A Guerra dos Imortais escrita por Cora, O Raposa, Camille M P Machado, PinK Ghenis, Mr Viridis, Mr Viridis, Julia, H M Stark, SuzugamoriRen, Joko


Capítulo 20
Capítulo 20 - Alexandra


Notas iniciais do capítulo

Oioioioioi.
Como estão? Sentiram saudades? Digam que sim!!!!
Bem, espero que gostem.
Boa leitura.



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Aperta. Solta. Aperta. Solta. Pensava Alexandra encarando fixamente a caneta enquanto colocava e tirava a ponta, a caneta fixa perto do ouvido enquanto ouvia cada click como uma melodia belíssima de se ouvir. Cada click ouvido não lhe fazia nem piscar.

Quase três da tarde e tudo o que sabia era que precisava arrumar um jeito de ir atrás de outros deuses, tendo ou não despertado. Narciso lhe contara bastante sobre alguns, obrigara a garota a anotar sobre cada um, e, ainda sim, a menina não tinha a menor vontade de ir atrás deles.

Os olhos se voltaram para a o porta-retratos enfeitando sua mesa de estudos. Valentina, Edgar, Lucas e ela. Todos sorrindo animados com um parque de diversões atrás deles. Ela lembrava-se daquele dia, foi pouco depois do irmão ter descoberto que passara para a nova escola. Lembrava que foi naquele dia em que conheceu a sua primeira “vítima” de castigos, o maldito de quem se vingara pela primeira vez em sua nova, e primeira, escola.

— Droga!

Alexandra ficou em pé começando a andar de um lado para o outro enquanto passava a mão no rosto e juntava as mãos na frente da boca e abaixo do nariz. Desde que descobrira sua “deusa interior”, estava lembrando-se do maldito garoto, o garoto de olhos verdes e cabelos negros que lhe irritara tantas vezes na escola em seu primeiro dia. A garota se sentia como uma liquidação: leve duas pelo preço de uma. Uma vida inteira vivendo como mortal, depois outra, e outra, e outra, e outra. Era sempre a mesma coisa.

Mas algo estava martelando em sua cabeça, algo que não a permitia pensar em nada. O garoto que conhecera há mais de 10 anos estava vivo em sua memória e ele estava o tempo inteiro com aquele sorriso irônico e sarcástico que sempre sustentara em seu rosto.

— Eu aconselharia a senhora a ir conversar com alguém, mas suponho que mortais não entenderiam uma deusa.

Alexandra fitou surpresa. O loiro estava sentado na cama da garota com as longas pernas esticadas e cruzadas, um livro em mãos e os olhos fixos nele. Um sorriso divertido brincava em seus lábios.

— Que estranho. Há milênios mortais tentam escrever sobre os deuses, mas nunca acertam — ele riu apontando para o livro e olhando divertido para Alexandra.

— Pensei que tivesse vindo me ajudar, não infernizar minha vida e deixá-la ainda pior do que já era. Agora tire esses pés imundos de minha cama — ordenou a garota jogando-se novamente na cadeira.

O garoto sorriu se desculpando e tirou os pés da cama. Tanto ele quanto ela estavam nervosos. Ele por estar lidando com a deusa da vingança — qualquer coisa que a irritasse e ela achasse que merecia, ela o castigaria a altura — e ela por ter acabado de descobrir ser uma deusa e, ao invés de pensar em outros deuses, não parava de pensar no moleque de sua antiga escola.

Alexandra debruçou-se sobre a mesa e escondeu o rosto em seus braços. Precisava esfriar a cabeça, pôr as coisas no lugar e ignorar o garoto que a estava matando de curiosidade.

— Inferno — murmurou.

O garoto, se não lhe falhava a memória, chamava-se Thiago Magalhães, um menino brasileiro e que estava passando uma temporada junto dos pais na Espanha. Pelo que Alexandra lembrava, o menino vivia importunando-a, mas não era algo que ele fizesse com todos, era especificamente e somente com ela. Nenhuma outra pessoa, outra criança, ninguém! Era isso que a deixava ainda mais irritada, por ele importunar apenas ela.

Alexandra ergueu o corpo ao ouvir batidas na porta, girou na cadeira e encarou a porta de má vontade. Não estava com vontade de falar com ninguém, na verdade, tudo o que queria fazer naquele momento era deitar-se em sua cama, ainda ocupada pelo espectro — ou fantasma infernal, como ela dizia — Narciso, e dormir até o dia nascer novamente.

