Cartas Para Quinn escrita por lovemyway


Capítulo 8
Capítulo 8 — Não Mais Tão Garota


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoal!

Duas semanas depois, e aqui estou eu :D. A quem interessar possa, correu tudo bem na minha cirurgia. Só preciso de muito repouso e ficar com a cabeça levantada (porque foi no nariz, e tal), mas fora isso, tudo de boa.

Queria agradecer muito a todos que deixaram reviews no capítulo anterior, vocês são demais ♥. E obrigada também para quem desejou boa cirurgia, e tudo o/. Aí vai mais um capítulo para vocês. Não esqueçam de contar na caixinha lá embaixo o que acharam! Ainda bem que a curiosidade só matou o gato, porque se matasse gente, eu tava ferrada UAHUAHUHA. Sempre fico curiosa pra saber o que vocês estão pensando sobre a história, e espero, de coração, que estejam gostando :D

Sem mais delongas, vamos ao cap.

Boa leitura!



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15 de fevereiro de 2012






Querida Quinn,



Devo dizer que estou me sentindo completamente envergonhada ao lhe escrever isto. Meu Deus. Quero dizer, nesse pouco tempo que estivemos nos comunicando, eu tenho dito muito de mim para você. Talvez até mais do que você imaginou que receberia quando se inscreveu para esse programa. E, honestamente, eu também acabei dividindo mais do que pensei que fosse compartilhar. O resultado disso é que você sabe muitas coisas sobre minha situação escolar, conhece alguns traços de minha personalidade, e está até mesmo ciente de como funciona, mais ou menos, minhas relações familiares complicadas. No meio de tudo isso — e de cartas enviadas quando eu não estava no completo domínio de minhas faculdades mentais —, eu acabei esquecendo de mencionar.



Eu não tenho mais dezesseis anos.



Desculpe, desculpe, sei que deveria ter dito alguma coisa antes. Acho que estava envolvida demais com a loucura acontecendo ao meu redor, e acabei negligenciando esse pequeno pedaço de mim mesma, sem lhe dar a devida importância. Erro meu. Meus pais me dizem todos os anos que crescer é uma dádiva. Cada dia que vivemos é um presente, e nós falhamos a partir do momento em que nos esquecemos disso. Esquecemos o quão preciosa é a vida. Esquecemos o quão rápido ela pode terminar. Eles estão certos, é claro. Acredito que eu tenha falhado, então, porque acabei esquecendo. Então, permita-me lembrar.



Eu, Rachel Barbra Berry, tenho oficialmente dezessete anos de idade. Não que isso seja muito diferente de ter dezesseis. A aparência continua a mesma — os mesmos cabelos e olhos castanhos, a mesma pele morena, a mesma falta de altura (risos). As maiores mudanças acontecem sempre onde não se podem ser percebidas: dentro de nós mesmos. E às vezes elas são tão profunda que nós sequer as notamos. Não até que elas se tornem evidentes. Não tenho certeza se minha personalidade mudou; acredito que, nesse aspecto, eu continue a mesma. Entretanto, alguma coisa está diferente. Meu modo de ver o mundo, talvez. Ou o modo que o mundo me vê. À medida que vamos crescendo, as expectativas começam a pesar sobre nossos ombros. Nossos pais esperam algo de nós. A sociedade espera algo de nós. Nós esperamos algo de nós mesmos. É quando começamos a trilhar nosso caminho para a vida adulta, iniciando uma nova jornada de autodescoberta e superação. Uma jornada que pode começar a definir nosso futuro.



Em parte, eu gosto de estar crescendo. Saber que os anos estão passando, que estou me tornando mais madura, que as feridas do passado estão começando a cicatrizar, cedendo espaço a novas. É como viver uma aventura. Onde vai terminar?, eu não tenho ideia. Mas o final não é o mais importante. O que realmente importa é o que fazemos enquanto trilhamos nosso caminho.



E justamente pelos caminhos sempre serem difíceis e complicados, eu fico feliz em saber que eu faço alguma diferença na sua vida, também. Que eu faço com que você se sinta escutada. Você tem absoluta razão quando diz que não há nada pior que ver alguém sofrer, e não poder fazer nada a respeito. Imagino como meus pais devem ter se sentido todos esses anos, incapazes de me proteger de tudo pelo que passo. Espero nunca vivenciar essa situação. Espero que meus filhos não precisem enfrentar tanto preconceito quanto eu enfrento. Espero que eles encontrem um mundo melhor. Mas, se não houver melhoras, então espero que eles encontrem alguém. Alguém que os guie; alguém que esteja lá por eles; alguém que faça o que eu não poderei fazer. Alguém que seja tão egoísta quanto você se diz ser. Alguém egoísta que possa escutar seus problemas. Alguém egoísta que os aconselhe. Alguém egoísta que esteja lá.



