Novamente A Seleção escrita por Letícia Miyashiro


Capítulo 1
A Inscrição


Notas iniciais do capítulo

Oe, essa é a minha primeira fanfic aqui no Nyah! >
Espero que gostem!



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- Aposto que você não tem coragem! - disse a voz sarcástica de minha melhor amiga, Helen, que segurava uma carta com aparência nobre nas mãos delicadas.

Eu a encarei com um olhar cínico.

- Por que diz isso? Eu não vou me inscrever porque não quero me inscrever, não tem nada a ver com coragem - retruquei.

- Eu digo isso porque gosto de enxer teu saco. E também porque realmente acho que você não tem coragem - ela estava blefando, nunca duvidaria de mim. Mas não consigo ignorar desafios.

- Ora! E eu teria medo de me inscrever numa bobagem dessas? Dá aqui - disse estendendo a mão e apanhando a carta.

No envelope estava escrito "Para a família Leger" e eu o abri. Revelando uma ficha de inscrição.

Eu sinceramente poderia gastar meu tempo preenchendo fichas para coisas melhores, e mil vezes mais interessantes. Mas lá estava eu, sentada sob a sombra de um carvalho em meu quintal, defronte a Helen, minha mais eficiente desafiadora, cedendo informações para um concurso ridículo e superficial. A Seleção, competição que decidiria quem seria a noiva do príncipe Aaron, que atingira a maioridade este mês, e próxima rainha de Illéa.

- O que me levou a fazer, isso, meu Deus?! - indaguei, incrédula quanto às minhas próprias atitudes. - Acabei.

Helen abriu um sorriso enorme.

- Me dê - ela estendeu a mão. E eu entreguei o envelope, bufando e olhando para o céu azul rasgado pelas nuvens.

- Certo...hum, você fala alemão? Eu não sabia disso, Rose. Por que você não me contou isso? - perguntou ela, se referindo à uma das informações exigidas.

- Porque você nunca me perguntou.

Ela deu língua.

- Okay, dearie. Agora vamos ao Departamento de Serviços Provinciais. Estou louca para entregar minha carta - ela também queria se inscrever. - Devemos avisar a sua mãe?

- Devemos - respondi, curiosa para saber a reação de minha mãe, e provavelmente rir dela.

E nos levantamos, tomando o cuidado para nossas calças não permanecerem sujas de terra e grama.

Mamãe estava no lugar de sempre, tocando na sala de música. Desde que virara Dois, ao casar-se com meu pai, Aspen Leger, hoje, Capitão da Guarda Real de Illéa, era uma musicista famosa, tocava praticamente de tudo e sua voz era linda. Muito admirada. Eu me orgulho bastante dela.

A melodia que escapava por entre as mãos frenéticas sobre o piano era tão linda que não consegui interromper, nem Helen. Que parou no batente da porta, tão encantada quanto eu. Mas a música não durou muito tempo, mamãe logo percebeu nossa presença e seus dedos se aquietaram.

- Com licença - eu e Hellen dissemos em uníssono.

O olhar de mamãe bateu diretamente em nossas cartas. E ela me encarou com a sobrancelha erguida, seus olhos ardendo de incredulidade. Ela suspirou.

- Você realmente quer fazer isso? - foi uma pergunta para mim. Helen permaneceu calada, brincando com o anel em seu dedo indicador.

- Na verdade, não. Mas ver o papai seria bom. - respondi num tom irônico. Não era minha real intenção ir para lá.

Ela sorriu.

- Fico impressionada com o tamanho da influência que Helen tem sobre suas decisões.

Helen corou. Sempre ficava acanhada quando falava com minha mãe. Era uma fã.

Eu ri. Minha mãe sempre foi esperta.

- É, ela pode ser muito persuasiva quando quer.

- Você também - Helen me lançou um olhar cheio de significado, como se quisesse que eu lembrasse de cada pessoa que cedeu algo para mim. - Enfim, tia America, passamos aqui só para avisar que estamos indo no DSP entregar as fichas. Quer vir conosco?

