Neo Pokémon Hoenn escrita por Carol Freitas


Capítulo 1
Dia de sol




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Capítulo 01 - Dia de sol

O dia amanhecia majestoso no belo continente de Hoenn. Uma leve brisa tocava a copa das árvores fazendo suas folhas balançarem e deixarem pingar no chão as leves gotas do orvalho que se formou durante a noite. Os piados dos pequenos Tailows despertando em seus ninhos podiam ser facilmente ouvidos por aqueles que percorriam as rotas naquela manhã. Os agitados Zigzagoons saiam animados de suas tocas, preparando-se para a busca de comida durante o dia enquanto os ferozes Poochyenas entravam em seus abrigos para descansar depois de uma longa noite de caça. Em uma casa afastada da cidade, uma bela menina também despertava ao ser tocada pelos raios de sol que passavam por entre as cortinas de sua janela. A pele branca como marfim e os lábios finos e ligeiramente rosados, além dos traços delicados do rosto davam-lhe uma aparência encantadora, em que nada atrapalhava os cabelos castanhos bagunçados que caiam-lhe sobre o travesseiro e rosto. Pouco a pouco suas pálpebras se abriram revelando os lindos olhos azuis da cor de safiras.

Com um sorriso, a menina notou que mais um dia iniciava-se e que aquele, diferente dos anteriores, não prometia chuva então ela poderia desfrutar um pouco do calor do sol da manhã. Levantou-se lentamente e com um bocejo e se dirigiu ao pequeno banheiro que havia em seu quarto. Escovou os dentes e tomou um banho, lavando os cabelos no processo. Saiu do banheiro com os cabelos já penteados e vestiu uma blusa branca e um short jeans, calçando uma rasteirinha simples de cor clara.

Antes de descer para o café da manhã, decidiu arrumar o quarto. O aposento ainda preservava o aspecto infantil que possuía desde que a menina nasceu. As paredes eram cobertas de papel de parede da cor salmão claro pintado com pequenas e delicadas flores da cor rosa bebê. O berço fora substituído por uma cama branca e os brinquedos por uma escrivaninha também branca onde havia um computador e, ao lado desta, uma pequena estante com muitos livros de vários assuntos que variavam entre Pokémons, matérias escolares e histórias de fantasia, a única coisa preservada, fora um grande e belo guarda-roupas branco.

Não demoro muito para que ela forrasse a cama e pegasse alguns livros e roupas que estavam espalhados. May não era muito organizada, mas estando sempre em contado com seu pai James, que detestava bagunça, ela sempre fazia o melhor possível para manter suas coisas no lugar. Notou então um pequeno boneco de Skitty caído debaixo da cama e pegou-o, abraçando-o em seguida. Quando era mais nova, aquele fora seu brinquedo favorito com o qual andava para cima e para baixo. Já rasgara diversas vezes mas o pai sempre costurava-o de volta e ainda preservava um aspecto agradável apesar dos remendos.

Assim que terminou, decidiu descer as escadas para tomar café da manhã. Sua casa não era muito grande, apesar de ser muito bonita. Pelo que a menina sabia, ela pertencera a seus avós e fora nela em que o pai fora criado até atingir seus doze anos, quando finalmente decidira sair de casa e se aventurar pelo mundo em uma jornada Pokémon. Após eles morrerem, ela ficou alguns anos desabitada, pois o James não queria ir ao local devido as lembranças que lhe traziam da época em que os pais ainda eram vivos. Ele morou na cidade de Lilycove por muitos anos e lá conhecera sua mãe e se casara. Infelizmente a mulher morrera pouco tempo depois de dar a luz à garota e James, mais uma vez sofrendo pela perda de alguém que amava, decidiu criar sua pequena May longe da cidade grande e então voltou para a casa. Ali ele criou-a sozinho, educou-a e também aprendeu muito, como todo pai de primeira viagem.

Descendo as escadas, a garota passou pela sala de estar e virou a direita para ir a cozinha. A casa conseguia ter uma conciliação perfeita entre rustico e moderno, mantendo grande parte dos móveis que já haviam ali e trazendo outros dando uma ar mais jovial aos cômodos. As cores eram leves em alguns lugares e vívidas em outro, deixando o lugar ainda mais alegre.

