A aula finalmente chegara ao fim.
Enquanto todos guardavam às pressas suas coisas para sair o mais rápido possível da sala de aula, Bill e Tom preferiram serem os últimos as sair, para evitar mais brigas na altura do campeonato.
Quando acharam que era seguro também correram para fora do prédio, mais calmos e esperançosos de não terem que agüentar mais nenhuma provocação. Foi a deixa para Tom levantar novamente o assunto:
- Bem, no final a gente tem só uma pulseira e não temos idéia de quem seja a garota.
- É – falou Bill, desviando o olhar para Aline, que ia mais à frente - Vamo’ embora porque não agüento mais ficar aqui.
- Tá – concordou, apressando o passo.
Até que a voz de Aline chegou à eles.
- Ai, merda, perdi minha pulseira! – reclamou a garota, parando e olhando pros lados.
Eles, que estavam perto, estacaram, abismados com o que ouviram.
- Tom – disse Bill – Tá pensando o mesmo que eu?
- Acho que sim – respondeu ele e os dois se entreolharam.
- É ELA! – exclamaram ao mesmo tempo (n/a: sou mesmo fã de gêmeos.)
- É aí? A gente fala com ela ou não? – perguntou Tom.
- Vamo’ lá – encorajou-o Bill e os dois se aproximaram.
Então lá estava o anjo da guarda deles? Não parecia realmente forte.
Até frágil, pensou Bill, mas suficientemente corajosa a ponto de enfrentar Greg e a sala toda ao denunciar a briga da manhã para a Frau Marburg, apesar de não ter dado em nada...
- Cadê essa m...?
- É essa aqui? – disse ele ao chegar perto dela.
E mostrou a pulseira bem diante dos olhos de Aline.
- É sim! – ela riu e Bill devolveu-lhe o objeto – Vielen Dank! – e quando viu quem abriu mais o sorriso, ainda que não soubesse que eles já sabiam quem era ela.
- Eu sou o Tom – apresentou-se o garoto, puxando o irmão pro lado – E essa figurinha repetida é meu irmão, Bill – e apontando pra ela com firmeza – E você é a garota que ajudou a gente, né?
- Erm... Eu prefiro que me chame de Aline, se não se importa.
Eles riram.
- Aline! – gritou uma voz feminina ao longe. Os três se viraram e olharam uma mulher de estatura média, rosto pálido, cabelos curtos e ondulados e um ar de quem é apressada.
- Sua mãe? – perguntou Tom à Aline.
A garota confirmou e ele soltou um assovio baixo.
- Para com isso – reclamou Bill, dando um pescotapa no irmão.
- Eu... Eu vou nessa – disse ela, correndo pra mãe – Thau! – e acenou para os Kaulitz, que ficaram pra trás.
- Thau – disseram os dois, juntos.
Mas depois resolveram correr atrás dela.
- Aline, espera aí! – gritou Bill e eles pararam quase derrapando e colidindo com ela.
- Q-que foi? – espantou-se, ao vê-los ofegantes.
- Ah... – Bill pareceu encabulado e coçou a cabeça antes de dizer – Obrigado... Obrigado mesmo por hoje...
Tom assentiu, preferindo não dizer nada. Poucas eram as vezes que ele realmente dizia “Obrigado”, então, achou que seria pouco sincero se repetisse o mesmo que o irmão.
- Toca aê – e bateu a palma da mão na de Aline.
Ela voltou pra perto da mãe e as duas se foram em um bonito carro, que, pelo menos, não tinha nenhum anuncio de academia ou fast-food.
- Quem eram aqueles gêmeos? – perguntou a mãe de Aline, Sophia Marback, ao volante.
- Amigos – responde Aline, que não estava muito a fim de conversar.
- Hm... Pensei que eram pretendentes... – brincou Sophia, olhando-a pelo espelho.
A garota corou.
- Mãe!
Mas ela apenas riu.
- E quais eram os nomes deles?
- O de cabelo preto, Bill – informou, colando o rosto na janela – O de dreads, Tom.
- Bill e Tom, é? Nomes simples, mas bonitos...
Não demorou muito para que elas chegassem em casa, considerando que Sophia era uma motorista muito habilidosa e costurava pelo trânsito com rapidez (e nunca era pega...).
- Tome um banho enquanto eu faço o almoço – mandou ela quando as duas cruzaram a soleira da porta e Aline jogou a mochila em cima do sofá branco de três lugares da sala bem iluminada.
- Tá – disse Aline, subindo as escadas e indo pro quarto.
- Quer lasanha, filha?! – gritou a mãe lá da cozinha.
- Quero! – berrou Aline, em resposta.
Ela fechou a porta com estrondo.
***
Na casa dos Kaulitz:
- CHEGAMOS! – exclamaram Bill e Tom, abrindo a porta teatralmente.
Mas um furacão os esperava.
Simone pigarreou, parada hall de entrada e encarando-os com um olhar fulminante.
- Ah – deixou escapar Tom – Oi, mãezinha do meu coração!
- Não vem com essa pra cima de mim, Tom Kaulitz – repreendeu a mãe, séria – Vocês sabem muito bem o que fizeram.
