Counting Stars escrita por Petrova


Capítulo 1
Diana Grey


Notas iniciais do capítulo

GENTE MUDEI UMA COISAS, DESCULPEM A DEMORA



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CAPITULO I - Diana Grey

É possível que de certo modo você esteja em um lugar e ao mesmo tempo não? Bem se isso é possível ou não, eu estava fazendo isso neste exato momento.

Terceiro ano do ensino médio. Tem como ser mais animador do que isso? Melhor ainda, tem como ser mais animador do que assistir cálculo na primeira aula? Ou melhor, ter que aguentar os longos minutos restantes passarem com tortura? Eu acho que não.

Pensando bem, até há algo pior que tudo isso.

A Martha Pierce na minha frente. Não é nada contra, claro, mas ela passa metade da aula com um espelho erguido numa mão e com a outra manuseando uma pinça, e isso não é nem o pior, ela tem essa mania de, freneticamente e frequentimente, jogar seu cabelo para trás a cada oito segundos, e de vez em quando golpeando minha cara.

Martha faz o estilo de garota que se sair de casa sem maquiagem fica completamente irreconhecível. A garota tem cílios grandes, de acordo com John, são cílios postiços.

Eu não sei como ele sabe disso, talvez porque ele convive com três mulheres em sua casa. Sua mãe e suas duas irmãs mais novas, Kristen e Faye. John é um cara divertido, maior piadista da turma, ou faz parte do grupo de maiores piadistas da turma. Nós nos conhecemos desde o jardim de infância quando nossa professora nos fez sentar juntos quando, acidentalmente, começamos uma guerra de comida. Belo começo de amizade!

Desde então e eu John somos melhores amigos, conhecemos um ao outro como nós mesmo, mas quem nessa cidade não conhece a vida de cada um? As pessoas moram aqui desde que seus tatara avós resolveram procurar um lugar melhor – entre aspas – e nunca saíram daqui. A parte ruim de morar em Mountown, é que ninguém sai daqui antes da faculdade, ou seja, todo mundo conhece todo mundo. Isso é notório quando nem os professores levam mais aquelas fichas dos alunos, e isso faz quase cinco anos. Longo tempo, por sinal.

Caras como eu e John, fazem parte do time de futebol, mesmo que não sejamos os melhores, mas, ainda sim, podemos no considerar bons. Particularmente minha vida nesses últimos anos foi voltada para o futebol desde que meus pais se separaram. Os primeiros anos foram terríveis, não lembro mais como é pegar e ler um livro de física ou história, as minhas antigas matérias favoritas. E de acordo com meu psicólogo, "a falta de interesse é comum nesses casos".

Eu não sei o que há de errado comigo, a minha vida se tornou um caso.

Ou melhor, minha vida se tornou um caso comum, onde é normal serem como eu – entre aspas: de acordo com meu orientador -. Eu tive que enfrentar um psicólogo por quase um ano quando minha mãe descobriu que eu estava fingindo ir para escola enquanto eu ia para qualquer outro lugar longe o bastante de casa. Esse era o ruim da separação, eu não sabia o que era mais ser diferente, ou o que era ser eu mesmo, parecia que até os meus dozes anos as lembranças se tornaram um borrão incompreensível. Então não havia maneiras de superar uma vida mediocre dessa, já agora eu não tinha que provar nada a ninguém, não tinha a obrigação de tirar notas boas ou ser um garoto exemplar, parecia ser meu novo destino. Então decidi que se era esse meu caminho, então eu iria seguir com vontade.

Para quase meio de conversa, meu nome é Nicolas, ou melhor, Nick. E meu melhor amigo se chama John. Não literalmente John, ninguém muito esperto sabe, mas seu verdadeiro nome é Peter Ray John Clewart. E é nessas horas que eu entendo o porquê dele ter encurtado seu nome.

