Counting Stars escrita por Petrova


Capítulo 3
K&W House Wood


Notas iniciais do capítulo

Entãaaao
finalmente cheguei
estou quase de férias então voltarei a ter tempo para postar nas fics, desculpem a demora, estou atualizando tudo com calma
PS: mudei algumas coisas, o nome da menina que era Violet, agora se chamará Diana, me desculpeeemmmmm
ESPERO QUE GOSTEM



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CAPITULO III - K&W House Wood

Havia uma mancha gigantesca de graxa estampada na minha blusa branca um pouco antes de eu percebê-la e me despedir do tio Jack. Da mesma forma como havia um ditado de que “quem está na chuva é para se molhar” deveria valer também para quem trabalha numa oficina. Quanto mais eu encarava a mancha, mais ela se tornava monstruosa e grande. Ellie me mataria, ela me esganaria, era um dos poucos presentes que aceitei e agora estava completamente destruida. Pensei em inumeras maneiras de tentar reverter isso, mas eu não sabia como, não tinha conhecimento algum sobre tirar manchas de roupas, inclusive, de manchas de graxa. Então fiquei parado na frente da porta do meu carro estacionado fora da margem da pista vendo os ultimos segundos do por do sol. Eu tinha que dar um jeito nisso.

Abri a porta do carro e procurei no porta-luvas um pano amarelado e velho de dentro dele, o peguei e o trouxe até a minha blusa. Tentei esfregar o máximo que pude, mas a mancha tornava-se maior, porém sem excesso. Joguei enfurecido o pano amarelado, agora com partes manchada de preto também, em cima do banco e desisti de tentar fazer alguma coisa por ela. Até que por sorte, me lembrei que eu tinha uma blusa dentro da bolsa, normalmente eu a uso quando vou para os treinos depois de uma ducha e nunca tiro as roupas que coloco dentro dela. Abri o zíper e puxei uma verde, um pouco mais escura do que o convencional. Puxei a blusa branca pela barra dela e a tirei, a joguei no fundo do carro e peguei a verde. Uma carro passou por trás de mim vindo da cidade e quase tomei um susto, dificilmente vemos movimentação a essa hora, a não ser que fosse por causa da oficina do meu tio ou alguém estava querendo visitar um restaurante pousada que tem a um ou dois quilometros daqui. Olhei por cima do ombro, com a blusa em minhas mãos até que vi o carro estourar um dos pneus e rapidamente frear forçadamente ao encosto da rua, quase derrapando. Eu tinha dado de ombros e ignorado, afinal, bem ao lado tinha uma oficina e meu tio certamente daria um jeito nisso e parecia que nada grave tinha acontecido até que reconheci aquele carro. Placa nova, o carro não era dessa cidade e de nenhuma perto daqui. Era um carro forasteiro e seu dono também seria forasteiro. Forasteira para ser mais exato. Era Diana. Fechei a porta do meu carro e vesti minha blusa e atravessei correndo a rua um pouco exasperado, se ela não fosse cuidadosa, ela poderia ter batido a cabeça no volante. Eu esperava que essa demora para ela dar sinal de vida e abrir a porta fosse apenas porqu estava em pânico e não porque estava insconciente.

Meu coração estava acelerado e tudo que fiz foi ignorar porque apesar de saber que isso era apenas porque não queria presenciar a morte ou acidente de uma pessoa, e não porque eu estava começando a me preocupar demais com ela. Apenas com ela. A movimentação dentro da oficina aumentou e achei que eles também tinham visto ou mesmo ouvido o mesmo que eu. Cheguei na traseira do carro e adientei os passos, abrindo a porta do carro o mais depressa. Diana tinha as mãos grudadas no volante e os olhos agora grudados em mim. Eu estava certo, ela estava em pânico.

– Você está bem?

Ela demorou um segundo longo para me processar.

– Nicolas?

– Nick, Diana, me chame de Nic... – me pausei, não era a hora de corrigi-la. – Vem, vou te tirar daí.

Eu segurei seu braço, mas ela não se moveu.

– Vamos, vou te tirar daí, não se preocupe.

Deslizei meus dedos pelo seu braço e alcancei seus dedos, soltando um por um para que ela sentisse meu toque e visse que estava tudo bem. Ela respirou profundamente e eu a tirei de dentro do carro, verificando se ela não estava sangrando ou coisa pior. Diana saiu sem mais problemas e quando ergui o rosto meu tio e mais dois rapazes estavam correndo até nós.

– O que aconteceu? – Jack me perguntou.

– O pneu estourou. – respondi sem esperar que Diana se esforçe para assimilar respostas.

– E ela está bem?

Eu olhei para Diana e ela fez que sim com a cabeça, ela já estava em pé sem minha ajuda e cruzava os braços em volta da cintura, ainda perdida com tudo que tinha acontecido.

– Você acha que poderia dar um jeito no carro? – perguntei ao Jack. – Ela não poderá andar nele sem que dê uma olhada, o pneu pode ter furado e prejudicado a calota, bem, eu não sei.

Tio Jack assentiu com a cabeça.

– Eu posso dar uma olhada, mas o carro terá que ficar aqui, não tenho tempo de entrega, já está anoitecendo e tenho que liberar os rapazes.

Eu consenti.

– Tudo bem Diana em deixar seu carro aqui para revisão?

Ela parecia prestar a atenção e finalmente se recuperar do susto.

– Eu tenho que falar com a minha mãe primeiro.

Cocei a ponta do meu queixo, mas consenti.

