Troika escrita por Esther K Hawkeye


Capítulo 5
Moscou. Parte I


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a pequena demora para postar aqui. Acontece que agora eu estou postando uma fanfic de HdO aqui também, daí fica complicado eu escrever as duas histórias ao mesmo tempo, espero que entendam.

Boa leitura. :)



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Vassíli

Veja, eu não sei bem o que tinha me dado na cabeça em querer ajudar àqueles dois. Na verdade, acho que nem foi para ajudá-los, e sim para me ajudar. Bem... eu estava tão sozinho, tão perdido, que eu não conseguia me concentrar direito nas coisas. Eu estava com medo. Mas o que duas pessoas mais novas do que eu poderiam fazer por mim? Essa era a questão.

Não me importava, desde que alguém esteja comigo, e isso me aliviava um pouco. Se alguém estivesse me perseguindo, não estaria mais, já que eu estava com cidadãos soviéticos "normais". E aquilo me deixava um pouco mais calmo, e um pouco mais confiante em relação a tudo o que estava a minha volta, e que de certa forma, me assustava mais do que eu se quer poderia imaginar.

O fato de eu ser judeu me incomodava mais do que nunca naquela época. O que eu queria mesmo era me afastar da Europa mais e mais. Minha meta era os Urais, ficar numa fazenda por lá, onde o povo é mais pacato. Ninguém me acharia lá.

Já estava anoitecendo, quando o trem ainda estava andando. Estava ficando mais frio, e eu realmente não me incomodava com isso. Até que senti alguma coisa pousando em meu ombro. Era a cabeça da garota que estava comigo, Elena. Ela estava exausta, e me fez ficar um pouco nervoso. Eu sempre tive um fraco por garotas bonitas, e não seria diferente com ela.

Elena poderia até ser uma pessoa que não se arruma muito bem, deveria ser o fato de ela e o irmão dela não serem tão ricos assim. Eu entendia, era altamente compreensível. Eu comecei a ter pena dos dois. Eles não estavam numa situação tão boa quanto a minha. Eles estavam amedrontados com alguma coisa, e eu não tinha coragem de perguntar o que era.

Tirei o meu casaco (eu não estava sentindo tanto frio mesmo) e cobri Elena com ele. Ela parecia se aconchegar. Era o máximo de cavalheirismo que eu poderia lhe oferecer. Passei alguns minutos olhando para ela, corado. Eu era muito tímido, mas eu era capaz de fazer alguns sacrifícios pelas damas.

Até que ela acordava lentamente, abria os olhos devagar. Ergueu a cabeça, tirando-a do meu ombro. Ela percebeu o meu casaco sobre ela. Olhou para mim, percebeu que aquele casaco de fato era meu. Corou.

– V-Vassíli? Você não está com frio? - Perguntou baixinho, para não acordar os outros passageiros.

Eu tratei logo de responder:

– Não. Pode ficar com você até a viagem terminar. Não estamos tão longe assim de Moscou.

Ela piscou algumas vezes. Suspirou. Observou bem o meu rosto, durante uns cinco minutos, eu e ela nos encarando.

– Você está morto de tão cansado.

– Eu estou bem.

Ela pareceu perder a paciência, bufou.

– Não, não está. - Ela falou em tom de sermão. Impressionei-me. Ela voltou ao seu olhar normal. - Você... pode dormir nas minhas pernas, se quiser.

Eu arregalei os olhos. Fiquei vermelho.

– M-Mas...

– Eu deixo, não se preocupe. Você está cansado e merece descansar.

Eu não podia discutir com ela. Fui logo deitando a minha cabeça nas pernas dela, me contorci para achar alguma posição confortável e não demorei muito a achar. Do jeito que eu achei conveniente, eu fiquei. Adormeci em um instante.

~x~

Depois de algumas horas, eu acordei com a voz de Elena me chamando:

– Vassíli, chegamos.

Abri os olhos, pisquei um pouco. Quando eu levantei o meu torso, pude realizar que eu estava completamente quebrado. Olhei para os dois, e me impressionei com Andrei: Ele estava um pouco emburrado, e notei também que ele evitava olhar pra mim.

Alguma coisa me dizia que aquilo ia ser um longo caminho.

~x~

Assim que saímos do trem, eu peguei o braço de cada um.

– Vamos. - Eu disse. - Temos que achar uma outra estação para Sverdlovsk.

