Happy Birthday, Molly escrita por Louise


Capítulo 9
Dobraduras


Notas iniciais do capítulo

Olá, seres humanos! Brotei aqui mais uma vez, depois de um hiato bem grandinho auhsuahsuhauhs Esse capítulo ficou enorme, mas espero que gostem ;D Não vou ficar enrolando, aproveitem!



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Belacqua, a cidade que Sophia escolhera como quartel-general das operações governamentais no país, era vizinha a Paris – por volta de trinta quilômetros de distância. Fundada nos anos trinta, fora um posto alemão durante a segunda guerra. Após a retomada de sua terra natal, o Estado decidiu usá-la como um posto para algumas operações especiais. Porém isso não ausentava as casas de cidadãos normais, que simplesmente resolveram adotar a cidade como lar e não se importar com os homens bem armados nas entradas de algumas construções.

O endereço que Molly recebera – para recolher as identidades - era de uma casinha velha, bem perto da praça central da cidade. Fachada de tijolos impregnados de pólvora e fumaça da Segunda Guerra, janelas quebradas e cobertas com panos, porta de madeira cheia de cupins. Enfiada no meio de dois prédios mais altos, com pouco espaço entre as três construções, seria o último lugar em que se procuraria um falsificador de registros.

__ O que fazemos? – ela perguntou.

__ Phia disse para entrarmos pelos fundos. O tal Daniel vai estar nos esperando com um pacote. Dentro dele, vão estar as carteirinhas e a localização da casa de Moran e da irmã.

__ Tudo bem.

Como disfarce, Sherlock encaixou o braço de Molly no seu, segurando-a bem perto de si. “Você está louco?” ela murmurou. “É só um disfarce, não vou te agarrar. Fique tranquila” ele respondeu. Vestidos como moradores normais – Sherlock teve de abandonar o paletó, trocando-o por um jeans um pouco surrado e uma camiseta branca por baixo do casaco pesado -, cruzaram a rua com a maior naturalidade possível.

Diante da construção, contornaram a fachada, tendo que separar os braços para se esgueirar entre a passagem pequena. A parte de trás era totalmente coberta por outro prédio, impedindo que qualquer um conseguisse ver a pequena porta escondida por um pano azul sujo de chumbo, preso aos dois cantos de cima do batente por pregos acinzentados. O chão era de terra batida, deixando uma nuvem baixa de poeira subir quando Molly colocou os pés no micro pátio que se formava.

Sherlock juntou os dois dedos para bater na porta, mas alguém a atendeu primeiro. Com o rosto escondido nas sombras, mas deixando os olhos cor de mel brilharem no feixe de luz que entrava por uma fresta no telhado, o alguém riu. Não era um deboche, era a surpresa.

__ Senhor Holmes! Sabia que viria, algum dia desses! – como Sophia, ele também puxava o “r”. – Entre, entre!

Seus olhos sumiram na escuridão. A figura misteriosa saiu do caminho da porta, e Sherlock fez questão de entrar primeiro. Teve de abaixar-se para passar pelo vão. Uma luz amarela subitamente iluminou os quatro cantos da pequena construção, revelando a verdadeira figura do que – achava Molly – era Daniel.

Cabelo e barba grisalha e grande, Daniel parecia um bruxo de um filme que Molly adorava. As rugas carcomiam o rosto cansado, e as pintas cobriam as mãos trêmulas. Vestindo alguns trapos e escondendo a cabeça e os cabelos em uma toca, o falsificador não era nada como a legista imaginara.

__ Você é Daniel?

__ Sim, sou eu mesmo. Sophia me disse que viriam. Esperem, vou pegar o pacote.

Molly entrou e fechou a porta atrás de si, lacrando a casa da luz do sol. O cômodo em que estavam era algo parecido com uma cozinha. Ali, pratos e copos sujos misturavam-se a dezenas de papeis riscados e tentativas malfeitas de cópias de documentos. Sobre a mesa, uma pequena fábrica de certidões de nascimento e de assinaturas falsas. Processo curioso, observou Sherlock, tentando entender como o esquema funcionava.

__ Está aqui. Achei que tinha perdido, mas só não lembrava onde tinha escondido.

Entregou, nas mãos do detetive, uma caixa de madeira clara, com um feche delicado e algumas inscrições na tampa. A marca na madeira revirava o estômago de Sherlock e o fez revirar os olhos, lembrando-o de coisas indesejadas. Estampado na caixa estava o brasão da família Holmes.

__ O que foi, Sherlock? – ela perguntou.

__ Nada – ele respondeu, com aquela voz de “estou mentindo”, sempre calmo.

Abriu o feche com cuidado, encontrando ali dentro alguns papeis. Eram cinco, no total. Duas identidades falsas; Dois mapas, sendo um de Paris. O outro parecia um tipo de caminho subterrâneo, uma rede de túneis. E o último continha um endereço. Na parte de trás, alguém escrevera algo em francês. “Le jeu est sur”. “Pode ter certeza” Holmes pensou, “Pode ter certeza que sim”.

