Cartas Para Quinn escrita por lovemyway


Capítulo 27
Capítulo 27 — Não Tenha Medo


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoal! Tudo bom? o/


Primeiro capítulo do ano (YAAAAY), então queria tirar uns segundos para agradecer a todo o apoio e carinho que vocês tem me dado desde o primeiro capítulo da história. Obrigada a cada pessoa que tirou um tempinho do seu dia pra ler essa fic, e um obrigada ainda mais especial e cheio de amor a quem favoritou, comentou ou recomendou. Vocês são realmente incríveis :)

Espero que a história não esteja decepcionando, e que vocês curtam o capítulo!

Sem mais delongas... :p



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Rachel pensou que iria ficar sozinha no Natal. Ela estava esperando por isso, uma vez que seus pais haviam marcado uma segunda lua de mel, e Kitty havia retornado a Lima para passar o feriado com a família e a namorada. A garota até havia convidado Rachel para acompanhá-la, mas ela não queria incomodar, e, além disso, ela era judia. Judeus não comemoravam o Natal. Ela havia se conformado com a ideia de passar uns dias sozinha — tinha até desejado isso, porque Kitty andava insuportável por esses tempos, falando da namorada a cada cinco segundos (será que ela era tão irritante assim quando falava sobre Quinn?) —, e seria legal ter o apartamento inteiro para si mesma.

Exceto que não foi. Nem um pouco. Tudo bem, ela havia acordado tarde, almoçado panquecas, e cantado todas as canções natalinas que estavam tocando na rádio. Porém, depois de um tempo ela começou a ficar entediada. O que era estranho. Quando estava no colegial, Rachel havia se acostumado com a solidão. Ela sempre encontrava formas de preencher seu tempo, que geralmente envolviam escolher seus próximos solos para o clube do coral, ou postar vídeos no youtube de covers que ela fazia das músicas que gostava. Contudo, ela recebia tantos comentários negativos dos colegas do McKinley, que depois de um tempo ela acabou desistindo.

Eu estou mal acostumada, ela havia pensado para si mesma. Estar só nunca havia a incomodado antes. O negócio era que antes ela não tinha amigos, não conhecia nada melhor. Agora ela tinha. E ela sentia falta deles. Sentia falta do seu primo, Noah, e de todas as besteiras que ele falava; sentia falta de Marley, que assim como ela, animava-se ao falar sobre musicais; e, principalmente, ela sentia falta de Kitty, sua melhor amiga.

Justamente por não estar esperando ninguém, Rachel ficou bastante surpresa ao ouvir a campainha tocar na véspera do Natal. Ela franziu o cenho e olhou para o relógio, imaginando se seria algum vizinho querendo alguma coisa. Ela se levantou do sofá — resolvera passar o dia fazendo uma maratona de séries —, e se espreguiçou, andando lentamente até a porta.

A campainha tocou outra vez.


— Estou indo! — ela disse, e revirou os olhos.

Rachel abriu a porta, e seu queixo foi ao chão. Ela definitivamente não tinha visto essa chegando.

*

 

 

— E assim, crianças, foi como eu conheci sua mãe — provocou Sam, atirando pipoca em Rachel e soltando uma pequena risada. — Na verdade foi através de um programa de cartas, mas quem liga para os detalhes?

— Quinn estava certa sobre você — gemeu Rachel, cobrindo o rosto com as mãos para esconder o quanto havia ficado vermelha. — Você é mesmo irritante, Samuel.

— Eu? — ele indagou, num falso tom de inocência. — Calúnias! Injúrias! Difamações!

— Você sabe que isso são coisas diferentes, não sabe?

— A grande verdade, jovem padawan, é que a força não é tão poderosa em Quinn quanto é em mim. Essas falsas afirmações não passam de intrigas inventadas pelos Sith para arruinar a minha fama perfeita de Jedi mais irado de todos, mas Quinn não irá conseguir. O lado escuro da força sempre perde — ele disse, ignorando Rachel. — Além disso, ela é minha irmã mais velha, não pode dar uma opinião imparcial. E você é namorada dela, então também não conta.

— Não estamos namorando — retrucou Rachel, desviando o olhar de Sam.

