Troika escrita por Esther K Hawkeye


Capítulo 4
Confiança


Notas iniciais do capítulo

Fiquei feliz pelos comentários. Muito obrigada! Creio que darei o melhor de mim.

Boa leitura! :)



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Andrei

Caminho de Stalingrado para Moscou, 18 de Agosto de 1942

Não consigo esquecer um detalhe sequer de quando nós estávamos correndo para aquele abrigo. Na verdade, nós vagamos durante horas até achar aquele tal abrigo, que foi como uma salvação pra nós. Apesar de não estarmos com medo dos nazistas, não porque não queríamos estar, mas a situação em que acabávamos de vivenciar não nos possibilitou em ter uma emoção adequada ao momento.

Eu e Elena não queríamos ficar mais um dia lá, e nem se quer dormimos.Estávamos muito assustados, mas não quanto horas atrás. Nós tínhamos um ao outro, e a mais ninguém... Naquele momento. E quando Elena me deu aquele beijo, eu não entendi bem qual era o propósito, pois ela nunca tinha feito isso.

De manhã, nós saímos. Era fácil chegar até a estação de trem (ou o que sobrou dela). Por azar, muitas das linhas ferroviárias estavam destruídas, por isso, Stalingrado não tinha mais conexão com muitas cidades, em sua maioria, próximas. E por sorte, a linha que levava à Moscou estava quase intacta. E esperamos não acontecer nada.

De Moscou, nós iriamos para uma cidade do interior, que é mais seguro. Moscou também não estava lá muito segura, já que estava praticamente tomada pelos ataques nazistas, também. Era nossa única chance, apesar de tudo.

Ao chegarmos na estação, ela estava mais amontoada do que pensamos. Estávamos na esperança de encontrar alguém que conheçamos.

– Não se separe de mim, Andrei! - Elena me disse. Eu apenas assenti.

Até que eu avistei alguém que me parecia familiar. Ele estava de costas, e eu não conseguia ver muito bem, mas eu sabia que era um homem alto e com cabelos loiros. A fisionomia dele me lembrava a de alguém que eu conhecia a muito tempo, até eu me lembrar de que era um médico que geralmente ia até a nossa casa para cuidar de mim, já que eu vivia doente quando pequeno. Seu nome era Ivan, cujo sobrenome nunca me recordo.

– Elena! Espera! Aquele homem! - Eu apontei discretamente à pessoa dita. - Deve ser o senhor Ivan.

Elena olhou para ele por alguns segundos, até se lembrar. Ela concordava que seria ele. Num ato, ela andou rapidamente até ele, passou a mão pelas costas do homem, chamando pelo nome de Ivan, mas quando ele se virou, vimos que não era ele.

Eu corei de vergonha, eu podia jurar que era o senhor Ivan. Observei Elena falar com ele, e ele afirmou conhecer o senhor Ivan e que inclusive era filho dele. Não me intrigava, já que eles são muito parecidos, mas não me convencia muito o que ele estava falando. Elena parecia estar tão assustada que nem se quer pensou na possibilidade de ele estar mentindo, e nem achou estranho que ele ofereceu ajuda assim tão espontaneamente.

O nome dele era Vassíli, e iria para Moscou no mesmo trem que nós. Eu nem tinha falado com ele, não por timidez, mas sim por desconfiança. Eu não sabia o que ele poderia nos fazer a qualquer minuto, ou melhor, não sabia o que ele poderia fazer com Elena, principalmente.

Assim que nos sentamos, eles se apresentaram, e eu me sentiria melhor se eu me lembrasse do sobrenome do senhor Ivan, assim eu poderia ficar mais atento ou mais aliviado, dependendo da situação.

Depois de uma hora, eu decidi falar com ele:

– Se você é mesmo o filho do senhor Ivan, você sabe alguma coisa sobre medicina, não é?

– Hein? - Ele olhou pra mim. - Ah, sim! Algumas coisas...

Levantei as sobrancelhas, percebi que ele não gostava de falar sobre alguém da sua família, ele fica nervoso. Não entendi o porque. Me lembrei que certo dia ouvi papa dizer que Ivan vem de uma família de judeus ricos, completamente diferente de nós, que eramos pobres demais.

Mas isso não foi motivo para eu deixar de ficar desconfiado. Elena virou-se pra mim, começou a sussurrar alguma coisa perto do meu ouvido:

– Não fale sobre a família dele em público. Ele é judeu, não notou?

– Sim, eu podia saber, mas por... - Elena me interrompeu.

– Se alguém aqui for um nazista disfarçado, eles podem prender o Vassíli. Agora, não fale mais isso.

– Tudo bem.

Elena voltou a olhar para frente. Não havia dúvidas que ela confiava em mim, mas ainda tinha um pouco de medo da minha inocência entregar tanto a nós quanto a Vassíli. Sei que não temos nada relacionado a Vassíli, mas agora que estamos com ele, precisamos tomar cuidado também. Não queremos ser presos também. E sabemos como os alemães são cruéis.

– Vassíli... - Eu falei, um pouco baixo, ele olhou pra mim. - Você vai mesmo nos ajudar? Digo... Mal nos conhecemos e...

Ele deu de ombros.

– Estou sozinho e confuso também, eu queria estar com alguém, pelo menos. Não gosto de andar sozinho, eu não me sinto seguro, entendeu?

Assenti. De alguma forma, eu entendia o que ele sentia. Também deve ter perdido os pais, e de uma forma também trágica. E espero que ele se sinta um pouco mais a vontade com nós.

Elena continuava a falar com ele. Eu poderia estar participando disso também, mas eu estava morrendo de sono. Logo, sem perceber, minha cabeça caiu no ombro da minha irmã, e lá eu fiquei, dormindo como um urso.

Dali a pouco, estaríamos em Moscou. E estaríamos juntos, e isso era o que mais nos importava.


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Notas finais do capítulo

Capítulo curto, mas a preguiça me deixa de tal forma que eu nem consigo explicar. kkkkk O próximo vai ser um pouco melhor, prometo.

Até o próximo capítulo. :)



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