Neo Pokémon Hoenn escrita por Carol Freitas


Capítulo 6
Um novo amigo?!


Notas iniciais do capítulo

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Ela saia da enfermaria a passos lentos, com as mãos atrás da nuca olhando para o céu. Teria sido uma boa escolha deixar que Juliana viajasse com ela? Não sabia, mas pelo menos teria uma companhia para cruzar o continente. O fato dela não querer contar a verdade para a enfermeira a deixou um pouco perturbada, mas assim que saíssem do centro perguntaria a ela o que havia acontecido.

Assim que chegou novamente a recepção notou um garoto magrelo de cabelos negros brincando com uma touca na mão e surpreendeu-se, imaginava que o mesmo havia ido embora assim que ela o deixara na mesa de café. Ele a percebeu saindo e seus olhares se encontraram. Ela não conseguia ler o que havia nas íris vermelhas. Aproximou-se vagarosamente ainda sem saber bem o que dizer.

– Pensei que houvesse ido embora... – Disse ela sem esconder o leve tom de decepção que havia em sua voz. Ele parou de olhá-la nos olhos e focou-se no teto, como se ali houvesse algum ponto interessante que devesse ser admirado.

– Sabe que eu não poderia ir sem você – Respondeu em tom baixo. Ela pensou em responder provocando-o, mas depois de um tempo preferiu ficar calada, não adiantava levantar discussões à toa.

– Bem, então acho que é minha obrigação informar-lhe que teremos uma nova companheira de viajem agora – Ela olhava-o como se analisasse suas ações.

– Como? Acho que não escutei direito...

– Juliana irá viajar com a gente a partir de agora – Repetiu a garota com tédio.

– E como você toma uma decisão dessas sem ao menos me consultar? – Perguntou ele incrédulo.

– Que eu saiba estava viajando sozinha há menos de um minuto atrás – Retrucou. Ele parou por alguns instantes surpreso pela resposta da menina, porém logo voltou ao normal.

– May – Começou novamente e em seguida parou por alguns segundos, olhando para a enfermeira que ainda estava próxima dali – Vamos conversar lá fora por alguns instantes? – Prosseguiu num tom mais baixo e, sem esperar resposta, saiu do centro pokémon. Revirando os olhos, ela o seguiu para encontrá-lo escorado na parede do centro de braços cruzados.

– Muito bem, pode dizer... – Começou e logo foi interrompida.

– Você por acaso enlouqueceu? – Perguntou ele imediatamente – Essa garota é uma estranha! Não sabemos nada sobre ela e pelo que parecia estava sendo atacada por aqueles homens por algum motivo pessoal...

– Eu sei que não sabemos nada sobre ela, sei que é estranha e sei que ela nos esconde algo, mas sinto que por algum motivo posso confiar nela.

– Está ao menos escutando o que está dizendo? Ela pode ser uma ladra, psicopata ou seja lá o que for. Ela surgiu do nada e não nos contou nada sobre seu passado...

– Ela ainda não teve tempo... – Defendeu May.

– E se aqueles caras vierem atrás da gente?

– E se forem atrás dela e ela estiver sozinha e não possuir meios de se defender. Você pode imaginar o que pode acontecer com ela? O que podem fazer com ela?

– Isso não é responsabilidade nossa! Por que a segurança dela vale mais do que a sua ou a minha? – May se irritou, segurava-se para não gritar com o moreno.

– Se você consegue seguir em paz e deixá-la abandonada nas mãos da própria sorte pode ir. Eu não sou assim e não gosto disso Brendan! – Mais uma vez as ideias dos dois se chocaram, quase podia se perceber faíscas sendo trocadas por olhares. O garoto porém, diferente do que ela esperava, apenas revirou os olhos e olhou para o lado mais uma vez focando-se em um ponto desconhecido.

– Não creio que haja algo mais que eu possa falar. Se você quer assim tudo bem, mas saiba que qualquer coisa que acontecer é responsabilidade sua! – Aceitou por fim e em seguida virou-se para voltar ao centro pokémon – Já que estamos aqui mesmo vou procurar algo pra ler...