Antes que mandasse quem quer que fosse ir embora, a porta se abriu e permitiu que Edgar aparecesse com um sorriso carinhoso. O homem abriu a porta toda e entrou no quarto da filha.

— Como está, princesa? — Perguntou ele encostando-se na porta.

Alexandra soltou ar pela boca se segurando para expulsar o senhor de seu quarto, isso seria errado até para ela.

Mesmo de má vontade, Alexandra forçou um sorriso gentil e escorregou na cadeira, dando de ombros logo depois. Seus pais não sabiam de nada, tudo o que sabiam era sobre o ocorrido na manhã anterior na escola. Esta manhã, a menina não fora para a escola, dissera aos pais que estava passando mal e que não aguentaria ir. A verdade era que estava com coisas demais na cabeça.

Edgar entrou no quarto e sentou ao lado de Narciso, mesmo sem saber sobre a presença do rapaz, e suspirou nervoso. Alexandra o encarou sentindo confusão lhe dominar. Como ela odiava aquilo...

Há anos seu pai não ficava nervoso para conversar com ela, ele nunca precisou ter conversas sérias com a filha, a esposa que o fazia.

— Sabe, querida, eu e sua mãe andamos pensando sobre aquela universidade no nordeste do Brasil que você queria fazer, lembra? — Começou Edgar.

Era visível o nervosismo do homem, mas não era apenas nervosismo. Ele estava com medo. Alexandra franziu o cenho. Ele está com medo de mim? Será que ele sabe sobre minha parte deusa?, questionou-se ela sentindo um nó se formar em sua garganta.

Universidade era apenas um pretexto que Alexandra arranjara há alguns meses para os pais para poder, enfim, morar no país natal junto da avó paterna. Ela queria sair da Espanha e viver longe dos pais por algum tempo, ansiava pela independência e, acima de tudo, desejava conhecer o país de origem, onde nasceu. Não nascera na Espanha, mas os pais se mudaram logo que ela nasceu, algo sobre Valentina querer ficar perto dos pais, ou sobre já terem planos naquele lugar, a menina não lembrava. Com exceção de quando nascera, Alexandra nunca fora em seu país natal.

Alexandra assentiu para o pai cruzando os braços.

— Bem, princesa, achamos que talvez não devesse ir.

A menina suspirou. Era isso então.

Edgar não queria magoá-la ao dizer que ela não poderia ir, provavelmente daria alguma desculpa para impedi-la. Alexandra já tinha preparado vários e vários textos para convencer os pais de permitir que ela fosse, um deles foi de que ficaria com a avó, coisa que o pai desaprovou instantaneamente.

Não era a primeira vez que Alexandra pedia para ir morar com a avó, da primeira tentara ir escondido, mas a avó a mandou de volta no mesmo momento que apareceu lá sem que os pais soubessem.

— Por que não? — Questionou a garota.

Edgar humedeceu os lábios com a língua e suspirou. As mãos começaram a se mover rapidamente com os dedos das mãos batucando freneticamente nas pernas. Valentina costumava dizer que Lucas ficava igualzinho ao pai quando nervoso, mas Alexandra discordava. Lucas, quando nervoso, ficava com as mãos suando, por isso limpava-as nas calças, o garoto nunca batucara as mãos. Mas para a mãe de Alexandra, eram idênticos.

— Não achamos apropriado. Pode estudar aqui, tem universidades ótimas e você com toda certeza conseguiria entrar para uma delas.

— Não quero estudar aqui. Quero ir para o Brasil e viver com a vovó. Por que nunca permitem que eu vá para o Brasil?

— Não importa. — O homem ergueu o tom de voz. — Você não vai e ponto final.

A menina sentiu o corpo inteiro vibrar, uma carga de energia fez com que seus pelinhos da nuca se eriçassem. Alexandra fechou as mãos em punho sentindo uma ira crescer dentro de si. Não estava com raiva por ele não permitir que ela fosse para a universidade, estava irritada por ele ter erguido a voz para ela, por ele não ter respondido à pergunta e, acima de tudo, por ele não lhe ouvir.

A garota ficou em pé, já pegando o sobretudo e calçando os tênis. Edgar observou cada passo da filha. Entretanto, quando a menina se dirigiu para a saída do quarto, o homem levantou correndo e impediu a garota.