John é bom em futebol, não melhor do que eu, mas nos esforçamos muito para sermos os titulares do time e isso leva tempo quando metade do grupo masculino da escola anseia nossos mesmos desejos. Quem não quer usar aquelas jaquetas do time com a cor da escola? Bem, não é necessariamente pela jaqueta, mas a maioria acha que é melhor para entrar na faculdade. Como eu desisti de ser o aluno exemplar, eu, agora, fazia parte dessa nova cadeia de pessoas preocupadas com seus futuros com o futebol. Não importa, no fundo não importa toda essa glória quando se faz um gol ou quando a torcida grita seu nome antes mesmo de todos entrarem em campo, no meu caso, futebol é a distração crucial que me faz ficar mais tempo fora de casa.

Depois da separação, eu e minha mãe não temos nenhuma conversa que se caracterize como um diálogo. Eu sei o quanto ela quer que isso mude e o tanto que eu quero que isso mude também, mas há sempre um muro invisível que nos impede de dizer o que sentimentos em dizer. É desesperador! Mas de vez em quando sai algumas palavras, pequenas, porém que muda nosso estágio de: eu não sei o que dizer; para: pelo menos me diz como está a escola?

E isso faz muito tempo. Quatro anos, para ser exato. Não me lembro de um Natal razoavelmente bom depois da separação, não lembro quando foi a ultima vez que meus pais se viram ou eu ter visto meu pai, parece um bolo de sensações estranhas e intensas. E isso, com o tempo, acaba ficando pior, eu imaginei que o tempo pudesse me ajudar aos poucos, suavizar, esquecer e seguir em frente.

O mal desse caso é seguir em frente. Como seguir em frente?

– Nick? – alguém muito furioso chamou meu nome.

Levantei os olhos repentinamente achando que tinha sido John do outro lado da sala apenas para me irritar como de costume, mas para minha triste depressão interior, era o Sr. Garrett.

– Hã, o quê?

Recebi todos os olhares da sala.

O Sr. Garrett mudou o peso do corpo para ganhar uma expressão carrancuda e irritada. É o nosso professor de matemática. Ele não é diferente dos outros que tivemos, tem umas figuras estranhas estampando sua roupa, mas é divertido e ao mesmo tempo enjoativo. Ele tem o cabelo nem escuro e nem claro, é avermelhado por causa do sol, é espesso e encaracolado, cai um pouco no rosto, o que me deixa levemente incomodado.

Sr. Garrett também tem uma barba sem fazer, parece que não dorme há dias, e ultimamente corre pelos corredores que é por causa de sua mulher, dizem que é muito bonita e que foi vista atrás de um parque de diversão com o encantador de Leões, sabe lá fazendo o quê. Você sabe que eu sei que você sabe sobre o que estou querendo dizer.

E mesmo que eu não dê muito mole para as fofocas que saem dos corredores da escola seria engraçado ver o Sr. Garrett discutindo com um homem enorme, suado e barbudo daqueles por flertar com a sua mulher.

– Perguntei, Sr. Byron, se você sabe a resposta da equação acima. – ele apontou diretamente para o quadro cheio de letras misturadas com números.

Isso tinha um nome, claro, por que me fugia da memória?

Se ele me perguntasse alguns minutos atrás eu me lembraria. Antes de entrar nessa inércia, consegui responder metade de suas questões, mas repentinamente me desconcentrei, acho que foi as gotas da chuva varrendo as janelas enormes, mas de qualquer forma, meu cérebro pareceu perder a noção do tempo em que eu me encontrava, tornando-me cada vez mais distante daquele lugar.

O que era mesmo aquelas letrinhas? Ah, incógnitas. E as incógnitas são comuns em que tipo de equação, mesmo?

– Eu ainda estou esperando a resposta, rapaz.

– E eu saberia a resposta se me deixasse pensar ao invés de abrir a boca. - eu disse em alto e bom som, para segundos depois me dar conta do que eu havia dito, para quem e o tom que eu havia usado.

Eu estava amplamente encrencado.

– Droga! – murmurei.