– Eu vou treinar um pouco com meus pokémons. Na próxima cidade tem um ginásio e apesar de dizerem que Norman é um líder poderoso demais para ser derrotado por iniciantes eu gostaria de tentar – Brendan deu de ombros como se não se importasse.

– Bem, faça o que quiser, mas por favor não se meta em encrencas...

May simplesmente assentiu e acenou em despedida para o garoto, começando a caminhar vagarosamente pelas ruas daquela cidade. Ela parecia ser ainda menor do que Littleroot, se é que isso era possível. As casas eram bem espaçadas e até um pouco desordenadamente distribuídas, um indicio de que surgira sem um planejamento básico. Como uma vila que cresce muito e aos poucos vai ganhando aspecto de cidade. As pessoas, assim como em sua cidade, pareciam ser extremamente alegres e acolhedoras. Era fácil ver vizinhas conversando animadamente em suas ruas ou adolescentes em grupos em alguma sorveteria ou lanchonete.

Aos poucos as casas foram deixadas para trás a medida que ela caminhava para o norte e chegava até a praia próxima da cidade. O cheiro de maresia adentrou em suas narinas e ela não pode se conter, acelerou seu andar e logo estava a correr em direção a água. O mar estava límpido e calmo, como era comum naquela parte do continente e assim que se aproximou ela sentiu vontade de jogar-se nele e mergulhar o mais fundo que podia em meio àquela imensidão azul. Aquela ânsia que teve repentinamente pelo mar a assustou, fazia apenas um pouco mais de dois dias que havia visto-o. Conseguiu se conter em apenas retirar os calçados e descer por uma pequena trilha em meio a mata para chegar na areia e molhar os pés na água salgada, saindo apenas alguns minutos depois para liberar seus pokémons.

– Vejam como o mar está bonito hoje, amigos – Comentou enquanto olhava para frente. Sua Skitty deu um pequeno miado de aprovação enquanto o Cascoon ao seu lado observava a tudo sem se manifestar, May refletiu se aquilo era algo do seu estágio evolucionário ou se o pokémon era uma criatura de poucas palavras – Eu trouxe vocês aqui para treinar. Sei que ontem a noite a batalha foi dura, mas na nossa próxima cidade teremos um ginásio cujo líder não costuma facilitar muito com seus desafiantes. Além disso, a garota que salvamos ontem viajará conosco por algum tempo e provavelmente só receberá alta amanhã, então não teremos nada para fazer essa tarde – Explicou para os pokémons, mesmo não tendo certeza se eles compreenderiam.

Skitty abaixou as orelhas e levantou a patinha dando um pequeno miado como se pedisse perdão por algo. May abaixou-se e acariciou sua pequena cabeça peluda.

– Não tem problema você ter perdido Skitty, ainda somos iniciantes e aquele Spearow era muito forte. É normal perder algumas batalhas no inicio. Mas e então, o que me dizem? Vão querer treinar ou não?

– Meeeowww – Um longo miado animado da gata fez se ouvir enquanto o casulo apenas a observava. May não se conteve e soltou uma pequena risada.

– Isso é um sim ou um não Cascoon? – Em resposta, o corpo do pokémon começou a brilhar levemente com uma luz acinzentada. May demorou alguns segundos mas logo reconheceu o movimento Harden, adquirido pela lagarta no momento de sua evolução.

May então começou o treinamento com aquecimento básico, uma corrida para a pequena Skitty e, sem saber o que pedir a Cascoon, simplesmente falou para o mesmo se preparar para o treino da melhor e o pokémon respondeu-lhe com diversos movimentos que pareceram-lhe ser pequenos Tackles. Ela perguntava-se como a criatura conseguia fazer aquilo. Em seguida, optou por desenvolver os ataques que os pokémons já possuíam, principalmente o casulo que com a evolução teria que se adaptar ao uso de um novo corpo. Com felicidade, constatou que após a batalha da noite anterior sua inicial também havia aprendido um novo movimento.

