A Natureza das Ondas escrita por Enki


Capítulo 8
Capítulo 08 - A Perseguição




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Ah, não! Qual é? Eu falei olhando para o bichão que guinchava.

A coisa mergulhou outra vez na água e vimos a linha de luz que ela formava seguir em na direção da ilha. Então alguém gritou atrás de nós. Vimos o sargento no cais gritando conosco.

O que foi que vocês fizeram?! Ele perguntava desesperado.

Nós matamos as bestas que os incomodavam, senhor. O Capitão Cooper declarou em alto e bom tom. Salvamos a baía de um irritante problema.

Não acredito nisso!! Vocês deviam ter ficado quietos, eu falei para permanecerem em seu navio e trancarem as portas durante a noite.

Do que ele está falando? Perguntei para Cooper.

Quando anoitece, os vermes dágua devem invadir a cidade e eles se escondem em suas casas e trancam as portas. Quem ficar na rua, é devorado.

Nós não temos homens suficientes para matar aquelas bestas e vocês ainda trazem a mãe deles? O sargento completou indignado.

A criatura surgiu então, levantando-se das águas ameaçadoramente, bem ao nosso lado e começou destruir o cais com suas patas de pinça. O bicho ergueu-se e começou a subir pelas pedras em direção as casas. Nossos marujos tinham se preparado nos arpões e esperavam a ordem do capitão. Cooper falou que deixassem a criatura.

Estamos mortos. O sargento lamentou-se. Ela vai destruir toda a cidade.

Você já viu esse bicho antes. Ele tem alguma fraqueza? Perguntei para meu Capitão.

Não chegamos a derrotar esse monstro da última vez que o vi, mas as placas que formam o exoesqueleto dele são tão duras quanto uma armadura de metal. Como se atinge alguém em uma armadura? Ele comentou pensativo. As frestas entre as placas, é claro. É a única abertura que temos para matá-lo.

Um arpoada ali não iria mata-lo. Isso raramente funcionava com as criaturas maiores. Vide o kraken, não podíamos perder tempo tentando esse tipo de coisa. Diferente dos bichos da terra, seres marinhos não tinham um coração tão amostra no peito para nós o atingirmos e matar tão facilmente esses monstros. Fora que seria quase impossível acertar a fresta entre duas placas da criatura em movimento com um arpão. Observei ele atacando a cidade. As pessoas estavam acordadas com os guinchos do monstro e agora abandonavam suas casas em fuga. O sino da torre do relógio tocou, mas não era nenhuma hora exata ainda. Era um aviso de alerta. O bicho guinchou outra vez e debatendo suas patas de pinça no ar novamente. Foi então que tive uma ideia. Chamei meu Capitão para uma conversa particular e contei-lhe meu plano.

É arriscado. Nem sabemos se daria certo. Ele falou.

Que outra opção nós temos?

Está bem. Leve Dale com você, ele tem se mostrado bom com a mira. Ele concordou. Então voltou-se para o sargento e sorriu. Meu caro senhor primeiro sargento de Baía Cristal, nada tema! Deixe que nós, os profissionais, cuidemos desse projeto de tênia de sardinha...!

Deixei o Capitão convocando a tripulação com seu discurso, porque ele adorava fazer discursos do gênero, e chamei Dale. Nós pegamos uma lança cada um e pulamos para fora do barco. Na ponte do cais, não havia mais os vermes dágua, fora os mortos que eu e o Capitão enfrentamos antes. Supomos que as crias tinham voltado para o mar. Seguimos as ruas adentrando a cidade e demos com o rastro de destruição que o bichão deixara por onde passara. Os prédios estavam pela metade, as ruas vazias, a gritaria das pessoas mais adiante e uma grossa gosma nas estradas de tijolos. Corremos o mais rápido que podíamos. Falei para Dale o que ele deveria fazer e nos separamos. Eu segui a gosma atrás da criatura. Ela se dirigia por uma avenida a leste da baía. Entrei em uma casa que os moradores já tinham corrido e deixado tudo aberto. Peguei um isqueiro e um pouco de óleo de cozinha e voltei para fora. Precisava de altura para o que queria fazer e encontrei a oportunidade perfeita em um certo muro perto de uma casa. Pulei em um caixote, em cima de uma carroça de carvão, e consegui subir no muro. Dali saltei para o telhado casa. Caminhei ali em cima, de um telhado a outro, já conseguia ver mais de perto o monstro agora. Então um prédio maior estava a minha frente, um hotel, acredito eu. Consegui pular para uma janela aberta do terceiro andar e entrei e em um quarto vazio. Subi o prédio até o terraço, que era o andar seguinte, e me vi em uma altura boa o suficiente para o que pretendia fazer.

Ô MONSTRENGO!!! Gritei chamando-o. Ele não olhou. Mesmo que tivesse me escutado, era impossível dizer se entendia. E mesmo que entendesse o que eu falava, por que deveria olhar pra uma criatura tão pequena como eu? Digamos, porém, que que eu não gostava muito de ser ignorado.