— Aonde vai?

— Dar uma volta.

Alexandra passou pelo pai caminhando na direção da porta que levaria para a garagem. A adolescente ignorou todos os gritos do pai atrás de si, até mesmo os da mãe, que apareceu de um canto da casa.

Minutos depois, Alexandra já estava perambulando pelas ruas com Narciso em seu encalço. Já estava irritada o suficiente para ainda ter de ouvir o garoto falando com ela e ter de fingir não lhe ouvir, para não ter de responder e todos a olharem torto por estar falando sozinha.

Por que seu pai abominava tanto a ideia de ela ir para o Brasil?, pensou. Não mataria ninguém isso, muito menos ele. Na verdade, Alexandra tinha certeza de que nenhum dos pais sentiria a falta dela, muito menos o irmão. Então para que todo aquele drama em a mandar para o outro lado do mundo? Não era como se fosse fazer alguma diferença na vida deles, aliás, poderia até mesmo ajudá-los. Economia de energia, de água, de comida.

Narciso se pôs ao lado da menina comendo um pacote de salgadinhos enquanto andavam. De acordo com o garoto, ser fantasma tinha suas vantagens.

— Minha senhora, não acha que deveria voltar para casa e se preparar para partir? — Perguntou o loiro encarando o alaranjado nos dedos. — Isso é fascinante.

Alexandra revirou os olhos.

— Não posso. Preciso pensar antes em como vou partir, o pretexto de ir para a universidade estava em meu favor, mas agora... Tenho sérias duvidas.

Alexandra olhou para um carrinho de pipoca a sua frente. Só então percebeu o quão faminta estava. Resolveu que, enfim, poderia comer. Porém, ao se aproximar, sentiu um calafrio passar por sua espinha, era uma estranha sensação de que alguém estava a observando.

Olhou por cima do ombro, mas tudo o que viu foi um vulto passar por entre a multidão. O vulto negro correu por entre as pessoas e entrou em um beco. Alexandra se sentiu tentada a não ir atrás, mas aquele vulto a deixou intrigada. Logo a menina já corria praticamente soltando fumaça pelos ouvidos e nariz. Narciso vinha logo atrás, tentando a todo custo tirar o alaranjado dos dedos enquanto corria.

Assim que chegaram ao beco, Alexandra viu o vulto passar para o teto do prédio. Olhou brava para Narciso, que descobrira que, se lambesse os dedos, o alaranjado sairia.

— Pensei que só tivesse você para eu aguentar apenas eu vendo! — Bradou a garota já começando a escalar a escada de incêndio.

Narciso esbugalhou os olhos.

— Ah não, minha senhora, isso não está certo e... — Mas o garoto não terminou, já que a garota fez um movimento mandando-o se calar.

As escadas já estavam ficando enferrujadas e pareciam sensíveis, mas Alexandra as subiu com rapidez e pulando dois em dois degraus. A velha escada rangia e balançava de leve de acordo com a altura e a velocidade que a menina subia. Narciso no encalço da morena, correu para mantar-se perto, mesmo que ele pudesse simplesmente aparecer onde ela estivesse.

Ao chegar lá em cima, deu um pulo para sair das escadas e, enfim, chegou ao telhado. Como suspeitava, tinha uma pessoa ali, mas antes mesmo que a menina pudesse falar algo, a pessoa entrou na pequena entrada que tinha. Alexandra deduziu que aquilo fosse como chegar lá em cima por dentro do prédio.

Ignorando totalmente os comentários e os avisos de Narciso, que parecia estar extremamente cansado, Alexandra correu para a porta, que ficara entreaberta, entrando como um foguete. Ao chegar lá, viu que tinham vários corredores e varias portas.

— Minha senhora, se não for pedir muito, gostaria de pedir que desistisse disto ou ao menos fosse mais devagar. — Narciso estava ofegante.

— Ah, me poupe, Narciso, ficou anos parado se olhando, uma corridinha não fará mal — respondeu Alexandra áspera olhando para todos os lados.

Um vulto passou pelo corredor da direita. Sem aviso prévio, Alexandra correu naquela direção. Narciso caiu quando tentou correr para dentro e acompanhar a garota. Podia-se ouvir o chão de madeira velha ranger com os passos rápidos de Alexandra, mas esta não se intimidou, já entrara em lugares assim antes, um pouquinho disto não faria diferença. Ela só deu graças aos deuses por estar de tênis, pois correr tudo aquilo e ainda subir aquelas escadas de sandália seria horrível.

