– Oi Peleu! – Eu e Linda o saudamos quando o dragão voltou uma de suas cabeças para nos olhar ao passarmos pelo grande pinheiro.

Ele nos fitou com olhos amarelos e inteligentes por alguns segundos antes de bufar como se dissesse ‘oi’ e em seguida recostou novamente a cabeça no tronco da árvore como se não fôssemos dignas de mais atenção de sua parte.

Revirei os olhos achando graça e contemplei a vista para o acampamento assim que chegamos ao topo da colina. O lugar estava ainda melhor do que eu lembrava, ao longe os prédios da Nova Grécia cintilavam ao sol.

Linda respirou profundamente aquele ar.

– É bom estar de volta. – Comentou com um sorriso e eu assenti, porém minha amiga parecia preocupada com alguma coisa.

– Concordo. – Falei com um sorriso.

Assim que começamos nosso caminho de descida reparei que estava havendo uma estranha comoção na área dos chalés.

– O que será que está acontecendo? – Perguntei.

– Só indo lá para descobrir. – Linda falou seriamente, seus olhos azuis se dirigindo para o grupo de pessoas próximas aos primeiros chalés do grande ômega que todos formavam.

Assenti e aceleramos o passo, enquanto passávamos alguns campistas nos cumprimentavam rapidamente antes de seguirem para suas tarefas, algumas ninfas de aparência aborrecida também acenaram ao nos ver, todos pareciam inconscientes do que estava acontecendo no pátio dos campistas, reparei que o lugar estava mais cheio do que na minha pequena estada.

– No verão o lugar fica mais cheio mesmo. – Linda falou como se tivesse lido minha mente a poucos metros do lugar onde os semideuses estavam reunidos.

Assim que chegamos notei que o problema era com duas garotas, imaginei que uma delas fosse do chalé de Deméter, uma vez que o círculo de pessoas estava concentrado bem na frente do chalé 4.

Eu e Linda nos esprememos por entre alguns campistas para termos uma visão melhor, uma das garotas estava com o lábio cortado e sua bochecha esquerda bastante vermelha, como se tivesse acabado de levar um soco, seus cabelos castanho escuros estavam empapados de areia e suor, e a outra tinha um filete de sangue escorrendo do lado da testa até o queixo e ainda mais saindo pelo nariz, tinha pequenas orelhas pontudas que me deu a certeza que era uma filha de Hermes.

Meu queixo caiu ao ver a cena. As duas garotas se encaravam como se quisessem matar uma a outra, os punhos erguidos em preparação para um novo golpe.

– Quem são? – Perguntei baixinho e olhei ao redor, Linda não estava mais ao meu lado.

Então senti uma mão em meu ombro que me puxou para fora do círculo de pessoas e me arrastou para o mais longe possível. Olhei para a pessoa e me deparei com o rosto daquele que eu senti mais saudade.

– Will! – Gritei antes de abraçá-lo e por um instante esqueci que duas garotas estavam brigando logo atrás de mim.

– Oi Nat! – Ele disse quando o soltei, foi então que reparei que ele parecia bastante preocupado e Linda não estava em nenhum lugar à vista.

– O que houve? – Perguntei e mais gritos das duas garotas que lutavam, alguns campistas gritavam incentivos, outros pareciam não apoiar a briga. – Porque elas estão brigando?

Will chutou uma pedrinha e suspirou parecendo irritado.

– Obra das filhas de Afrodite. – Seu tom de voz se tornou amargo e eu estranhei. – Amanda está acusando Mina de ter roubado o namorado dela. Alguns dizem que a Fernanda ajudou.

Seu tom de voz estava gélido quando ele falou da irmã de Linda.

– Mas você não se dava bem com líder do chalé? – Perguntei e percebi que foi a pergunta errada a se fazer ao ver sua expressão escurecer. – O que aconteceu exatamente?

Ele não teve tempo de responder, pois nesse momento o restante do chalé de Apolo se reuniu onde estávamos, todos acenaram para mim e deram um breve sorriso, mas logo assumiram uma postura séria. O único que não estava ali era Logan. Estranho.

Todos começaram a falar, mas não conseguir entender uma palavra até que ouvi claramente o som de cascos se aproximando.

– Quíron está chegando. – Anunciei e todos se calaram quando o centauro entrou no pátio.

O mar de semideuses em volta das duas garotas se abriu quando Quíron se aproximou. Ele não parecia nada contente, ao lado dele estava Linda, acenei para ela, mas minha amiga apenas sacudiu a cabeça levemente em negação, seus olhos azuis parecendo frios, e virou o rosto.

Senti meu estômago dar um nó ao perceber que ela havia me ignorado conscientemente. Linda nunca havia agido daquela maneira comigo, o que havia acontecido durante o tempo que fiquei fora do acampamento?

Olhei para Will, que cerrou os punhos ao ver minha amiga. Automaticamente me senti mal por isso, parece que a rixa entre os nossos chalés havia se tornado mais intensa nesses dois meses que passei em Londres.

– Nada bom. – Murmurei e Quíron começou a falar.

– Voltem para suas atividades. – Disse o centauro para os semideuses ao redor antes de virar para as duas que estavam brigando. – Irei conversar com essas duas mocinhas em particular.

