A Menina do Portão

– Oi. - Eu disse, depois de alguns segundos de silêncio. - Obrigada por nos salvar.

– Obrigada vocês por terem aparecido. Já estava ficando sem esperanças de encontrar outros humanos, e de novo, sou Selena Mello.

– Oi, eu sou Kenai. - O mesmo se apresentou. - Esses são Ruivinha, Alec e João. - Ele disse apontando para mim, Alex e John, respectivamente.

– Como é? – Questionei. - Quem lhe deu o direito de me chamar de Ruivinha?

– Vai começar... - Alex disse e olhou para a recém-conhecida. – Prazer. Alex. - Ele disse, estendendo a mão para Selena que apertou, receosa.

– John. - O mesmo disse se levantando e limpando a calça. Enquanto isso eu e Kenai discutíamos. - E ela é Katherin.

– Você quer que eu te chame de loirinha?

– Você não faria isso, pois seria a última coisa que diria. - Eu disse o encarando, e ele sustentou o olhar.

O gelo foi quebrado por Selena.

– Vocês trouxeram comida? Estou com muita fome, não como desde ontem.

– Trouxemos. - Alex disse e ela sorriu. - Mas ficou no carro. - O sorriso se desfez

– E agora? - Eu perguntei.

– Acho melhor descansarmos um pouco e depois decidimos o que fazer. - John disse, jogando a HK no chão e encostando-se à parede.

– Eu tô com tanta fome. - Selena disse pondo a mão sobre abarriga.

– Aqui. - Kenai estendeu uma barra de cereal tirada do bolso, que Alex pegou.

– Ei, essa barra é pra mim! - Selena protestou.

– Você não é a única que está com fome. - Ele disse abrindo a barra e Selena bufou.

– Me dá! - Ela pulou em cima da barra.

– Solta! É minha! - Ele disse levantando a mão para que ela não pegasse.

– Alex, seja cavalheiro e dê a barra para ela. - John disse de olhos fechados.

– Eu não era cavalheiro antes do apocalipse, e não faz sentido virar um agora.

– Droga, dá logo a barra pra ela. - Kenai disse, sentando-se no chão sem paciência.

– Por que todo mundo tá do lado dela? - Alex perguntou. Eu cheguei perto dele, dei um chute na sua canela, e ele rolou no chão de dor. Peguei a barra e estendi para Selena.

– Obrigada. - Ela disse sorrindo sincera, e logo comeu a barra toda. Alex ficou de cara feia.

– Esse lugar é seguro? - Kenai perguntou depois de ouvirem pancadas na porta, provavelmente de zumbis batendo.

– Sim, eu estou aqui desde ontem e nem um zumbi entrou. - Selena disse, convicta.

– Acho melhor nós sairmos daqui. - John disse e todos nós viramos para ele.

– Por quê? - Selena perguntou. - É seguro e tem armas.

– Além de precisarmos pegar a comida, temos que achar mais sobreviventes, e um lugar seguro. - John disse cético.

– Não estamos em um filme de zumbis, John. - Alex disse. - Quem sabe somos os únicos sobreviventes disso tudo.

– Acho muito difícil. - Kenai murmurou baixinho.

– Não importa. Amanhã sairemos daqui, e acho melhor vocês dormirem, vai ser um dia bem cansativo. - John disse.

– Mas são só quatro horas da tarde. - Alex disse olhando no relógio de pulso, e John o ignorou.

Kenai bufou, mas parecia cansado demais para discutir, então deitou no chão e virou para parede. Selena entrou numa porta, e saiu de lá com sacos de dormir.

– Não são muito confortáveis, mas é melhor do que dormir no chão. - Ela entregou um para cada um, e jogou o do Alex brutamente, porém ele apenas revirou os olhos.

Eu entrei no meu saco de dormir, e logo adormeci. Acordei e estava tudo escuro. Sai do saco, e vi a luz de uma lamparina atrás de uma prateleira. Segui a luz e encontrei Selena encostada na prateleira, com a cabeça entre as pernas. Sentei-me ao lado dela.

– Ah, oi Kath. - Ela disse levantando a cabeça e olhando para mim.

– Oi... – Respondi. - Sem sono?

– É. - Ficamos alguns segundos em silêncio.

– Loucura, né? - Ela perguntou, virando a cabeça. - Esses zumbis.

– É coisa de filme. - Disse cruzando as pernas e ela riu tristemente.

– Quem me dera. - Ela respondeu. Eu ia falar algo, mas John apareceu.