Parou em frente a um corredor onde tinham duas portas, uma de cada lado. A porta da direita era feita de madeira clara, tinha o numero 1013 em dourado na porta e tinham desenhos em cada canto. A porta da esquerda era feita de madeira mais escura, o mesmo numero estava preso na porta da mesma cor e os mesmos desenhos nas pontas. A única diferença entres elas era que a porta da esquerda estava entreaberta e dava para ver que lá dentro estava claro.

Narciso finalmente chegou ao encontro da garota, estava ofegante e levemente vermelho. Alexandra viu que ele ia falar algo, então foi mais rápida, e o virou para um espelho que tinha ali pelo corredor. Instantaneamente o homem paralisou com um sorriso nos lábios levemente carnudos.

A menina voltou-se para a porta e esticou a mão, pegando na maçaneta que parecia ser feita de ouro. A empurrou e entrou, rapidamente tentando render quem quer que fosse. Porém, parou no mesmo momento ao ver quem estava lá dentro.

A mulher se virou com um sorriso enorme e abriu os braços em um gesto de afeto. O sorriso mostrava os dentes brancos e bem alinhados. A mulher devia ter em torno de 19 ou 20 anos, mas Alexandra sabia que aquela aparência era apenas a de mortal.

Alexandra adquiriu uma expressão de surpresa e incredulidade. A mulher a sua frente deu um passo à frente e disse:

— Não vai mesmo me cumprimentar? — Na sua voz tinha ironia.

— Nyx? Mãe? — Perguntou uma Alexandra completamente confusa e surpresa. E, para ainda mais espanto de Alexandra, a mulher abriu ainda mais o sorriso.

— Nêmesis — Nyx murmurou, sua face estava inexpressiva. — Ou Alexandra.

— Chame como quiser — respondeu Alexandra seca. — Sou as duas mesmo. — Deu de ombros.

— Seu ódio por mim é evidente — respondeu-lhe a deusa com ironia.

— Não faço esforço para escondê-lo. — A menina continuou seca, mas, desta vez, sua voz soou fria.

— Você é Nêmesis, sempre me odiou. — Ela deu de ombros. — O que planeja fazer agora?

— Não sei — a garota respondeu cruzando os braços e trocando o peso do corpo para a perna direita.

— Você recobrou a memória — Nyx respondeu. — Poderia se unir a mim.

— Eu me unir a você? — Alexandra perguntou em um tom de ironia com um sorrio nos lábios.

— Você é minha filha. Seu lugar é ao meu lado.

— Isso é algum tipo de piada? Se for, acho que deveria ir para um circo — a menina respondeu com uma risada seca.

Nyx suspirou, convencer Nêmesis não seria uma tarefa fácil.

— Você sempre foi a mais teimosa de todas as minhas crianças. Lembra-se de quando costumava brincar em meus prados, em nossa casa? Você custava a perdoar as ninfas que a ofendiam.

Alexandra não respondeu, apenas olhou nos olhos de Nyx.

— Você realmente acredita que eu esqueci de você? — Bingo, aquele era o ponto certo.

— O que queria que pensasse? — Alexandra perguntou gesticulando.

— Eu estou aqui, Alexandra. — Katherine deu dois passos na direção da menina. — Com a aparência de uma mortal, assistindo cada um dos deuses acordar, eu vim assim que soube do seu despertar.

— Acha mesmo que cairei nessa ladainha? — A garota perguntou, mas podia sentir um fio de esperança.

— Ladainha? — A Deusa indagou. — Eu não minto, Nêmesis, não para os meus filhos. A menina deu um pequeno sorriso.

— Nunca pensei que viria atrás justo da filha mais teimosa, como você mesma disse — respondeu tornando a cruzar os braços e dando um paço na direção da deusa.

— Você é minha filha, não importa o que representa ou quais são os seus domínios. — Nyx lembrou-se do tempo em que os deuses habitavam o Olimpo, quando Hera costumava chamar seus filhos de monstros e pragas. — Você é minha criança, Alexandra. Independente de seus pais mortais. Alexandra abriu um sorriso.

