar o emprego que seu tio ofereceu. – disse-me em afirmação.

Parei, tudo parou. Maldita parte em que tudo para, para ferrar com a vida do Nick!

– O que, espera, o quê?

Ellie sorriu sem graça com meu tropeço, talvez se divertindo por eu ter subitamente influenciado-a a este assunto, claro, eu sou completamente estúpido por não perceber que ela havia ignorado rapidamente minha idéia de castigo. Ela estava pensando em outra coisa melhor.

– Nick, filho, - sua voz suavizou enquanto ela se aproximava de mim e segurava meus ombros. – você adorava ajudar seu pai e seu tio a montar carros, você era muito bem com isso.

Eu engoli secamente.

É o tipo de lembrança que deveria ficar presa, jogada, excluída, amarrada e outros termos a mais no fundo das memórias.

– Porque era legal voltar com o pai para casa e comer uma pratada de macarronada. Mas espera, ah, esqueci, vocês se separaram.

Ellie se magoou.

– Nick, por favor. – ela pediu segurando meu rosto.

– Mãe, me desculpe, mas esse é o tipo de trabalho que estou tentando evitar, entende? – sorri sem mostrar os dentes.

– Não percebe que o que você mais fez nesses últimos anos é evitar as coisas? Desistir? – ela me acusou.

– Isso é mentira.

– Você desistiu da sua bolsa em Nova Iorque, desistiu das suas notas na escola, dos seus cursos, Nick, você desistiu de muita coisa, - ela segurou meu rosto com suas mãos. – Nick, por favor, só não desista de passar um tempo com seu tio. Você sabe que o velho Jack não vai durar para sempre.

No primeiro momento me neguei a dizer alguma coisa. Mas eu entendi perfeitamente o seu recado. E pior do que isso, era que eu concordava com ela.

– Apenas, dessa vez, tente não ser o garoto problema.

Ellie estava certa, uma coisa era desistir de lembranças boas de um passado até então inexistente, outra era desistir de pessoas que não tinham culpa nessa história e eu sabia que além do mal que eu fazia à elas, eu estava me prejudicando também. Algumas medidas deveriam ser tomadas de agora em diante, se eu pude me acostumar a viver amargamente esses últimos dias, nada evitaria que eu pudesse, pelo menos por Ellie, mudar.

Quanto tempo eu ainda moraria aqui? Ou em Mountown? A maioria das pessoas da minha turma se mandariam para as cidades grandes, e talvez os melhores até fossem embora dos Estados Unidos. Quantas pessoas ficariam? Eu não sabia e pior do que a tortura de não saber, era a certeza de que eu não teria chance alguma de concertar meus erros com a minha família se eu continuasse a ignorá-los, a fazê-los sempre de culpados e de certa forma eles precisam de mim.

Desde que meu pai foi embora, Ellie não teve nada além dos problemas que eu causei, David era novo para sentir com a separação e Charles estava, sempre que podia, a nos visitar, em datas especiais pelo menos. Ele começou a evitar quando eu disse que o odiava e que preferia que ele nunca mais voltasse para Mountown. No fundo eu não disse com verdade, mas a mágoa era muito maior para que uma simples chama de consciência me fizesse lembrar o quão insensível eu tinha sido ao tratar meu pai daquela forma.

Talvez eles não se amassem mais. Quem era eu para falar de amor? Eu mal assisto em TV ou muito menos leio em livros, aqueles clássicos chatos que o professor de inglês nos pede, então o que me fazia ser um bom entendedor do assunto? Talvez as circunstâncias.

Eu sabia o que era estar apaixonado um tempo antes da separação. Eu via como parecia fácil e prazeroso a forma que Charles se interessava em deixar Ellie feliz, de nos deixar felizes, e isso poderia ser considerado uma forma de amor, certo? Bem, não tão certo. Eu não tenho certeza, mas depois do que houve, eu percebi que amor não é terno.

Amor é uma fase como uma faixa etária, grupos com a mesma idade se entendem melhor do que com grupos diferentes. E vale, de certo modo, quando nos referimos ao amor. Porque, como a idade, o amor muda, ou ele diminui com o tempo ou desaparece. Amor não é símbolo de eternidade, amor é símbolo de presente, o que você sente agora não é, necessariamente, o que você vai sentir amanhã. Por isso amor não é terno, não dura para sempre.

