Neo Pokémon Hoenn escrita por Carol Freitas


Capítulo 5
A garota de cabelos encaracolados


Notas iniciais do capítulo

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May corria apressada por entre as árvores da rota escura seguindo sua pequena Skitty que a guiava pela noite. O grito que ouvira há poucos segundos atrás ainda ecoava em seus ouvidos, parecia uma mistura de dor, medo e desespero. Com certeza a pessoa que o dera estava em sérios apuros. Aos poucos as árvores se abriam e a pequena gata diminuía o ritmo de seus passos ligeiros, deviam estar próximas ao local. A gata então parou atrás de uma moita que se abria para uma clareia no meio da mata. A garota ajoelhou-se e se aproximou silenciosamente de sua pokémon para ver o que a mesma observava por entres as folhas e diante de si viu uma cena que a deixou apavorada.

Em sua haviam três pessoas, uma garota que lutava contra um homem que a matinha presa no chão pelos pulsos e pelas pernas. Ela era bonita, sua pele era morena e seus cabelos curtos, negros e encaracolados. Possuia lábios volumosos e um corpo escultural, entretanto o mesmo, assim como seu rosto, estavam marcados por hematomas e escoriações, algumas ainda sangrando. Os dois sujeitos por outro lado eram repugnantes, ambos estavam malvestidos e sujos, como se não tomassem banho há dias, suas barbas estavam grandes e os cabelos compridos. Um deles revirava uma barraca jogando as coisas para o lado de fora enquanto o outro mantinha a garota presa, com um canivete apontado para seu pescoço. O sangue de May inflamou como se fosse constituído por carvão em brasa, não iria deixar que aqueles seres imundos fizessem mais nada com a garota. Procurou avidamente por algo no chão que pudesse usar para acertar um dos bandidos e, por sorte, encontrou uma pedra de tamanho médio que conseguia carregar tranquilamente. Abaixou-se para Skitty e comentou algo no ouvido de sua pokémon que fez um aceno positivo com a cabeça anunciando que havia entendido o comando.

Ela precisou contar alguns segundos antes de ter coragem para se mover. Parte de seu instinto dizia para ela fugir enquanto a outra para salvá-la e principalmente para acabar com aqueles inimigos. Certamente a segunda parte venceu pois, após um sútil comando para sua pokémon, ambas saíram correndo como flecha por entre as árvores. May instantaneamente se direcionou para aquele que estava sobre e garota acertando-lhe a pedra na cabeça enquanto Skitty direcionou-se para aquele que estava na porta da barraca e acertou-lhe um Tackle laçando-o para longe dos objetos.

O homem que estava sobre a morena tombou de lado e ela empurrou-o para longe de si e afastou rastejando-se. May tentou se aproximar para ajudá-la a se levantar e rapidamente ela se virou, apontando a faca que outrora estava apontada para seu pescoço nas mãos do inimigo. Sua respiração estava acelerada e os olhos arregalados, como se May fosse a mesma pessoa que há poucos estivera ferindo-a.

– Fi-Fique longe de mim... - Pediu ela

– Eu... Não vou te fazer mal - Disse May com as mãos para frente fazendo um gesto para que a garota abaixasse a arma.

– Fique longe de mim! - Gritou - Vá embora! - Ela apoiou sua mão esquerda no chão para tentar se levantar, mas faltaram-lhe forças e a garota caiu no chão desmaiada. May já ia abaixar-se para ajudá-la quando algo pequeno e rosado foi lançado a seus pés chamando-lhe a atenção. Instantaneamente ela percebeu que era sua pokémon e abaixou-se até ela, mas antes que pudesse tocar-lhe ou fazer algum movimento a pequena levantou-se e a empurrou com uma investida. A garota não entendeu a ação da gata até que algo passou zunindo por seus ouvidos onde poucos segundos antes estivera sua cabeça.