— Sim, sou sua filha de um jeito ou de outro, mas tem tantos filhos... Me deixou até emocionada. — A garota riu da própria piada sem graça.

Katherine bufou e arqueou uma sobrancelha.

— Todos os meus filhos foram amaldiçoados por Zeus, jogados na Terra, forçados a viver encarnações humanas.

— Posso dizer que até gostei de alguns mortais. Realmente, me impressionei. — Alexandra murmurou mais para si do que para as duas. — Mas devo admitir, não foi a mesma coisa.

— Sua alma é imortal, você nunca conseguirá viver como uma humana e se sentir confortável.

— Devo concordar, mesmo que até há dois dias pensasse que era apenas uma garota que via injustiça em tudo — a garota respondeu dando um leve sorriso com a lembrança dos Gonzales todos sujos no colégio mortal.

— Você precisa aceitar o seu lugar. — Os olhos intensos de Nyx fitaram a jovem, Alexandra era apenas alguns anos mais nova do que a aparência mortal da Deusa da Noite.

— Sei que devo, e estou aceitando bem, eu acho. Mas não é exatamente como se isso fosse fácil. As memórias de todas as outras encarnações ainda rondam minha cabeça, até mesmo os momentos que passávamos no Olimpo. — A voz da agora demonstrava o quão sua mente se encontrava conturbada.

— Por isso eu vim. — Ela sorriu para Nêmesis. — Junte-se a mim e ao seu irmão.

— Irmão? Qual irmão? — Alexandra perguntou arqueando a sobrancelha. Estava hesitando em responder ao pedido.

— Thanatos, ele quer os deuses para ele. Eu quero você ao meu lado.

Alexandra ficou boquiaberta.

— Quer que eu a ajude a... Sei lá, derrotar os deuses?! Mãe, esta maluca?

— Eu não quero nada com os deuses, Nêmesis. — Nyx suspirou. — Nunca quis. Mas meu amor por vocês é maior do que qualquer outra coisa. Não deixarei que nenhum deles machuque você ou Thanatos.

A menina hesitou dando um pequeno passo para trás.

— Acredita em mim?

— Por mais louco que seja, sim, eu acredito. Além de Narciso, você foi a única a vir me procurar. — A garota suspirou dando dois passos na direção da deusa.

— Narciso — Nyx murmurou pensativa. — Eu vou para o Brasil em breve, venha comigo. A garota sorriu.

— Será um prazer e... — Mas se interrompeu lembrando de algo importante. — Droga, não dá.

— Não dá? — Nyx arqueou a sobrancelha e a fitou. — Explique.

— Posso até ter me descoberto, mas para muitos ainda sou uma mortal. Valentina e Edgar são pais responsáveis, carinhosos e amam esse meu ser. Não posso fugir, e eles jamais deixariam que eu fosse embora do país com uma completa estranha para eles — a garota justificou mordendo o lábio inferior.

— Esse é seu impedimento? Sabe que posso resolver isso.

— Sim, esse é o impedimento. Tenho medo do que está pensando em fazer para eles permitirem minha saída — respondeu Alexandra olhando intrigada para a mulher.

— Posso matá-los. Posso criar uma ilusão e posso fazê-los esquecer de você. Escolha.

— Matá-los não, seria maldade demais. Se eles esquecerem de mim, vários outros lembrarão. Ilusão talvez seja o mais apropriado — Alexandra disse assentindo.

— Se esta é a sua escolha, que assim seja. Encontre-me no início da noite, no lugar aonde seu coração lhe levar.

— Certo. Irei me livrar de Narciso—garota avisou, já se virando para sair.

— Perfeito — Nyx respondeu. — Nêmesis — Ela chamou. — Cuidado.

— Acho que me livrar de um espectro e encontrar minha mãe no início da noite não será tão perigoso quanto viver entre mortais — Alexandra respondeu parando na porta e olhando para a deusa. — Até de noite, mãe.

— Até, filha. — Quando Nêmsis piscou, Nyx desapareceu entre assombras.

Alexandra suspirou e saiu do quarto, fechando a porta atrás de si. Ao levantar seu olhar, deu de cara com a figura loira se encarando em um espelho que estava preso a parede.

A garota bufou e estalou os dedos, fazendo o garoto piscar e a encarar.

— Você realmente não muda, não é? — Perguntou começando a andar, olhando atentamente para todos os lados na tentativa de encontrar a saída.