– Eu tenho um telefone fixo lá dentro, na minha sala se preferir usar, enquanto eu peço ajuda dos garotos para levar seu carro até a nossa oficina.

– Okay, ahm, eu só vou pegar minha bolsa. – ela disse voltando-se para trás e quase esbarrando e mim.

Afastei-me um pouco e a deixei passar. Coloquei-me ao lado de tio Jack enquanto ele falava alguma coisa com os dois rapazes que tinham vindo na hora do acidente, mas eu estava ocupado demais para ouvi-los. Eu tinha os braços cruzados acima do peito e tudo que eu via era Diana esticar-se para pegar suas coisas, eu não podia negar que ela era um conjunto perfeito de detalhes. Pisquei algumas vezes quando tio Jack me cutucou com o cotovelo.

Ele deve ter percebido e eu fiquei vermelho. Não sei porque, mas estava ruborizando. Diana voltou com sua bolsa e entregou as chaves para meu tio.

– Ótimo. Nick vai te levar até o telefone e nós vamos tentar levar seu carro com cuidado até a oficina, daremos um jeito nisso em breve, depois acertamos.

Diana soltou um sorriso fechado, mas aliviado. Eu me afastei um pouco e ergui a cabeça para ela dando sinal para irmos. Ela entendeu e se aproximou um pouco timida ao meu lado. Vou confessar que eu também não sabia o que fazer, a não ser andar e esperar que ela me seguisse. Foi silencioso até a entrada da oficina, tinha algumas pessoas ali dentro ouvindo Pharrel Williams na rádio e era tudo isso, não havia trocado palavra alguma com Diana até a entrada da sala do meu tio. Branco e iluminado, Diana segiu atrás de mim e quando ela entrou eu fechei a porta. Ela não se moveu mais, ficou olhando para os lados, o que cheguei a conclusão que ela era um tipo anormal de timidez, mais timida do que qualquer pessoa que eu já conheci.

– Vou pegar o telefone para você. – disse baixinho.

Ela me seguiu com a cabeça e peguei o telefone, entregando-a. Seus dedos mal tocaram os meus. Ela discou o numero e eu fiquei parado encarando-a sem perceber que isso era um pouco mal educado. Levou uns oito segundos para a mãe dela atendê-la e ela virar as costas para mim.

– Mãe? – perguntou, sua voz estava baixa e cheia de esperança. – Estou ligando de uma oficina. – ela respondeu a pergunta da mãe. – O pneu furou. Não mãe, eu não bati o carro, eu só... Eu sei. Eu estou bem, sim, estou, nenhum arranhão. – houve uma pausa ligeira enquanto ela ouvia atentamente sua mãe. Ela se virou para mim novamente, mas sem me olhar. – Eles ficarão com o carro até amanhã, para dar uma olhada. A senhora não pode vim me buscar? – outra pausa. – Tudo bem, eu dou um jeito. Tudo bem mãe, não é sua culpa... Ok, não precisa pedir ao vizinho, mãe. Eu não quero incomodar ninguém.

Eu fingi uma tosse repentiamente. Diana me encarou e vi o momento perfeito para dizer alguma coisa.

– Eu posso te levar. – falei baixinho.

Ela ergueu as sobrancelhas, tentando ao mesmo tempo processar o que eu disse e o que sua mãe estava falando. Levantei-me e aproximei dela.

– Diga que eu vou levá-la em segurança, sem incomodo. – falei mais baixo porque estava proximo dela.

Diana assentiu sem pensar duas vezes.

– Eu encontrei um amigo da escola, mãe.

Tive que sorrir. Ela disse que eu era um amigo.

– Sim, ele tem um carro. – ela respondeu a mãe. – Eu vou ficar bem, prometo. Tudo bem. Te vejo em casa. Eu também. – e ela desligou.

Entregou-me cuidadosamente o telefone e eu devolvi a base. Sem demoras, eu voltei a encará-la e mesmo que eu soubesse que ela fazia o tipo de pessoa que odiava atenção, eu continuei encarando.

– O que foi?

– Nada. – murmurei.

Ela baixou os olhos e encarou seu tenis. Depois levantou os olhos para mim de novo.

– Quer perguntar alguma coisa? – ela disse.

– Na verdade, sim. – encostei-me na mesa. – Para onde estava indo?

Ela cruzou os braços.

– Estava tentando conhecer a cidade.

– Você estava indo para o lado errado, então. A cidade já é minuscula e sem atração, você entrando mais ainda na parte inabitada fica pior.

Ela relaxou os ombros.

– Eu estava conhecendo a cidade... estava seguindo o GPS, então...

Ergui as sobrancelhas.

– Então?

– Eu estava indo jantar.

– Ah. – suspirei. – No restaurante pousada. Ótima escolha.

– Você conhece?

Eu soltei uma risada baixa.

– Você está em Mountown, tudo que acontece aqui todo mundo sabe, todos os lugares daqui eu conheço como a palma da minha mão.

Eu me aproximei e cheguei a uma distância menor que um metro, ou mesmo menor que quarenta centimetros.

– Se você quer conhecer os melhores lugares, as melhores pessoas e os segredos que se escondem aqui, eu posso te ajudar.

Diana ficou vermelha. Eu não entendi o motivo.

– Como?

– Se me permitir, - pousei a mão direita sobre o peito. – posso te mostrar os melhores lugares da cidade, aonde você deve ir primeiro antes de qualquer outro lugar.

Diana sorriu e depois tomou uma postura curiosa.

– Você é algum guia-turistico?

