Troika escrita por Esther K Hawkeye


Capítulo 7
Moscou. Parte III


Notas iniciais do capítulo

Desculpem-me a demora. Acontece que depois do nyah ter aquela coisa estranha lá, tive alguns problemas com a minha rotina e é...

Boa leitura. :)



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Andrei

Eu não entendia como Elena conseguiu ser tão rude comigo por causa do Vassíli. Tudo bem que eu estava sendo um tanto ciumento quanto a eles, mas eu não posso evitar. Tenho que proteger a minha irmã, assim como prometi a papa.

Quando voltamos à estação, ainda havia uma certa quantidade de pessoas lá. Tudo estava silencioso, ninguém tinha coragem de levantar a voz. Eu as entendia, eu também estava aflito. Sei que eu, como um garoto comum de treze anos, não faria diferença, mas lá tinha pessoas que carregavam um propósito na vida, diferente de mim.

Quando papa morreu, e quando eu vi Elena se aproximar de Vassíli, meu mundo desmoronou. Não demoraria tanto pra Elena se apaixonar por ele, e isso me frustrava. Eu estava apaixonado pela minha própria irmã, mas não... não conseguia aceitar isso.

Como podem existir tantas coisas em mim que eu não aceito? Por isso digo que eu não faço diferença nenhuma. Isso me deixa até frustrado, mas era a realidade. Eu estava propenso à ser um homem problemático, com defeitos maiores do que qualidades. Quem em sã consciência se apaixona pela própria irmã?

Aquilo parecia super natural pra mim, e isso assusta. Nunca conheci uma garota tão bem quanto minha própria irmã. De certa forma, eu sempre fui cercado por homens, e algo dentro de mim me diz que também os acho bem atraentes em questões românticas, até mais do que as mulheres. Todavia, não pude saber, nunca pude, ainda sou muito jovem, mas às vezes eu gostaria de ter um namorado.

Sim, eu devo ser muito estranho.

Sentamos em um lugar qualquer da estação (já que praticamente todo o lugar foi ocupado), tive a falta de vergonha de sentar no meio dos dois, não por aleatoriedade (apesar de ter fingido ser), mas por causa do meu ciúmes. Ninguém iria ousar tocar em Elena, a não ser eu.

Vassíli não pareceu se importar, só tinha medo do meu olhar. Parece que ele tinha mais medo de me decepcionar do que decepcionar à Elena. Não entendo o porque, ele nunca teve minha confiança para eu me decepcionar. Aliás, a cara dele já me decepcionava.

Olhava pra ele, com uma tal frieza. Ele não estava confortável.

– O que foi, Andrei? Por que você está me olhando assim?

– Por nada, eu só estou pensando.

Ele se calou, e engoliu em seco.

– Pensando em que?

– Em nada que te interesse...

Elena não estava gostando muito do jeito que eu tratava Vassíli, mas ela não tinha nenhum direito de fazer isso. Sou o irmão dela! Ela tem que ter maior confiança em mim do que num "desconhecido".

– Tudo bem, ainda temos mais um dia aqui. - Ele continuou. - Até lá, eu espero que você confie em mim. Porque sinceramente, eu não confio tanto em você, Andrei. - Levantei uma sobrancelha. - Nada pessoal, é que você é bem jovem...

Eu não tinha ficado com raiva, apenas incomodado. Não pelo fato de ele não confiar em mim, isso pra mim era tão indiferente quanto o fato de ele saber que não confio nele, mas porque ele usou como argumento eu ainda ser "criança", coisa que eu não era mais a um bom tempo.

Bufei.

– Não é porque ainda sou bem jovem que eu não sei de nada na vida, Vassíli. Eu sei de muita coisa que você provavelmente não sabe.

Vassíli me olhou com uma certa estranheza. Ia demorar para nós nos darmos bem... isso é se nós iriamos nos darmos bem.

Elena tentou mudar de assunto, para acabar com a tensão:

– Está ficando frio.

Eu e Vassíli olhamos pra ela. Aquela frase estava me incomodando. Elena estava sentindo frio e eu tinha que fazer alguma coisa. Não hesitei antes de tirar meu casaco e colocar nela.

– Por que vocês homens insistem nisso? Querem morrer de frio, é isso?

Eu ri.

– É que eu não quero que você sinta frio, irmã. - Olhei pra ela com uma certa ternura, algo que vai além de "apenas irmãos".

– É, mas você não está com frio?

Fiz que não.

Sem pensar muito, aproximei-me dela e beijei o seu rosto. Ignorei Vassíli, que estava assistindo à aquilo tudo. Dei um beijo nos lábios de Elena logo em seguida, rápido, para que ela não desconfie que seria um beijo de outro sentido.

Vassíli nos olhava um pouco estranho, um pouco incomodado. Agora eu não devia saber se era porque nós eramos irmãos, ou era ciúmes mesmo. Não interessava pra mim. Pode ser que Vassíli tenha algum tipo de atração pela minha irmã, mas mesmo a nossa estadia com ele ser provisória, nunca iria deixar ele leva-la pra longe de mim.

Elena sorriu pra mim, é... acho que ela não desconfiava de nada, e se desconfiava, muito pouco.

Vassíli olhou pro outro lado, fingiu ignorar.

~x~

No dia seguinte, acordamos completamente quebrados. Não sentia tanta dor assim, eu tinha costume de dormir no chão algumas vezes, já que papa, Elena e eu nunca tivemos camas muito boas. O problema era que o chão era frio, frio como a Sibéria.

"Só mais um dia.", pensei. Estava com mais medo do que qualquer coisa. Aquela guerra estava acelerando as coisas na minha cabeça, parecia que cresci uns dez anos num curto período de dois dias. Eu descobri coisas em mim que eu nunca soube, que me assustavam, que me fariam pensar: eu não mereço estar aqui. Virei uma pessoa egoísta e estranha, em que a minha paixão era a minha própria irmã, e que tenho ódio de um rapaz que acabara de conhecer, mesmo que por nada.

Não queria ficar em Moscou! Lá estava tão tenso quanto Stalingrado! Não vejo a hora de ir para a Sibéria e não ver mais soldados nazistas! Nunca mais! Os alemães são assustadores e parecem que eles vão te fuzilar a qualquer momento. Aquilo tudo me fazia ter vontade de chorar!

Mas eu sou um homem, apesar de tudo, e homens não choram.


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Notas finais do capítulo

Percebi que os capítulos do Andrei são mais curtinhos kkkkk mas tudo bem, daqui a pouco isso muda, vocês vão ver!

Até o próximo capítulo!