– Vamos Nat. – Will falou me guiando para o chalé de Apolo.

– Você vai me explicar o que aconteceu? – Perguntei e ele assentiu seriamente.

– Mas não aqui. – Completou.

*****

O chalé de Apolo não estava muito diferente do dia em que cheguei ao acampamento, vários instrumentos estavam jogados ao longo do espaço que parecia uma sala de estar. Uma gaiola com ratos brancos sobre a mesa mais próxima.

Franzi a testa ao perceber que a quantidade parecia maior.

– Hum, tivemos alguns acréscimos no chalé enquanto você estava fora. – Will falou quietamente, mas pude sentir a raiva em sua voz.

Quando ele parou de falar senti algo se mexendo em meu bolso e segurei o grito ao perceber que era um rato igual aos outros.

– Ah, fala sério! – Exclamei e olhei para cima. – Qual é pai?

Will riu da minha reação.

– Parece que papai faz questão que você tenha um também. – Comentou, revirei os olhos e segurei o pequeno rato branco na palma da minha mão.

Nesse momento o restante de meus irmãos entraram no chalé. Jack, Mathew e Marcus deram um leve sorriso ao olharem para mim, mas seus olhos demonstravam toda a raiva que sentia.

– Se eu pegar qualquer filho de Afrodite que seja perto do nosso chalé... – Jack começou, mas ficou calado com um empurrão de Mathew que cochichou algo em seu ouvido.

– Ignore eles. – Will murmurou para mim e fez um gesto para o rato em minha mão. – Qual vai ser o nome dele?

Nada disso, sem invenção de nome para mim. Meu nome é Stu. Resmungou uma voz de menino na minha cabeça.

Olhei para o rato que moveu seus bigodes para mim.

Isso mesmo, sou eu! Disse a mesma voz e eu o deixei cair no chão.

– Ai meus deuses! – Gritei e todos olharam para mim. – Eu entendi o que um rato disse!

Os meninos riram como se entendessem o que havia acontecido e um barulho alto veio do segundo andar, em seguida Molly e mais quatro garotas apareceram no topo da escada, uma delas estava com os olhos muito vermelhos, acho que de chorar.

– Nat! – Molly exclamou assim que notou que era apenas eu e no fundo da minha mente Stu, o rato, ficou resmungando coisas indizíveis.

– Oi. – Falei quando as garotas começaram a descer as escadas e pararem próximas a mim. Abaixei-me rapidamente para pegar Stu do chão e colocá-lo na gaiola onde todos os outros estavam, mais reclamações pela parte dele, que logo tratei de ignorar, embora estivesse preocupada com o fato de Arrow (minha coruja que mamãe disse que ia cuidar) querer comê-lo quando se conhecessem.

Will acenou para cada uma das garotas que se espalharam ao redor, alguns se aproximaram da que chorava, essa parecia ter mais ou menos 16 anos.

– Nat, essas são nossas irmãs. – Will falou antes de me apresentar cada uma. – Essa é Alexis Mori.

Olhei para a garota de cabelos vermelhos cor de cereja e ondulados, corpo atlético e baixo, olhos castanhos claros e pele bem branca que estava sentada desenhando algo na madeira de seu arco.

Ela fez um breve gesto para mim.

– Olá. – Falou.

– Oi. Bem vinda ao chalé sete. – Falei.

– Obrigada. – Respondeu e voltou a se concentrar no que estava fazendo.

– Hum, essas são Julia Martinez e Danielle Montenegro. – Will disse apontando para duas garotas que não aparentavam ter mais que 13 anos, ambas eram loiras, porém em tons diferentes.

A que estava mais na frente se aproximou e estendeu a mão.

– Danielle Montenegro. – Falou enquanto eu observava suas feições.

A garota era tão bonita quanto todos os meus irmãos e companheiros de chalé, ela possuía cabelos longos, loiros e lisos, olhos azuis, alta, e de aparência ágil.

– Natália Vasconcelos, mas pode me chamar de Nat. Bem vinda ao chalé sete. – Falei apertando a mão da minha nova irmã, que sorriu e se afastou para dar lugar a outra garota alta, magra, também com cabelos loiros, porém escuros, com algumas mechas ruivas de aparência natural, olhos castanhos, pele bem branquinha e sardas no rosto, o que a deixava ainda mais bonita, uma pequena franja cobria parcialmente seu rosto.

– Julia Martinez. – Falou gentilmente e eu sorri.

– Bem vinda, meu nome é Natália, mas pode me chamar de Nat. – Falei e olhei para a garota que chorava no ombro de Molly e era consolada pelos garotos, mas não pude vê-la muito bem, apenas percebi que seus cabelos eram longos e castanhos.

– E também tem a Scarlet Hicks. – O tom de voz de Will ficou frio de repente, embora sua hostilidade não parecesse ser destinada à garota.

– Oi. – Murmurei, a garota apenas concordou com a cabeça e continuou a chorar e todos pareceram ainda mais irritados. Isso me irritou, pois ninguém parecia querer se pronunciar sobre aquilo, então resolvi tomar uma atitude. – Muito bem, quem de vocês vai me contar o que está acontecendo aqui?