Treinaram por cerca de duas horas, variando entre movimentos isolados e batalhas um contra o outro até que ela por fim, decidiu dar uma folga. Pegou ambas as criaturas no colo e subiu novamente até o local onde estava para ter uma visão mais ampla do mar. Assim que chegou no topo andou até uma árvore mais próxima sentou-se e escorou no tronco enquanto fazia pequenas carícias em ambos que apesar de cansados pareciam satisfeitos.

Um farfalhar de folhas próximo a si então chamou-lhe a atenção e ela moveu-se e voltou seu olhar para a mata atrás de si. Sua boca quase se abriu em surpresa ao notar que saia dali. Recordava-se do mesmo de seus tempos de escola. O garoto possuía a pele branca como marfim e cabelos verdes bagunçados. Seus olhos eram azuis como o céu no dia mais claro, podia ser ver neles toda a inocência e o brilho de um jovem que mal havia deixado a infância. Vestia uma blusa branca de botões e uma calça verde; nos pés, tênis azuis com detalhes brancos. Suas roupas estavam um pouco sujas e amarrotadas, fazendo-a estanhar um pouco já que quando estudavam juntos normalmente o garoto estava em estado impecável.

Ela notou que o colega a observava enquanto se aproximava o que a fez colocar os pokémons no chão e levantar-se para abraçá-lo. Entretanto, ao invés do que esperava, viu o garoto esticar o braço e apontar para ela com uma pokeball em sua mão.

– May Primrose, e-eu te desafio p-para uma batalha agora! – Ela ficou sem ação por alguns instantes. Não era muito amiga dele quando eram colegas, mas já chegaram a trocar algumas palavras e imaginava que a quando se reencontrassem a recepção do garoto seria melhor. Ou pelo menos que ele a cumprimentasse educadamente antes de desafiá-la. Ele sempre fora um garoto meigo e tímido nos tempos de escola, sempre preocupado com as outras pessoas.

– Wally, eu... Nossa, estou realmente surpresa por esse desafio. Podemos batalhar sim, mas você não me parece muito bem. Tem certeza que deseja batalhar agora? – Respondeu pausadamente enquanto observava o outro. Uma linha fina de suor escorria pelo seu rosto enquanto o corpo tremia levemente.

– Tenho. Por favor aceite logo... – Ela pode perceber uma certa franqueza em sua voz enquanto o mesmo falava – Eu vou te derrotar...

– Eu não sei se meus pokémons estão em condições de lutar. Nós estávamos treinando duro e... – Um alto miado fez-se ouvir e logo a pequena gata que a segundos atrás praticamente cochilava em seu colo apareceu correndo e pôs-se na frente da garota – Tem certeza disso? – Recebeu um aceno positivo de cabeça. Ela pegou sua outra pokéball e retornou o inseto que ainda obsevava a tudo na beira da árvore.

– Vamos logo então. Vai Zigzagoon! – O garoto lançou a pokeball e dela saiu um pokemon pequeno e comprido que mais parecia um guaxinim. Seu pelo era intercalado com as cores marrom e bege e em cada pata, três garras de aspecto letal podiam ser vistas. No rosto, uma grande faixa negra que mais parecia um uma máscara contornava os grandes olhos brilhantes e castanhos – V-Vamos começar. Use o... Hum...

Sem esperar a ordem do garoto, o guaxinim começou a correr em direção à sua oponente que obedeceu a ordem de executar uma simples evasiva seguida de um Fake Out pegando o outro de surpresa.

– D-Desculpe Zigzagoon! Tente usar o Tackle mais uma vez! – Novamente o pokémon não obedeceu e começou a balançar a cauda de uma lado para o outro iniciando um ataque que a garota já conhecia: o Tail Whip.

– Não deixe ele completar o ataque Skitty. Use o Tackle –Apesar de ter se pronunciado quase simultaneamente ao inicio do ataque, sua pokémon demorou um pouco para responder o que fez com que o outro preparasse um ataque. Felizmente, ela reagiu a tempo e os ataques chocaram-se lançando ambos os pokémons para trás.

– Vamos Zigzagoon, tente mais uma...

– Já chega Wallance – Interrompeu May, chamando o garoto pelo nome completo o que o fez encolher-se – Não vou mais batalhar com você. Esta luta está terminada...

– Nã-não está não! Zigzagoon está em totais condições de lutar –Rebateu enquanto apontava para o pokémon que já se levantava.