— O que? Já casaram? — ele perguntou, arregalando os olhos. — Bem, eu devo dizer que estou ofendido. Minha irmã não me convidou para o próprio casamento? Cara, e eu aqui imaginando que seria o padrinho. Tinha até todo o discurso preparado. “Como minha irmã se tornou pedófila, e como o exército dos Estados Unidos foi o grande responsável por isso”. Ia ser um sucesso em todas as redes sociais, você não acha? — ele balançou as sobrancelhas sugestivamente.

— Sam! — exclamou Rachel mortificada.

—Estou brincando, estou brincando — ele ergueu as mãos em sinal de rendição, e começou a rir. — Você está séria demais, Rach. Isso tudo é emoção por eu ter aparecido sem avisar?

— Sobre isso… Por que você apareceu sem avisar? — ela franziu o cenho. — Não que eu esteja reclamando. Gostei da surpresa, e já estava detestando ficar aqui sozinha. Mas como você sequer sabia que eu estava em casa?

— Como qualquer pessoa descobre algo sobre outra atualmente? — ele disse, bastante sério. — Contratando um detetive para investigar sua vida, claro. Qual é, eu só vi seu facebook — ele sorriu sem graça. — Foi mal aparecer assim. A verdade é que… Bem, eu não queria ficar sozinho, e você é a única que eu conheço que mora aqui.

— Mas por que você está em Nova Iorque? E os seus tios? Pensei que você ia passar o feriado com eles.

— Meus tios são complicados — Sam fez um careta. — Sempre tentam me convencer a perseguir uma carreira que eles acham mais adequada. Não aceitam que eu tenha feito faculdade de artes cênicas. Quinn é a única da família que me entende e me apoia. Não quis passar mais um ano de chateação. A propósito, você está convidada para a minha formatura.

— Estou? — ela perguntou, surpresa.

— Somos amigos, ou não? — Sam deu de ombros. — Além disso, você não me expulsou da sua casa, então é o mínimo que posso fazer.

— Você não tem jeito — Rachel riu, e o empurrou de leve. — Obrigada.

— Você não vai chorar, vai? — ele olhou para ela, arqueando a sobrancelha. — Se você começar a chorar, considere-se desconvidada.

— Idiota.

— Assim está melhor — ele sorriu e se acomodou no sofá, voltando sua atenção para a televisão, onde estava passando uma maratona de How I Met Your Mother.

Rachel o observou em silêncio. Ela notara que Sam não havia respondido sua pergunta sobre o que ele estava fazendo em Nova Iorque. E, além disso, ela não comprava a história de que ele não queria passar o Natal com os tios. E ainda que fosse verdade, havia também a namorada. Ele tinha uma namorada, não tinha? Ou vai ver eles terminaram e ele não quer falar sobre isso, Rachel refletiu. Ela não ia insistir no assunto, mas tinha a ligeira sensação de que ele estava escondendo alguma coisa. Ela não pode deixar de se perguntar se Quinn poderia estar envolvida de alguma forma, e que talvez ela não quisesse que Rachel passasse o feriado sozinha. Mesmo sem saber se era verdade, Rachel se sentiu grata. Ela gostava da ideia de Quinn se preocupando com ela, ainda que a distância.

Não seja tola, Rachel, ela disse a si mesma, puxando-se para fora de sua ilusão. Como Quinn sequer poderia saber que você ia ficar sozinha? Você está imaginando coisas. Sam estava na cidade e resolveu visitá-la. Só isso.

Ela voltou sua atenção para a televisão, e pegou um pouco de pipoca da vasilha. Mas mesmo quando estava assistindo a tv, ela não conseguiu parar de pensar sobre Quinn.

E ela também não conseguiu parar de sorrir.

*

 

 



— E então — disse Sam, enquanto Rachel terminava de colocar a mesa. Ele tinha insistido em preparar a ceia de Natal (“Você vai se surpreender com as minhas habilidades incríveis na cozinha!”), e como Rachel havia imaginado em comer panquecas de novo (era basicamente a única coisa que ela sabia fazer bem), ela concordou. — Como você está? Tudo ok na faculdade?

— Tudo — ela sorriu. — Apesar da minha professora de dança estar bem desgostosa pela minha melhora nas aulas.