Quando chegou a cozinha, notou que o café da manhã já estava posto sobre a mesma, entretanto, não havia sinal de James na casa. May chamou-o algumas vezes, mas obteve apenas o silêncio em resposta. Imaginou que o mesmo deveria ter saído ou estava na estufa da casa, onde cultivava ele mesmo alguns vegetais. Sua constatação foi confirmada ao chegar à mesa da cozinha onde havia um bilhete dobrado e estrategicamente colocado sobre a cesta de frutas que com certeza seria tocado pela menina.

"Saí cedo para ir até a cidade, não demorarei a voltar. Há suco na geladeira e os biscoitos foram assados hoje de manhã. George está lá fora caso sinta-se sozinha.

Alimente-se bem e tome cuidado.

Amo você!"

May olhou atentamente para o papel, deixou-o de lado e começou a servir-se. Seu pai foi um grande pesquisador quando morava em Lilycove mas trocara a vida agitada para viver no campo, até um pouco afastado da população. Eles moravam perto de uma pequena cidade chamada Littleroot, onde o ex-pesquisador trabalhava como médico veterinário, cuidando dos pokémons dos moradores da cidade e de alguns camponeses. As vezes até mesmo ia ao laboratório a pedido do Prof. Birch quando esse necessitava de sua ajuda em algum projeto. Geralmente ele a levava quando mexia com Pokémons, ela tinha um estranho talento natural para lidar com as criaturas. Até sentiu-se um pouco chateada por ter sido deixada de lado, mas logo abandonou essa sensação. O que quer que o pai estivesse fazendo, deveria ser importante e provavelmente ela atrapalharia ou se chatearia por ficar sem fazer nada.

Assim que terminou de se alimentar, lavou a louça e pensou no que iria fazer naquele dia. Quando o pai não estava ficava difícil descobrir como se entreter, geralmente ajudava-o com alguma coisa da casa ou ia com o mesmo cuidar dos vegetais que ele cultivava em uma estufa ao lado da casa. Pensou então em descer até lá e regar as plantas, visto que o homem possivelmente não havia tido tempo de fazê-lo. Decepcionou-se ao perceber que todas já estavam regadas e algumas até mesmo adubadas. Ela olhou em seu relógio e percebeu que passava pouco das 8 horas. “Que droga de hora ele acordou para fazer tudo isso?” Pensou e em seguida suspirou.

Nos fundos da casa havia uma pequena lagoa onde seu pai mantinha alguns pokémons aquáticos para criação. A maioria deles fora resgatado em abrigos após se ferir em redes de pesca ou nasceram com alguma deformidade que os impediria de ter uma vida normal. Se fossem soltos em seu habitat natural as chances destes sobreviverem era mínima, quase nulas. Geralmente eram extremamente ariscos com o ser humano e dificilmente deixavam-nos se aproximar. May foi até a cozinha e pegou um punhado de ração com a mão e foi até a beira do lago, jogando aos poucos para os pequenos seres aquáticos que adoravam ser alimentados pela menina. Eles sempre se aproximavam quando a viam chegar, mesmo que não trouxesse nenhuma comida. Ela se divertia enquanto colocava sua mão na água e um pequeno Tympole com nadadeira extremamente curta se aproximava para esfregar-se nela.

– Baaaaaaaaaaar – Grunhiu um Pokémon deitado na margem oposta a que ela se encontrava. Aquele era George, o velho Bibarel de seu pai. A garota se perguntava em que o Pokémon castor ajudaria caso se sentisse sozinha, pois o mesmo dormia quase o dia inteiro. As poucas vezes que via-o acordado eram quando seu pai dava-o comida ou as raras vezes em que caminhava pelo quintal, provavelmente em busca de algo para comer. Pelo que dizia James, Bibarel era o guardião dos Pokémons do lago mas ela tinha sérias dúvidas quanto a isso.

– Olá Bibarel! – Ela cumprimentou-o de volta e ele deitou-se no chão, cochilando novamente o que a fez sorrir involuntariamente, perguntando-se como poderia existir um Pokémon tão preguiçoso como aquele.

May tinha uma grande paixão pelas criaturas vivas, ainda mais quando tratava-se de Pokémons. Sempre via-se fascinada assistindo programas de televisão que falavam sobre eles. Gastava horas e horas a fio lendo livros contando não só sua origem como também sua estrutura corporal e a maneira como eram formados. Em seu interior tinha a certeza de que eles sempre permaneceriam um mistério para os seres humanos, mesmo com as técnicas de manipulação genética avançando a cada dia mais, sabia que havia algo em cada Pokémon que o tornava distinto e especial em meio a todos os outros, algo que os seres humanos nunca conseguiriam alcançar.