— Foi a senhora que me amaldiçoou há mais de mil anos, não tenho culpa se ainda tenho certas fraquezas — Narciso murmurou seguindo a jovem enquanto remexia a cabeça e fazia pressão no pescoço. — Isso dói, sabia? Ficar se encarando dói — resmungou.

— Para de reclamar e me ajude a encontrar a saída. Tenho que para casa — mandou enquanto parava no meio de um encontro de quatro corredores. — Ai, mãe, não tinha um lugar menos complicado para me encontrar não? — Resmungou analisando cada um dos corredores.

— Espera, a senhora disse mãe? — O garoto perguntou enquanto apontava para um dos corredores.

— Sim, Narciso, eu disse mãe. Concordo, esse é o melhor lugar — a garota disse e seguiu pelo corredor sugerido.

O garoto ficou paralisado por um tempo, mas logo se recompôs e correu na direção de Alexandra, que agora tentava abrir uma janela velha e enferrujada. Dava para ver a escada de incêndio.

— Mas, minha senhora, a senhora não odiava sua mãe? — Perguntou o rapaz ajudando a moça a abrir a janela.

— Longa história. Ajude-me a resolver tudo, que quando chegarmos em casa explico o que aconteceu. Mas, agora, seja homem o suficiente e abra essa porcaria — falou a garota entre dentes tentando abrir. — Ah, já chega.

A garota se distanciou da janela, fez um sinal para que o rapaz fizesse o mesmo. Com um só chute, ela quebrou a fechadura da janela junto com uma pequena parte da madeira que a segurava.

Alexandra a abriu com um sorriso orgulhoso nos lábios, abaixou-se o suficiente para passar pela janela e então pisou na escada velha. Endireitou-se e olhou para Narciso pelo vidro.

— Você não vem? — Perguntou indo em direção as escadas que desciam.

O garoto apenas assentiu antes de sair pela janela.

Tinha acabado de chegar a casa, devia ser em torno de 14:00 ou 14:30 e já sentia que deveria sair.

A deusa se encontrava agora no quarto do seu ser mortal, andado de um lado para o outro pensando e relembrando coisas. Narciso estava jogado na cama da garota, a cara amarrada e de braços cruzados. Alexandra tinha contado a Narciso sobre a conversa com a deusa da noite e o garoto não parecia ter gostado nem um pouco.

Narciso passara exatos 15 minutos resmungando sobre o quanto a decisão da jovem tinha sido impulsiva, mas a deusa apenas o ameaçou: disse que o amaldiçoaria de novo se a impedisse.

— Ok, calma Nêmesis, você é imortal, não tem com que se preocupar — murmurou para si mesma.

— É, a não ser com que vai levar para a viajem, ou quem sabe se pode confiar na sua mãe e no seu irmão. — Narciso resmungou gesticulando.

— Cala a boca, Narciso. Já disse que não acredito totalmente em minha mãe, nem em Thanatos, mas eles ainda são minha família. Eu vou com Nyx sim — a jovem deusa respondeu parando. — E ela foi a única que veio atrás de mim — completou fitando o loiro.

— Obrigado pela parte que me toca — ironizou Narciso fazendo bico.

Alexandra revirou os olhos.

— Você entendeu.

Olhou para a janela do quarto e viu que o sol já começava a descer. Respirou fundo e encaminhou-se para o guarda-roupa, pegou uma mochila e começou a enfiar roupas lá dentro. Ao terminar, jogou a mochila em Narciso e pegou uma muda de roupas no guarda-roupa, direcionando-se para o banheiro.

Resolveu tomar um banho quente e longo, precisava tirar a tensão e um bom banho quente ajudaria. Passou longos minutos apenas apreciando a água molhar seu corpo e passear pelo ele com total liberdade. Nem ligou quando Narciso disse que Valentina e Edgar haviam chegado com Lucas.

Ao sair, vestiu a roupa com rapidez e jogou a mochila pela janela, retornando ao banheiro em seguida para escovar os dentes e os cabelos. Ao ficar pronta, olhou para Narciso e suspirou.

— Você vem? — Perguntou. — Preciso de um dos meus... só para ter certeza.

O rapaz assentiu sereno.

— Não apareça até que eu mande, entendido?