A sala inteira engoliu a irritação do Sr. Garrett numa risada, antes da mesma ser interrompida pelo grito furioso dele para mim.

– Silêncio. Silêncio!

Ele quase explodiu meus tímpanos!

– O que você disse? – ele perguntou, vermelho.

– Ah, Sr. Garret eu realmente sint...

– Não sinta. Na verdade, nem se preocupe. – me interrompeu. – Guarde suas explicações para o diretor. Vamos! – ele apontou para a porta.

Mais uma advertência e me expulsam de vez!

– Sr. Garrett... – suspirei seu nome. – Eu sinto muito, muito mesmo, eu estava mesmo pensando em responder a equa...

– Para a diretoria agora, Sr. Byron. Isso é uma ordem. – ele gritou sem pestanejar.

– Mas Sr. Garrett...

– Agora, Nick.

Parei e desisti.

Eu o olhei entediado, isso não era para tanto, ele sabia que havia me interrompido de pensar. Se eu tivesse concluído meu rumo de raciocínio certamente nada disso teria acontecido.

Levantei sem muita vontade, recebendo o olhar encorajado de John para mim, porém seu interior certamente estaria se engasgando em risadas zombeteiras da minha situação chata com Garrett. Ele não devia se preocupar, porque se não fosse expulso de sala pelo Sr. Garrett, próxima aula de física ele estaria fora, todos sabemos que o Sr. Graham não possui nem um pouco de apreço por ele.

John já namorou a filha do nosso professor de física, é quase que uma rixa.

Empurrei a porta e me atirei para fora, esperando que o Sr. Garrett me acompanhasse logo em seguida, mas certamente estaria palestrando sobre os limites que os alunos dessa escola não conhecem, dando um sermão subitamente gritando como destinatário o meu nome. Eu ri para mim mesmo imaginando sua voz fina e tremula, porque o Sr. Garrett quando fica furioso possui um pequeno problema com suas cordas vocais, ela afina rapidamente, o segundo sinal é suas mãos tremulas e seu desajeito com as palavras ou em se movimentar e o último sinal é o quanto ele transpira.

Eu ri tão alto que garotas em bando que saíam do banheiro feminino olharam para mim com espanto. Eu reconheço todas, dois anos mais novas e sempre que podem estão atrás de algum jogador do time de futebol. Patéticas, porém muito bonitas.

Segui para a sala do diretor e esperei, ao lado da Sra. Madison, a chegada do meu professor.

– É a terceira vez só nessa semana, Nick.

– Semana ruim? – ergui a sobrancelha ingenuamente.

Sra. Madison tem por volta de quarenta e cinquenta anos, cabelos lentamente esbranquiçado, olhos azuis gastos com o tempo e óculos um pouco abaixo do dorso no seu nariz.

Ela sorriu divertida para mim antes de dar uma tapinha na minha cabeça e arrancar meu boné.

– Bonés são proibidos, garoto. – ela o retirou sem pressa e o colocou em cima da mesa na qual eu me sentava ao redor.

Não me preocupei, com ou sem boné eu ainda receberia uma suspensão do diretor.

Náufrago na cadeira e sem muito para pensar, passei a observar os pequenos detalhes da sala da secretaria. Móveis já gastos, milhares de papéis pregados numa extensa lousa marcando horários, nomes, aniversários, reuniões e outros detalhes importantes. Observando mais profundamente, atrás do balcão do outro lado da sala, se encontrava três mulheres, não muito mais novas do que Sra. Madison, mas completamente imersas no seu trabalho. Papéis espalhados no balcão marrom desgastado, atrás havia uma prateleira com caixas, fichas, arquivos, objetos, velharia, acessórios para decoração e livros diversos. A única ventilação da sala era um ventilador de teto, e além de toda essa arrumação da secretária, em seguida havia a sala do diretor.

A sala do diretor parece o paraíso em comparação com o resto da escola. Além do ar condicionado, o mais notório, havia água bem tratada e plantas – vivas – espalhadas pelo cômodo fazendo aquele cheiro limpo e puro pairar pelo ar.