Desde nova, demostrava um talento especial para com os Pokémons e cada dia que passa esse talento se mostrava mais estranho e ao mesmo tempo incrível. Seu pai no início não gostava muito da ideia de ter sua única filha em contato com Pokémons desconhecidos sendo ela tão jovem, mas acabou por se render ao talento da filha e a levava quase todas as vezes que possuía algum caso mais complicado que ele acreditava que não pudesse resolver sozinho. Logo ela começou a almejar o que quase todas as crianças desejavam em sua idade: Tornar-se treinadora Pokémon. Seu pai, entretanto, não foi a favor da ideia alegando que a menina era muito jovem para sair de casa sozinha e que ainda faltava-lhe o conhecimento necessário para realizar tal feito. May por sua vez começou a correr atrás de seu sonho, estudando o máximo que podia. Passou mais de cinco anos de sua vida em uma escola preparatória para treinadores, formando-se no final do ano anterior. Ela era a mais nova de sua turma, tendo apenas 13 anos, mas sabia que estava mais preparada do que muitos ali, porém, seu pai ainda insistia em dizer que ela ainda não estava pronta. A garota perguntava-se até onde aquilo iria durar.

De repente, um barulho alto muito semelhante a um chiado preencheu seus ouvidos fazendo-a se levantar e olhar ao redor, o mesmo aconteceu com George que levantou-se imediatamente com as orelhas em pé. Era a primeira vez que a garota vira-o tão atento e até pararia para olhá-lo se o mesmo barulho não tivesse chamado sua atenção mais novamente. Dessa vez porém, ela soube de onde veio o barulho pois pode visualizar um pequeno relâmpago fazer sua trajetória rumo ao céu. Os poros de May se excitaram, ali estava ocorrendo uma batalha Pokémon. Parte dela sabia que deveria tomar cuidado, pois ali provavelmente haviam pessoas desconhecidas ou pokémons selvagens, mas na emoção do momento esqueceu-se disso. Levantou-se rapidamente e correu em direção ao local onde as pessoas batalhavam.

Assim que entrou na floresta pode ouvir passos atrás de si e virou-se, observando o velho Bibarel desajeitado correndo em seu encalço.

– Bibarel, volte para casa! Você pode perder-se ou se machucar por aqui – Disse a garota ao Pokémon, preocupava-se bastante com ele apesar de não passarem muito tempo juntos.

Bibarel parou de correr e balançou a cabeça negativamente e fez diversos grunhidos apontando da garota para a casa. Normalmente ele não se importava em deixa-la andar sozinha por aí, pois aquele caminho rumava a praia e ela já passara por aquele lugar centenas de vezes tanto sozinha quanto acompanhada pelo pai. Agora, entretanto, ele estava relutante, provavelmente sabia que algo diferente ocorria por ali e não deixaria a filha de seu mestre se expor a um possível perigo. A garota suspirou.

– Olha, eu prometo que só vou olhar, ok? Se algo apresentar perigo ou alguma confusão começar vou embora na hora – Pediu ao castor e ele olhou-a ainda de uma maneira receosa, não sabia como agir e queria que seu mestre estivesse ali para resolver a situação.

– Baaaar! – Por fim, ele confirmou com a cabeça dando liberdade para a garota correr novamente enquanto continuava atrás dela com passadas desajeitadas e barulhentas.

Poucos minutos depois a garota finalmente alcançou a praia. Aquele era um dos pontos mais ao sul de Hoenn e ainda assim permanecia praticamente desconhecido. Poucas vezes May via alguma pessoa por ali. Talvez por a praia ser pequena e as águas um pouco agitadas. Bem perto podia-se visualizar uma das muitas ilhas que faziam parte da região de Hoenn, que era quase totalmente rodeada pelo mar. Pelo que May sabia, aquele pertencia a um homem muito famoso e rico, mas ela não se recordava quem era. Nunca colocara os pés naquela ilha.