– Qual cidade? - Elena me perguntou. - Ecaterimburgo?

– Qualquer uma serve, na verdade. - Respondi. - Ecaterimburgo está bom.

Vi que Andrei não se pronunciava. Ele não falara comigo desde que ele tinha me perguntado sobre o meu pai. Soltei os braços deles, já que o tumulto já tinha passado um pouco. Acho que Andrei não gostou muito assim de mim. Mas eu me arrisquei a perguntar a Elena:

– Ele é quieto assim mesmo?

Ela deu de ombros.

– Algumas vezes, sim.

Suspirei, eu não ia entender aquilo mesmo.

– Temos que pegar o trem para Sverdlovsk. Acho que vai demorar um pouco, enquanto isso nós devemos ficar por aqui em Moscou mesmo. - Eu avisei.

Elena e Andrei assentiram.

– O que nós vamos fazer agora? - Elena me perguntou.

Eu revirei os olhos, pensativo.

– Não acha melhor ficarmos aqui na estação mesmo? - Pela minha surpresa, foi Andrei que perguntou.

Tive que concordar.

– Acho que tem razão. - Tentei finalizar ali. - Vamos encontrar algum lugar menos tumultuado. - Tentei pegar na mão de Elena, para que ela pegue na mão de Andrei, para sairmos todos juntos sem nos perdermos. Aquele lugar não estava tão tumultuado quanto antes, mas mesmo assim, tinha muita gente e era fácil se perder por lá.

Mas quando toquei em Elena, senti o braço de Andrei nos separando. Olhamos para ele, confusos. Andrei me olhava com tremendo ódio e desprezo.

– Sem intimidade com a minha irmã, judeu idiota. - Ele falou, e eu arregalei os olhos.

Quer dizer que eles sabiam que eu era judeu? E ele falou isso em voz alta. Algumas pessoas olharam para nós, fiquei vermelho, mas fiquei com medo também. Não se poderia falar aquilo em hipótese nenhuma naquela época.

Elena se virou para Andrei, com um olhar raivoso.

– Andrei! Não fale essas coisas em voz alta! E não o ofenda!

– M-Mas, ele ia...

– Pare de fazer isso, Andrei! Eu já te disse! Nós... não podemos perder uma companhia que só veio por pura sorte para nós. Se ele fosse ruim, ele poderia já ter feito alguma coisa comigo. - Ela falava baixo, porém com firmeza. - E nós não podemos perder isso por ciúmes. Está me ouvindo?

Fiquei pasmo, e ainda continuava com os olhos arregalados. Engoli em seco. Não sabia o que dizer. Quer dizer que Andrei estava com ciúmes? Talvez ele não tenha gostado de me ver dormindo nas pernas de sua irmã. Eu dava razão a ele, deve ser um pouco incomodador ver um estranho agindo com tanta intimidade com a irmã. Eu estava desesperado por ajuda e não notei o quão pessoal era aquilo, e nós acabávamos de nos conhecer.

– Ele tem razão, Elena... Acho que eu fui longe demais.

Ela olhou pra mim como se eu tivesse cometido um sacrilégio.

– Não seja idiota, Vassíli! - Ela falou. - Nós temos que ficar juntos, não temos? Se não confiarmos em você, estamos perdidos. E além do mas... - Ela fez uma pequena pausa. - você é filho do homem que salvou a minha vida quando eu era pequena.

Eu não sabia daquela. Meu pai era médico, mas não que ele já foi médico deles e ainda por cima, amigo da família Molotov.

– Ah, é?... Eu não sabia, mesmo. - Coloquei a minha mão na cabeça.

Ela pegou firmemente na minha mão, e depois na mão de Andrei.

– Agora deixem disso e vamos logo. - E nos puxou para o balcão de vendas de passagens mais próximo.

Nós eramos conectados de alguma forma, e o acaso do destino fez-nos encontrar. Meu pai era um médico rico que cuidava dos mais pobres, é claro. Eu não tinha pensado nessa alternativa quando eles me chamaram de "Senhor Ivan". Eu era um idiota mesmo!

Começamos a andar, rapidamente, mas eu não sabia o porque. Eles pareciam estar com mais pressa do que eu. Acho que o choque que eles levaram foi maior do que eu imaginei. Algum momento, quando eu puder, eu pergunto a eles o que foi.

Foi aí que mais alguma coisa me assustou:

– Ei você! Rapaz! - Um homem gritou, chamando minha atenção.