Bill saiu pisando forte, como se nada tivesse acontecido e decidido a ignorar a mãe.
- Bill, volte já aqui! – exclamou Simone, mas o gêmeo mais novo continuou subindo as escadas, imperturbável.
- Não vou ouvir o que você tem a dizer – disse Bill, voltando-se para ela.
- Você já está passando dos limites! – continuou ela, estressando-se.
- Não quero ouvir você nos acusar de uma coisa que não fizemos.
- Como não fizeram? Não adianta tentar desmentir, a própria Frau Marburg me ligou e me contou tudo.
- Tudo do que ela acha que aconteceu, você quer dizer – disse Tom, tão irritado quanto o irmão.
Se já não bastassem todas as agressões que eles sofriam na escola, ainda tinha que aturar a mãe lhes dizendo que foram garotos maus quando na verdade só queriam se defender. E não adiantava tentar mostrar-lhe que ela estava errada.
Simone acreditava somente nos adultos. Só adultos dizem a verdade, não é mesmo?
Crianças tem motivos para mentir, pois não querem ser castigadas...
E Frau Marburg era um adulto sem qualquer suspeita se comparada com Bill e Tom Kaulitz.
- Ela me contou que vocês arranjaram uma briga logo de manhã cedo – disse Simone, ríspida com os dois – E que você – e olhou para Bill – gritou com ela.
Bill resolveu descer as escadas e conversar (?) com a mãe cara a cara.
- A parte que gritei com ela é verdade – assumiu – Mas o resto é tudo mentira.
- Você vai mentir pra mim olhando nos meus olhos? – acusou Simone, encarando o filho com feroz reprovação – Sempre deixei você fazerem tudo o que quisessem, não é? Onde foi que errei nisso tudo?
- Quer parar de ser dramática? – resmungou Tom, indo para perto de Bill e apoiando-o contra as acusações de Frau Marburg – Olha, mãe, a gente chegou na escola, bateram em nós e depois colocaram a culpa em nós e ficamos de castigo. Entendeu?
Mas Simone parecia enlouquecida.
- Pro quarto de vocês, AGORA! Sem Tv, sem nada! – e foi para a cozinha, resmungando – Eu não acredito nisso!
- Você não acredita na gente? – exclamou Bill, querendo briga.
- Acho que já disse pra irem pro quarto – cortou a mãe – Não vou repetir de novo.
Os dois resolveram obedecê-la, mas de modo algum perdoariam tamanha injustiça. Enquanto subiam as escadas e batiam a porta violentamente, Tom pensava em uma ou duas coisas que envolvesse insetos e cachorros latindo no quarto da mãe e Bill pensava em coisas mais horríveis, que preferiu reprimir a planejar realmente.
- Bill? – chamou Tom, com a voz abafada porque estava de cara pro travesseiro.
- What? – perguntou ele, querendo fazer graça.
- O quê?
- É isso mesmo.
- Hã?
- Esquece – e voltou a olhar pro teto, deitado na própria cama – Só os inteligentes entendem. (n/a: Vocês entenderam? Se sim, deixem reviews. Aí eu dou pontinhos pra vocês.)
Tom preferiu deixar essa passar.
- Eu não acredito que nem a nossa mãe acredita na gente – disse Tom.
- Pois é, acho que na outra encarnação eu era o capeta. Devo estar pagando agora.
- Quer parar de falar besteira? – protestou o irmão, levantando-se da cama.
- Pelo menos uma coisa boa aconteceu – acrescentou Bill, piscando e tentando entender formas geométricas imaginárias no teto.
- É, encontramos a garota – concordou Tom – Alice ou sei lá o quê – e voltou a se deitar – A mãe dela é bonitona, tá...
Bill abafou uma risada.
***
- Tá pronto? – perguntou Aline, entrando na cozinha ao sentir o cheiro de lasanha recém-saída do forno.
- Tá, pode vim comer – disse Sophia – Mas cuidado, acabei de tirar do forno.
Aline olhou pra mesa e reparou que só haviam sido postos dois pratos. Sentou-se no lugar que lhe pertencia e comentou:
- Papai não vem almoçar com a gente, né?
- Ah... Hoje não deu pra ele vir – desconversou a mãe, sentando e depositando a travessa de lasanha aos quatro queijos na frente da garota.
- E também não deu ontem, nem anteontem, nem semana passada e por aí vai, né? – disse Aline, sarcasticamente – Pensando bem, nem lembro a ultima vez que o vi.
A mãe resolveu não entrar no jogo dela.
- Come seu almoço, filha – e serviu uma porção grande no prato dela para que a mantivesse calada.
- Mãe...
- Por favor, só coma, está bem?
Aline fechou a cara e não disse mais nada até terminar de comer.
- Quer ajuda com a louça? – ofereceu, desanimada.
- Não, querida – dispensou Sophia – Volte pro seu quarto, tá?
- Tem certeza? – insistiu ela, ainda menos animada (n/a: é uma menina prestativa, não?)
- Tenho – e sorriu, levando a louça suja de volta á cozinha.
Aline foi pro quarto, sentou em um pufe e puxou o caderno de desenhos, retomando o desenho inacabado da aula.