E se me perguntarem o que faz um casal viver anos juntos e morrerem juntos ainda sendo um casal feliz, isso se chama amizade. Amizade é diferente de amor, é o único ciclo sentimental que segura as pessoas de verdade, um grupo de amigos verdadeiros obviamente serão o mesmo grupo de amigos verdadeiros amanhã. E isso não muda. Amor, infelizmente, é um estágio, muda e quando muda, não há tempo, lugar, pessoa, palavra ou atitude que o faz voltar. Ele sempre está indo, indo para frente enquanto você fica para trás estático.

– Nick? – Ellie me chamou.

Depois de tomar café com ela e David, e algumas horas ouvindo musica no meu quarto e encarando o teto cinza, eu pude refletir sobre a proposta de Ellie. Como eu havia pensado, ela tinha razão, eu não podia simplesmente evitar. E de acordo com ela, nesses últimos anos eu aumentei a lista de coisas que comecei e abandonei. Mas desistir, abrir mão e esquecer uma pessoa é bem diferente do que não se esforçar na escola.

E, no meu caso, tio Jack nunca se tornou parte da separação dos meus pais, e eu nunca parei para pensar porque eu o estava evitando também. Talvez porque ele me lembrava meu pai?

– Estou no quarto. – avisei, enquanto me vestia com uma camisa preta, mangas dobradas até o alto dos meus ombros para depois cobrí-la com uma jaqueta negra.

Depois de minha resposta, Ellie bateu na porta e esperou meu sinal, quando entrou, ela se ajeitou na porta e se encostou, olhando-me andar de um lado ao outro no quarto a procura da minha mochila que de repente desapareceu nesse pequeno cômodo que era meu quarto.

– Ual. – ele disse. – Eu deveria mesmo ter pensando na possibilidade de você arrumar seu quarto, isso está um lixo.

Não estava mal, se dobrasse as roupas, colocasse as meias e as calças sujas no cesto, limpasse a mesa do computador, devolvesse os livros nas prateleiras, varresse embaixo da cama e retirasse os resíduos de comida, isso ficaria melhor do que a Casa Branca.

– Perdeu uma chance boa. – rebati.

Ellie cruzou os braços e examinou o lugar, fazendo uma cara feia.

– Se você limpasse da mesma forma que bagunça, sim, eu perdi uma boa chance. – ela zombou rindo de mim.

Quando ia respondê-la, eu encontrei a mochila. Ela estava coberta de roupas, cadernos e uma caixa de pizza vazia no canto do quarto.

– Então, agora eu estou pronto.

– Você avisou que ia? – Ellie se interessou.

Eu tinha pensado nessa opção, que talvez eu devesse avisá-lo e prepará-lo emocionalmente, mas eu não sabia como eu estava emocionalmente, não tinha a certeza que a coragem que eu sentia minutos antes de sair de casa ainda continuaria quando eu entrasse no carro e fosse até o Jack. Porque eu me importo em não decepcioná-lo, não queria enche-lo de expectativas para depois decepcioná-lo. E como Ellie havia dito, Jack não estava tão novo para isso.

– Ah, não, a omissão faz parte do pacote surpresa. – pisquei para ela.

Ellie se interessou.

– E o que tem mais no pacote?

Joguei a bolsa nas costas e a olhei.

– Eu.

Ellie riu sem pausas, era legal ouvi-la rir porque até uns dias atrás nem “bom dia” nós estávamos trocando. Eu desci os degraus com ansiedade e rapidez, ouvindo o chinelo de Ellie bater no piso enquanto me seguia.

– Não seja tímido, entendeu? – Ellie começou.

Eu não respondi, estava procurando as chaves do carro.

– Pergunta como ele está, como está a oficina e não seja direto.

Puxei as chaves para meu bolso e um pouco surpreso com Ellie.

– Direto? – eu me virei para ela.

Isso estava parecendo uma entrevista ou um acompanhante pago.

– Sim, do tipo “ei, tio Jack, estou aqui porque fiquei de castigo na escola, então Ellie me obrigou a vim”. – ela fez uma voz rouca e grave, quase me imitando perfeitamente.

– Mãe, - comecei. – não se fala mais castigo da escola. – pisquei antes de rir.

Ela estapeou meu ombro antes de me empurrar para a porta.

– Vou ignorar você ter me chamado de velha.

Eu ri de volta, saindo do alpendre e seguindo para a garagem.

– Sim, quando voltar, passe no mercado e me traga aqueles biscoitos, por favor. – ela gritou da porta.