– Não. – disse. – Mas por você, posso me tornar sem problema algum.

Ela ruborizou. Cheguei a conclusão que não se deve ser tão direto com ela. Ela deve ser o tipo de pessoa que fica sem fala quando a elogiam também.

– Também digamos que seja uma maneira bem mais divertida de nos conhecermos.

Diana estreitou o olhar, talvez não acreditando que eu fosse gentil, bem, não podia culpá-la, ela teve uma péssima primeira impressão minha na escola, alguém que estava na sala do diretor sendo xingado pelo professor não era exatamente o melhor meio de conhecer alguém.

– Afinal, você deve estar com fome. Eu estou com fome. Lá tem os melhores sanduiches da face da terra. – depois ri para mim mesmo. Eu nunca tinha saido de Mountown para dizer algo nessa imensidão, mas Diana não precisava saber.

Garotas gostam de homens que sabem mais sobre a vida, que sabem se posicionar, que são diretos.

– Eu não sei... – ela colocou as mãos dentro dos bolsos da calça. – Eu disse que iria para casa, minha mãe deve estar pirando neste exato momento.

– Não vamos demorar.

– Nicolas...

Eu odiava ela dizer esse nome, mas a voz dela era tão docemente branda que fazia meu consciência desejar ouvi-la mais vezes.

– Sejamos claros, Diana. Eu não sou de desistir tão fácil. E acredite, eu posso ser bem persistente.

Ela me encarou dessa vez, os olhos esverdeados semisserados da mesma forma de quem certamente está pensando na minha proposta.

Ah, Deus, como eu gosto da tonalidade bipolar dos seus olhos, nem verdes, nem castanhos, no meio termo, é como ter o melhor de dois mundos.

– Isso terá que levar apenas vinte minutos.

– Vinte minutos. – repeti sem esconder o sorriso. Ela tinha me dito sim, mesmo que não fosse com essas palavras.

– E nada além disso, você me levará do restaurante para a minha casa. – era uma ordem.

– Dou minha palavra.

Diana suspirou.

– Okay. Então vamos.

Apesar de que eu não acreditava que ela tinha acabado de aceitar jantar comigo, deixei que Diana passasse por mim um tanto antes de eu comemorar sozinho segundos depois de fechar a porta da sala. Andamos silenciosamente até o meu carro, ela já sabia das instruções do meu tio, ela só voltaria para pegar seu carro quando ele tivesse alguma ideia sobre o problema das rodas traseiras e até lá, ela teria que contar com outra carona. Eu me voluntariaria para pegá-la em casa e levá-la de volta depois da aula, mas isso me tornaria um pscicopata ou mesmo um desesperado. E eu não era isso, só queria conhecê-la melhor, não lembrava de um visitante em Mountown a muito tempo.

Eu deveria saber que da mesma forma como ela aguçava minha curiosidade virgem, outros caras também teriam o mesmo interesse. Fiquei nervoso. Passamos da oficina e acenei para meu tio, observando atentamente Diana caminhar pela estrada e parando para olhar os dois lados se eram seguros para atravessar. Eu estava nervoso outra vez. Ela ficava bem de jeans, muito bem, principalmente com essa camisa branca de malha fina mostrando delicadamente que Diana vestia um sutiã de renda também branco. Ela tinha lindos seios. Ah, droga, eu não posso ficar pensando nisso enquanto vou em direção a um carro onde estaremos sozinhos pelos proximos dez minutos. Ela se moveu e começou a andar para meu carro e senti a tensão arranhar minha garganta. Eu precisava descarregar isso. Puxei o ultimo cigarro do bolso e procurei um isqueiro. Eu não era de fumar, dificilmente, as vezes quando eu fazia era porque eu estava com “aqueles” amigos. Mas agora eu estava nervoso e precisava ocupar minha boca com alguma coisa. Achei o isqueiro no meu bolso e fiz o ligeiro movimento para ascênde-lo. Diana deve ter ouvido porque ela se virou bruscamente para trás.

– O que está fazendo?

Eu não compreendi sua pergunta.

– O que acha que estou fazendo?

– Acho que está colocando sua vida em risco. – ela murmurou zangada.

– Pode ficar tranquila que não morro antes do trinta.

Ela fungou.

– Bem, se você não liga para a sua saúde, eu ligo para a minha. – ela arrancou dos meus lábios o cigarro e jogou no chão, pisoteando-o com muita força.

– O que diabos você pensou que estava fazendo?

– Cuidando da minha saúde. Se você não sabe, gênio, a fumaça que sai do seu cigarro também prejudica um não-fumante.

Eu rolei os olhos, mas quando ela virou as costas, eu comecei a rir. Diana voltou sua atenção para mim e estávamos no meio da estrada numa tarde se esvaindo muito lentamente.

– Por que está rindo? – ela colocou as mãos na cintura.

– Porque é engraçado.

– Você afundando sua vida?

Eu a olhei.

– Não. A sua cara. – dessa vez segurei meu sorriso. – Você se preocupa demais, Diana.

– Isso é uma preocupação saudável. E não seus meios de... – ela não soube continuar.

– Meios de?

– Por que diabos você fuma?

– Eu fumo quando fico nervoso. – franzi o cenho, que raios de pergunta era essa?

– E está nervoso?

Engoli secamente. Eu falaria que acabei de pensar na moldura perfeita dos seus seios? Claro que não, eu a assustaria.

– Talvez sim. – menti muito mal.

– Talvez sim o quê, Nicolas?

Eu me aproximei quase tocando meu peito no seu.