Ela então levantou-se em uma posição de alerta para entender a cena que ocorria ao seu redor o que incluía Skitty desviando-se novamente por poucos centímetros da coisa que estivera para acertá-la. O bandido que ela havia acertado agora havia se recomposto e olhava-a com uma cara zangada, com certeza não lhe agradara nada o golpe que levara e aparentemente ainda sentia dor pelo golpe, pois sua mão tocava na região do abdômen. Próximo a ele estava uma criatura que a garota quase não conhecia, pois com certeza não pertencia àquela região. Possuía penugem negra e bagunçada, exceto pela cabeça e asas que eram das cores marrom e vermelho respectivamente. Seu bico era pontiagudo, afiado e, assim com as garras das patas, parecia ter um aspecto letal. Ela imediatamente sacou a pokédex para identificá-lo.

Spearow, o pokémon pássaro. Tem um grito muito alto que pode ser ouvido mais de meia milha de distância. Quando voa alto, seu grito de lamento é ouvido ecoando por toda parte, um sinal de que eles estão alertando uns aos outros do perigo. Alimenta-se de insetos e bate as asas em uma velocidade rápida para manter-se no ar.”

– Sua vadiazinha, quem você pensa que é para aparecer assim e fazer o que bem entender? Atacou-nos e ainda atrapalhou nosso acerto de contas com essa outra aí. Agora vai pagar na mesma proporção que ela. Spearow, acabe com esse pokémon - A ave soltou um grasnar agudo em resposta e em seguida mergulhou em um movimento rápido e preciso para atacar Skitty.

May ordenou uma evasiva e em seguida tentou alguns ataques, mas nenhum parecia ter sucesso com a ave que era extremamente veloz, provando que fora muito bem treinada e que seu nível era elevado. Logo a gata não conseguia mais desviar de todos os ataques e cada vez mais levava cortes feitos pelo bico e garras de seu oponente. May começou a desesperar-se sem saber o que fazer, não pensava que aquele homem fosse tão bom em batalhas. Se Skitty fosse derrubada o único pokémon que lhe restaria era Wurmple e a lagarta com certeza não seria capaz de derrotar um inimigo naquele nível, ainda mais estando em desvantagem de tipo.

Com mais um Aerial Ace a pequena gata foi lançada aos seus pés surrada e quase sem forças, ela abaixou-se e pegou-a no colo tendo o cuidado de não tocar em seus ferimentos.

– Então agora parece que finalmente aprendeu a não por o nariz no que não é da sua conta. Espero que pague sua intromissão sem reclamar – Disse ele e se aproximou. O corpo da garota encheu-se de ódio e o ar pareceu imediatamente ficar mais frio. Um jato de água disparado de um lugar desconhecido porém, atingiu o Spearow e fez seu dono parar de mover-se devido a surpresa.

Um pequeno anfíbio azul já conhecido pela garota surgiu por entre a mata seguido por um garoto de cara mal humorada. Ele estava um pouco arranhado e cheio de folhas, talvez conseqüência de tê-la seguido pela floresta escura até ali.

– Qual é o seu problema, garota? Você acha que... – Começou ele direcionando seu olhar para ela, mas parou ao ver a Pokémon que carregava no colo. Olhou ao redor em seguida e pareceu entender o que estava acontecendo ali – Quem é você? – Perguntou ao homem que o olhava ainda surpreso.

– Pelo visto hoje não é o meu dia, essa mata está cheia de pivetes intrometidos. Vou dar uma lição em vocês – Fez um gesto com a mão para seu Pokémon que já havia se recuperado e mais uma vez mergulhou para atacar o adversário.

– Desvie Mudkip – Ordenou Brendan - Olha, eu não sei qual é o problema que você tem com essa garota nem tenho nada a ver com isso. Apenas deixe eu e a May irmos embora que não lhe incomodaremos mais.

– Você está louco? Não vou deixá-la assim! Olhe o estado em que ela está! – Gritou May, chocada pela sugestão de Brendan. Ela sentiu uma movimentação perto dela e percebeu que o homem que havia atingido com uma pedra começava a despertar.

– May... – Brendan travou o maxilar. Estariam em sérios problemas se ela insistisse em ficar. Seu Mudkip não seria capaz de derrotar aquele Spearow e muito menos a jovem Vulpix que estava em sua pokeball. Além disso, o outro começava a despertar e se ele também tivesse pokémons a coisa ficaria feia e dificilmente ambos conseguiriam fugir dali.

– Se o casalzinho não terminou a discussão – Disse o homem enquanto ordenava para seu pokémon mais um ataque e Brendan voltou sua atenção para a batalha, porém sabia que não havia jeito de vencer.