Andando por entre as matas que rodeavam a praia, a garota finalmente chegou ao local onde ocorria a batalha. Não haviam muitos pokémons ou treinadores por ali na verdade, apenas um elegante jovem de cabelos cinzentos que conversava com um Pokémon que parecia muito com um robô, possuía o corpo formado por três esferas metálicas, alguns parafusos e vários imãs dispostos pelo seu corpo. Possuía três grandes olhos, um em cada parte metálica, o que dava a impressão de que ali estavam três criaturas e não apenas uma.

O jovem, que estava de costas para May, observava atentamente o Pokémon enquanto ele pedia para o mesmo dar vários ataques seguidos variando entre Discharge e Flash Canon. O poder que era emanado daqueles ataques era impressionante, mas não pareciam ser o que ele esperava, pois continuava a ordenar golpes observando os efeitos de cada um atentamente. May rastejou um pouco para ver melhor e um pequeno galho seco quebrou ao ser pressionado por seu joelho, provocando um som mais alto do que o esperado.

A garota prendeu o fôlego e olhou para frente, temendo ter sido descoberta, mas o outro não parecia ter consciência dela ali. Continuava a conversar com seu Pokémon de maneira baixa a absorta. Ela suspirou aliviada e olhou para o Pokémon ao seu lado que fez sinal negativo com a cabeça parecendo entediado.

Foi então que, em menos de um segundo tudo aconteceu. Algo surgiu repentinamente por trás das moitas e acertou a menina com golpe que parecia ser uma investida. Não era muito forte pelo que ela pode perceber, pois não havia a machucado, mas teve força o suficiente para fazê-la sair rolando do local em que estava escondida e parar na praia, onde estava o treinador estranho. Bibarel correu a seu encontro gritando e começou a cheirá-la e cutuca-la para ver se estava viva.

– Aí... Eu estou bem George, não precisa se preocupar. - Disse a garota sentando-se ainda um pouco zonza. Olhou para trás e viu a criatura que lhe atacara flutuando até si. Seu corpo possuía a forma de um foguete e era todo constituído de metal. Grandes garras brancas saíam de sua parte traseira e, na cabeça, um grande olho vermelho e brilhante encarava-a com uma expressão indecifrável. Aquele era Beldum, um dos Pokémons metálicos mais famosos existentes na região de Hoenn.

O Pokémon não parava de encará-la, parecia esperar alguma reação dela, como grito, choro ou uma ordem a seu Pokémon para ataca-lo. May, entretanto não pensava em nada disso, estava fascinada por encontrar uma criatura daquelas , que era rara até mesmo em sua região. Encarava o Pokémon da mesma maneira como ele a olhava. George se colocou ao seu lado em posição de batalha mas ela não ordenou-lhe nenhum ataque, pois sabia que o Pokémon de seu pai era bem mais forte do que a criatura metálica em sua frente.

– Ahaaam - Um pigarro fez-se ouvir atrás da garota. Ela então se paralisou. Esquecera que o treinador que estivera observando ainda estava ali. Virou o rosto vagarosamente e viu aquele que a observava. Perdeu o ar por alguns instantes. Diferente do que imaginava, aquele era rapaz extremamente jovem que devia estar por volta de seus vinte e poucos anos e era detentor de uma beleza invejável. Seu rosto possuía traços angulosos e os olhos cinzentos muito semelhantes a cor do cabelo davam-no um aspecto ainda mais exótico. Vestia-se de maneira elegante, como se estivesse preparando-se para ir a uma festa de gala. May sentiu seu rosto avermelhar-se com o olhar do rapaz sobre si.

– Ah, eu... – Perante a confusão da menina, o rapaz abaixou-se e cuidadosamente ajudou-a a se levantar. Ela sentiu seu rosto tornar-se um pimentão.

– Me desculpe por essa ação maluca e inconsequente de meu Pokémon senhorita – Disse ele olhando para a menina e em seguida de maneira reprovadora para o Beldum – Você está bem? Ele lhe machucou?

– E-eu estou bem – Disse ela afastando-se um pouco do jovem e pondo-se de pé sozinha e naturalmente para confirmar sua resposta. Podia sentir o cheiro amadeirado do perfume do rapaz.

– Tem certeza? Posso leva-la a um hospital imediatamente caso não se sinta bem – Insistiu ele.

– Não, não. Eu estou bem. Foi só o susto que me confundiu um pouco.

– Se tem certeza, não vou mais insistir. Desculpe-me a curiosidade, mas o que uma jovem tão encantadora faz sozinha em uma praia deserta como essa?