– Eu poderia fazer uma lista de coisas que odeio e me chamar de Nicolas encabeçaria ela.

Diana ficou vermelha, não sei se era constrangida ou nervosa.

– Mas adoro o jeito como você fala meu nome.

Ela piscou os olhos e se afastou. Eu disse, tem que ser calmo com Diana, ela é diferente das outras garotas.

– Apenas não fume mais. Ou não fume perto de mim. – ela pediu ou implorou. Ótima forma de mudar de assunto.

– Okay, prometo.

Ela suspirou.

– Não é legal ver alguém da sua idade fazer isso.

– Quer desculpas?

– Quero que você se dê uma chance. Tente achar outras maneiras de descarregar seu nervosismo. – e ela se virou, voltando a caminhar.

Ela não sabia o que estava dizendo. Se ela me deixava nervoso, a única maneira de descarregar essa adrenalina era fazer o que eu estava morrendo de vontade de fazer. Tocá-la. Saímos do meio da pista e chegamos no meu carro. Eu não sei porque fiz isso, mas atravessei o outro lado e abri a porta para ela. Era óbvio que Diana tinha duas mãos e sabia exatamente como usá-las, mas senti na vontade ir lá e fazer eu mesmo. Talvez eu esteja realmente fora do meu normal, sabe, nervoso. Corri para meu lado no carro e entrei. Minha bolsa ocupava o banco e Diana tinha nos pés minha camisa melada de graxa. Ela a puxou lentamente.

– Eu estava ajudando meu tio na oficina. – expliquei.

Ela fez que sim com a cabeça.

– Por favor, não esqueça de agradecê-lo por mim. Pelo carro.

Eu acenei. Diana podia ser timida, diferente de outras garotas e complicada, mas parecia ser uma pessoa bondosa, até humanista. Liguei o carro, troquei a marcha e saimos finalmente do encosto da pista, o sol já tinha se posto e tudo que eu poderia ver era o céu se colorindo de um azul profundo e escuro quase rapidamente. Diana estava quieta do meu lado e tinha o rosto apoiado no braço encostado no vidro. Eu olhei por um curto espaço de tempo para ela e pude absorver que ela estava olhando para fora, bem longe, entre as matas, o céu escuro, talvez ela goste disso, meio ambiente, noite, estrelas, talvez ela seja paisagista. Bem, eu não tinha certeza, por isso que era bom estar com ela, porque ela ainda era uma caixinha de surpresas.

– Chegamos. – eu avisei.

Ela moveu a cabeça rapidamente para mim com a boca um pouco aberta, como se estivesse formulando algo para falar, mas depois de me encarar, Diana olhou para a entrada de terra que estávamos entrando.

– Por isso que não achei esse lugar. – ela murmurou. – Eu nunca que iria entrar numa estrada assim.

– E por que não?

– Você nunca lê jornais? – seus olhos pareciam uma lua cheia, as bordas sendo iluminadas fracamente enquanto a pupila crescia. Era maravilhosamente lindo.

– Não com a mesma frequência que você deve ler. – eu estava sorrindo para ela.

Claro que eu não lia jornais, eu odiava ler qualquer coisa que não fosse minhas histórias em quadrinho ou nome de embalagens de bata-frita e bebida, mas Diana não precisava saber disso, na verdade, era eu que precisava saber tudo sobre ela.

– Bem, de acordo com as estatiscas deste país, inumeros crimes e atentados são feitos a essa hora do dia e até mais tarde. Uma das precauções é ignorar entradas suspeitas e mal iluminadas. Esta aqui está gritando perigo, Nicolas.

Eu olhei dela para a estrada. Depois segui o movimento contrário.

– Diana, você não está na capital, não está numa cidade com população acima de quarenta mil habitantes, você está em Mountown. Uma das cidades da Pensilvânia com mais elevações e formação de montanhas, uma das cidades com menor taxa e estatiscas de crimes, atentados, assassinatos ou roubos. Fique tranquila.

Diana me olhou fixamente e apesar de que eu sabia que sua preocupação era bem-vinda, querendo dizer que ela era prudente, ela tinha que saber que sua vida tinha mudado, não era mais a mesma. Diana ruborizou.

– Estou parecendo desesperada?

Soltei uma risada.

– Não, claro que não. Está sendo mais prudente do que a maioria dos adolescentes de nossa idade. Mas não se preocupe, confie em mim, eu não sou nenhum pervertido, estou aqui apenas pela comida. Você não sabe realmente como sãos os pratos daqui.

Ela suspirou e sorriu.

– Tudo bem, vamos em frente.

Eu acenei e voltei a movimentar o carro. Após três minutos, vemos luzes se formando, carros estacionados e música vindo de lá de dentro. Na entrada, uma placa movimentava-se na direção do vento com as as Iniciais: K&W House Wood. Estacionei meu Pathfinder ao lado do restante dos outros carros e esperei Diana destravar o sinto de segurança, quando ela o fez, trocamos olhares muito rapidamente antes dela abrir a porta do carro e eu fazer o mesmo. Alarmei o carro e saímos silenciosamente em direção a entrada. No alpendre, outra placa dessa vez brilhante dizia: restaurante e pousada, as cores gritavam quase por socorro, se você estivesse perdido a um raio de dois quilômetros, não se preocupe, a placa seria a primeira coisa a ser vista diante das enormes árvores e da extensa vegetação. Abri a porta para Diana e sussurrei para que ela entrasse. Entrei logo depois. Diana parou no começo da entrada, não sei se era porque estava tentando observar o lugar ou se porque estava pasma. Mesas redondas decoravam o salão, a esquerda um balcão de madeira pintado com branco e vermelho se estendia até a parede, onde também se seguia mesas redondas grudadas a parede onde uma janela de vidro decorava até a metade. A direita, mais algumas mesas para sentar-se à frente e outras de bilhar. No fundo, uma palco pequeno, de alta elevação um homem de cabelos compridos até os ombros tocava ao som do seu violão uma musica antiga enquanto as pessoas se afundavam em suas mesas particulares, sem muito perceber a cantoria.