- Não, não - respondeu depressa demais. - Já passei tempo o suficiente numa fila do DSP para uma vida só - antes que pudéssemos absorver o que ela falou, acrescentou: - Acho que deveriam passar um pouco de maquiagem.

Eu ia perguntar o motivo, mas ela começou a tocar, e isso indicou que a conversa estava encerrada.

Eu nunca ignorava uma sugestão de minha mãe. Se ela achava que seria o melhor para mim, realmente seria o melhor para mim. Mas como sempre, eu não passei muito. Foi com ela mesma que aprendi a gostar mais das coisas naturais. Já Helen...

- Ah, Deus! Olhe o tamanho dessa fila, a maquiagem vai começar a derreter - ela disse, ao chegarmos no Departamento.

Realmente estava lotado de garotas. De diversas castas diferentes, algumas estavam agrupadas e fofocavam. Analisando as concorrentes com olhar carregado de futilidade. Eram Dois e Três.

As vezes eu tinha vergonha de ser Dois por conta desse tipo de pessoa esnobe. Desde pequena aprendi que ninguém é melhor que ninguém. Nosso caráter vai muito além das castas. Talvez eu pense dessa forma pelo fato de meus pais virem da Cinco e da Seis. Depois de se elevarem, continuaram humildes e passaram essa característica para seus filhos.

Lá também haviam muitas garotas do restante das castas. Era fácil distinguir quem era de qual apenas pela vestimenta. As mais produzidas, como eu e Helen - apesar de estarmos simples e casuais hoje - eram Dois ou Três. Quatros geralmente usavam vestidos baratos e blusas xadrez leves. Cincos usavam roupas levemente esfarrapadas. Simples, de verdade. Seis usavam roupas de trabalho, mas estava claro que algumas tentaram melhorar o visual. Roupas feitas de algum tecido bruto. E as Sete eram as mais sujas. As Oito não teriam coragem de aparecer ali. Geralmente nem recebem as cartas.

Tanta gente produzida que me fazia pensar o motivo de tudo aquilo. Era apenas para entregar uma ficha, não era?

Senti fortes cutucadas na cintura que me fizeram encolher e soltar um grunhido irritado. Seguido de uma leve risada.

- Rose, olhe quem está ali! - era Helen, que apontava para duas garotas impecavelmente maquiadas e bem vestidas. Logo reconheci aquela montanha de cabelos cacheados e aqueles sorrisos afetados. Isla e Hella. - Espere aqui - Helen foi caminhando animadamente até as duas, e as cumprimentou sorrindo, apontou para mim e eu acenei, sendo correspondida. Isla indicou com a mão para que eu fosse ao encontro delas. Enfim entendi a intenção de Helen.

- Rosalie! Me surpreende ver você aqui - a voz de Hella era muito fina e afeminada, meio enjoada. Mas apesar disso, ela era simpática comigo. Isla também. Mas ambas eram arrogantes com pessoas de castas menores, era por isso que eu não andava com elas. Esnobes.

- Jura? Foi o que eu pensei - respondi, com a voz levemente artificial. Era como eu falava com pessoas que não tinha muita intimidade.
Apesar disso, elas riram. E começamos a conversar sobre banalidades.

Enfim chegou a minha vez na fila, assim que vi Hella sair de dentro do Departamento e acenar para nós em despedida. Se juntando à Isla que estava a sua espera.

Passei pelo guichê e preenchi alguns documentos. Me preparava para sair quando me avisaram que teriam que tirar uma foto. Sorri de modo sarcástico ao perceber que a escolha das participantes da Seleção não eram realmente sorteadas. Eles olhavam a aparência na foto.

E foi com aquele mesmo sorriso que senti o flash da câmera cegar meus olhos por alguns instantes. Ao sair de lá enquanto esperava por Helen, imaginei que deveria ter parecido bastante natural na foto, eu mesma. Com meu costumeiro sorriso irônico. Talvez não chamasse atenção, afinal.


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Notas finais do capítulo

Sou muito fã de comentários, sabiam?
2applause na bunda