— Desgostosa? — ele coçou a cabeça, confuso. — Ela deixou de ser gostosa porque você melhorou na dança?

— O que? — ela franziu o cenho. — Não, eu quis dizer que… — mas Sam começou a rir, e então Rachel entendeu que era uma piada. Ela revirou os olhos e prosseguiu: — De qualquer forma, as coisas estão indo muito bem. Tenho plena confiança no meu futuro.

— Isso é muito legal, sabe? — o rapaz se apoiou no balcão e olhou para Rachel, pensativo. — Você é bem diferente de mim e de Quinn nesse sentido. Eu não sabia muito o que queria na sua idade. Quer dizer, eu até sabia, mas a família me pressionava a fazer outra escolha. E Quinn? Nem me deixe começar sobre ela. Nunca conheci alguém tão indecisa em toda minha vida. Acho que só a vi realmente certa sobre uma coisa.

— O que? — a garota indagou, curiosa.

— Você.

Rachel encarou Sam por alguns segundos, esperando que ele começasse a rir e dissesse “Brincadeirinha!”, contudo, ele não o fez. Ele apenas a encarou de volta, com a cabeça ligeiramente inclinada, como se estivesse tentando entender alguma coisa.

— Enfim — ele balançou a cabeça e continuou. — Acho bem legal você saber tanto o que quer, e não ter medo de ir atrás. Não comecei a faculdade que queria quando terminei o colegial, não logo de cara. Perdi um ano porque tive medo, porque ouvi as pessoas dizendo que não ia dar certo, que eu não podia. Danem-se eles, certo? A vida é minha. Posso ter uma derrota ou uma vitória, mas elas serão minhas. Entende?

— Eu entendo.

— É, eu imaginei que você entenderia. Essa é a coisa sobre você, não é, Rach?

— Como assim?

Ele parou de falar e raciocinou um pouco antes de responder, tentando organizar seus pensamentos. Rachel foi até a geladeira e pegou a jarra de suco que Sam havia feito antes de começar a preparar o jantar — macarrão com queijo (Habilidades incríveis na cozinha? Não mesmo, ela pensou) —, e a colocou no centro da mesa. Então ela se virou para olhá-lo, esperando que ele começasse a falar. Mas ele continuou em silêncio.

— Você está bem?

Ele concordou.

— Rachel… — Sam começou, mas acabou mordendo os lábios, indeciso, e optou por permanecer calado.

— Tudo bem, você não precisa dizer nada — ela o tranquilizou.

— Não é isso… Veja… — ele suspirou. — Quando nossos pais morreram, Quinn se tornou tudo o que eu tinha, e eu tudo o que ela tinha. Ela não é só minha irmã mais velha, ela é o mundo para mim. Sei que isso soa brega, e tal, mas é verdade. Eu sempre valorizei a opinião dela mais de que a de todo mundo. E a recíproca é verdadeira. Acho que por conta de tudo o que passamos, nós sentimos que só podíamos contar um com o outro. Só que isso também é um problema, você sabe? Você meio que se fecha para outras pessoas, e essa merda toda. Quando ela entrou no exército, quando eu comecei a faculdade… Foram grandes passos para nós dois. Foi como descobrimos que podíamos viver separados. Aos poucos eu fui mudando. Talvez por causa do ambiente em que eu estava, sei lá, mas a Quinn continuava a mesma, sabe? A faculdade fez eu me abrir mais. O Exército fez com que a Quinn se fechasse mais.

Ele passou a mão pelos cabelos, e Rachel percebeu o olhar de dor no rosto de Sam. Ela sentiu um aperto grande no peito. Imaginou como deveria ter sido difícil para ele ver a irmã passar por tanta coisa, e sentir que não podia ajudar.

— É uma merda, esse sentimento de impotência — ele disse, como se soubesse exatamente o que Rachel estava pensando. — Eu não podia ajudá-la. Quinn sempre tentou me proteger demais, como se eu fosse frágil, como se eu fosse quebrar se ela dividisse um pouco do fardo dela comigo...

A esse ponto, ele já estava chorando abertamente. Rachel se moveu para ficar ao seu lado, e segurou a sua mão. Ele abriu um pequeno sorriso para ela, e respirou fundo antes de prosseguir.