– O que achou? – perguntei com curiosidade.

– Não temos isso na capital.

– Isso é bom? – franzi o cenho.

– É ótimo.

Eu não soube decifrar ao grau de sua voz, mas assim que uma garçonete passou por nós, me lembrei que deveria escolher a mesa. Segurei fracamente o braço de Diana e ela despertou para mim, um pouco assustada, mas eu estava com o rosto limpo e tranquilo para que ela também se sentisse menos pressionada ou cheia de tensão. Deslizei os dedos até se encaixar nas suas mãos. Sua mão era quente e pequena, parecia que eu estava segurando algo frágil prestes a quebrar. Ela era delicada, e eu meio que um bruto. Que combinação perfeita. Eu a levei ao lado esquerdo do salão, para as mesas perto das janelas e perto de um mural abarrotado de páginas de jornais, revistas, panfletos e anuncios. Diana deslizou pelo banco e eu fiz o mesmo.

Eu lembro de vir aqui com meus pais e David, era como um ritual de família, uma vez na semana Ellie deixava a cozinha respirar um pouco e viamos todos aqui comer o mais gorduroso e delicoso sanduiche da cidade. Era divertido.

O engraçado que nunca deixei de visitar House Wood, mesmo que no primeiro ano evitar tudo que me lembrasse a familia feliz que éramos queria dizer evitar esse restaurante, um tempo depois John me convenceu a vir aqui, e passamos a vir muito, principalmente quando tinhamosque ficar até tarde na escola por causa dos treinos e ainda era insurportável voltar para casa e ter que aguentar o silêncio.

Minhas conversas com Ellie não passaram de: quer café? Com ou sem leite?

Nem sobre a escola comentávamos, quando eu chegava dos treinos, normalmente eu pegava qualquer coisa que Ellie deixava na geladeira e depois ia para meu quarto, falando de vez em quando com David e depois disso ficando quieto no meu canto. Ellie muitas vezes só assinava minhas advertências e as colocava em cima da minha cama no dia seguinte para que eu conseguisse entrar na escola. As vezes eu torcia para ela cansar de assinar os malditos papéis para que eu não pudesse entrar e assistir aula, outras vezes eu até agradecia por ela estar dando meu proprio espaço de tempo, mas acho que ela se cansou de isso, e por curiosidade, eu também cansei.

Depois de me dar conta que eu não estava só, lembrei-me de Diana. Sua fisionomia estava entre ansiosa ou nervosa, fitava qualquer coisa menos os meus olhos, observava cada centímetro do lugar e não disse nada nos primeiros minutos. Tinha os braços pousados na mesa e o rosto levemente torto, olhando o lugar. A boca ligeiramente aberta, mal mostrava os dentes perfeitos e seus olhos agora pareciam uma lua normal, as partes mais claras agora vibravam mais, o mel e o castanho entravam em contraste mais fortemente. E apesar de todo esse tempo, ela não se moveu nenhuma vez para mim.

Com Diana era diferente, você tinha que se esforçar para ouvi-la falar, saber dos fatos, conhecê-la. Ela não é do tipo de pessoa que transparece o que é, porque normalmente ela está sempre me parecendo uma montanha de segredos. Segredos prontos para serem instigados à descoberta.

– O que foi? – Diana me perguntou, seus olhos finalmente se pousando em mim.

– Desculpe, o quê?

– Por que está me olhando?

Soltei um sorriso grande demais. Isso queria dizer que Diana também era observadora, talvez até melhor do que eu. Inclinei lentamente o corpo para frente, pestes a dizer a primeira coisa que estava em minha mente: o quanto Diana era linda, mas fomos interrompidas por uma garçonete.

– Boa noite, que desejam?

O nome dela era Paige, tinha os cabelos ruivos tingidos, presos num rabo de cavalo, mas notava-se que eram curtos, talvez na altura dos ombros, passando um pouco do limite. Os olhos eram cor de avelã, na luz pareciam até avermelhados, era bonito, mas não maravilhosamente bonito como os de Diana, que era uma costelação inteira, lua, estrelas, sol.

– Boa noite. – eu disse dando-lhe um pequeno sorriso gentil. – Eu estava pensando em...

– Ei, espere.

Ergui meus olhos para a garçonete.

– Eu conheço você. Você é Nick, não é? – Paige me encarou.

Além dela, Diana também fez o mesmo, ela estava em primeira vista sem expressão.

– É, sou eu.

– Você se lembra de mim? – ela pousou a mão no peito. – Nós nos conhecemos na festa da Allison, lembra? Você dançou comigo.

Franzi o cenho, Eu lembro da Paige porque todo mundo da cidade sabe sobre todo mundo, mas levou um longo segundo para que eu me lembrasse dessa festa. Normalmente Allison sempre dá um jeito de fazer inumeras festas e me convida para todas. Não é de se estranhar que as pessoas se conheçam em Mountown, a diferença de Paige e eu, é que diferente dos meus futuros pensamentos, ela não se mudou quando se formou no colégio. O que para mim seria diferente, na primeira chance que aparecesse, eu pegaria minhas coisas e me mandaria daqui.