Narciso novamente assentiu. De repente, os pés do loiro começaram a virar fumaça até sua cabeça, uma fumaça cinza tomou o garoto por completo e o levou embora. Caminhou pela casa até a sala de estar, onde se encontrava Valentina, Edgar e Lucas vendo algo que passava na televisão.

— Hã... Eu estou saindo — a garota avisou pegando as chaves do carro.

— Tudo bem, só não volte tarde, certo? — Valentina disse doce com um sorriso bondoso.

A garota nada disse, apenas lhes deu as costas e saiu pela porta de trás. Pegou a mochila ali jogada e direcionou-se para a garagem, abriu o porta-malas e jogou a mochila lá. Adentrou o carro no banco do motorista e suspirou.

— Vamos lá — balbuciou ligando o carro e saindo pelas ruas da Espanha embaixo de um belíssimo entardecer.

— Encontre-me no início da noite, no lugar aonde seu coração lhe levar — dissera Nyx.

— Mas onde seria esse lugar, deuses? — Perguntou Alexandra frustrada.

Pode ser qualquer lugar. O lugar aonde meu coração me levar, um lugar que eu goste, pensava Alexandra parando no sinal.

— Mas é claro. A árvore na praça, é obvio. — Quase gritou ao obter a resposta.

Ao ver que o sinal abrira, a garota acelerou para a próxima avenida, onde entraria para ir em direção a praça. Deu uma rápida olhada no relógio do carro e viu que marcava 17:20, o sol estava com apenas alguns raios ainda no céu, mas nada que iluminasse tanto.

Dobrou na rua em que levaria para a praça. Ao longe já podia ver as luzes dos postes de luz acesas iluminando a praça. A árvore dava para ser vista mesmo de longe, o que ajudou Alexandra a se localizar.

Estacionou o carro perto da entrada da praça, desceu e pegou a mochila no porta malas. Travou o carro e jogou a mochila no ombro enquanto direcionava-se para dentro do local.

Nêmesis tinha de admitir, aquele lugar de noite não era exatamente “perfeito” como de manhã. Alguns dos arbustos pareciam assustadores quando o vento batia neles e os fazia mexer. O chafariz de cavalos em conjunto jorrando água da boca feitos de mármore estava ligado, o que fazia com que o som da água deixasse o ambiente tranquilo e ao mesmo tempo aterrorizante. Mas nada daquilo se comparava ao som que as folhas da enorme árvore faziam, era bem mais sinistro do que todas as outras coisas do parque juntas.

A garota seguiu caminho ignorando qualquer tipo de barulho que escutasse, até que parou a alguns passos da árvore, já podendo ver as costas da mesma mulher que encontrara naquela tarde. Nyx se encontrava encarando o céu, agora, estrelado e já com a lua crescente no topo.

A jovem deusa suspirou e encaminhou-se para o lado da deusa da noite, também encarando as estrelas.

— Não pensei que viria para cá — a menina disse quebrando o silêncio.

— Você veio — Ela murmurou com certa surpresa, Nyx estava tão acostumada com as traições de seus filhos que mal pôde crer que Nêmesis a encontraria. — Seus pais acreditam que você está em um colégio interno no Brasil.

— É claro que vim, Narciso tentou impedir, mas eu já resolvi. Ok, espero que eles fiquem bem — a garota disse assentindo.

— É no que eles acreditam, Nêmesis. — Nyx sorriu para ela. — Vou garantir que você fique em um lugar seguro, Hipnos retornou e você sabe o quanto ele pode ser traiçoeiro. Ele é pior do que o próprio Thanatos em alguns aspectos.

— Vamos atrás dele então? — A garota perguntou fitando a deusa da noite.

— Ele vai morder a própria língua e quando fizer, estarei esperando. — Nyx moveu as mãos, criando uma parede negra no meio do parque. — Pronta?

— Para falar a verdade, não — murmurou respirando fundo. — Mas vamos lá.

A deusa sorriu docemente para ela e fez um movimento, fazendo com que a parede se aproximasse delas. De repente, as duas foram engolidas pela escuridão e toda Barcelona ficou para trás, ficando apenas como um ponto distante em tanta escuridão.

Naquele momento, ali com sua mãe, Nêmesis teve certeza de que não tinha mais volta, agora era uma reta só e apenas o destino diria se ela voltaria ou não um dia para aquele lugar.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam? Espero que tenham gostado.
Até a próxima.
Boa noite.



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