– E-eu não morro muito longe – Não conseguia deixar de gaguejar perto dele. Geralmente agia assim quando conversava com garotos, não sabia muito bem o que falar – V-vim pra cá quando escutei ruídos altos, como se uma batalha Pokémon estivesse ocorrendo e eu nunca havia visto uma pessoalmente. M-meu nome é May.

– Ah! Então temos uma apreciadora de batalhas Pokémon aqui. Que interessante! – Exclamou ele sorrindo e apertando a mão que fora estendida por May– Mas disse que nunca viu uma batalha Pokémon antes? Bem, podemos dar um jeito nisso – Começou a procurar algo em seu bolso, retirando de lá uma esfera bicolor vermelha e branca, com um botão prateado no centro – Geralmente eu converso e conheço mais as pessoas que desafio mas o que acha de batalhar contra mim?

– M-mas eu não tenho nenhum Pokémon – Disse ela baixo e um pouco chateada. Logo agora que tinha chances de ter uma experiência como treinadora encontrava-se impossibilitada de lutar.

– E quanto a esse grande Bibarel? – O Pokémon levantou as orelhas ao ser mencionado, mas fez aceno negativo com a cabeça em resposta.

– E-Ele n-não é meu, é do meu pai. Não gosta muito de lutar.

– Bem, então proponho outra solução. O que acha de lutar ao lado de Beldum enquanto eu uso outro Pokémon?

May olhou para a criatura que variava seu olhar entre o treinador e a garota, voltando a encará-la fixamente ao final das palavras do jovem de cabelos cinzentos. Ela ficou receosa, aquele Beldum era jovem e não tinha muitas forças, nada comparado ao grande e imponente Magneton a sua frente, apenas o golpe mais fraco daquele Pokémon seria suficiente para deixar o Pokémon foguete inconsciente.

– Ah, e-eu não sei se é uma boa ideia – Disse ela ainda olhando para o Magneton. O treinador acompanhou seu olhar e deu uma pequena risada ao perceber no que a garota estava pensando.

– Não, eu não pretendo usar o Magneton. Estava dando uma olhada nos movimentos dele para ver se já está apto a evoluir, pois daqui alguns dias iremos ao Mt. Coronet em Sinnoh e ele se tornará um Magnezone. Na verdade, pretendia usar esse carinha aqui – Ele retirou do bolso uma esfera bicolor alva e rubra com um botão central prateado o qual ele apertou uma vez para que o dispositivo se expandisse e outra para que se abrisse e deixasse sair um raio prateado que rumou ao chão e começou a tomar forma da criatura que estava contida em seu interior.

Era uma pequena criatura quadrupede com grandes olhos azuis e corpo revestido por placas de metal. Devia ter por volta de tinta centímetros de altura e olhava para tudo levemente curioso e ao mesmo tempo um pouco tímido. Logo que foi liberado grunhiu com sua voz fina o nome de sua espécie.

– Aaaron!

May observou curiosa o Pokémon tipo rocha e metálico, já vira outros de sua espécie no laboratório, mas de todos aquele era o menor. Provavelmente ainda era filhote ou um jovem um pouco longe de chegar a fase adulta. Diferente dela, o Pokémon foguete ao seu lado não limitou-se a olhar de longe desceu a altura do outro. A garota pensou que era para cumprimentar o amigo que havia ficado por muito tempo na pokeball e se surpreendeu ao vê-lo encarar o recém-chegado com um olhar nada agradável. Ambos grunhiram seus nomes e continuaram a se encarar como se os humanos não estivessem ali.

– Aron e Beldum nasceram juntos há pouco tempo, mas desde o primeiro momento em que se viram criaram certa rivalidade com relação ao outro. Tentei algumas vezes coloca-los em treinamento juntos mas com o tempo não me obedecem mais e ficam somente brigando entre si. Gostaria que você me ajudasse com isso e comandasse o Beldum.

– Certo, farei isso com prazer – Respondeu ela animada, afastando-se um pouco para dar espaço para as criaturas batalharem – Venha Beldum! – Chamou. O Pokémon olhou-a de uma maneira que dizia que não estava gostando da ideia, mas seguiu-a sem protestar.

– Não haverá juiz, o primeiro Pokémon que ficar impossibilitado de lutar definirá o outro como vencedor. Tudo certo? – Ela confirmou com a cabeça e logo em seguida ordenou o primeiro ataque.