– Sim, claro que eu lembro. – fingi uma animação. Ela deveria reparar que eu estava com Diana.

– Foram as melhores danças da minha vida. – ela suspirou. – Você já pensou em repetir aquela noite?

Ela sorriu para mim e de certa forma eu não podia ignorar o quanto ela era linda, apesar do exagero na maquiagem.

– Quem sabe?

Ela colocou um fio solto para trás da orelha e deixou o sorriso crescer ainda mais.

– Pense sobre isso... Então, como você está? – a garçonete se interessou. – Não vejo você há um tempão. – e revirou os olhos exageradamente.

– Tempos movimentados, sabe.

– Sei. - ela concordou sorridente. – e como está o John? Se lembra do nosso cinema?

Eu pensei, pensei tanto que acabei desviando minha atenção para Diana, ela estava agora indiferente.

– Ele está aqui? – Paige retornou a pergunta e desviou sua atenção meio que procurando alguém pelo lugar, talvez achando que John estivesse aqui.

Eu retornei minha atenção para ela.

– Não veio, mas posso repensar o cinema.

Diana se remexeu na cadeira e me encarou com expressão por enquanto duvidosa.

– Isso seria legal, você se lembra da Cassie? Ela gostou do seu amigo. – Paige apontou para trás onde uma garota de cabelo preto atendia um homem.

– Sim, me lembro. – eu disse vagamente. – Tentarei combinar com o John.

– Nossa, isso seria ótimo. Aconteceu muita coisa nessas semanas, mas seria muito bom, eu e você, John e a Cassie... – seus olhos bilharam só com a suposição.

– É, isso seria divertido.

– Eu estava pensando nisso esses d...

– Será que podemos ir direto ao assunto? – Diana a interrompeu de repente.

Houve um curto silêncio constrangedor. Na verdade, eu estava surpreso pela indiferença de Diana, estava tentando compreendê-la.

– Ah, hum, claro. – Paige deu um sorriso duro, ela tinhas bochechas coradas. – O que vão querer?

Despertei em fim.

– Posso recomendar a especialização da casa? – eu olhei diretamente para Diana que me retribuiu com um olhar preguiçoso.

– Tanto faz.

Outra resposta que me pegou desprevinido. Eu a magoeei? Eu disse algo que tinha afetado-a de forma imprevisível? Deus, o que eu fiz?

– Okay. – murmurei confuso. – Então traga aqueles sanduíches que só vocês sabem fazer. E duas cocas, tudo bem? – eu pisquei para ela.

Paige se deslumbrou um pouco.

– É pra já!

Quando Paige saiu, eu pude verificar a feição deDiana, mas não pareceu nada grave, estava menos nervosa e perdida de quando haviamos chegado.

– Você vai adorar os sanduíches daqui. – eu comecei tentando espantar o silêncio.

Diana não me olhou, mas murmurou:

– Se forem como as garçonetes, duvido.

Eu fiquei quieto, não sabia se era para eu ter escutado ou Diana estava resmugando para si mesma. Na duvida resolvi ignorar.

– São os melhores da região. – completei torcendo que isso fosse instigador o suficiente para ela falar normalmente.

Diana sorriu para mim, um tanto sarcástico e então deixou seu cabelo loiro cair no rosto quase que como um escudo. Garotas timidas fazem isso com frequência, passei a perceber isso por sua causa, como no carro, quando ela deixava o pesado cabelo louro cair sobre sua bochecha tampando minha visão.

Como ela não disse nada, continuei a dizer:

– Eu, particularmente, adoro.

Acho que adora outras coisas mais do que apenas sanduíches. – desta vez ela falou para si mesma imaginando que eu não pudesse ouvir.

Fiquei amplamente perdido.

– O que disse?

Diana ergueu o rosto e me olhou envergonhada.

– Hum, nada.

Tinha como tornar esse pequeno diálogo mais confuso do que já estava? Na verdade, não sabia no que pensar, mas na melhor das hióteses acreditei que Diana estava com ciumes, ciumes de Paige e seus cabelos ruivos – mesmo tingidos – e por ela comentar sobre a festa que nos divertimentos, apesar de para o bem interior de Diana, eu não me lembrava absolutamente nada sobre me divertir com Paige, eu estava bebado demais para isso. Mas mesmo assim fiquei feliz por essa hipotese.

– Não gostou do lugar? – perguntei.

Diana despertou e me olhou.

– O quê? – ela fez a pergunta. – Claro que eu gostei, por que está me perguntando isso?

– Sua cara feia.

– Devia se acostumar, é a única cara que eu tenho.

Deixei um sorriso transparecer.

– Você é linda Diana, seu rosto é o que menos me preocupa, mas não sei dizer a respeito das suas respostas frias. Uma hora ou outra eu posso realmente me ofender. – relaxei meu corpo para trás e encostei-me na cadeira.

Diana enfim sorriu, mas não quis demonstrar, por isso desviou o rosto para qualquer lugar que fosse contrário aos meus olhos. Tem como ser menos complicada? Impossível. Preciso me esforçar muito para ouvi-la falar, se ela soubesse que sua voz é tão maravilhosa não passaria parte do tempo calada.

– Que tal falarmos de você? – sugeri.

Diana negou com a cabeça.

– Minha vida não é interessante.

É interessante como ela despista todas as minhas perguntas, é do tipo de pessoa que não se mostra tão rapidamente. E é admirador.

