Todos congelaram por um momento ao som das minhas palavras. O primeiro a reagir foi Will.

– Hum, Alexis, Julia e Danielle, será que vocês podem levar Scarlet para o segundo andar? – Pediu e as garotas assentiram, embora a de cabelos vermelhos não parecesse ter gostado muito da ideia. – Obrigado.

Olhei para meus irmãos quando as quatro garotas haviam sumido escada acima, Molly estava com os dentes trincados e os outros garotos pareciam a ponto de esmurrar algo.

– O que aconteceu? – Perguntei novamente.

Will deixou sair um suspiro antes de começar:

– A Scarlet chegou aqui um dia depois que você voltou para Londres. – Falou e eu me sentei para ficar mais confortável e entender melhor. – Bem, um garoto do chalé de Afrodite foi o responsável por levar ela pelo acampamento.

– Contra a minha vontade, devo acrescentar. – Molly resmungou e lançou um olhar irritado para Will. – Eu já havia me voluntariado para isso, afinal é a nossa irmã.

– Eu já assumi meu erro. – Will se defendeu com frustração. – Mas no momento pensei que era melhor que ela fizesse outros amigos aqui no acampamento além de nós.

– Ah claro, porque um filho de Afrodite é uma boa escolha para amizade! – Retrucou Mathew desdenhoso e meus pensamentos se voltaram para Linda, instantaneamente me senti mal pelo significado que suas palavras transmitiam.

– Por favor gente! Foco! Eu ainda não entendi onde isso vai chegar! – Pedi para espantar o pânico que começava a se formar no meu estômago.

– Certo. – Molly murmurou e fitou nosso irmão parecendo mais calma. – Desculpe Will, você não tinha como saber o que ia acontecer.

– Tudo bem. – Will respondeu em voz baixa. – Mas a questão é, Nat, a Scarlet começou a ficar muito amiga desse filho de Afrodite.

– O nome dele é Pietro. – Disse uma voz rouca atrás de nós, nos assustando.

Olhei para trás e vi a garota que estava chorando quando cheguei, tinha cabelos castanhos como os meus e olhos cor de caramelo, mas nossas semelhanças paravam aí, ela parecia ter mais ou menos a idade de Molly, 15 ou 16, não era nem alta nem baixa, com uma pele bem bronzeada e muito bonita. Parece que Apolo tinha filhos dignos de um desfile de moda.

– Como você consegue falar dele com tanto carinho? Depois do que ele fez e não te deu a oportunidade de explicar? – Jack parecia surpreso e com raiva.

– Gente a Nat não sabe o que está acontecendo, podemos voltar a explicar para ela? – Molly pediu.

– Deixem que eu falo. – Pediu a garota, meus irmãos pareceram em dúvida por um momento e ela completou. – Aconteceu comigo, então deixem que eu explique!

– Está certo. – Falei para ela. – Me diga então.

– Eu e Pietro começamos a namorar, estávamos juntos até ontem, quando ele flagrou um beijo que um filho de Hefesto roubou de mim. – Ela começou a soluçar, mas tentou manter a postura. – Ele deu a entender que alguém, provavelmente um de seus irmãos, disse que eu o estava traindo, mas eu nunca faria isso com ele, eu amo Pietro com todo o meu coração.

Ela começou a chorar de verdade e Molly veio murmurar umas palavras de conforto para ela enquanto eu começava a entender o que estava acontecendo, e se fosse assim era um motivo muito besta para os dois chalés ficarem discutindo.

– Até aí achamos que dava para consertar tudo, mas o que aconteceu depois foi o pior, um insulto ao nosso chalé que não pode ser perdoado. – Marcus falou e eu olhei para a garota.

– Quando eu fui falar com ele, explicar que eu não o estava traindo, que aquele beijo que ele flagrou foi roubado – ela engoliu em seco e uma lágrima silenciosa rolou por seu rosto – eu o peguei se agarrando com uma filha de Perséfone chamada Michelle, que desde que eu cheguei tem se oferecido para Pietro.

Meu queixo caiu.

POV: Scarlet

A menina me fitava com descrença, seus olhos caramelos passaram de chocados a irados em questão de segundos.

A mesma reação que nossos irmãos tiveram ao saber de tudo aquilo.

– Ele dizia que me amava. – Continuei em voz baixa, a raiva e a tristeza me dominando. – Mas não me deixou contar a verdade. Preferiu acreditar que eu o estava traindo e foi procurar justamente aquela garota.

Minha voz ficou com mais raiva. Porque Pietro? Porque tinha que ser justamente ela?

POV: Nat

Eu não conseguia acreditar que um dos irmãos da Linda foi capaz de fazer aquilo, pois obviamente sua intenção foi magoar Scarlet. A Fernanda era tão legal, a Linda era minha melhor amiga. Como era possível?

Agora eu entendia a raiva dos meus irmãos. A injustiça com a nossa irmã foi muito grande.

– Ela ainda debochou da minha cara quando percebeu que eu os flagrei. – Scarlet disse e mudou seu tom de voz. – “Quis ter dois acabou sem nenhum, agora ele é meu!”.

Trinquei os dentes.

– Não fiquei para explicações, apenas corri de volta para o chalé. – Contou. – E aqui estamos nós.

– Mas não é só isso. – Interrompeu Will e eu voltei meu olhar para ele. – O acampamento inteiro está em pé de guerra. Chalés que antes se davam bem agora lutam diariamente, semideuses que já não gostavam uns dos outros só ficaram piores.

– A tendência é piorar daqui para frente se continuar desse jeito. – Uma das meninas que acabei de conhecer falou.

Eu precisava tentar consertar aquilo. Tinha que falar com Linda. Meu estomago se contorceu com o pensamento, aposto que todos no chalé dela devem ter contado essa mesma história, só que invertida para que o garoto fosse a vítima.

Se eles fossem tão unidos quanto os membros do meu chalé pareciam, as coisas não seriam muito boas.

– Will, você tentou falar com a Fernanda? Aposto que ela ia entender. – Perguntei.

– Ela falou que o que Scarlet fez foi errado, que irmão dela a amava e Scarlet o traiu. Também não me deixou explicar o que havia acontecido. – Ele sacudiu a cabeça. – Não Nat, não vai ter conversa que resolva isso.

Suspirei. Isso seria um problema.

– Certo, então sem filhos de Afrodite no chalé de Apolo. – Falei me pondo de pé e planejando secretamente procurar Linda mais tarde.

– Aonde você vai? – Will perguntou quando eu estava na porta.

– Preciso falar com Quíron, tenho que deixar minha mala escolar na Casa Grande. – Respondi e coloquei meus óculos na cabeça. – Pode deixar, minha pontaria está excelente e aprendi uns bons golpes de luta. Não se preocupe, ninguém vai me pegar desprevenida.

– Acho bom, andar pelo acampamento não é mais tão tranquilo quanto antes. – Will falou e eu saí tranquilamente do chalé, um arrepio subiu pela minha espinha.

Precisava digerir aquele tanto de informações que recebi. Com isso em mente, voltei para o topo da colina, onde havia deixado meu malão de Hogwarts.