— Machuca, Rachel. Machuca muito ver a pessoa que você mais ama no mundo se perdendo dentro de si mesma, não permitindo que ninguém a ajudasse. Machuca ficar de mãos atadas enquanto a pessoa trilha um caminho de auto-destruição. E o que eu podia fazer? Quinn nunca conversou comigo sobre essas coisas. Ela queria que toda a dor ficasse com ela para me poupar, mas acho que ela não percebia que isso acabava me magoando, de um jeito ou de outro. Eu não queria que ela me protegesse. Queria que ela contasse comigo — ele limpou as lágrimas e respirou fundo. — Melhorou quando ela conheceu a Santana, mas só um pouco. Santana ofereceu apoio incondicional, porém ainda havia coisas que ela não compreendia. Coisas que San não podia compreender, porque ela carregava outros tipos de cicatrizes.

— Às vezes só é difícil — Rachel disse, olhando para o teto. — É difícil dividir certas coisas, porque você sabe que vai fazer outra pessoa sofrer por causa do seu sofrimento. E se você ama alguém, você não quer que essa pessoa sofra por sua culpa. Por isso nunca contei aos meus pais sobre o que acontecia comigo na escola. Se eu contasse, eles também ficariam tristes, mas não ajudaria em nada, entende?

— Viu? Você a compreende. Eu já não concordo. Quero dizer, pelo menos não em parte. Se a pessoa ama você também, então ela vai saber que você está sofrendo, e se sentir inútil por não poder ajudar. Não é melhor dividir o peso, qualquer que ele seja? Afinal, de todos os jeitos, os dois acabam machucados.

— Eu não sei — ela deu de ombros. — Nunca tive ninguém como Quinn teve a você, e você a ela. Mas eu acho que você está se esquecendo de algo, Sam. Ela é mais do que sua irmã. Ela já me disse isso, você já disse. Talvez ela não faça isso porque quer. Talvez seja uma escolha inconsciente. Talvez seja o instinto materno dela falando mais alto. Eu sei que é normal querer ajudar, mas às vezes a melhor ajuda que damos é quando permitimos que a pessoa tenha seu espaço.

Sam franziu o cenho, pensando sobre o assunto.

— Nunca tinha visto as coisas por essa perspectiva — ele admitiu. — Mas mantenho o que disse. Sei que muitas vezes os pais tentam proteger o filho da dor, mas pela minha experiência, eu acho que ficar no escuro é bem pior. Nós sabemos. Quando a pessoa que amamos está sofrendo, nós simplesmente sabemos. E sentimos essa dor, também, essa pessoa querendo ou não.

Eles ficaram calados por alguns instantes. Rachel fechou os olhos, lembrando de todas as mentiras que ela havia inventado para os seus pais no decorrer dos anos. Eles sabiam, ela pensou, sentindo-se mal. Eles sempre souberam que havia alguma coisa errada, mas não a pressionaram. Esperaram que ela se abrisse. Esperaram que ela dividisse sua dor. Ela esteve tão focada em não preocupá-los com os seus problemas, que acabou por não perceber que, na verdade, eles sempre estiveram preocupados. Ela que nunca havia reparado.

— Rach — o rapaz quebrou o silêncio, atraindo o olhar da garota —, a Quinn lhe contou porque ela se inscreveu no programa de troca de cartas?

— Não — ela sussurrou em resposta.

— Ela andava bem desanimada. Santana estava bastante preocupada, com medo que ela se afundasse na depressão. Eu fiquei sabendo do programa pela Internet, e comentei com a San sobre ele. Fiquei surpreso quando ela me disse que já o conhecia. Parece que Quinn achou um panfleto e ficou interessada, mas ainda estava receosa — soltando um suspiro, Sam segurou as mãos de Rachel entre as suas, apertando-as com delicadeza. — Dava para perceber que era algo que ela realmente queria fazer, mas não tinha coragem de dar o primeiro passo. Procurando incentivá-la, San se inscreveu, e Quinn tomou coragem e fez o mesmo logo em seguida. E então, veio você.

Sam encarou Rachel por alguns segundos, sem dizer nada. Ela não conseguia ler a expressão dele muito bem — parecia uma mistura de emoções —, e tudo o que pode fazer foi retribuir o aperto na mão.