–... é só descuidar um pouco e eles fazem isso. – o Sr. Garrett entrou empurrando a porta ferozmente e falando alto, chamando a atenção de todos na sala, inclusive a minha, que quando vi de quem se tratava, desviei rapidamente sem interesse.

– Se acalme Garrett.

– Eles são incontroláveis e indisciplinados. – seu olhar rapidamente se apoderou do meu e o segurou com intenção.

– É comum na idade deles, Garrett. – a Sra. Madison disse.

Comum... – ele riu sarcasticamente. – Talvez seja. – e depois olhou de má vontade para mim.

Ele não precisava fazer tanto esforço para mostrar que me odiava. Isso não era novidade para ninguém, então não era necessário toda essa dramatização.

A Sra. Medison deve ter percebido.

– Então, melhor irem, o diretor já está esperando por vocês.

Sra. Madison completou sem demora, levando Sr. Garrett para a entrada e esperando que minha boa educação me fizesse levantar com mais rapidez e deslocar na sua direção.

Quando a porta se abriu, o ar gélido varreu toda minha feição preguiçosa, como eu disse, a sala do diretor parecia o paraíso.

Sr. Garrett não se sentou, nem mesmo com o pedido do diretor Brandon ou mesmo com o pedido da Sra. Madison que se retirou quando sabia que a conversa seria longa, por parte do Sr. Garrett pelo menos, porque nem eu e nem o diretor estávamos muito animado com toda essa situação desnecessária. Brandon sabe que nenhum aluno é obrigado a assistir a aula e se tivesse visto-nos discutir, daria-me toda a razão.

– Bem, qual é o problema aqui, professor? – Brandon apoiou os cotovelos na sua organizada e rústica mesa de madeira e olhou furtivamente para Garrett, o irritado, em pé ao meu lado.

O tempo parou exatamente às nove horas e sete minutos, sem tirar e nem por, parecia predestinação. Ah, vou parar a essa hora exatamente quando o Nick está sendo amplamente insultado pelo seu professor.

O Sr. Garrett berrou sem esforço alguns dos meus maiores defeitos, não sei de onde ele havia tirado tantos dejetos para me qualificar, ou melhor, desqualificar. Eu fiquei estático, parado, naufrago na cadeira com estofado macio olhando os objetos ilustrados na mesa do Sr. Sykes.

E havia realmente muita coisa na sua mesa.

Você podia avistar uma águia, uma bola de cristal falsa, uma tigela de vidro cheia de bombons baratos na superfície camuflando os caros na profundidade, o que me fez entender a falta de ventilação nas salas, o dinheiro mal investido, não por causa dos bombons, mas sim na sala inteira do diretor.

Eu ri sarcasticamente para mim mesmo, até começando a esquecer a voz alta do Sr. Garrett. Observando um pouco mais, além dos papéis organizados e os objetos estranhos do diretor Brandon, não se podia esquecer ou passar despercebido a minúscula placa chamativa, brilhante tanto quanto o verão escaldante em Mountown, com o nome do diretor estampado rusticamente em tom preto no fundo dourado, não mais chamativo do que isso, claro.

Todo esse lugar era uma gozação, pior do que a mesa, eram os retratos – milhares deles – estampados nas paredes, mal se podia perceber que ela é em tom alaranjado parecendo com a tonalidade do por do sol no norte da Pensilvânia. Havia fotos do diretor de paletó e gravata, meios sorrisos e cabelo cheio de gel, tão brilhante quanto a placa com seu nome, ao lado delas, haviam currículos estampados em quadros como de formaturas, prêmios e detalhes à parte que certamente ele deve se vangloriar quando um pai ou uma mãe resolve aparecer na escola. Isso é mais engraçado do que TV à cabo.

– O senhor está prestando atenção?

