Troika escrita por Esther K Hawkeye


Capítulo 6
Moscou. Parte II


Notas iniciais do capítulo

Bom... primeiramente, desculpem-me a demora. Eu estou muito atolada com trabalhos, provas, etc etc. E infelizmente, eu acho que vou demorar para postar mais, por conta dos meus horários (ou pela minha pregui-- digo, pelo meu cansaço). Mas calma que eu não vou abandonar a história, longe de isso acontecer. Continuarei postando, mas vocês vão ter que esperar uma semana, no mínimo, um novo capítulo. Talvez eu poste um pouco mais cedo do que isso, ou um pouco mais tarde, isso vai depender da minha situação.

Agora que já acabou as coisas que você não quer saber, boa leitura. :)



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Elena

Tive que arrumar uma maneira viável para me conformar com a ideia de que eu e os garotos estaríamos dois dias em Moscou. Se eu tinha medo? A verdade é que eu tinha medo de qualquer coisa que vinha a minha frente, e assustada, eu tento recuar de tudo, mas só querer não adianta. E mesmo querendo, eu não iria conseguir, devido a situação em que eu me encontrava.

Pode ser que eu esteja até um pouco mais aliviada agora que tínhamos Vassíli ao nosso lado. Ele era uma pessoa boa... não me incomodava em nada. Fazia de tudo para nos ajudar, e eu sou eternamente agradecida por esse gesto tão bonito. Na verdade, eu tinha pena dele. Ele estava tão assustado quanto nós, e com razão. Se eu estivesse no lugar dele, eu estaria pirando até mais. Ele tentava se manter calmo, mas o medo e a angústia o assolava de forma que até eu tinha medo.

Quando nós três resolvemos sair para comprar alguma coisa pra comer, começamos a caminhar pelas ruas de Moscou, como um lugar de outro mundo, completamente diferente de Stalingrado. Passávamos pelas pessoas que praticamente corriam até as suas casas. Pedimos ajuda várias vezes, mas de dez pessoas. apenas duas nos ajudavam realmente, pois as outras nem se quer nos davam atenção, e quando davam, era algum tipo de interesse. E uma dessas pessoas, um homem de trinta e tanto anos cujo me aproximei para pedir alguma informação, começou a me dar cantadas de época antiga e sem sentido nenhum. Já como eu era meio ingênua para essas coisas, eu não entendia se quer uma palavra que aquele homem dizia. Andrei estava tentando entender a situação, já que ele era tão ingênio quanto eu, mas Vassíli entendeu na hora o que se passava e simplesmente me afastou do homem. Fiquei envergonhada, porque só fui entender logo após Vassíli ter me afastado.

– A-Ah... acho que agora eu entendi... desculpa, Vassíli. - Falei para ele, corada.

Ele deu uma risadinha, e aquilo me deixou ainda mais envergonhada.

– Não se preocupe... só não tente cair em uma dessas "armadilhas". Tem muito cafetão por aí.

Engoli em seco e concordei. Daquela vez em diante, eu nunca mais cairia numa daquelas.

~x~

Pude perceber que Andrei não se simpatizou muito com Vassíli. Meu irmão é ciumento, e ele não pode esconder que está apaixonado por mim. Isso não é bom, porque ele é o meu irmão, simplesmente por isso. Não o culpo, Andrei nunca tocou em uma mulher a não ser eu. Ele sempre viveu cercado por homens, e eu era a única pessoa do sexo feminino que ele convivia. Não que eu esteja falando que eu estou, de certa forma, me sentindo muito "a vontade" com Vassíli, pois ele, por hora, é apenas um companheiro. Não, eu sou muito difícil em relação a homens.

Mas voltando a nossa situação, conseguimos chegar ao centro da capital em uns vinte minutos de caminhada. Lá tinha o Kremlin, e uma catedral que vivo esquecendo o nome. Andando pelos arredores da Praça Vermelha, demos de cara com uma feira. Aquilo era sorte, porque as feiras costumam a terem preços mais baratos do que qualquer mercado, apesar de apenas podermos comprar frutas, mas aquilo pelo menos era alguma coisa.

Compramos o que nos parecia acessível. Algumas frutas, somente, e um pouco de água. Era suficiente para alimentar nós três. E assim que fizemos as compras, nos sentamos na calçada (eu estava entre os dois) e começamos a comer em silêncio.

Até que Vassíli o quebrou:

– Onde estão a família de vocês?

Engoli em seco. Olhei para Andrei, e ele me olhava com uma certa estranheza. Ele deu de ombros, sinalizando que não faria mal se eu contasse. Já estávamos naquela altura, e não conseguiríamos ficar com Vassíli se não tivermos confiança nele.

"Eu não confio nele, mas se você está tão certa, vá em frente." era o que eu achava que se passava na cabeça do meu irmão, pois seus olhos diziam tudo.

Olhei para Vassíli novamente.

– N-Nosso pai... - O meu olhar estava triste, me doía pensar no meu querido pai, que agora se fora de forma tão cruel. - morreu enquanto estávamos fugindo.