– Acabou sim e eu vou te mostrar o porque! Skitty, use o Attract agora! – A gata começou a fazer movimentos suaves com o corpo movendo se de um lado para o outro e, de alguma forma, ganhando a atenção do guaxinim que imediatamente abaixou sua posição de guarda e olhou-a como se fosse a criatura mais bonita que havia visto em sua frente – Zigzagoon não vai mais atacar o que me deixa mais livre ainda para fazer os movimentos que eu quiser. Entretanto, eu tenho certeza de que não vai me deixar fazer isso e machucar um pokémon que nem é seu... – Ele arregalou os olhos para a garota.

– D-do que v-você está falando? É claro q-que este pokémon me pertence...

– Você é um péssimo mentiroso Wally, mas já que insiste vou deixar que Skitty termine a batalha...

– Não! Eu... Eu desisto. Você venceu! – Quase gritou enquanto retornava rapidamente o pokémon apaixonado para a pokeball. Seus joelhos então fraquejaram e ele caiu no chão encarando a esfera no chão. May se aproximou dele devagar e ajoelhou-se em sua frente.

– Wally? – Chamou gentilmente enquanto colocava a mão no ombro do rapaz – Pode me contar o que está acontecendo agora? Talvez eu possa te ajudar... – O garoto levantou seu olhar e encarou as Iris azuis da menina por um instante para logo mudarem de direção. Sabia que eles estavam marejados e cheios de água e não queria que ela o visse chorar. Já bastava a derrota quase humilhante de segundos atrás.

– O problema sou eu May. Eu sou fraco e covarde. Eu não tenho força para lutar pelos meus sonhos e por isso sempre deixo tudo passar...

– Do que você está falando? Porque se julga assim? – Ela estava confusa. Não esperava aquele tipo de resposta do garoto.

– Como você percebeu que este pokémon não é meu? – Perguntou ele desviando do assunto.

– Não sei exatamente. Acho que foi porque não havia empatia entre vocês que eu vejo normalmente em treinadores e pokémons. Além disso, você parecia perdido. Se tinha mesmo treinado esse pokémon como mal conhecia os movimentos dele? – As bochechas dele avermelharam-se e ele abaixou ainda mais a cabeça.

– Você está certa. Sou realmente um idiota, nem mentir eu sei direito...

– Não mude de assunto. Você não respondeu as minhas perguntas anteriores... – Fez-se silencio por alguns minutos e a garota não fez questão de quebrá-lo. Dava tempo para que o outro formulasse sua resposta.

– Bem, você está certa. Esse pokémon não é meu mesmo. Eu roubei-o do ginásio de Norman em Petalburgh. Pretendia usar ele apenas por algumas horas, eu precisava de ajuda...

– Ajuda para quê?

–Eu não sei se você sabe, talvez nunca tenha notado, mas assim como você, eu sempre quis me tornar um treinador pokémon. Só que esse sonho me parecia tão distante que eu quase nem sequer falava nele. Sabia que minha mãe nunca iria me deixar sair de casa, afinal, eu sou asmático e tive outros problemas com doenças quando era mais novo. Ela sempre achou que eu não teria capacidade de me virar sozinho por ser pequeno e frágil demais para enfrentar o “mundo”. De certa forma, talvez ela estivesse certa...

May observou-o riscar a terra do chão com sua mão direita e esperou para que o mesmo prosseguisse.

– Para provar a ela que estava errada comecei a frequentar mais o ginásio de Norman para saber a melhor maneira de lidar com pokémons assim como treiná-los. Entretanto, recentemente fique sabendo que minha família vai se mudar para Verdanturf o que acabaria com qualquer chance que eu teria de me tornar um treinador. Fiz então a única coisa que passou pela minha cabeça, entrei no ginásio e peguei um dos pokémons mais fracos de Norman para me ajudar a capturar o meu. Assim eu poderia aprender na prática e talvez convencer minha mãe de que estava pronto. Zigzagoon relutou um pouco em me ajudar, mas então expliquei a ele a situação e como já me conhecia acabou aceitando – Suspirou – Meu plano, é claro, falhou horrivelmente. Apesar de estar com um pokémon eu não sabia como agir e toda vez que encontrava um pokémon selvagem simplesmente me apavorava. Tinha medo de me descuidar e acabar machucando o pokémon que se ofereceu para me ajudar tão bondosamente.