Pulei na cadeira assustado, percebendo que o Sr. Garrett estava chamando minha atenção com aqueles olhos castanhos esbugalhados para mim.

Céus, esse homem precisa de um psicólogo urgente.

– O que disse?

– É disso que eu estou falando, entra por um ouvido e sai pelo o outro. – Garrett bateu a mão na mesa assustando não apenas o diretor, que observava com espanto nós dois, mas como também alguém atrás de nós, porque me recordo de ouvir um suspiro assustado.

Brandon se ergueu rapidamente tomando uma posição confortável e simpática, nada parecida com seu olhar entediado para mim e para o professor de matemática.

O que tinha de tão interessante lá trás?

Virei-me para trás para enxergar quatro siluetas femininas: uma mulher bonita, mesmo pairando nos seus trinta cinco e quarenta anos, mais duas jovens, uma de cabelo castanho escuro e outra com longo cabelo loiro trançado para o lado deixando uma mecha cair na sua testa. E a ultima silueta era a Sra. Madison com um sorriso falso no rosto sem saber como reagir. Do tipo que preferia varrer a cantina a estar nesse momento cuidando do transtorno que é Nick Byron, eu, e o professor Garrett, o irritado do meu lado.

– Diretor Sykes, esta é Lilian Grey e suas filhas.

Reparei que a Sra. Madison ergueu a sobrancelha num gesto diferente, como se o diretor devesse atendê-las mais precisamente do que a mim e meu amigo transtornado.

– Ah, sim, Sra. Grey, claro, bem, entrem. – ele sorriu todo envergonhado com a situação enquanto eu me divertia.

Bem, “entrem”? Elas estavam mais do que dentro. Elas haviam acabado de evitar um sermão e uma uma suspensão para mim. Eu já as agradecia.

Eu fiquei estático na minha cadeira observando as três se afastarem para o canto, a do cabelo castanho numa animação completamente estranha, e a de cabelo loiro com sobrancelhas arqueadas se afastando para o canto da sala perto da janela meio aberta, o que deixou aparecer perfeitamente um traço que eu não percebera, ela tinha olhos verdes, porém mesclado com mel ou castanho claro. Isso me fascinou. Ela não estava feliz, ou não muito. O que isso queria dizer? Havia sido obrigada a se transferir para essa escola?

Eu não a julgaria muito, ninguém são se mudaria para cá, sabe, estamos falando de Mountown, nós nem podemos chamar de cidade, para ser exato, a maioria das pessoas aqui moram desde que seus avôs vieram parar aqui, isso quer dizer, por que ela queria vir para cá?

Ela é tão fascinante!

Olhando para sua mãe e pela sua roupa, ela certamente tinha sido transferida do seu outro trabalho para cá, algo com escritório, checando papéis ou dando ordens à funcionários.

Então, eu estava indo bem nas suspeitas.

– Ahm, Sra.Grey, desculpe a bagunça. – ele nos olhou e depois para ela. - Eu estava resolvendo um... Assunto com Sr. Garrett. – cujo rapidamente se endireitou e estendeu a mão para a Sra. Grey.

Interessante como nosso “problema” havia rapidamente se transformado numa palavra mais educativa, “assunto”.

– Sou o professor de matemática. – Garrett estufou o peito e disse como se não tivesse acabado de me insultar metodicamente e suar feito um porco.

– Ah, claro.

Garrett voltou um pouco para trás e me deixou ver o seu sorriso... Animador!

Houve um silêncio horrível dentro da sala. Mas eu gostei. Eu já disse que a garota de trança é completamente atraente?

– Hmf. – o diretor pigarreou.

Todos nós o olhamos.

– Ahm, Sr. Garret, pode nos dar licença só por alguns instantes? Quero dizer, preciso resolver a transferências das Srtas. Grey rapidamente. – a educação e simpatia na voz do diretor eram propositais e isso me deixou enojado.

Mas engraçado, tão engraçado que deixei minha risada sair, mesmo que baixinha.