— Você… — ele disse, por fim. — Alguém que tinha sofrido, alguém que sabia o que era dor. Alguém forte, e que apesar de tudo, apesar de toda a circunstância estava aguentando firme. Quando eu digo que você mudou minha irmã, eu não digo da boca pra fora, Rachel. Eu tive tanto medo quando ela me falou sobre você. Ela parecia tão esperançosa, tão otimista, pela primeira vez em… Quanto tempo? Nem eu sei. E então eu te conheci. Foi quando percebi que não precisava ter medo.

—É você — Sam completou, e abriu o sorriso mais sincero que Rachel já havia visto.

Eles não conversaram muito depois disso. Jantaram em completo silêncio, mas não foi incômodo. Sam parecia mais feliz, mais leve, como se tivesse tirado algum peso do peito. E Rachel… Ela não sabia muito bem como se sentir sobre isso.

Quando se deitou para dormir, tudo o que ela conseguia pensar era na mulher de olhos verdes que estava há quilômetros de distância. A mulher que havia reivindicando um lugar na sua vida, em seu coração. Naquela noite, Rachel chorou. Chorou por sua mãe, chorou por sua dor, chorou por Quinn, e pelos pais que ela havia perdido. Chorou por todas as família e por todas as pessoas que enfrentavam a perda, a dor, o vazio. Chorou por aquelas que tinham forças para seguir em frente, e por aquelas que não tinham.

— Eu estarei lá por você — ela murmurou, em meio aos seus soluços. — Eu prometo, Quinn. Eu prometo.



*

 



— Você parece nervosa — comentou Brittany, lançando a Rachel um olhar curioso.

Sam tinha ido embora no dia vinte e seis, e havia sido substituído por Brittany. A loira aparecia praticamente todos os dias, e quando não ia, elas acabavam conversando por mensagem.

O ano novo tinha sido bom. Kitty havia retornado com Marley a tira colo, e as quatro haviam saído para assistir a contagem regressiva na Times Square. Rachel não beijou ninguém à meia noite, mas ela certamente havia imaginado que tinha.

Agora ela estava certa que a presença de Sam e Brittany tinha algum dedo de Quinn. Nenhum dos dois permitiu que ela ficasse sozinha no final do ano, e Rachel se sentiu extremamente feliz por isso. Era bom estar cercada de amigos.


— É hoje — admitiu Rachel, virando-se para encarar Brittany. — Nosso primeiro encontro.

— Ahhh — Brittany bateu palmas, e seus olhos brilharam de animação. — E você escondendo o ouro, ein, Rae? Por que não disse nada antes? Então, o que vai ser? Vocês vão jantar? Se bem que tem o fuso-horário — ela disse, pensativa. — Então talvez jantar para você e café da manhã para ela?

— Não vamos comer — Rachel revirou os olhos, e soltou um risinho nervoso. — E você não está ajudando. Na verdade, eu acho que vou desmaiar.

— Se eu não soubesse que você já pretende seguir a carreira de atriz, ia sugerir nesse momento que você fizesse isso. Um dia você vai ganhar um Tony, ou um Oscar, ou um Globo de Ouro. Qualquer coisa que envolva drama com certeza terá seu nome nele.

— Você não é engraçada — retrucou Rachel, quase roendo as unhas. — Estou falando sério, B.

— É claro que está, drama Quinn — ela disse, e então começou a rir da própria piada. — Entendeu? Queen? Quinn?

Brittany riu tanto que as lágrimas começaram a descer pelo seu rosto. Rachel a encarou como se a amiga tivesse duas cabeças. Ela estava no meio de uma crise existencial, e a loira estava ali, inventando piadas sem graça? (Tudo bem, ela tinha que admitir que era um pouquinho engraçado, mas bem pouco mesmo, quase nada).

— Honestamente — Rachel bufou, irritada. — Você, Sam e Kitty são farinha do mesmo saco.

— Não acho que sejamos — Britt disse, tentando parecer séria. — Tenho quase certeza que o saco que ajudou na nossa existência pertencia a pessoas diferentes. Mas nunca se sabe, não é? Nós três somos loiros.

— Pelo amor de Moisés! — Rachel lançou um olhar de reprovação para Brittany, que havia caído na risada de novo. — Onde eu fui me meter? E nem ouse fazer piada com isso! — ela disse, apontando para a outra garota quando ela parecia prestes a dizer alguma coisa.

