Ártemis observa seriamente o irmão, que abaixa a cabeça e coloca as mãos no piano. Ela caminha lentamente, senta ao seu lado e segura sua mão. O coração e a respiração de Apolo aceleram. Ártemis apoia a cabeça em seu ombro e começa a cantarolar a mesma melodia que acabara de ser tocada no piano. Depois deposita um beijo na bochecha de Apolo e sussurra:

–Eu também te amo.- O garoto sorri e ela levanta. Ele volta a tocar animadamente e Artie fica com os braços debruçados na cauda fechada do piano, ouvindo. Depois de algumas horas, Ártemis volta para cama na enfermaria e convence Apolo a dormir no quarto dele. Quando ele chega no quarto, pula na cama e não para de sorrir. Dorme se sentindo o deus mais feliz do Olimpo.

Ártemis ainda reflete sobre aquilo. Será que foi real ou os remédios entorpeceram sua mente? Apolo realmente esteve ali ou foi tudo um sonho? Ela fita a poltrona e tenta ter alguma confirmação de que realmente aconteceu. Levanta da cama e olha em todo o quarto, e encontra duas provas: o livro que fora arremessado por Apolo está no chão próximo da parede; e a escova que o atingiu na cabeça está perto da cama, onde ele supostamente a jogou antes de correr atrás dela. Sente um calor percorrer seu corpo.

Depois de alguns minutos, respira fundo e sai do quarto. Corre descalça pelos corredores até o quarto de Apolo e levanta a mão para bater na porta, quando percebe que uma fresta está aberta. Ela abre um pouco mais a fresta e espia dentro do quarto: seu irmão já está dormindo. O sorriso em seus lábios é mais uma prova de que foi real.

–Ah,Apolo...- sussurra ela, com uma expressão de pesar em seu rosto. "Isso nunca vai dar certo. Apolo O que faço para você entender?" ; pensa. Apesar de todos os pensamentos em sua cabeça, Ártemis não quer que o sorriso de Apolo desapareça. Abre silenciosamente a porta do quarto e se aproxima da cama. Beija a testa do loiro e sussurra-lhe um "boa noite". Sai do quarto e encosta a porta do mesmo jeito que estava antes. Volta correndo até o quarto da enfermaria, deita-se na cama e adormece de imediato.

Assim que ela acorda, um médico faz alguns exames e receita alguns remédios. Ele recomenda que ela fique mais algumas horas no quarto, e ela concorda.
Como está em uma suíte, assim que o médico sai, ela tranca a porta do quarto e vai tomar banho. A conversa da noite passada insiste em ocupar seus pensamentos, mas, mesmo assim, Ártemis procura deixar suas emoções de lado e focar no que realmente a preocupa: Hécate. Artie desliga o chuveiro e se enrola na toalha. Sai do banheiro, vai até o quarto e veste a roupa que deixaram separada em cima de sua cama.

Não é nada muito luxuoso, já que ela prefere roupas mais confortáveis e discretas. É um vestido branco simples que vai até um pouco abaixo do joelho; sem mangas e com pequenos adornos em lilás e prata. Também há um par de sandálias prateadas com várias tiras e um grande grampo para cabelo com um desenho de uma flor lilás no centro. Ela veste o vestido e as sandálias, mas guarda o grampo na gaveta do móvel ao lado de sua cama, onde há apenas algumas seringas e pequenos vidros de remédio. Pega a escova que estava no chão, penteia rapidamente o cabelo e o deixa solto.

Como não pode sair do quarto, Ártemis fita o local a fim de achar algo para passar o tempo. Avista o livro no chão e o pega. Na capa está escrito GAIA. Ela abre o livro cuidadosamente como se fosse seu tesouro mais precioso e começa a folhear aquelas ricas páginas. Diz tudo o que Ártemis sempre quis saber sobre Gaia, e a menina fica animada com tudo aquilo. Quando chega na parte da flora e da fauna, possui até algumas imagens e curiosidades sobre elas. Fica encantada principalmente com as florestas e os animais de lá pois, apesar de caçar em praticamente todos os Reinos Aliados, jamais vira coisa parecida.

– Você está linda nesse vestido. - diz uma voz atrás dela.

– Obrigada,Hermes.- responde, ainda com os olhos fixos no livro.

– O que está lendo?

– Um livro sobre Gaia.

– Posso ver?- Ártemis olha para ele por cima do ombro com um olhar raivoso. Hermes levanta as mãos dramaticamente e faz cara de assustado:

– Calma,calma.Eu só perguntei! - Artie volta a ler o livro.- Zeus sabe que você anda lendo coisas sobre Gaia?- Ártemis não desvia os olhos do livro:

– Zeus deve estar muito ocupado paparicando Hécate nesse momento. Duvido que esteja prestando atenção em mim. Além do mais, o Templo foi projetado para que ninguém, de forma alguma, consiga enxergar o que se passa aqui dentro. Então - ela suspira - não estou preocupada de Zeus descobrir o que leio quando estou aqui.

–Hum... Quem é Hécate?- pergunta Hermes."Droga", pensa a garota, mas não entra em desespero. Ela dá um risinho curto olhando para ele e volta a ler, dando risadinhas e fazendo cara de divertida.

–O que foi?- pergunta o garoto, intrigado.

–Nada.- responde ela, continuando com os risinhos.

–Ártemis.- chama ele. Ela dá uma última risada e fecha o livro.