– Fury Attack – Spearow novamente se aproximou de Mudkip e voando sobre sua cabeça, começou a desferir-lhe bicadas com o bico afiado. O anfíbio gemeu de dor e começou a correr para fugir do pássaro, mas esse o seguia por toda parte.

– Livre-se dele! – Ordenou Brendan com um leve tom de desespero em sua voz.

Mudkip olhou-o assustado, sentia dor e não sabia o que fazer.

– Corra, role e ataque com um Water gum – Disse May não suportando ver o Pokémon apanhar daquela maneira e assim o Pokémon de água fez. Após se distanciar um pouco da ave com uma pequena corrida, rolou no chão ficando de barriga pra cima e quando Spearow se aproximou para atacá-lo novamente, disparou o mais poderoso jato que podia fazendo-o ser lançado contra uma árvore.

Mudkip se levantou animado por ter conseguido acertar mais um golpe e preparou-se novamente para outro, entretanto o pássaro já havia se recuperado e tentava atacá-lo novamente. Seguiu-se então um jogo de forças onde a ave tentava se aproximar para atacar e o anfíbio o repelia e tentava atingi-lo com um de seus golpes de água. Infelizmente mais uma vez Spearow levou a melhor; através de um Aerial Ace ordenado por seu treinador acertou Mudkip já cansado pela batalha e debilitado pelos golpes que levara na cabeça.

– Mudkip! – Exclamou Brendan e correu até seu Pokémon, retornando-o para sua poké ball. Mesmo enfraquecido pela batalha, o Spearow continuava voando altivamente e seu rosto parecia sorrir. O homem então começou a rir.

– Você devia ter seguido o conselho de seu namorado, garotinha. Felizmente não sou uma pessoa ruim e vou lhes dar a oportunidade de ir embora. Isso serviu para ensinar-lhes a não se meterem em assuntos que não lhe dizem respeito – Spearow pousou em seu ombro – Andem! Dêem o fora daqui antes que eu mande meu Pokémon rasgar seus pescoços.

Aliviado por sua sorte, Brendan preparou-se para ir e carregar a garota arrastada se fosse preciso, quando viu ela dar um passo para frente com uma feição séria. Skitty havia sido retornada para sua Premier Ball

– Ainda não acabou! – Gritou ela e de trás de si saiu seu pequeno Wurmple com cara assustada. Parecia não acreditar na situação em que estava e nem na sua coragem de estar ali.

– May você ficou louca? –Perguntou Brendan sem acreditar no que seus olhos viam.

– Calado! – Disse ela simplesmente. O estranho riu juntamente com seu Pokémon.

– Ainda não acredito no que estou vendo. Esse aí vai ser só com um golpe!

– Vamos ver então – Desafiou a garota com um sorriso, fazendo o outro parar de rir.

– Acabo de mudar minha decisão de deixá-los ir, Você precisa de uma lição, sua insolentezinha. Apenas um Peck Spearow.

– Seja firme. Espere o máximo que puder e acerte um String Shot nos olhos.

Spearow simplesmente saltou do ombro de seu treinador e planou em direção ao inseto. Claramente não estava preocupado com a força do golpe pois tinha certeza de que apenas um fraca bicada adiantaria. Wurmple estava aterrorizado, seu corpo tremia sem parar, provavelmente lembrando-se de que passara toda sua vida fugindo de Taillows e Swellows selvagens. Poucos milésimos antes de ser atingido lançou uma grande quantidade de seda no rosto de seu oponente.

– Como eu disse, bastou um golpe – Disse o homem rindo. Seu Pokémon havia pousado no chão e esfregava desesperadamente a asa sobre o rosto – O que há de errado Spearow?

– Você errou – Disse May, enquanto olhava seu pequeno Pokémon reunindo forças e se levantando com dificuldade – Prenda-o no chão e em seguida acerte-o com o Poison Sting.

Wurmple usou sua seda que havia tampado os olhos do pássaro para prendê-lo no chão através dos pés e em seguida disparou uma série de espinhos venenosos enquanto se aproximava. A ave tentava bloquear, mas com a visão debilitada aquilo se tornava difícil, provavelmente já estava envenenada.

