A Natureza das Ondas escrita por Enki


Capítulo 9
Capítulo 09 - Tempos Ruins Vem do Horizonte




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No dia seguinte, o povo da cidade nos agradeceu, embora o sargento e o prefeito não tenham ficado muito felizes por termos matado o monstro. Acho que o sargento ficou furioso por termos feito em uma noite o que ele vinha tentando juntar a dias um exército para fazer. O prefeito por sua vez tinha várias reclamações quanto a destruição que causamos a cidade, mas as pessoas estavam bem e era isso o que importava. Na verdade, acho que corremos o risco de ser presos e só não fomos realmente porque os dois temeram uma revolta publica com a nossa prisão. O navio já estava reabastecido e era hora de voltar para o mar. Era desnecessário ficarmos ali mais tempo, afinal, de acordo com o meu Capitão, os vermes d’água ficariam sem saber o que fazer depois que matamos a mãe deles. Esses bichos não eram muito inteligentes e, sem um adulto para lhes ensinar o básico, morreriam de fome na água por não se alimentarem. Alguns dias depois, o mar traria várias carcaças para a praia, Cooper prometeu.

Voltamos ao mar. Eu sei que eu sentia isso todo dia, mas eu nunca me cansei da boa brisa que paira sobre as águas. O cheiro do mar nunca me enjoou, mas me revigorava a cada dia. Naquele tempo em especial, eu me sentia muito bem, assim mesmo, sem muito motivo. Apenas me sentia bem. No segundo dia, Cooper me procurou para conversar. Estávamos sentados no parapeito de estibordo olhando o mar.

“Queria agradecer a você. ” Ele comentou. “Se não fosse você, a maioria de nós não teria sobrevivido por tanto tempo, dado os monstros que enfrentamos por aí e a nossa rotina... ”

“Do que está falando? Se nós devemos a vida a alguém aqui, esse alguém é você. Você é o nosso Capitão. ” Eu me opus.

“Não, eu conheço as criaturas do mar. Já briguei com muitos monstros, vi muitos seres e tenho bastante experiência. Conheço seus comportamentos e, no caso dos monstros, suas fraquezas. ” Ele contou. “Mas você? Você é quem bola os planos. Você sabe descobre como derrota-los. Na maior parte das vezes que lutamos contra um, foi você quem teve a ideia de como abatê-los. Você me conta e eu acabo levando o crédito para os outros, mas eu reconheço que é você por trás da maioria dos nossos sucessos. ”

“Certo. Algumas vezes eu tive algumas ideias sim, mas eu nunca me importei com isso. Só tento nos defender. ”

“E eu lhe agradeço por isso. ” Ele olhava fixo a água abaixo. Estava bastante pensativo, o que era estranho. Perguntei-me o porquê disso.

Olhei para frente e fui distraído pelo que apareceu nadando no mar a nossa frente. Um grupo de delfins corria ao lado do nosso barco. Era muito engraçado. Cooper uma vez me havia me dito que eles os golfinhos, quando apareciam assim ao lado de uma embarcação, era na verdade os machos tentando distrair e afastar uma possível ameaça de fêmeas que carregavam filhotes. Se voltássemos na direção oposta, possivelmente encontraríamos as senhoras delfim. E nem por isso, a presença deles ali deixava de ser fantástica. Eles nos acompanharam pelos minutos seguintes até que deram meia volta e se afastaram.

Observei-os ir embora e quando reparei, a maior parte da tripulação olhava na direção oposta. Entendi então porque os delfins se afastaram.

Uma grande tempestade estava no nosso caminho. Aliás nós seguíamos de volta para o porto do Forte da Ostra, a ilha que era nossa base militar, bastante próxima da capital do Reino. Toda vez que terminávamos uma missão, voltávamos para lá e aguardávamos novas convocações. As vezes tínhamos férias, mas para pessoas cuja a profissão era viajar por ai, isso perdia um pouco o sentido. De volta a tempestade, aquela não era um simples mal clima no mar. Era uma tempestade grande, das maiores que já tinha visto até então. Ainda hoje acho que não vi muitas tempestades de tamanhas proporções como aquela tinha. Dirigíamos direto para ela e infelizmente não dava mais para contornar.

Um furacão no mar é bastante traiçoeiro e perigoso. Muitos dizem que se você enfrentar um, é porque os deuses não estão felizes com você. Em parte, é verdade, mas nem sempre é assim. O barco seguia rumo a tempestade e o vento já começava a aumentar. Os homens correram de volta aos seus postos para preparar o barco. O Capitão já dava suas ordens. O mar agitava-se. Foram longas horas que tivemos pela frente.

A dificuldade maior era controlar o barco. O mar revoltado nos ameaçava afundar e os ventos fortes não contribuíam muito, quase virando o navio nas ondas. As amarras da maioria das cordas mal resistiam à força que lhes eram postas. A madeira fraquejava querendo partir-se a qualquer instante, nunca havíamos enfrentado uma tempestade tão intensa antes. As próprias gotas pareciam querer furar a nossa pele. O furacão fui muito mais longo do que imaginava e durou vários dias. No quarto, o Capitão Cooper já havia perdido a voz de tanto gritar, tentando sobrepor sua voz aos rugidos das ondas e dos céus. Alguns não puderam dormir, incluindo Cooper, e, no fim da semana, estava tão exausto, que me entregou o Comando do barco pois não conseguia mais raciocinar. Nesses dias, o tempo para nós se tornou subjetivo também, sendo indicado apenas pela ampulheta de Dale, contava para nós, pois dia e noite não fizeram diferença sob a negra nuvem da tempestade.

Enfim o furacão passou e nós nos vimos em águas calmas como se nada tivesse acontecido nas horas atrás. Esse era outro costume do mar, fingir que nada aconteceu após uma grande calamidade. O Capitão já tinha voltado ao convés, provavelmente no que seria dia anterior e nos liderava outra vez desde então. Quando ele pediu uma direção para Dale, o navegador ficou sem resposta. Confessou que não sabia onde estavam e que a tempestade os movimentara tanto sem uma direção certa que ele não saberia dizer a localização até chegar a noite e ele poder mapear as estrelas.

Nós continuamos avançando mar mesmo assim, sem saber para onde íamos. Ao passo que as primeiras luzes do céu foram surgindo enquanto ele próprio se escurecia, Dale se prontificou a estuda-las. Demorou ainda algumas horas e várias conferidas aos mapas e as medidas de seu astrolábio. Não feliz, ele buscou na sua cabine outras cartas, agora das constelações. Ele vivia se exibindo de ter decorado todo o céu e que sabia se localizar como ninguém. Nem precisava das cartas cartas náuticas muito. De fato eu nunca vira ele recorrer ao mapa estelar, só costumava analisar os das correntes marítimas, aéreas e das terras. Era a primeira vez que eu o via recorrer a cartografia celeste registrada. Alguns minutos depois ele retornou com a notícia.

“Capitão, nos afastamos demais da rota. Estamos em águas não navegadas. ”


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Notas finais do capítulo

Acabei não conseguindo fazer essa postagem sexta feira, então hoje será capítulo duplo!



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