– Beldum, comece com o Take Down.

– Revide com o Tackle – Ordenou ele simplesmente. May acreditava que ambos não conheciam mais do que seus movimentos iniciais por isso manteve-se calma, pois o jovem a sua frente devia ser experiente e parecia ter a plena convicção do que fazia.

Os ataques dos pokémons colidiram e pouco dano fizeram um ao outro por conta de seus tipos. Ambos os treinadores comandavam os mesmos ataques por alguns minutos. A jovem estava um pouco nervosa, sentia que o mais velho estava avaliando mais a performance dela no comando do pokémon do que a batalha em si. Além disso, embora estivesse se esforçando não sabia como direcionar a batalha a seu favor. Por mais que o golpe de Beldum fosse mais poderoso, ele sempre revertia parte do dano ao próprio pokémon e isso a preocupava.

Repentinamente uma ideia surgiu na mente da garota e ela sorriu

– Vá com toda velocidade que puder em direção a ele! - Aguarde – Apenas um único comando foi dado pelo treinador.

May esperou e, enquanto Beldum se aproximava rapidamente. Há menos de dois metros de Beldum ela deu um novo comando.

– Feche o olho e acerte o chão – Ordenou, mas o pokémon entretanto, não obedeceu. Continuou seguindo reto em direção ao seu oponente em um novo frontal.

– Mud-Slap! – Disse por sua vez o jovem de cabelos brancos. Aron levantou uma de suas patas metálicas e atingiu o chão, levantando uma grande quantidade de areia da praia e atingindo diretamente o olho de Beldum que perdeu a direção e devido a sua velocidade não conseguiu para atingindo o chão de maneira descontrolada.

– Beldum! – Gritou ela preocupada. Mesmo sem o comando de seu treinador Aron não parou de atacar, acertando o pokémon foguete com um Tackle, lançando-o aos pés da garota. Preparou-se para dar uma nova investida, mas ela pegou a criatura praticamente debilitada em seus braços e abraçou-o – Já chega Aron, você já venceu.

O pequeno e valente quadrúpede porém, não interrompeu seu ataque, rumando uma nova investida a garota e ao pokémon em seus braços. Antes que atingisse a metade do caminho entretanto, seu treinador retornou-o para a pokeball.Um suspiro de frustração saiu de seus lábios enquanto caminhava até a garota e o pokémon. Ela recuou um pouco com sua aproximação, mas lembrou-se de que ele era o treinador de Beldum e sentiu-se boba.

– Como ele está? – Perguntou calmamente. May estendeu-lhe a criatura, seu olho ainda continuava-se fechado como se ainda houvesse areia em seu interior e seu corpo possuía alguns arranhões, principalmente na cabeça. Ele retirou do interior de seu terno um pequeno cantil prateado e com a água de seu interior lavou o olho do pokémon. Em seguida esborrifou uma Potion em cada um dos arranhões que quase imediatamente tiveram um aspecto melhor.

Um som estridente preencheu o ar e o rapaz pegou de um dos bolsos um moderno celular, pediu licença e com um aceno positivo da garota levantou-se e afastou-se dali para atende-lo. May não prestou atenção nele entretanto, continuava a olhar tristemente para o pokémon com que havia perdido sua primeira batalha.

– Me desculpe, Beldum. Eu poderia ter feito algo melhor – Fechou os olhos e respirou profundamente, evitando que quaisquer lágrimas se formassem. Não queria chorar por um motivo tão banal. Sentiu então o corpo da criatura erguer-se de seus braços e flutuar em sua frente. Não havia mais nenhum arranhão em seu corpo. Ele estava bem novamente e olhava-a de uma maneira que ela não pode distinguir, mas que parecia-se muito com um sorriso.Poucos segundos depois o rapaz voltou até eles olhando um pouco chateado o celular em suas mãos.

– Já está bem Beldum? Essa poção tem um efeito rápido – Comentou olhando para o vidro já na metade – May, eu gostaria de pedir por favor, que você me perdoasse por essa péssima batalha. Meus pokémons ainda estão fora de controle, não devia tê-los colocado para lutar.

– Ah, eu... Tudo bem...