– Ninguém aqui está procurando uma matéria para um filme ou um livro do século Diana, é apenas entrosamento, saber sobre você, para você saber sobre mim. – pisquei, instigando-a.

Diana sorriu.

– Tá. – ela semisserrou os olhos. – O que quer saber?

– Como resolveu parar em Mountown?

– Passo.

– Ei, mas essa era a mais fácil.

– Nicolas, - ela pediu e é deslumbrante a ideia de carinho que fala meu nome e como o prolonga. – é complicado.

– Não se preocupe, complicado é meu nome do meio.

Diana riu gostoso e sua expressão estava mais relaxada.

– Ahm, tá. – ela assentiu apoiando seus finos dedos na mesa. – Problemas familiares.

Deste assunto eu sabia.

– Já disse que meu segundo nome é problemas familiares? – curvei meu corpo para frente e sussurrei.

Diana fez o mesmo, só que o dela era debochado. O cheiro do perfume dela já é intolerantemente instigador longe, imagina tão perto? Ou melhor, imagina o pacote inteiro perto, rosto, olhos, boca...

– Achei que fosse Byron.

Se ela não fosse uma total desconhecida, eu poderia beijá-la.

Tá, mesmo que ela fosse uma desconhecida, eu ainda iria beijá-la. Só que com Diana tem que ir devagar, qualquer coisa a assusta.

– É um mero detalhe. – eu disse, sem me mover, sem fazê-la se mover. – Ao contrário dos seus olhos. Alguém já lhe disse que eles são uma costelação inteira?

Diana piscou algumas vezes voltando para seu lugar origem. Eu não podia negar que isso era divertido, mas uma parte de mim sentia vontade de querer estar aqui não apenas pela diversão e pala curiosidade de saber sobre sua vida, mas porque ela era o melhor de tudo. Ela. E eu não podia esquecer que com Diana todos os passos deveriam ser curtos e lentos.

– Então é isso. – ela respondeu com os ombros.

– Por favor, - pestanejei. - isso nem foi uma resposta, parecia mais um interrogatório investigativo em que você é a culpada e eu o detetive. Faça melhor do que isso,Diana. – pedi.

Ela bufou impaciente.

– Tá! – ela rolou os olhos para mim. – Nós viemos da Filadélfia.

– Imaginei.

Diana encontrou meus olhos.

– E de uns tempos para cá a relação dos meus pais piorou. – para minha surpresa seus olhos marejaram e eu quase saí do meu lugar para abraçá-la.

Desse assunto eu entendia.

Eu sempre soube o meu ponto de vista em relação a separação familiar, mas nunca me coloquei no lugar de ninguém, que as coisas poderiam não só estar piores para mim, como para muitas pessoas. Pessoas como Diana nunca deveriam ser magoados, nunca deveriam ter seu coração partido, quebrado. É difícil pensar numa pessoa corajosa para poder fazer uma atrocidade dessa com uma pessoa como Diana.

Diana não manteve seus olhos em mim primeiramente.

– Eu sei o quanto os dois se esforçaram que desse tudo certo, entende? – ela roçou os dedos pela mesa, sem me encarar. - Mas... Com o divórcio e nosso relacionamento quebrado, não melhorou com o passar dos dias. – ela procurou meus olhos como se precisasse de um conselho.

– Eu entendo. Eu realmente te entendo, Diana.

Diana parecia se sentir aliviada.

– Normalmente as pessoas me olham com pena, mas você não.

Eu não sabia como reagir ao que ela disse.

– Diana...

– Você me olha compreendendo, não lamentando. – ela me interrompeu. – Obrigada.

Seu sorriso podia ser tão angelical quanto a elevação dos seus lábios ao deixá-la irada. Os olhos dela carregam um brilho mais intenso. Intenso de verdade, um sorriso verdadeiro.

– Eu disse, problemas familiares são comigo mesmo. – dei um meio sorriso. – Se quer conhecer uma pessoa que piora ainda mais a situação de pais separados, essa pessoa sou eu.

Diana ficou curiosa, eu podia suspeitar só com o movimento das suas sobrancelhas ao se erguerem.

– Seus pais também estão separados?

– Quatro anos. – disse sem olhá-la. – E ainda não sei como me acomodar com esse assunto.

Se alguém deveria levar a culpa em estragar a minha vida, essa pessoa, sem duvida, seria eu.

– É por isso do lado rebelde? – ela questionou para mim.

Eu fiquei surpreso.

Rebelde?

– Sim, você é típico rapaz rebelde.

Eu?

– É, você não vê? Toda essa postura de bad boy, de que não pode ser tocado, uma postura de rebelde, sabe, chamar atenção.

Eu tive que rir.

Chamar a atenção?

– De como não se importasse. Sabe, tudo é sobre chamar atenção.

Ela me vê assim? Como alguém que está aberto apenas para chamar atenção? Como se a separação dos meus pais tivesse ascendido uma personalidade diferente da que eu sou?

Eu realmente não gostei.

– Eu não sou rebelde, Diana. – eu disse friamente.

– Eu já vi isso muitas vezes, minha mãe é psicologa, acredite em mim, eu sei sobre o que você está passando, é o caso mais comum, se rebelar contra os pais, a vida.

Encarei a mesa como se eu pudesse parti-la ao meio.

– Tudo que vejo são rapazes que não sabem como conseguir enfrentar a dor de uma perda, então eles resolvem se preencher com alguma coisa futil.

– Você está me chamando de futil? – ergui as sobrancelhas.

