A Natureza das Ondas escrita por Enki


Capítulo 4
Capítulo 04 - Meus planos funcionam


Notas iniciais do capítulo

Arbalete – Arma de tiro específica para disarar arpões.
Estorvo – Ponta do arpão



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Amy, a irmã mais velha, correu até a beirada dos destroços do navio e pulou no mar. Corri atrás dela, mas, quando vi, a garota corria sobre a água.

“Kalli, não!” A ruiva exclamou. “Ai, droga, ela tinha que ir atrás dele!”

“Kalli?” Estranhei. “Desculpe, mas quem são vocês mesmo?”

“Ah sim... bom, sobre isso, mentimos pra você, fofo...” Ela começou. Eu corri de volta para o nosso bote enquanto alguns dos nossos homens já subiam nele. Levei-a comigo. “Meu nome de verdade é Ariel. Aquela doida é a minha irmã, Kallibã.”

“Ariel e Kallibã? Tipo as filhas do Rei?” Perguntei. Enquanto subíamos no barco.

“Isso. Somos nós, as filhas dele.”

Os homens começaram a remar, mas quando vi, nos afastávamos do nosso navio sendo atacado. Gritei com os homens reclamando, mas eles estavam com medo do monstro. “Perfeito”, pensei. Pulei na água e nadei sozinho até o navio. Quando o alcancei, o monstro não o atacava mais, porém haviam sérios estragos. Subi pela corda de alçar o bote que tínhamos usado. Felizmente, ela não fora recolhida. Senti o cheiro da pólvora, quando passamos perto de uma das janelas laterais e soube que tinham disparado os canhões. Imaginei, que o Capitão Cooper os teria usado para acertar o monstro quando houve a oportunidade, por isso o bicho teria se afastado por hora. Cheguei ao convés e muitos corriam perdidos. Três homens escoltavam Kallibã para o Cooper. Corri ao encontro deles.

O Capitão ficou aliviado ao me ver, mas tratou de logo voltar a sua postura zangada para resolver o problema da moça que apareceu de repente e começou a lançar raios de energia no monstro poucos segundos atrás. Não sei o que se passava na cabeça dele, mas era melhor avisá-lo que aquela moça era a filha do Rei antes que ele começasse a falar qualquer coisa, afinal a linguagem dos homens do mar não era das mais nobres. Aproximei-me a tempo de ouvir ela reclamar:

“Larguem-me, seus bárbaros piratas.”

“Calada, m...!!!!”

“Capitão!” Eu o interrompi. “Posso ter uma palavra com você?”

“Agora não, Imediato. Moça...!”

“Senhor, eu insisto.” Pedi.

Ele entendeu a urgência e nos afastamos.

“Senhor, ela é filha do Rei, Kallibã, nossa princesa.”

“Você não está falando sério...” ele duvidou.

“Estou sim senhor. Quero dizer, foi o que a irmã dela disse. O navio que naufragou, ele levava o selo real na bandeira, o que sustenta a hipótese. Deixei a irmã a salvo com os outros homens no bote perto dos destroços do navio.” Não achei necessário dizer naquele momento que os marujos foram covardes demais pra voltar para o navio.

“E o que diabos essas moças fazem aqui?”

“Nem ideia.”

“Certo. Eu cuido disso, procure organizar nossos homens. Logo aquela fera voltará e teremos sorte se ela cair na armadilha dos canhões outra vez.”

“Senhores?” Kallibã se aproximou sem que percebêssemos ela chegando. “Eu gostaria de ajudar com o que puder.”

“E o que você pode fazer menina?”

“Não me viu disparando as lanças astrais contra o monstro? Sou uma praticante de magia, Capitão.”

“Criança...” Ele hesitou. Sabia que queria falar que não deixaria uma moça se arriscar com isso e que eles poderiam dar conta, mas o ataque inesperado nos deixara mais vulneráveis. Talvez não tivéssemos escolha, precisaríamos de ajuda contra aquele monstro. Pela grossura dos tentáculos, era possível estimar o tamanho da coisa e a ideia nos assustava. “Está bem!” Ele resolveu a contragosto. “Façam o que puderem. Imediato, quero que você a acompanhe e não deixe que nada aconteça com ela.”

Enfim se afastou para organizar o resto da tripulação.

“Então você é a minha guarda pessoal agora?” Ela sorriu.

“Por favor, não faça nada mortal que me culpem depois.” Pedi. Então vi alguns homens pegando a rede ao mando de Cooper e consegui deduzir o que ele pretendia. “Vamos. Precisamos de corda.”

Eu e Kallibã subimos a rede do mastro fronteiro. Ela se enrolava um pouco pra subir e isso estava atrasando. Quando chegamos ao fim, já dava pra ver a sombra do monstro embaixo de nós outra vez. Uns 10 marujos tentavam desenrolar as cordas das velas para as içarmos, mas não a tempo suficiente.