– E porque você me desafiou? – Perguntou ela confusa e o garoto corou novamente, lutando para encontrar as palavras certas para o que queria dizer.

– De certa forma você sempre foi alguém a quem eu admirei. Eu te observava e desejava ser forte como você então pensei que se conseguisse te derrotar, teria força e coragem para lutar contra tudo o que eu tiver de enfrentar. Me desculpe por isso... – Foi a vez de May ficar um pouco vermelha.

– Ah, não tem problema. Aliás, me sinto até lisonjeada por ser alvo de sua admiração se nem ter feito nada para tanto... E se quer saber minha opinião, eu não te acho fraco e muito menos incapaz de lutar por seus sonhos. Só tudo o que você fez já é uma prova suficiente de que você está tentando, mesmo que seja a sua maneira. Eu vou te ajudar com essa história de captura – Ele a olhou incrédulo, mal acreditando no que ela havia dito.

–S-Sério? E-Eu... Puxa May... Você... Eu... Obrigada – Gaguejou enquanto embolava suas próprias falas. Ela riu.

– De nada. Acho que deveríamos voltar para o Centro Pokémon. Brendan deve estar preocupado...

– Brendan Birch? Mas vocês não se odiavam? Estão viajando juntos? – Perguntou ele confuso e levemente chateado.

– Ainda nos odiamos, mas estamos viajando juntos. É uma longa história... – Respondeu a garota enquanto pegava a Premier Ball para retornar sua Skitty. Um bando de Wingulls passou voando sobre eles fazendo um tremendo alvoroço. Aparentemente disputavam um peixe que um deles havia pego.

– Uau! Isso é uma Premier ball? N-nunca havia visto uma pessoalmente... – Observava maravilhado a esfera já expandida nas mãos da garota que a estendeu para ele para que pudesse ver melhor.

Foi preciso poucos segundos para que tudo acontecesse. Ao entrar em contato com a luz do sol o botão prateado central da esfera refletiu um pequeno brilho que tocou o bando de pokémons gaivotas acima. Um deles, mais ágil do que os outros, mergulhou com extrema velocidade rumo ao solo e rapidamente pegou com o grande bico amarelo o objeto das mãos da garota que se assustou e soltou um pequeno grito. Logo o pássaro batia as asas novamente e ganhava os céus. Skitty que ainda não havia entrado no objeto, também ficou paralisada com o susto. Assim que percebeu o que havia acontecido, May retirou de sua bolsa a esfera correspondente a seu outro pokémon e liberou-o.

– Cascoon, use Poison Sting para pará-lo! Ele está com a pokeball da Skitty! – O corpo do casulo brilhou levemente e de algum lugar em sua testa uma série de espinhos arroxeados de aparência letal surgiram, atingindo a ave que, surpresa pelo golpe, acabou abrindo o bico e deixou o objeto cair no mar abaixo dela.

– Strinng Shot para pegá-la! – O pokémon mais uma vez liberou seu ataque emitindo uma grande quantidade de seda grudenta para pegar o objeto. Infelizmente, o movimento não foi rápido o suficiente e a esfera acabou caindo no mar – Não! –Gritou ela.

Uma movimentação ao seu lado chamou sua atenção fazendo a virar justamente milésimos antes de ver o um corpo de cabelos verdes pular do precipício de onde estavam para dentro das águas abaixo dele. Ela olhou para trás e a única coisa que restara do garoto era os tênis azuis que o mesmo havia retirado rapidamente.

– Wally! – Gritou ela levantando-se e correndo para a beira do penhasco. A altura não era muito grande, mas ela sabia ser o suficiente para poder machucar seriamente uma pessoa – Que droga! Wally!!!

Ela esperou mais alguns segundos e nada do garoto aparecer. Uma sensação horrível começou a se apoderar de sua mente, e se o garoto não soubesse nadar? Foi a vez dela retirar seus calçados e rapidamente preparar-se para pular.