Olhei para a praça e não tinham dado o sinal de que tudo já estava pronto, mas eu não teria muito tempo mais. A criatura estava perto e se eu esperasse mais, perderia ela de alcance e a posição alta que encontrei. Ascendi o bastão do isqueiro e atirei-o no ar junto com o óleo. A explosão foi pequena e aconteceu ainda no ar, nada que ferisse a coisa, mas o barulho que chamou a atenção. Foi quando tive certeza de que meu plano funcionaria se tudo desse certo. O bicho virou e eu pulei em cima dele. Estava escorregando pelo seu corpo quando consegui cravar a lança entre uma das placas. A criatura esperneou, sentindo mais dor do que eu tinha imaginado que aconteceria. Eu caí contra o chão sem saber o risco que estava correndo agora. Dolorido, olhei para cima e vi a fera me encarando.

QQQUUUUIIIIIIIIIIIRRRRAAAAAAAAAAAAHHHHHHHH Ela urrou contra mim.

A primeira parte do plano tinha funcionado. Eu tinha atraído a atenção da mamãe-monstro. Agora era a parte em que eu provavelmente morria.

*****

Levantei desesperado, peguei o isqueiro do chão que caíra ao meu lado e corri. A criatura me seguiu, aqueles milhões de patas afiadas movendo-se freneticamente, muito mais rápido que eu podia correr. A vantagem era que eu seguia pelo caminho que tínhamos vindo e a criatura estava de costas no início. Como A rua era estreita e o bicho, enorme, ela teve que se contorcer para virar antes de me seguir, o que também não foi lá tão difícil, dado ao seu corpo de cobra segmentado. Quando a cria deu o bote para cima de mim, eu pulei para uma esquina que virava desviando dela. A cara do monstro chocou contra o chão e ela ficou um pouco atordoada. Corri novamente e quando ela se levantou, eu entrei por uma janela em outra casa. A criatura me procurou gritando outra vez e, no momento em que ela virou, eu saí da casa e corri pela rua outra vez. Ela foi atrás de mim de novo, mas a estrada em que estávamos agora era pequena demais para ela entrar, então o bicho subiu nas casas para me perseguir. Seu peso era muito grande, o que fez as casas caírem logo que ela subiu e, assim, ela perdeu momentaneamente o equilíbrio. A cena de sobe-desaba-sobe-desaba se repetiu atrasando-a e finalmente eu estava conseguindo correr mais rápido que minha perseguidora. Eu cheguei até a praça central um pouco antes, do bicho e vi Cooper me aguardando. Ele acenou indicando que tudo estava pronto, então virei e encontrei a criatura na minha cola. Corri até a torre do relógio e subi pelas escadas até o alto, no sino. EU fui até a sacada e Dale tinha deixado a corda do jeito que eu pedira, Estendida até um poste de iluminação na rua. Eu puxei a corda tocando o sino e a criatura que me procurava na praça olhou.

QQQUUUUIIIIIIIIIIIRRRRAAAAAAAAAAAAHHHHHHHH Ela urrou outra vez para mim.

Quiaah pra você também. Falei tocando ainda mais o sino enquanto ela se aproximava. Aproveitei o tempo restante para tirar o meu cinto e laça-lo na minha mão.

A lacraia gigante se enrolou em volta da torre para não me deixar escapar e em alguns segundos, sua cabeça, estava de frente comigo. Não posso dizer que estávamos cara a cara, porque a cara dela era muito maior que a minha, maior que meu corpo até, mas a ideia era essa. Ela deu seu último rugido vitoriosa antes de me engolir de uma vez. Então eu joguei o isqueiro aceso para o lado e joguei o meu cinto por cima da corda, segurando na outra ponta. Saltei e deslizei pela corda, a boca da monstrenga a poucos metros de mim, pronta para me comer. Então a torre explodiu.

Conforme havia pedido, o Capitão Cooper e seus homens tinham evacuado a praça e enchido a torre do relógio com barris de pólvora. Como só barulhos mais altos chamavam a atenção da criatura, precisava ser na torre, onde haveria o sino. Dale teria jogado a corda do sino pela janela e prendido-a ao poste, para que eu pudesse sair do prédio antes de tudo explodir. A primeira explosão foi no meio da torre, espalhando uma boa parte da barriga do monstro por todo canto. Depois na base, levando embora seu abdômen. A corda em que eu descia também já não estava pressa a mais nada e eu acabei caindo de uma altura maior do que gostaria e me estatelei no chão. Se a cria ainda não tinha morrido até então, sua cabeça foi esmagada pelo alto da torre que caiu em cima dela, garantindo-lhe o tumulo de tijolos e fuligem.

E assim nós matamos a mamãe-verme-monstro.


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