– As moças já acordaram? - Ele perguntou, sentando-se ao meu lado.

– Não, ainda estamos dormindo. - Respondi e ele me beliscou.

– Você é muito mal-humorada.

– Você quer que eu esteja sorrindo num apocalipse zumbi? - Perguntei incrédula, e ele abaixou cabeça.

– Só vim perguntar para a Sel se tem algo além de armas aqui.

– Sel? - Ela perguntou, levantando uma sobrancelha.

– É, já que você esta com a gente tem que ter um nome pequeno e fácil de lembrar. - Ela sorriu.

– Tem um jipe do exército. - Ela disse apontando para a mesma porta de onde ela tirara os sacos de dormir.

– Que horas são? - Perguntei e John tirou o telefone do bolso.

– Onze e quarenta. - Ele disse, guardando o telefone. - Voltem a dormir, umas duas e meia vou acordar todos para arrumarmos o que precisamos. - Ele disse voltando para o seu saco de dormir.

– Ele é bem sério. - Sel disse se levantando, e me estendendo uma mão.

– É o jeito dele. - Disse segurando a mão dela e me levantando. Fomos para nossos sacos, e fiquei olhando para o teto e pensando em tudo aquilo. Quem sabe seria só um sonho, mas ao escutar uma pancada na porta lembrei que tudo aquilo era real. E dormi pensando nisso.

Acordei com Alex puxando o meu cabelo, e quando viu que acordei ele apontou para o Kenai e saiu na direção da luz da lamparina, que vinha de dentro da porta. Levantei e olhei ao redor, e só vendo o meu saco de dormir e o do Kenai. Levantei-me, coloquei o meu embaixo do braço e fui acordar o Kenai.

Quando eu ia gritar no ouvido dele, o mesmo se virou para mim, se levantou e deu um sorriso irônico. Revirei os olhos e segui por onde Alex foi, com Kenai atrás de mim. Quando entramos, os três estavam sentados em volta de uma mesa, e sobre ela um mapa da cidade.

– Sentem-se. - John disse, sem tirar os olhos do mapa. Eu e Kenai nos sentamos e olhamos os círculos na cidade marcados de vermelho.

– O que são esses círculos? - Kenai tirou as palavras de minha boca.

– São os lugares onde têm shoppings, aeroportos, lugares onde tem comida e lugares que possamos nos proteger.

– Hm. - Foi só o que respondi.

– Como vamos saber se são seguros? E como vamos pegar o carro com a comida? - Alex perguntou coçando o queixo.

– Não vamos. - John respondeu na cara dura às duas perguntas.

Depois de meia hora de discussão, concordamos em seguir o plano doentio de John. Colocamos uma grande quantidade de armas no jipe. Repassamos o curso, depois de tudo arrumado, e ás cinco da manhã estávamos prontos para sair. Fiquei no volante, Sel foi até a porta (do que eu descobri depois se tratar de uma garagem), apertou um botão e correu de volta para o veículo.

O portão de ferro da garagem se ergueu e vários zumbis ao ouvirem o barulho do motor olharam em nossa direção. Pisei com tudo acelerador e passamos por cima de vários zumbis que estavam na porta, porém alguns insistiam em se pendurar no jipe. Por isso, John estava com sua HK, atirando nos zumbis que queriam uma carona. Depois de sairmos daquela rua, o percurso foi mais tranquilo.

– Sel, você tá bem? – Perguntei, olhando para ela através do retrovisor.

– Sim. – Ela respondeu, assustada com o recém-ocorrido. Mas que pessoa não ficaria ao ver vários não-mortos tentando pular em você e ter seus miolos estourados?

Seguimos por uma rua que antes do apocalipse fora muito movimentada. Isso explicava o fato de ter vários veículos amontoados e de ter tantos zumbis vagando. Eu fazia questão de atropelar os zumbis que podia. Eu podia ver John engolindo em seco, Alex sorrir e Kenai revirar os olhos toda vez que pedaços de salsichas estragadas iam parar na parte da frente do jipe.

Selena olhava distraída para a ilustre paisagem, até ouvirmos o barulho de um tiro. Rapidamente segui o barulho e parado, no meio da rua, estava um cara. Corpos de quatro zumbis estavam no chão perto dele e um quinto foi de encontro aos outros em poucos segundos.

Desliguei o carro. Quando ele notou nossa presença, apontou a arma para nós, analisando cada um.

– Hm, o que temos aqui? - Ele perguntou sorrindo irônico e erguendo uma sobrancelha.