__ Só tem isso para nos entregar? – Molly começou. – Não deixaram mais nada mesmo?

__ Não. Só isso.

__ Mas o que estamos procurando? Você não está me contando as coisas, Sherlock!

__ Vamos, no caminho eu te conto – ele puxou o braço dela, abrindo a porta com o cotovelo. Encheu os pulmões com o ar fresco e, sem mesmo agradecer a Daniel, sumiu na fresta ao lado da casa. Restou à Molly a tarefa de agradecê-lo, enquanto era puxada pelo companheiro.

__ Obrigada!

***

De volta ao carro, partindo para algum lugar misterioso, Sherlock resolveu começar as explicações. Contou a ela que primeiro teriam que, de alguma forma, entrar na casa de Moran. O que procuravam era uma bolsa de couro cor-de-chocolate, onde Charlie – ou Charlotte - e Sebastian escondiam cartas trocadas entre os controladores dos esquemas. Não seriam todas, não o suficiente para desmontar tudo. Mas uma quantia considerável de segredos escondiam-se naquelas cartas.

__ Mas... cartas não são muito... século XIX?

Ele sorriu. Estava a ponto de explica-la, mas por seu olhar, Molly conseguiu entender o esquema.

__ Ah, acho que entendi. Quem procuraria por conteúdos de cartas quando se pode enviar tudo por e-mail?

Ele estava orgulhoso.

__ Elementar.

__ Mas, não seria muito arriscado deixar tudo isso marcado? São provas, afinal de contas. Comprovam que o esquema é real.

__ Não se as esconder e criptografar. Eu mesmo fazia isso, quando precisava enviar e-mails a Mycroft – ele girou o volante, virando uma curva fechada. – Sebastian era um militar, conhece muitas pessoas. Não seria difícil encontrar alguém bom o suficiente para criptografar suas cartas, tampouco para leva-las aos endereços certos.

__ Então ele tem uma rede de entregadores, também?

__ É evindente que sim. Lembra-se daqueles machucados no meu rosto, quando voltei a sua casa, alguns dias depois do que fiz no terraço do Barts?

Ela assentiu. Lembrava-se muito bem do estado em que ele chegara. Um corte bem aberto no canto esquerdo da testa cuspia sangue, escorrendo em gotas grossas até a linha da mandíbula. Um olho inchado e a boca cortada em três lugares finalizavam a cena. Molly teve de limpar os ferimentos dele, passar algum remédio para acelerar a cicatrização. Naquele dia, teve que se conter para, enquanto limpava os machucados da boca, não beijá-lo. Ele parecia tão... frágil, se é que aquele adjetivo algum dia se aplicasse a William Sherlock Scott Holmes.

__ Peguei isso de um dos capangas da Charlie. Infelizmente eles sabiam lutar com facas.

Tirou de um dos bolsos internos do casaco uma carta. Entregou-a a Molly. Com suas mãos delicadas, e tomando cuidado para não se cortar no papel, abriu a embalagem de papel vagabundo, tirando de dentro um pedaço de papel amassado, cheio de dobras e letras sem sentido, espalhadas pelos polígonos que as marcas formavam.

__ Gosta de dobraduras? – ele perguntou, sorrindo de canto de boca.

__ Nunca consegui terminar uma, não tenho paciência para essas coisas. Porque?

__ Isso é a resposta. Passei algum tempo tentando entender o porque das dobras. É um sistema até que bem simples: faça uma dobradura, escreva a mensagem com caneta tinteiro no papel dobrado e depois desdobre. As frases vão se desconectar.

__ Depois, é só avisar a dobradura que fez para escrever ao destinatário. Ele monta quando a carta chegar e lê as mensagens. Genial – ela observava as frases. Conseguiu montar algumas frases sem sentido, virando o papel com as pontas dos dedos.

__ Elementar.

__ Mas ainda não me disse onde estamos indo.

__ Onde mais? Paris, óbvio.

__ Óbvio...? Nem todo mundo consegue identificar um lugar pela grama, Sherlock – apontou com a mão para o lado de fora, onde uma paisagem verde e um céu encoberto por nuvens de chuva se impunha.

__ A carta diz que Moran estará em uma casa de Paris por, mais ou menos, duas semanas. Teremos uma festa da alta sociedade em duas semanas, e eles estarão presentes. Depois dela, terminarão de organizar tudo e vão embora para a Sérvia. Pelo menos Moran vai. Charlie, segundo o que Sophia me disse, vai para a Rússia. Essas duas semanas serão nossa única chance de pegá-los. Quando saírem do país, serão outras pessoas, com outros nomes, outros contatos. Levaríamos mais dois anos para acha-los.

__ Aquele endereço no pacote que pegamos tem alguma coisa a ver com isso, não tem? É o endereço deles.

__ Está esperta, Molls. Sim, aquele é o endereço.

Ela sorriu, orgulhosa de si.

__ Você fala francês?

__ Oui, mademoiselle. Et il serait bon que vous connaissiez un peu aussi.

__ Mon français n'est pas si mal que ça, Sherlock.

Os dois riram. O carro cruzou a primeira rua de Paris.


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Notas finais do capítulo

(Se quiserem saber o que os dois disseram, é só traduzir no Google Tradutor do francês para o português :3)

Gostaram? Sintam-se livres pra comentar qualquer ideia, sugestão ou qualquer outra coisa que quiser, são todos muito bem vindos ;)

Beijinhos da ruiva,

Amelia.