– Depois do almoço eu te conto, pode ser? Vou ter que contar para todos os nossos irmãos, de qualquer jeito. Mas você não pode dizer nada sobre Hécate perto das pessoas daqui, muito menos Leto, Nyx e Hera, entendeu?- ele assente.- Ótimo. Agora eu preciso que avise-os para me encontrar depois do almoço, no terceiro campo de flores do jardim.

– E a sala e o campo de treinamento? Não são mais seguros?

– Tem muitas câmeras. Se quisermos bolar um plano, terá que ser de dia e à céu aberto.

– Mas aí estaremos completamente expostos.- Ela sorri:

– Exatamente. E é por isso que eles não irão desconfiar.

– Mas, Artie No jardim? Sério?- ele faz uma careta- Será que não tinha um esconderijo mais tosco?

– Se você quiser, podemos nos reunir no closet da Afrodite.

– AH, NÃO!- grita ele- Tudo menos isso! Como se não bastasse o tanto de roupas, sapatos e jóias que ela tem, agora ela inventou de colecionar perfumes! PERFUMES, ÁRTEMIS!! Tem noção do quanto o closet dela cheira forte?!- Ártemis começa a rir- É SÉRIO! É PERIGOSO ALGUÉM MORRER SUFOCADO LÁ DENTRO!

– E como você sabe que o closet dela tem cheiro forte? Você já esteve lá por acaso?- pergunta ela, entre risos.

– Beem...- responde Hermes, com um sorriso malicioso.

– Hermes!- repreende Artie- Não acredito que você realmente entrou lá!

– Ah, foi só uma vez. E foi muito necessário. Sabe, né? Cartas de amor pra Afrodite. Mas aí uma coisa levou a outra e...- ela faz um gesto com a mão para que ele pare de falar:

– Por favor, me poupe dos detalhes. Sinceramente, a vida amorosa de Afrodite é a última coisa que eu gostaria de falar. Agora vá fazer o que lhe pedi.

– Muito bem, então. Tchauzinho, Artie.- Ele desaparece e a deixa sozinha no quarto. Ela deita na cama e retorna a ler. Alguns minutos depois, alguém bate na porta. "Deve ser Apolo", pensa. Respira fundo e levanta. Se olha no espelho uma última vez, ajeita o cabelo e vai atender a porta. Ela abre e vê uma menina loira de cabelo mediano e olhos azuis com o uniforme de enfermeira segurando uma bandeja com um sanduíche e um copo de suco.

– Bom dia.- diz a menina.

– Bom dia.- responde, abre a porta e a garota entra,deixa a bandeja em cima do móvel ao lado da cama e abre a gaveta. A loira tira o grampo de dentro da gaveta:

– É seu?

– Sim.

– Que bonito.- Artie assente- A propósito, eu sou Anya.

– Ártemis.- Anya olha para ela:

– Filha de Leto?

– Sim. De Zeus também, na verdade.

– Então, você é a garota que levou uma surra de Ares.

– O quê?

– Todos estão falando de você. Já virou o centro das atenções por aqui.

– E Leto Ela sabe disso?

– Querida, quem você acha que escolheu a roupa que vestes? Leto ficou uma tarde inteira para decidir seu vestido. Quem dera minha mãe fosse assim!

– Assim Como Leto?- Ártemis estava confusa.

– Claro. Leto é a pessoa mais requisitada do Templo, depois de Nyx. E mesmo assim arranja tempo para cuidar de seus filhos. Um dia quero ser como ela. E você?

– Não sei Acho que, se eu tiver um filho, não abandonaria minhas responsabilidades em sua função. Provavelmente o pai teria que cuidar dele.

– Então você é como Zeus.- Ártemis sente um calafrio percorrer sua espinha. Anya está certa. Ártemis é mais parecida com Leto em aparência, mas seu modo de pensar é semelhante ao de Zeus.

De repente, ouve-se um grito agudo. Ártemis sai correndo do quarto e vai em direção a ele. Vai por alguns corredores até chegar em um quase vazio. A única coisa que vê é Afrodite desmaiada no chão. Ela ajoelha ao lado da ruiva e começa a gritar:

– ANYA! ME AJUDA! ANYA!- Anya surge no final do corredor e vai correndo até elas:

– Ártemis, reúna seus irmãos e veja se mais algum deles está ferido. Eu cuido de Afrodite.- Ártemis levanta e volta a correr, até avistar Apolo com arco e flecha em mãos em uma sala vazia:

– APOLO!- ele se vira e aponta uma flecha em sua direção. Assim que reconhece a garota, abaixa o arco:

– ÁRTEMIS, VOCÊ TEM QUE VOLTAR PRO SEU QUARTO! AQUI NÃO É SEGU...- um braço surge por trás e corta seu pescoço. Apolo cai morto no chão. O corpo que lhe tirou a vida se afasta dele e guarda a adaga que o fez.

Uma garota de cabelos negros com algumas mechas vermelhas. Ela veste as roupas do Templo. Ela para e fica olhando para Ártemis de braços cruzados, esperando sua reação. Os olhos de Artie se enchem de lágrimas, mas ela respira fundo e olha a garota olho no olho. Mais uma lição aprendida no Templo: nunca demonstrar fraqueza quando o inimigo está presente.

A garota tira novamente a adaga que matou Apolo do bolso e diz:

– Antes de começarmos, vou logo me apresentar. Sei quem você é, Ártemis Zeuson. Sei quem são todos vocês

– Como nos conhece?

– Acho que a minha apresentação esclarecerá as coisas- ela limpa a garganta- Olá, eu sou Circe. A filha de Hécate.