De qualquer forma, espero que você possa me perdoar pelo meu lapso de memória. Não foi intencional, prometo. E já que estamos falando de aniversário, quando é o seu? Quando a jovem senhorita Fabray vai acrescentar mais um número em sua conta etária? Espero um convite para a sua festa de aniversário! (risos). Não é porque você está há milhas de distância que isso signifique que não possa mandar um cartão escrito “Meus parabéns”. Eu sei, é tão pessoal e tocante que vai fazer você se desfazer em lágrimas. Mas, por favor, tente se manter inteira. Pelo menos até o fim do cartão. Será que existe alguma forma de eu trocar aquelas musiquinhas bestas por mim mesma cantando? Hum… Acho que vou investigar se é possível. Aí você poderia constatar com os seus próprios ouvidos o quão incrível eu sou. E eu sou, mesmo. É a única coisa que todos parecem concordar sobre mim: as pessoas me acham chata, irritante, egoísta; só que, apesar disso, todas elas sabem que sou talentosa.



Mudando drasticamente de assunto… Sinto muito que Santana, sua amiga de boca suja, também tenha passado por isso durante o colegial. É uma porcaria, não é? Faz a gente querer fazer a diferença, só que as pessoas não parecem prontas para mudar. Por mais que você tente, alguns sempre serão os mesmos. E isso significa que sempre vai existir alguém que vai apontar o dedo e dizer que o que você faz, ou quem você é, não é certo. Essas pessoas não são importantes, embora. O importante é como nos sentimos sobre nós mesmos. As nossas vidas estão em nossas mãos. Pessoas que conhecemos são passageiras. Elas vêm e vão. Só há apenas uma que sempre estará lá; alguém com quem sempre precisaremos conviver: nós mesmos. Portanto, se não agirmos de acordo com quem realmente somos, essa dor e culpa sempre nos assombrará. Não que ser verdadeiro a si mesmo torne o mundo mais fácil de ser vivido. Mas é um peso a menos, uma dor a menos, e certamente é um alívio enorme, principalmente para quem sente que tem o peso do mundo sobre as costas.



Você não sabe a alegria que sinto em saber que você está escrevendo! Isso é simplesmente maravilhoso, Quinn! Pode ter certeza que se algum dia eu encontrar “O livro de poesias da incrível Quinn Fabray”, eu o comprarei de imediato. E eu definitivamente não deixarei de ler a primeira página. Lá vai você atiçar minha curiosidade novamente. Maldade sua, Quinn. Maldade sua. Mas eu te perdoo!



Até a próxima carta!

Da garota que não é mais tão garota,

Rachel Berry.

P.S.: NÓS estamos seguindo em frente :)


23 de fevereiro de 2012





Querida Rachel,



Primeiro de tudo, deixe-me dizer, bem rápido, que você não precisa se sentir envergonhada por absolutamente nada. Eu entendo. Realmente. Sei que muitas coisas têm acontecido em sua vida, e conciliar tudo é nada menos que complicado. Portanto, nada mais que natural deixar coisas escaparem à memória. Acontece comigo o tempo inteiro. Além disso, é bem verdade que estivemos conversando sobre coisas profundas. Nunca imaginei dividir tanto com alguém que conheço há tão pouco tempo. Você provavelmente sabe mais sobre mim do que muitas pessoas que conheço. Acho que pode se dizer que tenho dificuldades em me abrir. Exatamente o oposto de você. É um mistério para mim como uma garota que, assim como eu, passou por tanto, e ainda consegue ser tão aberta, tão comunicativa. Você é uma do gênero, Rachel Berry. Nunca se esqueça disso.



Segundo: FELIZ ANIVERSÁRIO! Atrasado, eu sei, mas o que conta é a intenção, certo? (risos). Ficar mais velho é difícil. A cada ano que passa, você sente essas mudanças acontecendo em você. Não necessariamente na aparência (ajudou bastante sua descrição de si mesma, a propósito; agora posso ter uma imagem mental melhor de como você se parece), mas, como você sabiamente disse, elas acontecem por dentro. Nós mudamos. O mundo muda. Nosso olhar sobre ele, e olhar dele sobre nós se torna diferente. De repente, há todas essas expectativas jogadas sobre nossos ombros. Expectativas que nem sempre somos capazes de atender, porque elas nem sempre condizem com o que queremos, ou com quem somos.