Todos olharam para mim, como se a garota de cabelo castanho não tivesse me encarado desde o momento em que pisou nessa sala. Eu podia sentir sua animação longe, seu sorriso tão largo quanto se pode caber num rosto.

– Bem, - Garrett segurou meu olhar desta vez irritado. – eu e o Sr. Byron podemos esperar na secretaria, mas tenho que continuar a aula, melhor eu voltar mais tarde. – e sua feição mudou novamente quando ele olhou para a senhora Grey.

Aquele sorriso é um pouco malicioso para meu gosto.

Essa troca de olhares me deu náuseas.

– Tudo bem, nos resolvemos depois. – Brandon piscou educadamente para nós dois, o que queria dizer que era essa a minha deixa.

Antes que eu me levantasse, eu ainda observei a garota de trança, ela estava mais longe ainda, longe não desta sala, mas em pensamentos. Eu queria saber o que ela estava pensando. Então nossos olhos se encontraram e ela ruborizou, depois virou o rosto.

Esta era a minha deixa.

A diversão já havia acabado há muito tempo e certamente eu ficaria uns bons minutos sem fazer nada na secretaria enquanto o Sr. Garrett continuava a ensinar na minha sala e se decidia que horas voltar para descutir o meu “caso”. Viu? Sou de novo um caso comum.

O Sr. Garrett fechou a porta atrás de nós e o vento gélido sumiu da mesma forma como a realidade voltara.

Ruídos dos teclados, da impressora, das vozes vindo dos corredores e das vozes daqui de dentro. O Sr. Garrett nem fez questão de dizer algo para mim, nenhuma indireta ou outro xingamento, ele puxou seu livro grosso da mesa e seguiu rumo para a sala, enquanto meu tempo pela secretaria estenderia.

Procurei uma cadeira perto do bebedouro, caso eu tivesse sede de não fazer nada e não precisasse me levantar depois de não fazer nada.

Sra. Madison estava ao telefone, falando docemente com algum pai de aluno ou admirador secreto, porque a cada oito segundos ela sorria como se vivesse de um sorriso. Eu fiquei observando-a nos primeiros minutos, interessante como tudo ali dependia dela, se houvesse votação para diretor da escola, eu certamente votaria nela. Sra. Madison nunca me insultou - ou isso nunca tinha chegado aos meus ouvidos -, o que a tornava parte da minoria, mas mesmo assim quando me repreendia, era como se fosse a minha mãe.

Ellie nunca foi de palavrões também, o único palavrão que eu a ouvi deixar escapar, e em muito tempo, havia sido “Que merda é essa?”. Bom, não era bem considerado o maior dos palavrões, mas foi o melhor que ela fez.

Como a Sra. Madison, Ellie também tem a idade por volta dos quarenta anos, mas ela não parece velha, uma vez ou outra, o atendente do posto me pergunta se ela é minha irmã, mas na maioria das vezes eu sei que ele sabe de quem se trata e é apenas um flerte. Ela tem o cabelo castanho escuro e olhos claros, uma tonalidade parecida com mel também. Ela é mais baixa do que eu e tem ombros pequenos, um nariz reto e bochechas grandes já marcadas com rubor. Os olhos de mel de Ellie, de alguma forma, me fez lembrar a garota do outro lado da parede.

Corri meus olhos pela porta e verifiquei as janelas da sala do diretor, todas, infelizmente, estavam cobertas por uma espessa cortina, porém uma vez ou outra, o vento que vinha da janela do outro lado da sala, deixava transparecer uma brecha diretamente em cima, não na garota de cabelo loiro, mas na sua possível irmã. Ela falava freneticamente com um sorriso encorajado para o diretor, enquanto sua irmã, ainda com as sobrancelhas arqueadas, estava em pé ao seu lado, porque havia apenas dois assentos. Então, certamente, ela deveria ser o tipo de garota que dava a chance para os outros. Uma pessoa educada ou boa? Isso eu não podia suspeitar.