Nós três paramos, assustados. Nem se quer queríamos olhar pra trás, para ver quem era. E quando nós tivemos que olhar: Tinha um homem com um par de óculos na mão. Aqueles eram meus. Ele esticou a mão, entregando-me.

– Deixou cair no chão.

Eu suspirei de alívio, e os irmãos também. Peguei os óculos da mão do homem.

– Muito obrigado.

– Não tem de quê. Tenham um bom dia, você, a sua namorada e seu futuro cunhado, eu acho... São irmãos, não são? É que vocês são bem parecidos...

Eu e Elena nos olhamos, olhei para Andrei também, que me olhava com um certo rancor. Olhei para o homem novamente.

– E-Eles são irmãos, sim... Mas eu e ela não somos namorados.

– Ah é? - O homem pareceu sem graça. - Me perdoem, então. É que a minha esposa os viu e pensou que eram namorados. Pois bem, tenham um bom dia.

Assenti, envergonhado.

– Tenha um bom dia, vocês também.

Vi o homem se afastando mais e mais. Olhei para Elena, ela estava em silêncio, com o rosto corado. Olhei para Andrei, que me olhava com o desprezo ainda intacto em sua face.

– Não olhe assim pra mim! A culpa não foi minha! - Eu falei para Andrei. Ele revirou os olhos.

Aquilo foi, no mínimo, constrangedor.

~x~

– Bom dia! Será que o senhor teria passagens para Ecateremburgo? - Andrei para o balconista. Ele insistiu para ir comprar as passagens. Por que não?

Ele fez que não.

– Estão todos lotados. O mais próximo que temos agora é para Kostroma.

Kostroma? O mais próximo? Aquilo já estava começando a ficar mal. Andrei olhou para nós, sem saber o que fazer.

Eu e Elena nos olhamos, até que tudo bem, fazer o que? Concordamos.

– É o que temos... - Ela falou, pegando o pouco de dinheiro que tinha.

Eu fiquei constrangido, eu tinha muito mais dinheiro comigo do que eles dois juntos. Impedi-a de dar para o seu irmão.

– Eu pago.

– Mas Vassíli... - Elena falou.

– Não tem problema. Eu pago. Vocês devem economizar para sobreviver, não?

Elena ficou calada, apenas guardou o dinheiro, mas ainda continuou preocupada. Mas era melhor assim. Paguei ao balconista. Ele me deu as passagens.

– O trem parte daqui à quarenta e oito horas.

– Quarenta e oito horas? Dois dias? Está brincando! - Fiquei horrorizado.

– Me desculpe, senhor. O próximo que posso disponibilizar é daqui a dois dias. Todos os outros em meio deste estão lotados.

Parece que muita gente queria sair da cidade para ir ao campo. Todos estavam com medo da guerra, era isso que eu poderia pensar. Derrotado, eu tive que aceita-las.

– Tudo bem, obrigado.

– Obrigado ao senhor.

Nós três saímos de lá e fomos para a saída.

– Eu tinha dito que ia demorar, mas eu não sabia que ia demorar tanto assim!

Elena suspirou.

– Não tem problema, Vassíli. Mas parece que nós vamos ter que ficar por aqui. - Ela falou.

Isso poderia até ser verdade, mas...

... estávamos com fome.

– Temos que comer algo... - Falou Andrei.

– Onde nós vamos? - Perguntou Elena.

Pensei um pouco. Não tive escolha a não ser:

– Vamos sair um pouco. Moscou é grande, não é possível que não tenha algum lugar aqui perto.

Tivemos que sair Moscou à fora.


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Notas finais do capítulo

Só uma perguntinha: Você já leu a minha história "Fraternidade"? Se sim, felizmente irá ter continuação. Na verdade, há muito tempo atrás, eu tinha uma história que era anterior à "Fraternidade" que se chamava "Wagner e Emilie", mas por complicações em continuar adiante, eu a excluí. Mas quem sabe um dia eu a recomece?
Voltando à continuação: Sim, irá ter. Se você ainda não leu, acho bom ler. Aproveite enquanto eu estou postando Troika, porque eu só posto uma história de cada vez. Com exceção de agora, em que estou postando "A pior personalidade que eu já vi", mas é que ela é uma fanfic curtinha, então eu abri uma exceção. Se você ler "Fraternidade", me fará muito feliz, também. :D
Obrigada pela atenção!
Até o próximo capítulo! :)



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