Eu ainda lembro, como se fosse ontem, do aniversário de dezessete anos do meu irmão, Sam. Nós estávamos passando por essa fase financeira complicada, mas eu queria fazer alguma coisa legal por ele. Sam sempre foi um irmão tão bom. E eu não sou exatamente um exemplo de irmã. Sinto que deixei a desejar em muitas coisas; sinto que poderia ter sido melhor. Mas acredito que fiz o que podia nas condições em que me encontrava. O que aconteceu com os meus pais me marcou profundamente — e de uma maneira que nem mesmo meu irmão é capaz de entender. O que é engraçado, porque ele é mais velho do que você, e sei que você me compreende. Talvez seja porque Sam teve a mim, enquanto você e eu não tivemos a ninguém. Quero dizer, você teve seus pais, e tenho certeza de que eles fizeram o que podiam, mas há aquela sensação de vazio. Há coisas que você não consegue conversar, a não ser que seja com pessoas que possam compreendê-las. Ou talvez eu esteja falando bobagens, não sei.



De qualquer forma, no dia do aniversário de Sam, eu o levei para Nova Iorque. Eu estava economizando por meses para lhe comprar um presente, mas não tinha a menor ideia do que lhe dar. Então eu decidi fazer uma viagem de volta à nossa infância. Aos bons momentos que passamos juntos. Uma forma de relembrar o que muitas vezes esquecemos: a vida é curta. Mas, apesar de ser curta, é intensa. Devemos vivê-la da melhor maneira possível. Devemos aproveitar cada momento. Nunca se sabe — esse momento pode ser justamente o último.



Sam me agradeceu, depois. Disse que o fez tomar a decisão de qual curso ele queria fazer. Meu irmão sempre foi apaixonado pelo meio artístico — dança, música, atuação. Ele não é exatamente o dançarino exemplar, ou o melhor ator ou cantor do mundo, mas ele é esforçado. Ele costumava participar de todas as peças escolares como o protagonista. Nos concursos de talento, ele estaria lá, no palco, com sua guitarra. Ele nunca faltou a uma aula de dança, sempre tentando melhorar. Esse é o meu irmão. Essa é a paixão dele. Só que, como todos os adolescentes, havia expectativas sobre ele. Depois da morte de nossos pais, nós fomos criados por nossos tios. Eles queriam que Sam se tornasse advogado ou médico. Queriam que ele cursasse alguma coisa que desse dinheiro. Queriam que ele fosse como todos os outros. E meu irmão queria tanto agradá-los que se deixou influenciar. Ele acreditou quando lhe disseram que não era bom o suficiente para cantar ou atuar. Ele acreditou que sua paixão não o levaria a lugar nenhum. Então, eu o lembrei. Lembrei que o amor é nossa maior força. Ela pode nos derrubar, mas também nos levar a lugares que nunca imaginamos encontrar. E ele se encontrou.



Digo, com muito orgulho, que meu irmão está cursando artes cênicas na Seattle University. Ele espera, um dia, poder participar de algum filme, peça, ou série musical, de forma que ele possa unir sua paixão pela música e pela atuação. Quando esse dia chegar — e eu sei que vai —, eu serei a irmã mais velha mais orgulhosa de todo o planeta.



Mas, voltando ao assunto… Meu aniversário é dia 30 de junho, então ainda temos alguns meses pela frente antes que você precise me desejar parabéns :). E eu prometo que quando receber sua mensagem, vou tentar não chorar. Garanto que será difícil, mas farei o meu melhor por você (risos). Adoraria escutar você cantar! Espero que algum dia eu tenha essa sorte!



Sobre Santana, a amiga de boca suja (é um apelido cativante, preciso admitir)... Ela está bem, agora. Claro, foram tempos difíceis, mas ela sobreviveu. E isso a tornou mais forte, mais sincera consigo mesma, com seus sentimentos. Não me entenda mal. De forma alguma passar por isso tudo é certo, não importa as coisas boas que possam aparecer depois. Nunca é certo discriminar alguém. Nunca é certo fazer uma pessoa se sentir mal sobre si mesma. Você está absolutamente certa. A pessoa com quem sempre teremos que conviver somos nós mesmos. E se não somos satisfeitos sendo essa pessoa, então provavelmente não seremos satisfeitos com mais ninguém. Não diga isso a ela, mas Santana é uma das pessoas mais fortes que conheço. Corajosa. Maluca. Brutalmente honesta. E, às vezes, só brutal mesmo (risos). Entretanto, acho que são exatamente essas coisas que a tornam diferentes. Essas coisas que me fazem amá-la ainda mais. Eu me sinto orgulhosa por ter acompanhado todo o seu crescimento. Por poder ver a mulher que ela se tornou. É gratificante. É maravilhoso. É emocionante.



Desculpe por atiçar sua curiosidade novamente! Mas acabou dando tudo certo da última vez, não foi? Talvez também dê nessa, também!



Mais uma vez, feliz aniversário. Tudo de bom para você, jovem Rachel. Que seu caminho esteja sempre coberto de aventuras e descobertas — e que você seja sempre corajosa o suficiente para trilhá-lo.



Até a próxima, então.

Da mulher que te deseja toda a felicidade do mundo,

Quinn Fabray.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? o/