– Eu achei muito interessante a ideia que você criou para usar contra mim. Pretendia usar o movimento de Beldum para lançar bastante areia em Aron e cegá-lo, não foi? Bem se Beldum tivesse obedecido provavelmente vocês teriam ganhado a batalha – Um grande sorriso surgiu então no rosto dele – Você será uma grande treinadora algum dia May. Estarei ansioso para o dia que possamos nos enfrentar novamente.Ela sentiu seu rosto avermelhar-se intensamente.

– O-o-obrigada...

– Desculpe, eu tenho que ir agora. Acabam me de me informar de um compromisso importante do qual havia me esquecido – Pegou uma das mãos da garota e levou aos lábios, beijando-a suavemente. Ela sentiu seu rosto ficar vermelho como nunca e não conseguiu falar mais nada enquanto observava-o retornar seu Beldum para a pokeball e pegar uma nova para liberar uma grande e imponente pássaro metálico com garras e bico de aspectos letais.

– E-espere!–Chamou ela, atraindo novamente sua atenção.

– Sim?

– V-você não me disse qual é o seu nome... – Disse ela baixinho, mas ainda assim o rapaz escutou e deu um sorriso junto de uma pequena risada.

– Sou Steven, Steven Stone.

May abriu a boca em admiração e surpresa. Como podia ser tão burra? Aquele era Steven, o atual campeão da liga. Quase todos em Hoenn o conheciam. Quase todos haviam visto sua grande batalha contra Wallace, o antigo campeão, inclusive ela. E agora, que o treinador mais famoso da região estava em sua frente as únicas coisas que conseguira fazer foram gaguejar e ficar vermelha, além de perder um batalha.

Vendo a surpresa e o reconhecimento da garota, Steven apenas sorriu e montou em seu Skarmory que abaixara-se para ajudar o treinador.

– Foi um prazer conhece-la, garota da praia May. Poderia dizer-lhe adeus, mas creio que voltaremos a nos encontrar em breve. Até logo – Fez um aceno com a cabeça e deu um leve tapa lateral em seu pokémon que abriu as grandes e brilhantes asas vermelhas e ganhou o céu em segundos, movimentando uma grande quantidade de vento e areia ao fazê-lo.

Por fim ela despertou parcialmente do choque e acenou com a mão para o Campeão que já se encontrava a centenas de metros de distância. Não teve certeza se o mesmo viu, mas ela pode ouvir o agudo guinchar do pássaro prateado.

– Skaaaaaaar!

Sorrindo, a garota sentou-se na areia a sombra de uma árvore e começou a observar o mar revirando-se em sua frente. Tentava lembrar-se de todos os detalhes de sua estranha porém magnífica primeira experiência com batalhas pokémon para gravá-los profundamente em sua memória. Não teve consciência de quanto tempo permaneceu por ali até ouvir uma voz extremamente familiar.

– Desfrutando um dia na praia? – Perguntou a voz. Ela virou-se e deu de cara com um belo homem de rosto magro, pele levemente bronzeada e cabelos negros bagunçados. Seus olhos eram castanhos e aconchegantes como o chocolate quente no inverno. Aquele era James Primrose, o pai de May.

– Hoje tive uma boa manhã – Disse ela sorrindo enquanto o homem sentava-se ao seu lado – Como soube que eu estava aqui, pai?

– Algo em meu interior me disse que você não ia querer ficar em casa em um belo dia como esse – Imediatamente a moita atrás deles se mexeu e um grande rabo marrom e peludo surgiu entre as folhas.

– Esse algo se chama Bibarel? – Perguntou ela rindo e seu pai acompanhou, coçando a parte de trás da cabeça com a mão esquerda. Só pararam quando a barriga da garota roncou, anunciando por quanto tempo ela havia ficado sem comer.

– Bem acho que o algo me trouxe aqui na hora certa, está com fome? Comprei comida pra gente – Disse James levantando-se

– Essa comida quer dizer pizza? – Recebeu um aceno positivo em resposta e assim como o pai levantou-se – Vamos então – Começou a caminhar mas parou ao ver que o homem mantinha-se parado no mesmo lugar observando-a – O que houve?

– Você se esqueceu?

–Esqueci-me de que?-Perguntou curiosa.

O pai deu um sorriso e procurou algo em seu bolso.

– Bem em queria te dar isso em casa mas não consigo mais esperar. Eu espero que goste – Disse ele estendendo uma esfera branca dividida por uma linha rubra e um botão prateado no centro –Feliz aniversário May.


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