– Agora use o Tackle – Ordenou a garota e a força de ataque da larva foi o suficiente para romper a seda e lançar a ave na direção de seu treinador que estava boquiaberto ao ver como a situação havia se invertido. Sem o comando de sua treinadora, Wurmple lançou sua seda em um galho acima da cabeça do homem e se impulsionou para lá. Em seguida emitiu uma quantidade ainda maior desta sobre ele, cobrindo-o com fios pegajosos e grudentos que impediam-lhe os movimentos. A batalha estava terminada, eles haviam vencido.

– Vo-você ganhou? – Gaguejou Brendan ainda sem acreditar no que havia ocorrido. May sorria, sua idéia, mesmo que com uma chance mínima, havia dado certo – Como o Wurmple teve essa idéia? – Ele apontava para o treinador que acabara de ser imobilizado e, em resposta, May apontou-lhe o outro que ainda estava no chão, também enrolado por ceda.

– Espere um segundo – A pedra que estava no chão e acertou na cabeça de ambos fazendo-os ficarem inconscientes – Isso servirá para deixá-los desacordados até amanhã de manhã pelo menos.

– E o que vamos fazer com a garota? – Perguntou apontando para o corpo deitado no chão. May lembrou-se da garota ainda inconsciente e correu até ela. Pôde observar melhor o estado de seu corpo e constatou que, além dos hematomas e outros machucados, não havia nada aparentemente mais grave. O que mais preocupou-lhe foi a temperatura do mesmo que estava altíssima, o que poderia caracterizar uma infecção.

– Temos que levá-la a um Hospital ou a um Centro Pokémon o mais depressa possível – Disse tentando levantar a garota.

– Somente consegui trazer nossas mochilas, mas as bicicletas ficaram no acampamento – Disse ele mostrando os dois objetos que trazia nas costas.

– Não dá tempo de ir pegar! Além disso não conseguiremos levá-la junto com as bicicletas – Brendan abriu a boca para retrucar mas decidiu permanecer calado. Colocou as mochilas no chão e foi até o que estava da barraca da garota.

– Não acho que devamos levar isso, está tudo ferrado – Resmungou ele enquanto mexia nos arames tortos com a mão.

– Veja se aí tem uma bolsa ou algo do tipo e guarde o que conseguir pegar – Rapidamente o garoto retirou de dentro uma mochila azul um pouco gasta e colocou algumas coisas que a garota não conseguiu ver dentro dela e carregou-a para junto das deles. Um poké ball caiu então de um dos bolsos da mochila e ele pegou do chão.

– Será que aqui tem algum pokémon que pode nos ajudar? – Perguntou olhando para a esfera.

– Acho que não. Ela não usava pokémon nenhum para se defender. Deve conter um de nível muito baixo ou estar vazia. Em todo caso, não saberemos como ele reagirá ao ver sua treinadora nesse estado e se nos obedecerá.

– Certo – Murmurou ele um pouco desapontado e guardou o objeto na mochila, tendo o cuidado de fechar o zíper para que não caísse novamente – Você acha que pode levar duas dessas? Vou tentar carregá-la pelo menos por uma parte do trajeto.

– Posso levar as três se quiser – Disse ela se aproximando das mochilas.

– Não precisa – Interrompeu ele, colocando a sua nas costas e aproximando-se da garota e pegando-a em seus braços – Vamos! – Continuou ao ver que a garota pegara as que lhe cabia.

– Onde está Wurmple? – May parou de repente olhando ao redor.

– Quê? Sei lá! O pokémon é seu!

– Mas eu não sei onde ele... – Ela se auto-interrompeu olhando para cima e abrindo a boca surpresa. O garoto seguiu seu olhar e se espantou.

– O que é aquilo?

Na árvore onde Wurmple havia subido estava uma criatura de aspecto estranho. Possuía a pele envolta em uma substância de aspecto aveludado. Sua coloração, emitida ao ser tocado pelos raios lunares, se assemelhava a um tom rosado. O que mais chamava a atenção eram os grandes e brilhantes olhos vermelhos que olhavam diretamente para ela. A garota retirou sua pokédex de dentro da mochila e apontou para o Pokémon

Cascoon, o pokémon casulo. Faz o seu casulo protetor envolvendo seu corpo inteiramente com a seda fina de sua boca que endurece assim que faz contato com o ar. Se for atacado, Cascoon permanece imóvel mesmo que seja ferido. Não vai esquecer a dor que suportou.”