E isso era mais uma ordem do que um favor, e eu não podia negar muita coisa já que eu estava devendo a ela, porque passar o tempo com o tio de Jack não é uma castigo, em consideração do que venho aprontando.

– Sim, senhora. – gritei de volta.

Uns dos presentes do meu pai, depois da separação, foi comprar um Pathfinder utilitário para Ellie, mas eu sabia que seu modelo de carro era, omitidamente, para mim. Charles sabia que fazia meses que eu falava sobre Pathfinder e ele resolver comprá-lo, no começo, eu pensei que ele tivesse me influenciando a alguma coisa.

Joguei minha mochila para o outro banco e me coloquei para dentro, para depois puxar as chaves do bolso.

Engatei a marcha e manobrei o carro para fora da garagem. A viajem até a oficina do meu tio não é longa, mas em Mountown os negócios ficam um pouco afastados de si. Como normalmente não temos muitos turistas e a cidade é mais uma passagem de carros para outras cidades, Jack achou melhor que sua oficina fosse uma das primeiras a serem vistas quando um carro passasse, então ela é bem distante do centro, e longe daquelas que seriam suas concorrentes.

Ellie acenou do alpendre antes de eu fazer a curva e ela desaparecer do meu campo de visão.

Bem, isso era algo novo.

Jack foi o único, da família do meu pai, que ficou em Mountown. Porque com o tempo, os Byron se mudaram daqui, uns para a capital e outros fora da Pensilvânia. Eu não os condenava por isso, porque uma vez ou outra eu penso em sair daqui, até tenho um mapa improvisado dos lugares que irei.

Dos Estados Unidos, Nova Iorque é o que mais me chama atenção. Não tem esse tipo de atração aqui por perto, e as cidades que rodeiam Mountown são como ela, poucos habitantes, bares pequenos, supermercados pequenos, nada de clubes de festas, nem prédios altos, nem hotéis e nem enormes centros comerciais. Mas nós temos cinema, porém raramente eu vou, porque eu não gosto de filmes – e subitamente essa frase grita “romance” ou “comédia romântica” – e como eu disse, sou quase um velho quarentão, assisto futebol americano, gosto de salgados e não doces, não tenho manias, prefiro cachorro a gato, ouço The Maine e prefiro o sol a lua. A noite não me agrada tanto, a não ser as estrelas, elas brilham de formas diferentes e umas sobrepõe as outras, elas são diversas, de formatos diferentes, de intensidades diferentes, elas são repletas de mutações constantes. Porque eu não gosto daquilo que é comum, constante, normal. Gosto do intenso, do que me consome, que me tira o sono e que me faz pensar, movimentar, agir. Aquilo que se transforma.

E esses são detalhes contado por um cara que é normal. Constante. Nada mais irônico do que isso.

Quando percebi, pareceu que o tempo tinha voado, evaporado, tão passageiro quanto um trem e eu já estava ali, carro estacionado, chaves na mão, a mochila pendurada no ombro e a fim de concertar meus erros.

Tio Jack estava distante, aquela cabeleira cinza dele brilhando a distancia, uma barba crescente e sua blusa marrom manchada de graxa. Além dele, havia mais quatros rapazes, entre vinte e trinta anos, não me recordo de nenhum, mas não me faria diferença, mas isso mudaria caso eu resolvesse seguir com a ideia de trabalhar numa oficina. Esperei um carro passar pela estrada para que eu pudesse atravessar e começar com meu plano.

Jack não me percebeu, estava atento nas peças do carro e no motor, enquanto de vez em quando ele gritava:

– De novo. – e o homem sentado no banco do carro apertava o acelerador e o ronco tomava todo o lugar.

No fundo eu senti falta disso, cheiro de queimado e fumaça, graxa esparramada, cheiro de ferro e ferrugem e por incrível que pareça, não me arrancou pedaço algum, muito pelo contrário, senti-me inteiro, meio tolo também, por me achar o único vulnerável dessa história.

Quando se é homem, esperam que as coisas passem mais rápido, o problema é quando a dor começa antes de você entender o real significado de ser homem. E quando você tem treze anos e sua figura magnífica é seu pai, as coisas pioram com o tempo.

Pulei uma porta arrancada e recomecei a andar.