A menina endireitou seu corpo em forma reta e balançou o pescoço lentamente para um lado e para outro, aparentemente cansada, então não deve ter dormido bem. Claro, ela deveria ser nova na cidade, resolver vir logo para Mountown é uma decisão quase estúpida, mas de onde elas tenham vindo, parecia ter sido uma longa viajem. Ela deixou escapar um sorriso rápido, dentes brancos para se perceber em segundos, o que me deixou satisfeito por perceber que quando ela sorrir aparece covinhas na sua bochecha levemente redondas na superioridade.

De lado, seu nariz parece completamente simétrico, mas depois de uma virada para sua mãe, percebi que ele não era totalmente simétrico e afilado, mas a tornava ainda indiscutivelmente lindo. Seus lábios são pequenos, cheios em baixo e suaves na parte superior. O queixo é levemente arredondado, tão delicado quanto todo o conjunto, e um pouco abaixo, no pescoço, ela veste uma gargantilha de ouro com algum nome que não fui capaz de ver, para tempo depois a cortina se fechar com a falta de circulação de vento da sala e a intrometida garota de cabelo castanho dificultar minha visão de sua irmã.

Isso me deixou desapontado, o que eu faria nos últimos minutos? Pelo menos havia algo interessante em fazer suposições das novas alunas, porque eu não as conhecia e fazia delas um objeto raro, um novo artefato cheio de segredos, obscuridade ou não para se descobrir.

Sendo que a garota de tranças parecia mais importante do que toda essa tediante história de escola.

Sra. Madison apareceu ao meu lado, não para me repreender, mas para pegar um copo com água e depois voltar para trás do seu balcão, segundos depois para eu conseguir ver a silhueta que ela escondia quando estava na minha frente. A menina da gargantilha apareceu, sem a bolsa agora, e não havia ninguém a seguindo. Ela examinou o lugar e a primeira pessoa que viu tinha sido a Sra. Madison. A distância da porta para onde eu estava não era grande, mas a garota estava coma a porta entreaberta impedido de me ver ou ao bebedouro, o que foi exatamente o que ela perguntou.

– Acabou a água. – ela se explicou suavemente apontando o dedo para a sala do diretor e ainda com os olhos em cima da Sra. Madison.

Cuja não demorou a apontar o dedo na minha direção, mas, mais respectivamente para o bebedouro ao meu lado.

A garota viu, sorriu para a Sra. Madison como gratidão e andou na minha direção. Não na minha, mas a do bebedouro, claro. Ela andou serena para onde eu estava pelo menos seu rosto parecia tranquilo, mas observando o desajeito do seu caminho até o bebedouro queria dizer que ela estava nervosa. Nervosa por causa de mim? Por que sou um garoto? Ou necessariamente por o garoto ser eu? Mas ela não me conhecia, na verdade.

Eu sorri espontaneamente com a sua chegada.

Ergui um pouco meu olhar para ela que havia virado espontaneamente o rosto para o lado enquanto esperava a água encher o copo, então percebi o nome na sua gargantilha.

Diana!

– O quê?

Espantei-me com sua voz de perto, era mais bonita que eu imaginava.

Eu tinha falado seu nome tão alto assim?

– Ah, me desculpe, - eu disse, em seguida. - eu estava apenas lendo sua gargantilha. – eu expliquei com inicio de nervorsismo.

Estou nervoso? Já?

Ela concordou surpresa com seu olhar de mel baixo para mim.

Na falta de iluminação, o brilho dos seus olhos diminuiu e a cor escureceu, contudo, não perdeu o brilho. Os meus, que são castanho-escuros não tem essa de brilhar no claro ou no estrelado e muito menos no escuro, é sempre o mesmo tom.

Isso me deixa novamente normal.

– Então, você é a garota nova? – perguntei ansioso por respostas.

Diana se demorou em responder.

– Eu e minha irmã Sarah. – ela respondeu apontando para trás, como havia feito minutos antes com a Sra. Madison.