– Evolução... – Sussurrou baixinho – É você Wurmple? – Perguntou para o casulo e os olhos que antes pareciam-lhe encarar com uma feição irritada fecharam-se como se ele estivesse sorrindo. Os lábios de May sorriram da mesma forma. O primeiro pokémon que capturara acabara de evoluir, aquele sentimento que possuía não poderia ser melhor.

– Er, sem querer atrapalhar este lindo momento mas a garota está pesada.

– Ah, ok! Me desculpe – Pegou a poké ball do pokémon – Vou te chamar de volta, tudo bem Cascoon? Depois conversaremos mais – O pokémon assentiu e voltou para a esfera que lhe cabia – Você poderia liberar sua Vulpix para nos guiar por essa rota.

– Está na minha bolsa, pegue – Assim ela o fez e quando estavam prontos, a dupla assim como a garota desmaiada e o pokémon seguiram caminho até Oldale.

...

nn

As cortinas do quarto balançavam a medida que eram tocadas pelo quarto do centro pokémon. Um Tailow atrevido havia entrado pela janela e bicava uma mochila até que a mesma se abriu liberando uma série de poké balls que se espalharam pelo chão. May acordou repentinamente e sentou-se, assustando o pássaro que imediatamente levantou vôo e fugiu do local. Ainda tonta de sono, perguntava-se onde estava e o que havia ocorrido na noite anterior.

Espreguiçando-se, ela passou a mão pelos cabelos lisos e se dirigiu ao banheiro do quarto, onde tomou um banho gelado e escovou os dentes. Saiu do banheiro ainda enrolada na toalha, porém mais animada e se aproximou da janela aproveitando a brisa daquele dia. Em seguida recolheu seus pertences que haviam sido espalhados pelo chão e fez um lembrete mental de fechar seus bolsos com mais cuidado. Pensou por um instante que horas seriam até observar o pequeno relógio sobre a porta.

– Santa mãe de Arceus – Disse ela o perceber que já se passavam das três da tarde. Vestiu-se rapidamente e deixou o quarto rumo a recepção.

Haviam chegado ao centro pokémon já no fim daquela madrugada. A enfermeira Joy local se assustou com a hora em que novos viajantes batiam em sua porta, mas se prontificou imediatamente a ajudar a menina. Pareceu ter ficado chocada com o estado em que a mesma se encontrava e logo perguntou a eles onde e como eles haviam encontrado-a. May ia contar a história, mas Brendan interrompeu-lhe e disse que apenas a acharam em seu caminho. Assim que as coisas foram parcialmente esclarecidas, a Joy entregou a ambos as chaves de dois quartos enquanto levava a garota para a sala de tratamento. Ainda não haviam recebido notícias dela até aquele momento e aquilo a preocupava.

Em pouco tempo chegou à recepção que estava praticamente vazia. Parecia não haver muito movimento naquela pequena cidade que mais se assemelhava a uma vila. Devido a seu tamanho reduzido, o Centro Pokémon ficou responsável por tratar os pokémons e alguns casos mais simples de doenças da cidade. Os outros ficariam para a cidade de Petalburg que ficava a alguns minutos dali de carro.

– Boa tarde enfermeira Joy – Cumprimentou ela. A mulher de cabelos rosa de pele alva sorriu enquanto esfregava com o pano alguma substância sobre o balcão em que atendia.

– Boa tarde May – Respondeu.

– Er... Como ela está? A garota que trouxemos ontem- May estava um pouco receosa sobre a resposta.

– Está melhor. Fiz alguns curativos e dei-lhe medicamentos para diminuir a dor e baixar sua febre. Ela deve acordar hoje essa tarde ainda – May suspirou aliviada, mas logo em seguida outra dúvida surgiu.

– E meus pokémons?

– Estão aqui – Disse ela pegando uma bandeja de baixo do balcão – Acabei de cuidar deles. Apesar de terem batalhado e estarem exaustos não há nada mais sério.