Nos tempos que eu ajudava Jack, ele deixava alguns rapazes, nos seus dezessete anos, pegarem os carros velhos deixado na oficina e os levavam para depois de tanto mato, onde havia uma extensa área descoberta e eles corriam por aí, e ver aquela porta me lembrava de quando meu pai colocava um chapéu de basebol na minha cabeça, me pendurava numa árvore e ele por perto para podermos ver nitidamente eles correndo. E era hilário, a poeira se erguendo, as gritarias e até as batidas, foi um bom tempo.

– Ei, espere, Nick? – a figura de um Jack suado, protegendo-se do sol e tampando metade do rosto se formou quando me aproximei.

– E aí, tio? – eu sorri de volta, um pouco constrangido, me sentindo o culpado, vilão.

Um idiota para ser exato.

Jack se esquivou da tampa do carro e de um homem agachado perto da pneu para se aproximar de mim e me dar aquele abraço que parece mais uma batida de mão na suas costas do que realmente um abraço. Aquele que se usa quando você ta engasgado.

Mas eu gosto desses abraços.

– Quanto tempo, rapaz. – Jack segurou meus ombros e sorriu tão largo do que se podia caber num rosto. – Você ta enorme!

– Pois é.

Nossa, que constrangimento, Ellie não pergunta a altura que eu estou medindo.

– E o que te trouxe aqui? – ele perguntou esquivando-se do silêncio.

Uma pausa apreensiva para pensar. O que Ellie tinha dito mesmo?

– Advertência da escola. – eu disse dando de ombros e Jack riu.

Ele passou um braço pelos meus ombros na tentativa de me fazer segui-lo enquanto andávamos.

– O que você anda aprontando na escola, garoto? – Jack perguntou animado, sorrindo como se tivesse ganhado na loteria.

– Ah, uma advertência aqui e outra ali. Meros detalhes, você sabe, tipo de situação que o senhor deve ter passado muito. – pisquei para ele.

– Er, na sua idade, Jesus, fiz muita maldade, sua avó, pelas barbas do profeta, os cabelos brancos dela que vieram mais cedo não foi por qualquer motivo não. – disse no seu velho sotaque sulista.

Eu tive que rir, tinha até me esquecido o quanto era divertido ouvir o sotaque do velho Jack.

A oficina por dentro não é diferente do que é por fora. Suja, cheia de peças, partes de carros velhos, tratores e caminhões, uma saída nos fundos para um terreno descoberto de vegetação e algumas ruínas de carros bem velhos.

Do lado direito havia a sala fechada de Jack, limpa, fria, organizada e com uma janela de vidro onde se podia ver tudo por dentro e nada por fora. Jack me levou diretamente para lá. Ele se sentou na cadeira e ofereceu uma para mim, tirou alguns papéis da mesa de ferro, pegou uma tigela de bombons caros e me ofereceu.

– Não, obrigado. – neguei me aconchegando na cadeira.

Jack sorriu de volta e devolveu a tigela.

– Como está sua mãe? – ele perguntou sem demorar muito.

– Ellie está... Normal.

– Faz um bom tempo que não a vejo. E o pequeno David? Já está na escola? – a sua animação me fez ver o tempo que perdi e a dor que devo ter lhe causado.

– David está ótimo, parece uma máquina de comer ambulante. – apoiei meu braço na cadeira e me estiquei nela. – E ele está no sexto ano agora, está bem também.

– Yeah! – ele concordou. Jack me lembrava muito Charles, os olhos escuro, o cabelo branco e o tipo físico, alto e troncudo. – E me fale de você, como está indo?

Essa era uma pergunta difícil, normalmente eu consigo detalhar bem as pessoas, mas quando é sobre mim, eu sempre tenho duvidas, se é isso que estou pensando, se é isso que estou querendo.

– Eu estou bem.

Jack assentiu com a minha curta resposta.

– Foi muito bom vê-lo por aqui, achei que levaria muito mais tempo para você voltar. – disse-me com sentimentalismo.

– Eu sei que demorei

– Quando seu pai foi embora, achei que de alguma forma nós pudéssemos nos aproximar depois disso. – Jack contou me espreitando com os olhos.

Essa era um tipo de resposta que eu não sabia como reagir. Por que eu também achava? Claro que não, quando tudo aconteceu, lembro-me de passar cada minuto do meu dia odiando minha vida, odiando Ellie e Charles em vez de pensar que isso pudesse afetar o tio Jack.

– Eu sei que errei muito, tio, levei muito tempo para perceber isso, mas estou mudando, acho que se eu me der essa chance, tudo pode voltar a ser como antes.

Jack não discordou.


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Notas finais do capítulo

o que acharam?