Recebendo olhares nada amigáveis, e no mínimo desconfiados a Loba rondou os seis, devagar, encarando-os com aqueles olhos que brilhavam com intelecto, contudo, uma ponta de crueldade.

Inconsciente, Vitor moveu um dos braços, empurrando Ruby suavemente para trás de si. Ele não conseguia explicar a razão, mas simplesmente não gostara da maneira aterrorizada que a morena encarava a loba.

A mesma parecia indiferente à presença da jovem. Seus olhos se fixavam selvagens em Ariel e Jim.

– Vocês não foram os intrusos que descansaram em nossas areias á alguns dias?

A sereia mordeu os lábios vermelhos, recusando-se a falar. Jim porem, se adiantou rouco:

– Sim, nos... Ariel me salvou de um naufrágio. Não queríamos perturba-los.

– Oh, sim, compreendo. – A loba disse, virando-se discretamente á uma das rochas a sua esquerda. – Ah, chegaram ao fim!

Ao voltarem seus rostos ate o lugar onde à Loba apontava, puderam ver emergir lobos de todas as cores, com olhos brilhantes e garras afiadas. Alguns, visivelmente menores, mostravam as presas, embora sem emitir som nenhum. Era como se esperassem ordens parra atacar. O que queria dizer que qualquer movimento brusco ou desrespeito á sua líder traria serias consequências. Sangrentas para ser mais preciso.

A Loba alpha arreganhou os lábios em um sorriso e sentou-se nas patas traseiras, um ato estranho e aparentemente dócil, porem, a frieza em seus olhos não deixava duvida. Ela não hesitaria meio segundo para ataca-los. O medo destilava de suas peles, e Ariel tinha consciência disso. Podia ver línguas umedecerem os lábios de certos lobos mais próximos. Eles podiam sentir o medo que emanava deles.

Mas então, quebrando o momento de tensão, a Loba começou a falar:

– Brayan e Aurora os mandaram aqui com um, simples, objetivo. Um único objetivo pra ser mais direta, portanto, peguem o que precisarem e deixem essas areias. Eu posso lhes conceder proteção somente ate certo ponto do caminho, depois dali, outras alcateias tem autoridade. Não posso ultrapassar o território que pertence a ele. Sua missão é achar a esfera de bronze e oferece-la como um tratado de paz. Mas prestem atenção, para chegarem até ela, vão ter de passar pelos quatro reinos elementais. – Seus olhos calculistas esquadrinharam os jovens reunidos, as figuras cansadas porem alertas, contra o sol que despontava com certo receio atrás deles.

– Fogo, agua, terra e ar. – Mulan disse. – Eles são como os sete impérios submarinos.

– Ou como os doze planetas, para os espaciais. – Miguel completou com as sobrancelhas juntas. – Mas, que eu saiba, é impossível passar por esses reinos sem um guia lobo ou um corvo, e se vocês estão dizendo que não poderão nos acompanhar ate...

– Nos os levaremos somente ate a borda do primeiro reino, Terra. A partir dai, estarão por sua conta. – Kara dizia sem emoção, a voz dura.

Jim segurou-se para não gritar. Cada reino da terra dos lobos tinha perigos desconhecidos e letais. Entrar sem um guia, era caminhar diretamente para os braços da morte. Olhou a ruiva á seu lado que abria a boca e fechava repetidas vezes, sem ter coragem de verbalizar os pensamentos.

Antes que qualquer um tivesse alguma reação, a Loba riu prazerosamente.

– Mas, como Brayan é insistente e tem coração mole, ele nos instruiu a da a vocês uma pequena ajudinha. – Ela se levantou e acenou com uma das patas para um dos lobos menores, que carregava um pergaminho amarrado as costas. – Vou permitir a cada um de vocês utilizarem os quatro colares que dão acesso aos impérios.

Alguns corvos pousaram próximos e um deles desceu, transformando-se em humano. Um homem de cabelos castanhos chocolate e olhos da mesma cor. O corpo magro, porem com músculos ressaltados fez Mulan se abanar discretamente. O loiro á seu lado revirou os olhos, irritado.

– Oh, Canon, entregue a eles, por favor. Não tenho facilidade com essas patas. – A loba disse com um sorrisinho. Era impressão da sereia, ou a loba também ficara fascinada com a beleza do rapaz?

Conan pegou quatros correntes frágeis e se encaminhou ate os que as receberiam. O primeiro a receber foi Vitor, cujo pingente bateu contra outro colar em seu pescoço. A segunda foi Mulan, que, com o rosto vermelho, sorria para o rapaz á sua frente. Ele passou direto por Ruby, não sem que antes seus olhares se cruzarem. Quando isso aconteceu, a ruiva podia jurar que viu centelhas saírem dos olhos dela e magoa preencher os dele. Ele colocou em Miguel e por fim em Jim.

– Agora, cada um de vocês poderá controlar um determinado elemento, mas somente enquanto estiverem em um dos quatro reinos. Assim que deixarem esse solo, os colares irão destruir-se e levar os poderes consigo. Assegurem-se de estar o mais afastado possível quando isso acontecer, ou, bem, irão se arrepender. – Com uma risada maléfica ela terminou de falar.

Canon transformou-se novamente ao sentir o calor em sua pele, e logo haviam apenas poucos lobos restantes. Miguel se permitiu olhar para trás. De onde estava, uma pequena faixa da cidade podia ser vista. Parecia tranquila, sem som ou movimento. Mas ele sabia que um combate violento ocorria fora do alcance de seus olhos. Podia notar o próprio mar revolver-se com fúria. Ele olhou para seus companheiros de jornada e se perguntou o que estariam pensando. Será que se sentiam culpados por não lutarem ao lado dos amigos ou família, ou será que se sentiam como traidores?

Ele próprio não sabia o que estava sentindo agora mesmo. Medo de morrer? Dor por deixar a família na cidade, sabendo o perigo que corriam ? Ou adrenalina, ao pensar na aventura em que estava prestes a embarcar. Ainda que fosse errado sentir-se dessa maneira, ele não podia evitar. Deu-se conta de que quanto mais perigo ou risco você esta correndo mais preciosa sua vida se torna. Ele refletiu uma vez mais se ele se acovardaria no ultimo momento, quando seus amigos mais precisassem dele.

Chacoalhou a cabeça algumas vezes, afastando os pensamentos e se voltou ate a Loba, que já desparecia de suas vistas, como se fosse uma miragem.

– Uma ultima coisa. Quando chegarem ao primeiro reino, é provável que tenham de enfrentar os lobos daquela região. O que quer que façam, não desrespeitem os ídolos de pedra e rocha deles. Não importa o que digam, não insultem aquelas estatuas. Por que isso seria implorar de joelhos para ir ao inferno. Boa viagem!

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