“Princesa, você pratica magia então, certo?” Perguntei. “Acha que pode desfazer aquelas amarras e soltar as velas para nós?”

“Com certeza,” ela o fez “mas de que isso ajuda? ”

“Confie em mim. Precisaremos de um pouco de velocidade para o que o Capitão está pensando.” Pegava uma das cordas auxiliares e desenrolava. “Eu vou descer, quando chegar lá embaixo, preciso que você corte a corda para mim.” Entreguei lhe uma faca.”

“Pode ficar, eu me viro. Obrigada.”

“Certo. Depois desça e me encontre lá também o quando antes puder. Tudo bem?”

Ela confirmou e, em seguida, saltei. Ventava forte, o que era bom. Enquanto balançava na corda, vi o Capitão na roda do leme. Ele já começava fugir do monstro. O bicho não esperava que o barco começasse a andar e se atrapalhou um pouco na tentativa de nos segurar. Provavelmente só por isso conseguimos escapar dele.

Cheguei ao convés. Os homens estavam preparando os arpões para atirar. Dale, nosso navegador estava no meio. Kallibã já tinha cortado a corda que eu pedira através da sua magia e agora seguia para rede, tentando descer do mastro. Eu me aproximei de Dalle e pedi que ele amarrasse uma das pontas da corda que eu trazia no arpão que ele carregava no arbalete. Disse-lhe que ficasse atento para atirar ao meu sinal.

Corri para o outro lado do convés onde encontrei a princesa.

“Está vendo aquela âncora?” Perguntei. “Acha que sua magia seria capaz de leva-la para o outro lado do convés?”

“Consigo, mas eu não estou entendendo...”

“Não temos tempo. Confie em mim.”

Ela fez com uma cara tanto emburrada. Fui até a âncora e amarrei a outra ponta da corda. O capitão já estava virando o barco. Alguns atiradores da proa conseguiram um ângulo bom na lateral e lançaram. Arpões cortaram os céus e cravaram na pele do monstro, alguns na parte submersa dele, outros nos tentáculos que apareciam para fora d’água. Ele pareceu não perceber, os arpões eram mais insignificantes e obviamente tão mortais quanto agulhas adentrando a pele de uma pessoa. Ele continuou avançando para nossa posição e, agora que fazíamos uma curva, não tínhamos mais o vento ao nosso favor. Estávamos devagar e no meio de uma manobra lenta, o bicho nos pegaria sem dó. Eu sabia que o Capitão teria tentado os arpões e, como ele também deveria imaginar, sabia que não seria eficiente. Infelizmente era tudo o que tínhamos. Os outros marujos do convés também disparavam com o mesmo resultado. Sem sucesso.

Corri para o canhão em que carregaram a rede e afastei os homens que o manejavam, tomando o controle da arma. Mirei na base dos tentáculos, onde todos se juntavam a cabeça. O bicho estava quase em cima de nós. Atirei.

O que viria depois precisava ser rápido. Dei o sinal para Dale que disparou na mesma hora o arpão. Gritei à Kallibã que jogasse a âncora na água e ela também o fez. Tomei o arbalete do lado também que outro marujo tinha acabado de colocar a segunda carga e atirei sem mirar no bicho.

O estorvo da minha arpoada acertou a rede que eu tinha atirado, apertando a rede em volta dos tentáculos e diminuindo momentaneamente a sua capacidade de movimentação. O arpão de Dale atingiu em cheio a cabeça da lula atordoando-a. Quando a criatura se recuperou do ataque, ficou furiosa, faminta de vingança. Tentou seguir mais alguns metros para nos alcançar, mas logo se deu conta de que não conseguia. Então todos perceberam o que estava acontecendo. A âncora reserva que fora jogada no mar estava presa a cabeça do bicho pelo arpão de Dale e afundava. O monstro gigante, amarrado pela rede e sem conseguir se mexer plenamente era arrastado por ela, mar a fundo. O último dos tentáculos desapareceu nas águas balançado e tínhamos derrotado o bicho.

Todos me encararam por alguns segundos, o que me deixou sem jeito. Nunca gostei muito de público ou de ser o centro das atenções. Em seguida, o barco inteiro comemorava. O Capitão me deu os parabéns, Kallibã me aplaudia embora me olhasse como se eu fosse um menino travesso. Não posso dizer que não gostei, era a primeira vez que eu tinha feito algo seguindo meus planos e tivera total sucesso. A sensação era boa.


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Notas finais do capítulo

Desculpem a demora. Eu não queria continuar postando essa história aqui no Nyah, mas acabei mudando de ideia então aguardem. Serão 2 Caps por semana