– Muito obrigada Srta. Joy. Sabe me dizer se meu amigo já acordou?

– Ele estava comendo algo no refeitório. Vá até lá também, vocês não comeram nada o dia todo – Foi aí que finalmente a garota pode perceber com quanta fome estava, seu estomago roncou forte e ela se despediu da funcionária com um aceno e foi até o lugar onde Brendan estava.

Não era um lugar grande, apenas algumas mesas brancas com quatro cadeiras ao redor de cada uma. O garoto estava sentado na mais distante possível das outras enquanto em sua frente estava um prato vazio e uma xícara de café que o mesmo segurava com uma das mãos enquanto lia o jornal. May foi até uma mesa onde estavam alguns alimentos e pegou algo que parecia ser um pedaço de torta de amoras e um copo de suco de laranja e foi em direção a mesa onde o colega estava, ganhando sua atenção ao sentar-se.

– Bom tarde – Disse ela pegando um garfo e começando a comer a torta.

– Hum – Murmurou enquanto bebia um gole da xícara, parecia concentrado no que estava vendo. Ela leu a primeira página no jornal para saber do que se tratava. “Aumentam espantosamente o número de roubos de Pokémons em Hoenn”

– O que diz nessa reportagem? – Perguntou ela interessada. O garoto olhou a capa do jornal novamente para saber do que se tratava.

– Bem, basicamente o que diz na capa. Parece que eles estão tendo problemas com ladrões em Robustorb. A polícia está suspeitando de que uma equipe criminosa esteja agindo na região.

– Equipe criminosa? – Repetiu ela um pouco temerosa.

– É. Eu acho que eles estão exagerando, é claro. Mas parece que a situação está semelhante a de Kanto quando a equipe Rocket começou a se erguer – Uma sensação desagradável tomou conta da garota. O nome da facção criminosa a fez se recordar de sua progenitora. Seria possível que sua fuga e o aumento dos roubos estivessem relacionados?

– Bem, mudando de assunto. Quando você acha que devemos partir? – Ele a olhou com uma sobrancelha erguida ao ouvir sua pergunta.

– Assim que você terminar de comer? – Respondeu como se fosse obvio.

– E a garota?

– Já a salvamos e a trouxemos aqui. Perguntei para a enfermeira Joy se ela estava bem e ela disse que sim. Não acha que já fizemos demais por ela? – Retrucou ele.

– Devíamos esperar ela acordar pelo menos. E se ela precisar de ajuda? Se por algum motivo ela piorar?

– A Enfermeira está aí para isso – Respondeu ele simplesmente.

– Eu vou esperar ela acordar – Insistiu a garota.

– Pois que fique, eu estou indo – Ele abaixou o jornal e a encarou irritado.

– Vá então. Não vou dizer que foi de todo horrível viajar com você. Espero que tenha sorte – Disse ela levantando-se e pegando a comida praticamente intocada e levanto até a mesa onde deviam ser colocados os pratos sujos. Saiu do lugar logo em seguida e andou até a recepção.

– Enfermeira, pode me levar até o quarto onde a garota está? – Perguntou assim que chegou. A mulher que, lia uma revista, parou e a observou.

– Posso sim mas, você já acabou de comer? – Indagou ela, devido ao curto tempo em que a mesma saíra e voltava.

– Já – Respondeu ela sem encarar a mulher.

– Então venha comigo – Percebeu por sua voz que a mesma não havia acreditado, mas ela não disse nada.

A moça de cabelos róseos saiu de trás do balcão e a guiou por uma porta a sua esquerda. Entraram então em um corredor com algumas portas por onde entravam e saiam algumas Chanseys. Pela fresta de uma porta a garota pôde notar uma espécie de cúpula onde estava um filhote de Poochyena recém-nascido enrolado em panos. Elas entraram na última porta a esquerda e ambas entraram em um quarto grande onde haviam alguns leitos. A garota estava deitada em um dos leitos, com alguns curativos em seu rosto. Seus olhos estavam abertos e a mesma encarava o teto com olhos inexpressivos, suas iris eram castanhas.

Ela não se virou ao percebê-las sentarem-se ao seu lado, apenas depois de alguns minutos se atreveu a falar algo.