Vassíli ergueu as sobrancelhas, como se estivesse surpreso.

– A mãe de vocês também morreu... - Ele sussurrou. - não é?

– Exato... - Respondi. - mas não na guerra. Eu era bem pequena quando ela morreu. Não me lembro da voz dela, apenas do rosto, pois meu pai tinha fotografias dela.

Ele suspirou e mordeu o lábio inferior.

– Meus pêsames...

– Não se preocupe.

Ficamos em silêncio novamente. Dessa vez, eu quebrara:

– E você? O que houve?

Ele suspirou novamente. Olhou pra mim de canto. Aqueles olhos azuis turquesa, tão brilhantes, me encaravam com um tom de melancolia, e aquele olhar combinava com os cabelos extremamente loiros que Vassíli tinha. Eu não poderia me enganar, Vassíli era um rapaz extremamente bonito.

– É necessário eu falar aqui? - Ele sussurrou.

– É. - Falou Andrei, chamando nossa atenção e com uma voz grossa e rústica.

Vassíli corou e engoliu em seco. Olhei para Andrei e lhe dei uma cotovelada de leve. Meu olhar de desaprovação fez o meu irmão estremecer e ficar quieto. Voltei a falar:

– Não precisa falar agora se quiser. Deve ter sido algo terrível.

– Não tem problema, eu falo aqui mesmo. Eu não posso ser trouxa. O problema é que... - Ele aproximou os lábios dele da minha orelha, e sussurrou. - É em público. Eu vou ter que falar assim.

Fiquei mais interessada, e me juntei mais a ele. Dei uma olhadela em Andrei, que nos olhava com ódio e desprezo. Certamente, não poderia ver a hora em que ele desse uma surra em Vassíli. Não, eu não permitiria, aquilo estava sendo para o nosso próprio bem.

Vassíli começou a falar:

– Meus pais foram para a Polônia e não voltaram mais. - Mordi o lábio inferior. - Certamente, os nazistas os pegaram. Consegui fugir com a ajuda de outras quatro famílias que moravam conosco, e consegui ir até a estação de trem com eles.

Ele se afastou de mim. Olhei pra ele, com uma certa pena no olhar. Ele me olhava tristonho.

– O que os nazistas... - Eu falava em sussurros. - poderiam fazer com os seus pais e... com você?

Ele mordeu os lábios e fez um "não" bruto com a cabeça.

– Eu não sei, não quero saber e estou com medo de algum dia sentir isso na pele!

Ele falou aquilo com tanta angústia que o meu grau de pena aumentou. Olhei novamente para o meu irmão, que comia uma maçã, sem parecer se importar com o estado emocional de Vassíli. Olhava pra frente, como se nada estivesse acontecendo.

Suspirei, voltei a minha face para Vassíli, que estava respirando mais alto, com uma angústia sem fim. Queria sair dali, o mais rápido possível.

– Vassíli...

– E-Eu não quero... - Ele falava, quase que ao som do vento. - f-ficar... próximo a... Europa. - Ele abraçou as pernas. - Não posso... acabar que nem os meus pais.

Foi naquele momento em que eu me ajoelhei ao lado dele, ignorei as pessoas ao meu redor, inclusive Andrei, passei a mão pelos cabelos loiros dele, até chegar em sua nuca. Ele estremeceu. Comecei a fazer um carinho na região da nuca, para faze-lo ficar mais calmo. E realmente, aquilo funcionava um pouco. Nos seus olhos, eu podia ver que ele precisava um abraço ou qualquer coisa que o faria ficar mais calmo. Não podia abraça-lo na frente de Andrei, não naquele momento.

– Não se preocupe, Vassíli. Seja o que for, não vai acontecer contigo. - Eu falei. - Estaremos com você.

Ele olhou pra mim, agora com um ar mais calmo.

– Obrigado - ele respondeu. Sorri.

– Não foi nada. Você faria o mesmo por nós.

– É verdade... mas obrigado mesmo assim. - Sorrimos um para o outro, sem disfarçar que ainda estávamos com medo, mas não tanto quanto minutos atrás. - Vamos... andar um pouco mais. Depois, voltaremo a estação.

Nós três nos levantamos. Andrei parecia estar envolvido de um extremo ódio. Olhava para Vassíli com uma expressão maligna. Ele tremia de tanta raiva. Eu tinha que fazer algo. Fui até ele e sussurrei:

– Não se preocupe, Andrei. Não estou apaixonada por ele. Deixe disso!

– Ele não pode fazer essas chantagens com você.

– Do que você entende disso?

O meu irmão me olhou espantado, que logo ficou chateado. Acho que eu tinha dito algo que não devia.

– Ei! Você é uma criança ainda, Andrei...

Vassíli nos olhava como se estivesse entendendo nada (ou pelo menos, fingindo não entender).

– Er... Vamos? - Vassíli perguntou.

Eu suspirei.

– Claro...


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado desse capítulo. Acho que eu falei tudo o que eu tinha que falar, então...

até o próximo capítulo. :)