Isso era... Bonitinho. Yeah, muito bonito.

– Er, legal. – eu disse animadamente para ela, mas claro, apenas eu sabia que eu estava animado e, para ela, eu dei apenas um sorriso de cortesia. – Então seja bem vinda.

Ela sorriu e depois desviou seu olhar. Envergonhada? Hmm, interessante.

– Obrigada. – decidiu quando levou o copo para os lábios e bebeu a água, virando de vez em quando o rosto para o lado oposto ao meu sem me encarar.

Isso era algum aviso de tédio? Impaciência?

Não era do meu feitio observar as pessoas com precisão e muito interesse, na maioria das vezes eu sou bom, muito bom. Tenho um rápido poder em absorção de detalhes, como nomes, vozes e cheiros e Diana tem seus detalhes meramente absorvidos por mim. Diana, como possui um cabelo loiro, ela parece de longe o nascer do sol de tão brilhante, o cheiro dela é fresco e me lembra luar, aquele céu estrelado a noite e o cheiro puro e limpo pairando. Além disso, os olhos de Diana, que carregam um brilho diferenciado, me lembram estrelas, mas de certo modo, não parece rasos, na verdade, eles são profundos. Ou seja, cheios de segredos.

Dianadevolveu o copo vazio logo em seguida para o cesto de lixo, dando uma ultima olhada para o bebedouro, como se tivesse perdido algo nele. O estranho era que eu ainda não estava pronto para deixá-la ir.

Pergunte-me o por quê, que eu não direi mais do que um “não sei”.

– Ei, não, copos não são descartáveis. – eu disse de repente. Por que eu disse isso?

Diana se assustou com a minha voz.

– O quê? Não?

Ela olhou furtivamente para o lixo, um pouco desesperada e envergonhada enquanto tentava se lembrar qual dos copos era o seu. Eu teria rido, se ela não tivesse ficado tão confusa.

– Droga! – ela murmurou, estava prestes a enfiar a mão no saco de lixo.

– Ei, Diana, espere, não. – eu segurei sua mão. – Eu estava brincando, desculpe, pensei que não levaria a sério. – eu disse, um pouco envergonhado.

Ela me olhou com irritação. Mas, nossa, é tão bonito ver seu arquear de sobrancelhas e a decepção de ruga nenhuma aparecer em sua testa.

– Não é divertido fazer essas coisas, e... – ela se pausou cruzando os braços e me encarando. – Como disse que se chamava?

Eu sorri.

– Eu não disse.

Ela enrugou a testa, mas era impossível nascer qualquer linha de expressão nela.

– E não vai dizer?

Quando eu não disse mais nada, Diana ficou carrancuda.

Eu adorei a irritação na sua face, porque os olhos dela brilhavam muito, mesmo com a falta de iluminação. Dianacontinuou carrancuda, mas mudou a atenção de mim para a porta que fez um ruído chato deixando vozes do corredor entrar no cômodo e chamar nossa atenção.

Era Garrett com mais dois professores, mas estavam avoados demais para prestar atenção em mim e Diana.

Exceto Garrett, a primeira coisa que ele fez ao entrar foi me procurar e quando me achou ele deixou escapar aquele sorriso fechado sem muita vontade.

– Ah, você está aí Nicolas. – ele disse meu nome e na minha direção.

Engoli irritação e olhei para Diana que estava sorrindo.

– Então, Nicolas? – ela sussurrou.

Isso é péssimo, então eu não poderia prosseguir com a vantagem de saber sobre ela e nada dela sobre mim.

– Nick. – eu disse, sorrindo. – Não se pode ganhar todas.

Mesmo eu ter perdido, eu ainda pude admirar aquela garota quando sorriu, eu percebi que mais bonito do que vê-la ficar irritada comigo, era vê-la sorrir tanto com os lábios quanto com os olhos. E tem pessoas que fazem isso, sorriem como se dependessem de um sorriso.


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Notas finais do capítulo

e aí, o que acharam?