Diana finalmente percebeu no que estava falando.

– Não, não foi isso que eu quis dizer.

– Eu não sou um caso para você cuidar como sua mãe faz todos os dias, Diana. Não aja como meu psicólogo. – murmurei sentindo minha pele esquentar.

Eu não era futil. Não era mesquinho. Não era parcialmente quebrado, sentindo falta de ser preenchido.

– E postura de bad boy? Você não conhece a minha história para dizer algo sobre isso. – eu disse, sem humor. – E chamar atenção? Eu não faço esse tipo de coisas, se me entende.

– Nicolas, eu, hm, bem, não foi isso que eu quis dizer.

– Mas disse, não importa. – eu me afundei na cadeira.

– Eu não quis te chamar de futil, não quis transformar isos numa psicanalise... Nicolas?

Eu a ignorei.

Se a culpa era do lugar, se ela havia odiado tudo isso, toda a ideia de estar aqui comigo, ele podia ter dito não, eu aceitaria, sem sombra de duvidas, essa pequena palavra teria impedido qualquer desconforto, estariamos melhor do que agora, como dois desconhecidos, e não como uma pessoa que acabou de me chamar de futil. Respirei profundamente, estava na cara que ela estava odiando tudo isso, eu podia ver estampado no rosto que ela preferia se atirar na frente do primeiro carro que aparecer do que estar aqui.

Ela só não precisava descontar em mim.

– Não importa, Diana. Apenas, - suspirei. – não importa.

Não importa? – ela disse, magoada. – Claro que importa, eu realmente não queria... Nicolas, olhe para mim!

Levei um segundo eterno para erguer os olhos e encarar, mas tudo que fiz foi perder a raiva. Seu rosto sempre fora delicado, suave, timido demais, mas agora ela parecia realmente ressentida, magoada, triste. Bem, eu não queria ter dito profundamente tudo que eu havia dito, não queria ter sido duro, mas não consigo ficar quieto quando é sobre a separação dos meus pais, eu não consigo ficar ciente das palavras que eu uso, como agora.

Paige apareceu distribuindo um sorriso cordial para mim, mas eu mal pude olhá-la, por isso Diana recebeu nosso pedido e agradeceu educadamente tentando ignorar o quanto sua voz parecia um pouco embargada, talvez irritada comigo. Eu não podia culpá-la. Apesar de que eu estava ressentido pelo tom que usei, Diana deveria entender que eu não era um caso que a mãe dela costuma cuidar, que eu melhor e maior do que uma papelada de anotações psicologicas sobre uma pessoa que sofre a separação dos pais, eu só queria que alguém visse em mim mais do que um garoto problema estragando sua vida com bebidas e cigarros, que não estudava porque não estava nem aí para notas e que só pensava em futebol. Mas eu era mais do que isso.

Suspirei mentalmente.

Se Diana havia chegado a essa conclusão, é porque ela é uma péssima observadora. Eu não posso ser tão difícil de distinguir ou sou? Era impossivel não me perceber, não é difícil ver isso, ver o Nick de verdade, o rapaz que tenta não pensar nos problemas, e suponho que a maioria da pessoas passem seu tempo livro pensando em coisas positivas, boas, engraçadas e prazerosas do que se corroendo pelos problemas, os pensamentos pessimistas e ruins.

Eu não sou tão dificil assim... Mas, ela? Bem, ela é complicada e... E está triste agora.

Entre eu e Diana imperava o silêncio, talvez eu devesse dizer alguma coisa, talvez se eu não tivesse sido rude com ela, tudo isso poderia ter sido diferente.

Talvez se eu fosse diferente...

– Nicolas... – Diana sussurrou meu nome.

Ergui meus olhos para ela forçando-me a não sorrir, eu não conseguia não pensar como era engraçado gostar tanto do meu nome na sua voz.

– Se está me ouvido, é, - ela sussurrou tristemente. – me desculpe.

Eu a olhei do outro lado da mesa, seus olhos omitidamente pedindo desculpas.

– Está tudo bem, Diana.

Porque de certo modo Diana não merecia isso.

– Não, claro que não está. O que você fez com o Nicolas de minutos atrás?

Eu sorri.

– Ele ainda está aqui

Diana discordou.

– Prove.

– O que quer que eu faça? – perguntei pacientemente adorando sua feição esperançosa.

– Qualquer coisa que não seja dizer que está tudo bem.

Pendi minha cabeça para o lado olhando-a fixamente sem poder desviar, porque eu não podia e não iria conseguir tão fácil. Era bom olhar para ela, era fácil, é como se eu pudesse encontrar algo realmente interessante para ver, algo que não me deixasse entediado, mas Diana era muito mais do que isso, era mais do que divertimento, era algo mais, era algo novo, e eu ainda iria descobrir o que isso era.

– Por que está me encarando assim? – ela perguntou.

– Estou pensando.

– Em?

– Em você. – dei um meio sorriso.

– É dessa forma que está tentando provar que está tudo bem?

– Achei que não podia falar essa palavra. – eu sorri e ela também. – Mas não é apenas sobre isso.

– Então, o quê?

– Diana eu podia simplesmente me levantar e arrastar meus braços por você e beijá-la neste exato momento, mas existe uma única consequência para isso agora: você simplesmente me daria um tapa na cara. Mas mesmo assim essa opção é totalmente tentadora.

Ela abriu a boca e não conseguiu dizer absolutamente nada. Não precisava, era nisso que eu era bom, em provocá-la.


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Notas finais do capítulo

o que acharam?
comentemmm