— Você fica fofa quando está irritada — Brittany disse, controlando a risada e se aproximando de Rachel para apertar suas bochechas. — Coisinha linda.

— Você não é normal — resmungou a garota, afastando-se. — Mas e você, senhorita Pierce? Como vai a sua vida amorosa?

— Ah… — a expressão brincalhona foi substituída por uma preocupada. Brittany deu de ombros, tentando parecer descontraída, mas Rachel sabia muito bem que aquele sorrisinho no rosto da amiga não era verdadeiro.

— Por que eu tenho a sensação de que isso está diretamente relacionado a um certo alguém que responde pelo nome de Santana Lopez? — indagou a morena, sentando-se num banco, e dando um tapinha no assento livre ao seu lado, indicando para Brittany fazer o mesmo.

A loira soltou um pequeno suspiro, e se sentou. Elas estavam sozinhas no estúdio de dança de Brittany. Era um sábado, então não havia aula. Além disso, era o único tempo livre que as duas tinham. No começo, os encontros semanais eram para ajudar Rachel a melhorar sua dança. Depois de um tempo, entretanto, ela e Brittany haviam se tornado amigas, e agora era só uma desculpa para que elas se vissem com frequência, porque elas gostavam da companhia uma da outra.

— Porque é — a loira respondeu, triste.

— Pensei que você estivesse saindo com aquela garota… Violet, não era? O que aconteceu? Não deu certo?

— O mesmo que aconteceu com todos os relacionamentos que tive depois da Santana — Brittany baixou a cabeça e passou a encarar as próprias mãos. — Eles não deram certo porque eu não consigo me controlar. Eu a procuro em todos os lugares. Saio com pessoas que se parecem com ela. Na aparência, às vezes, ou só na personalidade. Só que nunca é ela, e eu acho que esse é o problema.

— Você nunca a esqueceu.

— Eu pensei que ela fosse o amor da minha vida — Brittany passou a mão pelo rosto. — Como eu poderia esquecer alguém a quem dei uma parte tão grande de mim?

— Você já considerou tentar de novo, B.? Vocês estão mais velhas, mais sábias, não vão cometer os mesmos erros novamente. Quem sabe não valha a pena dar mais uma chance? Se não funcionar, então você tem o seu ponto final. Você acaba de vez com essa dúvida, com esse “e se”. Se funcionar… Bem, então é porque vocês são mesmo feitas uma para outra.

— Eu sei, eu já pensei sobre isso, mas eu tenho tanto medo, Rae. Medo de que ela diga não, medo de que ela tenha seguido em frente. Ou medo que ela diga sim, e eu a machuque novamente. Não sei se seria forte o suficiente para suportar um término.

— Se você vai entrar na relação pensando no que vai ser quando vocês terminarem, então você não deveria entrar em tudo — Rachel aconselhou. — Se você a ama, e eu sei que você o faz, então não tenha medo de se jogar. Não pense no que poderia acontecer de ruim. Pense no que pode acontecer de bom. Todos esses pensamentos negativos, todo esse medo… Claro que existem chances disso realmente acontecer. Mas você já parou para pensar que existem chances iguais, talvez até maiores, que nada disso aconteça, e vocês duas sejam simplesmente felizes?

Brittany ficou calada, pensando no que Rachel tinha dito. A garota mais nova sorriu e se levantou, apertando gentilmente o ombro da amiga.

— Eu preciso ir agora. Tenho um encontro com a minha garota. Até semana que vem?

Brittany acenou com a cabeça. Rachel pegou suas coisas, e se dirigiu até a saída da sala. Assim que ela alcançou a porta, porém, ela ouviu a voz de Brittany a chamando de volta. Ela se virou. A mulher mais velha a encarava com lágrimas nos olhos.

— Obrigada — ela disse.

Rachel sorriu e lhe deu um tchauzinho antes de ir embora.

*

 

 



Rachel estava nervosa.

Ela tinha passado trinta minutos na frente do computador, o rosto quase colado na tela, esperando pela ligação de Quinn. Ela sabia que não deveria estar sendo tão boba, mas simplesmente não conseguia evitar. Havia aquela vozinha em sua cabeça imaginando o pior, e Rachel não conseguia fazer com que a voz se calasse.

