–Eu tentei segui-los, mas o corredor que vocês seguiram desapareceu depois que vocês o adentraram...

–Espera aí- Iza o interrompe Julian- o corredor desapareceu? Sério? Mas, como?

Olho para a lua, bem a cima de nós, com seu sorriso indecente. Julian dá de ombros.

–A passagem simplesmente foi substituída por outra parede. Eu segui o caminho mais parecido com o de vocês, mas logo vi que não tinha nada a ver com o que eu esperava então eu achei que era o fim da linha...

–Mas não era. - Digo -Ainda vamos sair dessa, cara.

Dave bate a ponta da lança na parede sem parar. Ele abre um sorriso animado.

–A parede é oca. - anuncia. Julian franze a testa para ele.

–E daí?

–E daí- eu me aproximo da parede oca- que pode ter algo por dentro dela.

Dave bate com mais força com a lança e uma rachadura aparece na parede. Acerto o machado na rachadura e um buraco se abre. O buraco é pequeno, só consigo enfiar metade do meu braço lá dentro.

Esbarro em alguma coisa. Consigo pegá-la, e com cuidado, a tiro de dentro da parede. É uma garrafa de metal prateado, como aquelas garrafas térmicas onde põe café, e pode ser levada para todo lugar.

–Água- anuncio, sorrindo. É o que está escrito na garrafa, então abro a tampa e tomo um gole. Fresca.

–Minha vez- Dave a toma da minha mão. O entusiasmo dos outros é claro, mas a garrafa não é muito grande, a água não durará por muito tempo.

Quando todos nós tomamos um pouco, Julian constata:

–Se a água fica dentro das pedras, então a comida também fica. Só temos que bater em todas as paredes para saber se elas são ocas.

–Sim, mas mais á frente, quando tivermos quebrado mais paredes, não deixaríamos um rastro para os Elsir'es? - Alice pergunta, mordendo o lábio. Respondo:

–Se eles por acaso encontrarem nosso caminho, sim. Eles até podem ouvir o bate-bate nas paredes...

–Eu acho- começa Rumlow- que as paredes não deixam o som atravessá-las, do jeito que eles não nos ouvirão.

–Também acho- concorda Iza- são todas feitas de concreto, menos nas partes ocas.

As paredes que contém comida ou água, devem ser metade feitas de concreto, e a outra, aberta por dentro. Faz sentido.

–Para os Elsir'es deve ser bem mais difícil perceber isso, já que eles estão acostumados a natureza e tal...- diz Iza.

Julian boceja:

–Tudo bem. Vamos dormir e fazer vigília, Ian você é o primeiro... me acorde daqui a umas 3 horas.- Ele encosta a cabeça no chão e dorme. Dou um sorriso. Ele conseguiria dormir mesmo se estivesse chovendo sangue.

Todos se ajeitam para dormir, ou pelo menos tentar, menos Rumlow.

–Eu não acredito que esse tempo todo nós fomos enganados... - ele balança a cabeça- achando que iríamos para um lugar feliz e vermos pessoas novas, e sermos felizes.

–Eu também não acredito. Mas nós vamos sair daqui. – afirmo. Ele me olha exasperado:

–Isso aqui é um labirinto, cara. Quanto mais andamos, mais perdidos ou mais perto da saída nós ficamos.

Penso no que ele disse. Talvez não haja uma saída. Talvez a única saída seja matar todos os Elsir’es. Talvez haja uma porta tão bem guardada que é impossível encontrá-la. Ou talvez não. Ou nós tenhamos mesmo que ficar aqui até morrer, se não os matarmos. Ou se eles nos matarem, seremos corpos sem vida e podres no chão de um labirinto... Penso, mas afasto esse pensamento.

–Você tem razão- digo, por fim. Rumlow dá um pequeno sorriso de triunfo e se deita no chão para dormir.

Amanhã será um novo dia. Eu não tenho a menor ideia do que nos aguarda. Mais um dia andando em silêncio? Mais banhos de sangue? Mais encontros com outros jogadores? Eu não sei. Talvez tudo isso ao mesmo tempo. Só o amanhã sabe.