– Onde estou? – Perguntou ela olhando para May.

– No Centro Pokémon de Oldale. Meu amigo e eu a trouxemos aqui ontem. A Enfermeira Joy cuidou de você – A garota olhou para a Enfermeira Joy que confirmou com a cabeça.

– E minhas coisas?

– Estão aqui – A mulher pegou da cadeira ao lado e entregou a menina que estendeu os braços com alguns curativos e a pegou, começando a procurar nervosa algo dos bancos da frente. Ao perceber o que ela procurava, a Enfermeira Joy retirou uma esfera bicolor do bolso de seu avental – Seu pokémon está comigo. Os garotos me pediram para dar um check-up nele. Ele está ótimo e sua saúde é perfeita – Rapidamente a garota pegou a Poke ball da mão da mulher e liberou a criatura que a mesma continha.

Parecia ser um pequeno roedor de pele azul. Seu corpo era redondo com pés e orelhas pequenas. Possuía uma calda longa e negra que terminava em uma bola azul praticamente do tamanho de seu corpo. Apesar de ser um pokémon típico daquela região, não era fácil de se achar. Aquele era Azurill, um Pokémon bebê que geralmente só era obtido de criadores ou em Day Cares.

Azurill, o pokéon rato. A porta de sua cauda é cheia dos nutrientes este pokémon precisa para crescer. Azurill pode ser visto saltando em sua grande cauda de borracha. Em dias de sol, eles se reúnem para brincar de espirrar água uns nos outros.”

Assim que viu sua treinadora, o rato azul saltou para perto do seu rosto e esfregou-se no mesmo, recebendo abraços e afagos da mesma. O corpo do pequeno tremia como se estivesse assustado.

– Está tudo bem Nigel, já estamos seguros... – Comentou baixinho para a criatura – Obrigada por terem me ajudado – Agradeceu.

– Não há de que... Ainda não sabemos seu nome – Disse a Joy.

– Sou... Juliana, Juliana Harley

– Bem Juliana, preciso lhe perguntar algo. Quem fez isso com você? May e Brendan disseram que a encontraram na rota nesse estado, toda ferida e inconsciente – A garota então paralisou e olhou fixamente nos olhos de May, como se tentasse dizer algo.

– Eu fui atacada por uma Poochyena selvagem. Fui descuidada enquanto procurava lenha para fazer uma fogueira e me afastei de minhas coisas. Quando fui atacada não consegui chegar a tempo até minha bolsa para pegar a poké ball e pedir ajuda a Azurill. Acabei caindo e batendo a cabeça, ficando inconsciente na rota mesmo – May não entendeu porque a garota mentia, mas percebeu o que seu olhar queria dizer: “Por favor não conte nada!”

– Tem certeza? Se foi alguma pessoa que lhe fez isso deve ir a delegacia imediatamente. Não pode deixar que esses criminosos escapem impunes.

– Não enfermeira Joy. Foram pokémons, tenho certeza.

– Está tudo certo então. Tome mais cuidado ao sair assim. Pokémons tem que ficar ao alcance da mão para qualquer emergência. Tenho que ir para a recepção e gostaria que descansasse mais um pouco. Vamos May - Chamou enquanto se dirigia a saída do quarto.

– Esperem! – Juliana chamou-as quando estavam perto da porta – May, seu amigo Brendan está aqui?

– Não sei... Acho que seguiu viajem – Respondeu a garota um pouco chateada – Porque?

– Bem, eu... Queria agradecer... – Respondeu ela um pouco envergonhada.

– Quando eu encontrá-lo direi a ele... – Já estava saindo quando a ouviu chamá-la novamente.

– May! – Ela abaixou a cabeça e corou levemente – Já... Já que ele se foie você está sozinha, posso viajar contigo? Pelo menos por um tempo.

A pergunta a surpreendeu e ela ficou muda por alguns segundos. Por um lado aquela era uma completa estranha, mas pelo outro viajar com uma companhia seria melhor do que estar sozinha. Além disso, sentiu que gostava da moça e que ela era uma boa pessoa.

– Pode sim. Será muito bom ter companhia! – Respondeu dando um sorriso e ganhando outro em resposta, deixando a sala logo em seguida ao lado da Joy.


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