— Eu estou perdendo a cabeça — ela resmungou, colocando o notebook sobre a mesa de centro, e voltando ao que ela estava fazendo antes de deixar a marca do seu nariz impressa na tela: roer as unhas. Não que fosse uma solução em tudo — e ela já estava ficando sem nenhuma para roer —, mas a fazia se sentir melhor. Por alguns segundos.

A verdade é que Rachel não conseguia entender o porquê de tanto nervosismo. Não é como se ela não conhecesse Quinn. Não é como se elas nunca tivessem conversado antes. Ela não sabia se sequer podia chamar a ligação de encontro, porque no e-mail que Quinn havia enviado, ela avisara que provavelmente não poderiam conversar por muito tempo. E Rachel compreendia, em parte. A outra parte, porém, desejava que ela pudesse ter Quinn só para ela sem limite de tempo.

Um dia, Rachel. Quem sabe um dia. Ela soltou um grande suspiro dramático ao ver que ainda faltavam alguns minutos para a hora combinada. Ela quase desejou que Kitty estivesse ali. Talvez a presença dela pudesse distrair Rachel. Mas, pensando bem, ela provavelmente só faria com que Rachel se sentisse mais nervosa. Kitty era uma especialista nisso. E Sam. E Brittany. E basicamente todos os amigos que ela tinha. Preciso de amigos melhores, ela pensou, abrindo um pequeno sorriso. Quem ela estava enganando? Amava os que tinha.

Marley havia retornado para Lima logo após o ano novo, e Kitty parecia mais feliz do que de costume. O feriado deve ter sido bom para ela, Rachel havia pensado. Era engraçado como o amor tem o poder de transformar as pessoas. Ela via a forma que Kitty e Marley interagiam. Até mesmo nas fotos ficava evidente o quanto elas estavam apaixonadas uma pela outra. E era tão natural, tão bonito. Rachel não conseguia deixar de imaginar se um dia ela e Quinn teriam isso. Se um dia ela poderia abraçá-la, andar de mãos dadas ao seu lado, e coisas do tipo. Um sorriso bobo surgiu em seus lábios só em imaginar a cena. Acho que agora entendo você, Kitty.

Rachel respirou fundo, e decidiu se levantar para tomar um copo de água. Talvez isso acalmasse seus nervos — faltavam só cinco minutos, e o estômago dela já estava começando a embrulhar —, mas assim que ela se levantou, aconteceu.

A foto de Quinn apareceu na tela.

Ela estava ligando.

Rachel paralisou. Ela caiu no sofá, de olhos arregalados para o computador, sentindo suas mãos tremerem e seu coração bater rápido demais. Será que ela estava tendo um ataque cardíaco? Será que ela ia morrer antes de atender a ligação? Será que…

Pare com isso. Respire fundo. Controle-se. Siga seu próprio conselho. Não tenha medo.

Ela fechou os olhos e respirou fundo algumas vezes. Quando os abriu, estendeu a mão ainda trêmula, e atendeu a ligação.

O rosto de Quinn apareceu na tela do computador, e Rachel perdeu o fôlego. Seu coração parou de bater por um segundo, só para voltar bater muito rápido no instante seguinte. Rachel analisou cada detalhe que a tela lhe permitia ver. O uniforme que ela usava, os cabelos loiros presos num coque, um sorriso lindo no rosto, e, enfim, seus olhos. Olhos verdes como o oceano. Olhos que brilhavam tanto que mais pareciam estrelas. Olhos cheios de vida, cheios de afeto, cheios de alegria.

Daquele momento em diante, verde se tornou a cor favorita de Rachel. Ela retribuiu o sorriso de Quinn, e todo o nervosismo que ela estava sentindo desapareceu. Porque quando olhou para Quinn, Rachel se sentiu em paz. Ela se sentiu tranquila, protegida, querida. E foi assim que ela soube que de uma forma ou de outra, tudo ficaria bem.


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Notas finais do capítulo

Só tenho uma coisa a dizer: SAM E BRITTANY MELHORES PESSOAS.

Era só isso mesmo. Até o próximo! auhauhauahuha