– Não me sigam! – Gritou em tom de ordem para seus pokémons e em seguida saltou.

A queda durou apenas alguns segundos mas pareceram horas no ponto de vista da menina. Seus cabelos castanhos balançavam a favor da resistência do ar e ela prendeu a respiração instantes antes de atingir a água. Seu corpo foi totalmente coberto pela sensação de frio que vinha das águas salgadas. Por um instante ela teve medo de também se afogar, mas logo percebeu que esse perigo estava distante. Seu corpo parecia tão familiarizado a água que era como se vivesse nela a vida inteira. Abriu minimamente os olhos com medo de senti-los arder por conta do sal e localizou o corpo do menino a alguns poucos metros abaixo dela. Ele parecia estar quase inconsciente.

Rapidamente bateu os pés para pegar impulso e logo alcançou-o, passando um braço por debaixo dos dele para tentar levá-lo até a superfície. Por sorte, o garoto era menor do que ela, o que facilitaria um pouco o que precisava fazer a seguir. Bateu os pés com a maior força que pode e mais uma vez por sorte, não teve dificuldades em carregar o menor para cima consigo. Logo atingiram a superfície e ela, colocando os braços dele em seus ombros, arrastou-o para a praia mais próxima e estirou-o na areia e começou uma massagem cardíaca.

– Por favor Wally, acorde! - O garoto então abriu os olhos e tossiu uma grande quantidade de água enquanto se sentava. May notou seus pokémons se aproximando com os calçados de ambos.

– Eu... Eu... Eu não morri! – Disse ele enquanto tocava o rosto com uma das mãos para garantir que ainda estava bem.

– Por pouco! O que deu em você? Porque pulou daquela maneira se sabia que não sabia nadar?- Ralhou ela, estava realmente irritada.

– M-me desculpe... – Respondeu abaixando a cabeça – Quando vi que você ia perder algo tão importante não consegui me conter. De alguma maneira eu tinha que pegar de volta para você.

– Eu não me importo com a pokeball, minha pokémon não estava lá. Eu me importo de perder um amigo por um motivo tão bobo!– Ele não respondeu e ambos ficaram calados por alguns minutos. Ambos precisavam se recuperar do choque do momento que haviam acabado de passar. De repente, um pequeno sorriso surgiu no rosto do menino.

– Mais uma vez você me salvou... Você é realmente uma pessoa incrível – Comentou ele corado– Me desculpe pela atitude impensada. Eu realmente devia ter mais cuidado. Eu... Er... Bem, aqui está – Ele abriu sua mão que ainda permanecia fechada e entregou-lhe a Premier ball em seu estado reduzido. Ela demorou alguns segundos para reagir mas por fim sorriu e pegou o objeto das mãos dele.

– Sabe aquela parte que você disse ser covarde? Esqueça isso... Você é realmente corajoso. É um acéfalo inconsequente e irresponsável, mas com certeza é corajoso – Disse e em seguida moveu-se na direção do garoto e deu-lhe um beijo na bochecha – Obrigada!

Ele sentiu sua face ficar tão vermelha quanto a pele de um Charmeleon enquanto tocava o local do beijo. Observou-a calçar os tênis vermelhos, retornar seus pokémons e se levantar.

–Wally? – Chamou quebrando-o do transe em que se encontrava – Temos que ir para o Centro pokémon...

– C-certo. Estou indo – Respondeu o garoto ainda constrangido enquanto também colocava seus calçados e preparava-se para seguir a garota.

O fim de tarde estava chegando naquele dia agitado, a brisa fresca tocava carinhosamente o corpo molhado dos jovens que seguiam lado a lado rumo a seu destino. Durante todos os dias de nossa vida, enfrentamos problemas e desafios, sejam eles grandes ou pequenos, não há ninguém que nunca tenha passado por eles, assim como não há ninguém que nunca precisou de um amigo para ajudá-lo. Enquanto caminhavam diversos pensamentos passavam por suas cabeças, mas aquele que mais coincidia em ambos e parecia ser o mais forte era o de que aquele seria o começo de uma grande amizade.


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